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A experiência de ouvir vozes, desmistificando o estigma associado a essa condição. Explora as diferentes perspectivas sobre o fenômeno, incluindo a visão tradicional da psiquiatria e abordagens mais contemporâneas que reconhecem a complexidade da experiência. Apresenta estratégias de enfrentamento e destaca a importância do apoio social e da compreensão para os ouvintes de vozes.
Tipologia: Transcrições
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Everton Luis Gardinal Ao longo dos anos, muito pouco foi escrito sobre estas experiências e seus significados, algo que normalmente e infelizmente é considerado apenas como sintoma de um transtorno mental, sem debates ou troca de ideias em decorrência de todo o estigma que ainda cerceia o tema. O ouvir de vozes pode se tornar algo a trazer preocupações, tanto para a pessoa que as ouve quanto para seus familiares e amigos. É importante conscientizar as pessoas a esse respeito. Vamos pensar juntos sobre qual a sensação de ouvir vozes, sobre os porquês de começar a ouvi-las e sobre como as pessoas podem aprender a lidar bem com elas para viverem tranquilas. As informações contidas aqui são baseadas em pesquisas e trabalhos práticos, e que surgem de estudos conduzidos junto com os verdadeiros especialistas: os próprios ouvidores. Estas orientações destinam-se aos ouvintes de vozes, seus familiares, seus amigos e profissionais interessados em conhecer mais sobre a temática e/ou trabalhar com ouvidores de vozes. Adentraremos ao tema trazendo algumas perguntas e repostas, vamos lá: Qual é a crença tradicional acerca do ouvir de vozes? Historicamente, ouvir vozes tem sido considerada pela psiquiatria clínica uma experiência relacionada a alucinações auditivas ou algo vinculado a um sintoma de condições correlatas as enfrentadas em quadros de transtornos esquizofrênicos, de depressão aguda e/ou de psicose maníaca. O tratamento usual tem sido a prescrição de medicações psicotrópicas tranquilizantes acreditando na redução de delírios e alucinações, causas da experiência na visão dessa vertente de conhecimento, mesmo que nem todo mundo reaja bem a este tipo de tratamento. Um ponto importante a ser destacado é o fato de haverem muitas pessoas ouvindo vozes, mas conseguindo lidar bem com suas vozes, mesmo sem intervenção psiquiátrica. No entanto, este fato tem sido negligenciado pela psiquiatria clínica.
Enfim, O que significa ouvir vozes? Ainda existem muitos preconceitos e dificuldades a serem superadas em relação ao ouvir de vozes e isso é bem nítido. No entanto, a experiência de se ouvir vozes não é algo extraordinário como geralmente pensam. As vozes, diferente daquilo que se escuta por meio dos ouvidos, apenas não surgem por causas físicas, e sim por causas psicológicas. Mas como os sons naturais, existem diferenças entre cada experiência ouvindo vozes e entre cada voz ouvida. Quantas vezes você já pensou ter ouvido alguém chamar seu nome para depois descobrir que não havia ninguém lá, por exemplo? Bem como ouvir os sons através dos ouvidos, as pessoas também ouvem vozes como se elas fossem pensamentos internos a elas. No entanto, existem diversas diferenças entre uma ideia vinda de si mesmo e algo intrusivo como podem ser as vozes. Um bom exemplo disso acontece com os nossos pensamentos ou com músicas que surgem na cabeça sem o nosso consentimento. A diferença em relação as vozes, além de seu formato, pode ser suas causas e o contato frequente que essas estabelecem com quem as está ouvindo. Existem muitas maneiras diferentes de se ouvir vozes. Você pode ouvi-las dentro da própria mente ou fora dela. Pode ser uma só voz ou muitas vozes. A voz pode falar com você ou sobre você. Podem ser vozes representando figuras com idades diferentes, ou mesmo vozes com conteúdos diferentes. Nunca é a mesma sensação para todos. Algumas pessoas, por exemplo, experimentam pensamentos não-verbais, imagens e visões, gostos, cheiros e toques. Todas sem nenhuma causa física. Vozes podem ser como sonhos. Quando sonhamos todos os tipos de coisas estranhas podem acontecer, mas nós ainda acreditamos que elas realmente estejam acontecendo conosco. Ouvir vozes pode ser assim, como um sonho acordado, mas experimentado na realidade. Alguns fatos positivos sobre as vozes Estar ouvindo vozes não precisa ser considerada uma experiência incomum. Muitas pessoas ouvem vozes e nunca foram pacientes psiquiátricas, e este é um fato já bem conhecido, mas negligenciado. Uma investigação epidemiológica nos Estados Unidos, em um grupo amostral de 15. pessoas, constatou que de 10% a 15% dos entrevistados relataram ter ouvido vozes durante um longo período de tempo, mas que apenas um terço deles teria relatado efeitos negativos. Outra pesquisa, realizada na mesma época, revelou que muitos dos casos de pessoas que ouvem vozes não satisfaziam os critérios específicos de um diagnóstico psiquiátrico.
Elas podem ser inteligentes, espirituosas, engraçadas, perspicazes e etc. Elas podem, por si só, serem um mecanismo de enfrentamento. O que as vozes dizem corresponde aos efeitos que o social, o emocional e o psicológico têm sobre o ouvidor. Elas podem guiar quem as ouvem. O conteúdo das vozes, suas características e afins, recorrentemente estão relacionados com a história de vida do ouvinte. Episódios tais como traumas recentes, de infância, impotências e pendências emocionais surgem em suas aparições. Nesse sentido, as vozes podem ser positivas, ajudando de forma amena o indivíduo a lidar com suas próprias emoções, fobias e medos. A pessoa ganha a oportunidade de crescer com tudo isso. As três fases do ouvir de vozes 1º Descobrindo as vozes
Dar apoio às pessoas que ouvem vozes para que construam uma melhor compreensão de suas experiências ao lado de profissionais, familiares e amigos. Fornecer ajuda terapêutica e informações que irão ajudar as pessoas a lidarem mais eficazmente com suas vozes. Estabelecer grupos de autoajuda entre ouvintes para que possam compartilhar experiências e discutir estratégias sobre como lidar com vozes. Mostrar que o verdadeiro problema não é tanto o ouvir de vozes, mas sim a incapacidade em lidar com essas experiências da melhor maneira Educar a sociedade sobre o significado das vozes e reduzir o estigma. Demonstrar a vasta variedade de experiências e suas origens, assim como possíveis abordagens de enfrentamento. Reunir ouvintes que não tenham estado em contato com serviços psiquiátricos com aqueles tenham para a troca de ideias. Ouvidores de vozes falando sobre a experiência de ouvir vozes Falar sobre as vozes pode realmente ajudar. Os pontos a seguir funcionam como princípios fundamentais para a abertura de discussões, conversas, bem como sobre a vivências com elas.
1. Abrir um espaço para discussão As pessoas que ouvem vozes geralmente encontram-se em contato com sociedades que podem oprimi-los por suas crenças e jeitos de pensar ou agir. Como resultado, a potência da razão pode ser virtualmente extinta, pelo menos inicialmente, o que torna praticamente impossível para estas pessoas falarem sobre suas vivências diárias sem serem afetadas após isso. A discussão aberta com outras pessoas oferece meios importantes para a criação de algum tipo de rede colaborativa, buscando alcançar uma tentativa de acordo para com as vozes da experiência. Em particular, a comunicação ajuda as pessoas a aceitarem suas vozes. Nesse processo, aumenta-se a autoconfiança e liberta-se do isolamento por meio do envolvimento com aqueles ao seu redor. 2. Reconhecer padrões As pessoas que ouvem vozes normalmente dizem que suas vozes seguem padrões de conteúdo ou fala. No processo, é possível aprender a reconhecer esses padrões, bem como seus aspectos mais agradáveis e/ou desagradáveis em determinadas situações. Tal conhecimento pode ajudar o ouvinte a se preparar para possíveis reaparecimentos dessas vozes
3. Aliviar a ansiedade A maioria das pessoas que ouvem vozes se encontram sozinhas inicialmente. Isso pode fazer da experiência um criador de ansiedade, além de produzir sentimentos de vergonha ou medo de enlouquecer. Permitir o alívio da ansiedade por meio da conscientização, da conversa e do frequentar de outros espaços além dos rotineiros se faz algo muito importante dentro do processo. 4. Encontrar uma perspectiva teórica Com os profissionais da área, os ouvintes também procuram uma explicação teórica para explicar a existência de suas vozes. Uma abordagem pessoal para a compreensão ou um quadro específico de referência pode ser útil e realmente existem muitas perspectivas diferentes nesse sentido. Estas incluem psicodinâmica, mística, parapsicologia e modelos psicossociais distintos. Seja qual for à perspectiva adotada, algum tipo de teoria explicativa parece ser essencial para o desenvolvimento de uma estratégia de enfrentamento. A menos que se conceda algum significado às vozes, é muito difícil começar a organização de uma relação para com elas. De um modo geral, as perspectivas que desencorajam o indivíduo a buscar o entendimento sobre as vozes tendem a produzir menos resultados positivos. 5. Aceitar as vozes No processo de construção do seu próprio ponto de vista e de responsabilidade em relação as suas experiências, o primeiro passo essencial é a aceitação das vozes como algo pertencente a si mesmo. Isto é da maior importância, mas também um dos passos mais difíceis de se tomar. 6. Reconhecer seus significados As mensagens contidas nas vozes podem ter significados distintos para a pessoa que as está escutando. Faz parte do processo reconhecer esses significados. Cumprir esse objetivo dá margem para interpretações acerca dos porquês das vozes, tornando mais fácil a compreensão delas para o ouvinte. Tanto conteúdos ruins quanto conteúdos bons podem ter significados específicos e podem, de alguma maneira, ajudar quem as ouve com questões vividas no dia-a-dia ou em momentos mais antigos da vida. 7. Estruturar uma relação A construção de uma estrutura em relação ao relacionamento com as vozes pode ajudar a minimizar os sentimentos comuns de impotência. Realizar isso pode ser extremamente valioso para ajudar pessoas a verem que elas também podem estabelecer seus próprios limites e conter a intromissão de determinadas vozes
BAKER, P. Abordagem de Ouvir Vozes: Treinamento Brasil. CENAT - Centro Educacional Novas Abordagens Terapêuticas, 2016 CONTINI, C. Ouvir vozes: Manual de enfrentamento. Pelotas/RS: Cópias Santa Cruz, 2017 COUTO, M. L.O. & Kantorski, L. P. Ouvidores de vozes. Psicologia USP , 418-431, 2018 KANTORSKI, L. P., ANTONACCI, M. H., ANDRADE, A. P. M., CARDANO, M., & MINELLI, M. Grupos de ouvidores de vozes: estratégias e enfrentamentos. Saúde Debate , 41 (115), 1143- 1155, 2017 ROMME, M., & ESCHER, S. Na companhia das vozes - para uma análise da experiência de ouvir vozes. Lisboa: Estampa, 1997