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Livro sobre os sentidos do trabalho
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
Ricardo Antunes
Copyright © Boitempo Editorial, 1999, 2009 Copyright © Ricardo Antunes, 1999, 2009
Coordenação editorial Ivana Jinkings Editor-assistente Jorge Pereira Filho Assistência editorial Ana Lotufo, Elisa Andrade Buzzo e Frederico Ventura Preparação Maria Cristina G. Cupertino e Mariana Echalar Revisão Alessandro de Paula e Renata Assumpção Capa Ivana Jinkings (criação) e Flavio Valverde (arte-final) sobre painel de Diego Rivera, Detroit Industry, 1932-1933 (detalhe). The Detroit Institute of Arts. Diagramação Antonio Kehl Produção Marcel Iha e Paula Pires CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A642s Antunes, Ricardo L. C. (Ricardo Luis Coltro), 1953- Os Sentidos do Trabalho : ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho / Ricardo Antunes. - [2.ed., 10.reimpr. rev. e ampl.]. - São Paulo, SP : Boitempo, 2009. -(Mundo do Trabalho) ISBN 978-85-85934-43- e-ISBN 978-85-7559-259-
É vedada, nos termos da lei, a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora.
Este livro atende às normas do novo acordo ortográfico.
1 a^ edição: outubro de 1999; 1a^ reimpressão: março de 2000; 2 a^ reimpressão: agosto de 2000; 3 a^ reimpressão: abril de 2001; 4 a^ reimpressão: setembro de 2001; 5 a^ reimpressão: julho de 2002; 6 a^ reimpressão: agosto de 2003; 7a^ reimpressão: abril de 2005; 8 a^ reimpressão: junho de 2006; 9 a^ reimpressão: novembro de 2007; 2 a^ edição: dezembro de 2009; 1a^ reimpressão: novembro de 2010
BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda. Rua Pereira Leite, 373 05442-000 São Paulo SP Tel./fax: (11) 3875-7250 / 3872- editor@boitempoeditorial.com.br www.boitempoeditorial.com.br
Oh, as estranhas exigências da sociedade burguesa que primeiro nos confunde e nos desencaminha, para depois exigir de nós mais que a própria natureza!
Goethe, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister
Que tempos são esses, em que falar de árvores é quase um crime pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Brecht, Aos que vão nascer
Somente quando o homem, em sociedade, busca um sentido para sua própria vida e falha na obtenção deste objetivo, é que isso dá origem à sua antítese, a perda de sentido.
Lukács, Ontologia do ser social
Andam desarticulados os tempos.
Shakespeare, Hamlet
VI – A CLASSE-QUE-VIVE-DO-TRABALHO: a forma de ser da classe trabalhadora hoje ........................................................................... 101 Por uma noção ampliada de classe trabalhadora ..................................... 101 Dimensões da diversidade, heterogeneidade e complexidade da classe trabalhadora ..................................................... 104 Divisão sexual do trabalho: transversalidades entre as dimensões de classe e gênero .................................................................... 105 Os assalariados no setor de serviços, o “terceiro setor” e as novas formas de trabalho em domicílio ............................................ 111 Transnacionalização do capital e mundo do trabalho .............................. 115
VII – MUNDO DO TRABALHO E TEORIA DO VALOR: as formas de vigência do trabalho material e imaterial ............................................... 119 A interação crescente entre trabalho e conhecimento científico: uma crítica à tese da “ciência como principal força produtiva” ............... 119 A interação entre trabalho material e imaterial ....................................... 125 As formas contemporâneas do estranhamento ......................................... 130
VIII – EXCURSO SOBRE A CENTRALIDADE DO TRABALHO: a polêmica entre Lukács e Habermas ........................................................... 135
1 – A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA ONTOLOGIA DO SER SOCIAL DE LUKÁCS .................................................. 135 Trabalho e teleologia .................................................................................. 136 O trabalho como protoforma da práxis social .......................................... 139 Trabalho e liberdade .................................................................................. 143 2 – A CRÍTICA DE HABERMAS AO “PARADIGMA DO TRABALHO” .............. 146 O paradigma da ação comunicativa e da esfera da intersubjetividade .................................................................. 147 O desacoplamento entre sistema e mundo da vida .................................. 149 A colonização do mundo da vida e a crítica de Habermas à teoria do valor ............................................................................................ 151 3 – UM ESBOÇO CRÍTICO À CRÍTICA DE HABERMAS ................................ 155 Subjetividade autêntica e subjetividade inautêntica .................................. 158
IX – ELEMENTOS PARA UMA ONTOLOGIA DA VIDA COTIDIANA ................. 165
X – TEMPO DE TRABALHO E TEMPO LIVRE: por uma vida cheia de sentido dentro e fora do trabalho ................................................... 171
XI – FUNDAMENTOS BÁSICOS DE UM NOVO SISTEMA DE METABOLISMO SOCIAL ............................................................................ 177
APÊNDICES ...................................................................................................... 183
Apêndices à primeira edição .......................................................................... 185 1 – A CRISE DO MOVIMENTO OPERÁRIO E A CENTRALIDADE DO TRABALHO HOJE ................................................................................ 185
2 – OS NOVOS PROLETÁRIOS DO MUNDO NA VIRADA DO SÉCULO ........................................................................... 193 3 – AS METAMORFOSES E A CENTRALIDADE DO TRABALHO HOJE ................................................................................ 205 4 – SOCIALISMO E MUNDO DO TRABALHO NA AMÉRICA LATINA: alguns pontos para debate ........................................ 221 5 – LUTAS SOCIAIS E DESENHO SOCIETAL SOCIALISTA NO BRASIL RECENTE .......................................................... 225
Apêndices à segunda edição .......................................................................... 247 1 – DEZ TESES E UMA HIPÓTESE SOBRE O PRESENTE (E O FUTURO) DO TRABALHO .......................................... 247 2 – TRABALHO E VALOR: anotações críticas ........................................... 263 3 – A ECONOMIA POLÍTICA DAS LUTAS SOCIAIS ................................... 273
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 281
SOBRE O AUTOR ............................................................................................ 287
Para Diva e José, meus pais
NOTA À 2a^ EDIÇÃO
uma nova reimpressão, a 10a, dez anos depois de sua 1a^ edição, em 1999. Nesta 2a^ edição, revista e atualizada pela primeira vez, suas teses centrais adquirem ainda mais força: há uma nova morfologia do trabalho que repõe os sentidos e significados essenciais desse conceito, mostrando que o trabalho é, no início do século XXI, uma questão (ainda) decisivamente vital. Mais do que nunca, bilhões de homens e mulheres dependem ex- clusivamente de seu trabalho para sobreviver e encontram cada vez mais situações instáveis, precárias, quando não inexistentes de traba- lho. Ou seja, enquanto se amplia o contingente de trabalhadores e tra- balhadoras no mundo, há uma constrição monumental dos empregos, corroídos em seus direitos e erodidos em suas conquistas. Maquinaria perversa e engenharia satânica que vêm gerando um gigantesco contingente de desempregados que assim o são pela própria lógica destrutiva do capital – a qual, ao mesmo tempo que expulsa cen- tenas de milhões de homens e mulheres do mundo produtivo gerador do valor em seus trabalhos estáveis e formalizados, recria, nos mais distantes e longínquos espaços, novas modalidades informalizadas e precarizadas de geração do mais-valor. Isso depaupera ainda mais, pela expansão da força sobrante de trabalho que não para de crescer, os níveis de remuneração daqueles que se mantêm trabalhando. Mas contra a simplória tese da finitude do trabalho, este se mos- tra, em sua forma contraditória de ser, um espaço de sociabilidade,
Por fim, acrescento que, além de suas dez reimpressões no Brasil, Os Sentidos do Trabalho vem encontrando acolhida positiva também no exte- rior. Há uma edição em espanhol (Los Sentidos del Trabajo, Herramienta Ediciones e TEL/Taller de Estúdios Laborales, Argentina, 2005), outra em italiano (Il Lavoro in Trappola: La Classe Che Vive di Lavoro, Jaca Book,
Ricardo Antunes Campinas, outubro de 2009
APRESENTAÇÃO
Os Sentidos do Trabalho (Ensaio sobre a Afirmação e a Negação do Trabalho) é o resultado da pesquisa realizada na Universidade de Sussex (Inglaterra) onde, a convite de István Mészáros, Professor Emérito daquela Universidade, trabalhei como pesquisador visitante. Pude então aprofundar várias dimensões que havia iniciado em Adeus ao Trabalho?, publicado em 1995. Os Sentidos do Trabalho, que apresento para o Concurso de Professor Titular em Sociologia do Tra- balho, no IFCH/Unicamp, retoma essa temática, ampliando-a e desen- volvendo-a em outras dimensões que, em meu entendimento, são cen- trais quando se pensa no mundo do trabalho hoje, nas formas contemporâneas de vigência da centralidade do trabalho ou nos múlti- plos sentidos do trabalho. O estudo das relações entre trabalho produtivo e improdutivo, manual e intelectual, material e imaterial, bem como a forma assu- mida pela divisão sexual do trabalho, a nova configuração da clas- se trabalhadora, dentre vários elementos que analisarei ao longo do texto, permitiu-me recolocar e dar concretude à tese da centralidade da categoria trabalho na formação societal contemporânea, contra a desconstrução teórica que foi realizada nos últimos anos. Ao contrá- rio da propagada substituição do trabalho pela ciência, ou ainda da substituição da produção de mercadorias pela esfera comunicacional, da substituição da produção pela informação, exploro as novas for- mas de interpenetração existentes entre as atividades produtivas e as
INTRODUÇÃO
a sociedade contemporânea vem presenciando profundas transforma- ções, tanto nas formas de materialidade quanto na esfera da subjeti- vidade, dadas as complexas relações entre essas formas de ser e exis- tir da sociabilidade humana. A crise experimentada pelo capital, bem como suas respostas, das quais o neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumulação flexível são expressão, têm acarreta- do, entre tantas consequências, profundas mutações no interior do mundo do trabalho. Dentre elas podemos inicialmente mencionar o enorme desemprego estrutural, um crescente contingente de trabalha- dores em condições precarizadas, além de uma degradação que se amplia, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercado- rias e para a valorização do capital. Paralelamente, entretanto, têm sido frequentes as representações que visualizam nessas formas de (des)sociabilização novas e positivas dimensões de organização societal, como se a humanidade que traba- lha estivesse prestes a atingir seu ponto mais avançado de sociabilida- de. Muitas são as formas de fetichização: desde o culto da “sociedade democrática”, que teria finalmente realizado a utopia do preenchimen- to, até a crença na desmercantilização da vida societal, no fim das ideo- logias, no advento de uma sociedade comunicacional capaz de possi- bilitar uma interação subjetiva, por meio de novas formas de intersubjetividade. Ou ainda aquelas que visualizam o fim do traba-
lho e a realização concreta do reino do tempo livre, dentro da estrutu- ra global da reprodução societária vigente. Minha investigação procurará oferecer um quadro analítico bas- tante distinto. Ao contrário dessas formulações, pode-se constatar que a sociedade contemporânea presencia um cenário crítico, que atinge não só os países do chamado Terceiro Mundo, como o Brasil, mas também os países capitalistas centrais. A lógica do sistema produtor de mercadorias vem convertendo a concorrência e a busca da produ- tividade num processo destrutivo que tem gerado uma imensa preca- rização do trabalho e aumento monumental do exército industrial de reserva, do número de desempregados. Somente a título de exemplo: até o Japão e o seu modelo toyotista, que introduziu o “emprego vita- lício” para cerca de 25% de sua classe trabalhadora, vem procurando extinguir essa forma de vínculo empregatício, para adequar-se à com- petição que reemerge do Ocidente “toyotizado”. Dentre as medidas propostas para o enfrentamento da crise japonesa encontra-se ainda aquela formulada pelo seu capital, que pretende ampliar tanto a jorna- da diária de trabalho de 8 para 9 horas quanto a jornada semanal de 48 para 52 horas.^1 Podemos mencionar também o exemplo da Indonésia, onde mulheres trabalhadoras da multinacional Nike ganha- vam 38 dólares por mês, realizando uma longa jornada de trabalho. Em Bangladesh, as empresas Wal-Mart, K-Mart e Sears utilizaram-se do trabalho feminino na confecção de roupas, com jornadas de traba- lho de cerca de 60 horas por semana e salários inferiores a 30 dólares por mês.^2 O que dizer de uma forma de sociabilidade que, conforme dados recentes da OIT para o ano de 1999, desemprega ou precariza mais de 1 bilhão de pessoas, algo em torno de um terço da força hu- mana mundial que trabalha? Se é um grande equívoco imaginar o fim do trabalho na socieda- de produtora de mercadorias, é entretanto imprescindível entender quais mutações e metamorfoses vêm ocorrendo no mundo contem- porâneo, bem como quais são seus principais significados e suas mais importantes consequências. No que diz respeito ao mundo do traba- lho, pode-se presenciar um conjunto de tendências que, em seus tra- ços básicos, configuram um quadro crítico e que têm sido experimen- tadas em diversas partes do mundo onde vigora a lógica do capital. E a crítica às formas concretas da (des)sociabilização humana é con- dição para que se possa empreender também a crítica e a desfeti- chização das formas de representação vigentes, do ideário que domi- na nossa sociedade contemporânea.
(^1) Conforme informações que constam no Japan Press Weekly, fev. de 1998. (^2) Dados extraídos de “Time for a Global New Deal”, Foreign Affairs, jan.-fev. 1994, Vol. 73, nº 1: 8.
O SISTEMA DE METABOLISMO SOCIAL DO CAPITAL E SEU SISTEMA DE MEDIAÇÕES
do capital nasceu como resultado da divisão social que operou a su- bordinação estrutural do trabalho ao capital. Não sendo conse- quência de nenhuma determinação ontológica inalterável, esse siste- ma de metabolismo social é, segundo Mészáros, o resultado de um processo historicamente constituído, em que prevalece a divisão so- cial hierárquica que subsume o trabalho ao capital.^3 Os seres sociais tornaram-se mediados entre si e combinados dentro de uma totalida- de social estruturada, mediante um sistema de produção e intercâm- bio estabelecido. Um sistema de mediações de segunda ordem sobredeterminou suas mediações primárias básicas, suas mediações de primeira ordem.
As mediações de primeira ordem, cuja finalidade é a preservação das funções vitais da reprodução individual e societal, têm as seguin- tes características definidoras:
(^3) As referências seguintes são extraídas de Mészáros (1995), que dão suporte às formu- lações presentes neste capítulo.
Partindo dessas determinações ontológicas fundamentais, os indi- víduos devem reproduzir sua existência por meio de funções primá- rias de mediações, estabelecidas entre eles e no intercâmbio e interação com a natureza, dadas pela ontologia singularmente humana do tra- balho, pelo qual a autoprodução e a reprodução societal se desenvol- vem. Essas funções vitais de mediação primária ou de primeira or- dem incluem:
O advento dessa segunda ordem de mediações corresponde a um período específico da história humana, que acabou por afetar profun- damente a funcionalidade das mediações de primeira ordem ao intro- duzir elementos fetichizadores e alienantes de controle social metabóli-