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Além da obra de um historiador perspicaz, diríamos que Os. Grandes Iniciados são também a obra de um poeta, pois grande parte dela é devida à imaginação e à ...
Tipologia: Notas de estudo
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Tradução de Augusta Garcia Dorea
Edições Eletrônicas Lumensana Luiz Edgar de Carvalho Outubro/
PREFÁCIO DESTA EDIÇÃO ELETRÔNICA
Os Grandes Iniciados teve um destino estranho. A primeira edição deste livro extraordinário de Édouard Schuré, remonta a 1889, constituindo-se um fenômeno literário raramente igualado. Acolhido, a princípio, sem muito entusiasmo, foi, com o passar do tempo, impondo-se até se tornar um autêntico sucesso mundial. Estranhamente, só a partir da Guerra de 1914 a 1918 – numa época de grandes sofrimentos para toda a humanidade – que a obra começou a ser lida, tanto na Europa como em outros continentes, de uma forma quase obsessiva. Nesta obra imortal existe uma força vital em seu pensamento mestre, que, outro não é, senão uma aproximação lúcida e resoluta entre Ciência e Religião. O grande esforço do autor é tentar harmonizar este permanente conflito. Na introdução da obra, ele afirma: “Esta reconciliação só poderá operar-se por uma nova contemplação sintética do mundo visível e invisível, por meio da Intuição intelectual e da Vidência psíquica. Só a certeza da Alma imortal pode vir a ser uma base sólida da vida terrestre – e somente a compreensão das grandes Religiões, para um retorno à sua fonte comum de inspiração, pode assegurar a fraternidade entre os povos e o futuro da humanidade”. E diz mais: “A Ciência e a Religião, perderam, uma e outra, o seu dom supremo – que é a educação da consciência humana. Está perdida a arte de formar-se e criar-se almas e ela só será redescoberta quando a Ciência e a Religião, repensadas e refundidas em uma única força viva, convergirem para a sublime tarefa de magnificar a Humanidade”. Três conceitos básicos dominam toda a obra, que lhe dão um sólido arcabouço, formando uma completa unidade: 1 ° O conceito Cosmogônico, isto é, a concordância do macrocosmo e do microcosmo, pela constituição trinitária da divindade, do universo e do homem.
RAMA
O Ciclo Ariano
Zoroastro perguntou a Ormuz, o grande Criador: Qual o primeiro homem a quem falaste? Ormuz respondeu: Ao belo Yima, aquele que estava à frente dos Corajosos. Eu lhe disse para velar sobre os mundos que me pertencem e lhe dei um gládio de ouro, uma espada para a vitória. E Yima avançou no caminho do sol e reuniu os homens corajosos no célebre Airyana-Vaéja, criado puro.
ZEND AVESTA (Vendidad - Sadé, 2ª Fargard).
Oh! Agni! Fogo sagrado! Fogo purificador! Tu que dormes na lenha e sobes em chamas brilhantes sobre o altar, tu és o coração do sacrifício, o vôo ousado na prece, a centelha divina oculta em todas as coisas e a alma gloriosa do sol.
Hino Védico.
RAMA
O Ciclo Ariano
I
AS RAÇAS HUMANAS E AS ORIGENS DA RELIGIÃO
“O Céu é meu Pai, ele me gerou. Tenho por família toda esta corte celeste. Minha Mãe é a grande Terra. A parte mais alta de sua superfície é sua matriz; lá o Pai fecunda o seio daquela que é sua esposa e sua filha”. Eis o que cantava o poeta védico, há quatro ou cinco mil anos, diante de um altar feito de terra, onde ardia um fogo de ervas secas. Um vaticínio profundo, uma consciência grandiosa transpira nestas palavras estranhas. Elas encerram o segredo da dupla origem da humanidade. Anterior e superior à Terra é o tipo divino do homem; celeste é a origem de sua alma. Seu corpo, entretanto, é o produto dos elementos terrestres fecundados por uma essência cósmica. Na linguagem dos Mistérios, os amplexos de Urano e da grande Mãe significam chuvas de almas ou de mônadas espirituais que vêm fecundar os germes terrestres; os princípios organizadores sem os quais a matéria não passaria de massa inerte e difusa. A parte mais alta da superfície terrestre, que o poeta védico chama de matriz da Terra, designa os continentes e as montanhas, berços das raças humanas. Quanto ao Céu - Varuna, o Urano dos gregos -, ele representa a ordem invisível, hiperfísica, eterna e intelectual, e abrange todo o Infinito do Espaço e do Tempo. Neste capítulo, apenas consideraremos as origens terrestres da humanidade, segundo as tradições esotéricas confirmadas pela ciência antropológica e etnológica de nossos dias. As quatro raças que atualmente partilham o globo são filhas de terras e de zonas diversas. Criações sucessivas, lentas elaborações da Terra em movimento se deram, e os continentes emergiram dos mares,
o sopro de Jeová na boca de Adão, o verbo de Hermes, a lei do primeiro Manu, o fogo de Prometeu. Um Deus estremece no fauno humano. A raça vermelha, como dissemos, ocupava o continente austral hoje submerso, chamado Atlântida por Platão, segundo as tradições egípcias. Um grande cataclismo o destruiu em parte e dispersou seus destroços. Várias raças polinésias, assim como os indígenas da América do Norte e os astecas, que Pizarro encontrou no México, são sobreviventes dessa raça vermelha cuja civilização, para sempre perdida, teve seus dias de glória e de esplendor material. Todos esses pobres retardatários carregam na alma a melancolia incurável das velhas raças que definham sem esperança. Depois da raça vermelha foi a raça negra que dominou o globo. É preciso procurar o tipo superior não no negro degenerado, mas no abissínio e no núbio, nos quais se conserva o molde desta raça que um dia atingiu o apogeu. Em tempos pré-históricos, os negros conquistaram o sul da Europa, tendo sido depois rechaçados pelos brancos. Sua lembrança foi completamente apagada de nossas tradições populares. Entretanto, ali deixaram duas marcas indeléveis: o horror ao dragão, o emblema de seus reis, e a idéia de que o diabo é negro. Os negros devolveram o insulto à raça rival fazendo branco o seu próprio diabo. No tempo de sua soberania, os negros tiveram centros religiosos no Alto-Egito e na Índia. Suas cidades ciclópicas guarneciam as montanhas da África, do Cáucaso e da Ásia central. Sua organização social consistia em uma teocracia absoluta. No ápice, sacerdotes temidos como deuses; embaixo, tribos inquietas, sem família reconhecida, as mulheres escravas. Esses sacerdotes tinham conhecimentos profundos, o princípio da unidade divina do Universo e o culto dos astros que, sob o nome de sabeísmo , se infiltrou entre os povos brancos (2). Mas, entre a ciência dos sacerdotes negros e o fetichismo grosseiro das massas, não havia absolutamente intermediário, nem arte idealista nem mitologia sugestiva. De resto, uma indústria já adiantada, sobretudo a arte de manejar massas de pedras colossais, por meio da balística, e de fundir metais nas imensas fornalhas, nas quais trabalhavam os prisioneiros de guerra. Nessa raça poderosa pela resistência física, pela energia
passional e pela capacidade de dedicação, a religião foi, entretanto, o reinado da força pelo terror. A Natureza e Deus quase não se mostram à consciência desses povos infantis, a não ser sob a forma do dragão, o terrível animal antediluviano que os reis mandavam pintar em suas bandeiras e que os sacerdotes esculpiam no alto da porta de seus templos. Se o sol da África fomentou a raça negra, dir-se-ia que os gelos do pólo ártico viram a eclosão da raça branca. São os hiperbóreos de que fala a mitologia grega. Estes homens de cabelos ruivos, olhos azuis, vieram do Norte através das florestas iluminadas por clarões boreais, acompanhados por cães e renas, comandados por chefes intrépidos e conduzidos por mulheres videntes. Cabeleiras de ouro e olhos azuis, cores predestinadas. Esta raça iria inventar o culto do sol e do fogo sagrado, e trazer ao mundo a nostalgia do céu. Ora se revoltaria contra ele até querer assaltá-lo, ora se prosternaria diante de seus esplendores em uma adoração absoluta. Como as outras raças, a raça branca também teve que se livrar do estado selvagem, para depois tomar consciência de si mesma. Suas características distintivas são o gosto pela liberdade individual, a sensibilidade meditada que gera o poder da simpatia, e a predominância do intelecto que atribui à imaginação uma aparência idealista e simbólica. A sensibilidade anímica motivou a dedicação, a preferência do homem por uma única mulher; daí a tendência dessa raça à monogamia, o princípio conjugal e a família. A necessidade de liberdade, somada à sociabilidade, originou o clã com seu princípio eletivo. A imaginação ideal criou o culto dos ancestrais, que constitui a raiz e o centro da religião dos povos brancos. O princípio social e político se manifesta no dia em que alguns homens semi-selvagens, perseguidos por um populacho inimigo, se reúnem instintivamente e escolhem o mais forte e o mais inteligente dentre eles, para os defender e comandar. Nesse dia nasceu a sociedade. O chefe é um rei em potencial, seus companheiros, os futuros nobres; os velhos que deliberavam, mas eram incapazes de marchar, formam já uma espécie de senado ou assembléia dos anciãos.
semelhantes, de pé sobre os rochedos, em meio às clareiras, ao ruído do vento e do Oceano longínquo, evocarão as almas diáfanas dos ancestrais diante das multidões palpitantes, que os verão ou acreditarão vê-los, seduzidas pelos mágicos sortilégios das brumas flutuantes de transparências lunares. O último dos grandes Celtas, Ossian, evocará Fingal e seus companheiros reunidos nas nuvens. Assim foi, na própria origem da vida social, que se estabeleceu o culto dos antepassados na raça branca. O grande Ancestral toma-se o Deus da coletividade. Eis o começo da religião. Mas, isto não é tudo. Em tomo da profetisa se reúnem os velhos, que a observam durante seus sonos lúcidos e seus êxtases proféticos. Estudam seus diversos estados, controlam suas revelações e interpretam seus oráculos. Observam que quando ela profetiza no estado visionário, sua fisionomia se transfigura, sua palavra se torna rítmica, sua voz se eleva e profere seus oráculos cantando numa melopéia grave e significativa (4). Daí o verso, a estrofe, a poesia e a música, cuja origem é considerada divina entre todos os povos da raça ariana. A idéia da revelação só poderia surgir a propósito de fatos dessa ordem. Assim também vemos brotar a religião e o culto, os sacerdotes e a poesia. Na Ásia, no Irã e na Índia, onde os povos de raça branca fundaram as primeiras civilizações arianas misturando-se a povos de cores diversas, os homens rapidamente sobrepujaram as mulheres quanto à inspiração religiosa. Aí, só ouvimos falar de sábios, de richis , de profetas. A mulher repelida, submissa, é sacerdotisa apenas no lar. Mas, na Europa, a característica do papel preponderante da mulher é reencontrada nos povos da mesma origem, que permaneceram bárbaros durante milhares de anos. Isto se manifesta na pitonisa escandinava, na Voluspa de Edda, nas druidisas célticas, nas mulheres adivinhas que acompanhavam os exércitos germânicos e decidiam o dia das batalhas (5), e até nas bacantes da Trácia que subsistem na lenda de Orfeu. A vidente pré-histórica continua na Pítia de Delfos. As primitivas profetisas da raça branca se organizam em colégios de druidisas, sob a supervisão dos velhos instruídos ou druidas, os homens do carvalho. No início elas apenas faziam o bem. Por sua
intuição, sua capacidade de adivinhar e seu entusiasmo, elas impulsionaram intensamente a raça que apenas começava a luta com os negros, que duraria séculos. Mas foram inevitáveis a rápida corrupção e os enormes abusos desta instituição. Sentindo-se donas dos destinos dos povos, as druidisas quiseram dominá-los a todo custo. Faltando-lhes a inspiração, elas tentaram reinar pelo terror. Exigiram sacrifícios humanos e fizeram deles o elemento essencial de seu culto. Nisso, favoreciam-nas os instintos heróicos de sua raça. Os brancos eram corajosos. Seus guerreiros desprezavam a morte e, ao primeiro apelo, vinham espontaneamente e por bravata se lançar sob o cutelo das sacerdotisas sanguinárias. Durante as hecatombes humanas, os vivos eram despachados para a casa dos mortos como mensageiros, e se acreditava assim obter os favores dos ancestrais. Essa ameaça perpétua, pairando sobre a cabeça dos primeiros chefes pela boca das profetisas e das druidisas, tornou-se em suas mãos um formidável instrumento de domínio. Eis o primeiro exemplo de perversão que fatalmente sofrem os mais nobres instintos da natureza humana, quando não são orientados por uma autoridade sábia ou dirigidos para o bem por uma consciência superior. Abandonada à contingência da ambição e da paixão pessoal, a inspiração degenera em superstição, a coragem em ferocidade, a idéia sublime do sacrifício em instrumento de tirania, em exploração pérfida e cruel. Entretanto, a raça branca estava apenas no início de sua violência e loucura. Apaixonada na esfera anímica, ela deveria atravessar muitas outras crises e mais sangrentas. Acabava de ser sacudida pelos ataques da raça negra que começava a invadir o sul da Europa. Luta desigual no início. Os brancos, ainda semi-selvagens, saindo de suas florestas e habitações lacustres, não tinham outros recursos a não ser suas lanças e flechas com pontas de pedra. Os negros possuíam armas de ferro, armaduras de bronze, todos os recursos próprios de uma civilização industriosa em cidades ciclópicas. Esmagados no primeiro embate, os brancos, levados para o cativeiro, se tornaram escravos dos negros, que os obrigaram a trabalhar na pedra e a transportar minério para seus
da unidade de Deus oculto, absoluto e sem forma, que foi um dos dogmas essenciais dos sacerdotes da raça negra e de sua iniciação secreta. Entre os brancos vencedores ou que permaneceram puros, nota- se, ao contrário, a tendência ao politeísmo, à mitologia, à personificação da divindade, que provém de seu amor pela natureza e do culto apaixonado pelos ancestrais. A diferença principal entre a maneira de escrever dos semitas e a dos arianos também se explicaria pela mesma causa. Por que todos os povos semíticos escrevem da direita para a esquerda, e por que todos os povos arianos escrevem da esquerda para a direita? A razão que Fabre d'Olivet encontra para isso é tão curiosa quanto original. Ela nos dá uma verdadeira visão desse passado perdido. Todo mundo sabe que nos tempos pré-históricos não havia absolutamente a escrita vulgar. O uso somente se propagou com a escrita fonética ou arte de representar o som das palavras por meio de letras. Entretanto, a escrita hieroglífica ou arte de representar coisas por meio de alguns sinais é tão velha quanto a civilização humana. E, naqueles tempos primitivos, ela sempre foi privilégio do sacerdote, considerada coisa sagrada, função religiosa e, primitivamente, de inspiração divina. Quando, no hemisfério austral, os sacerdotes da raça negra ou sudanesa traçavam sinais misteriosos em peles de animais ou em blocos de pedra, eles tinham o hábito de se voltar para o pólo sul; sua mão se dirigia para o Oriente, fonte da luz. Escreviam, portanto, da direita para a esquerda. Os sacerdotes da raça branca ou nórdica, tendo aprendido com os sacerdotes negros, começaram a escrever como estes. Todavia, quando o sentimento de sua origem foi se desenvolvendo, com a consciência nacional e o orgulho da raça, inventaram seus próprios sinais e, em lugar de se voltarem para o Sul, o país dos negros, puseram- se de frente para o Norte, pátria dos Ancestrais, continuando, porém, a escrever em direção do Oriente. Seus caracteres então iam da esquerda para a direita. Daí o sentido das runas célticas, do zen, do sânscrito, do grego, do latim e de todas as escritas das raças arianas. Elas se dirigem para o Sol, fonte da vida terrestre; mas olham o Norte, pátria dos ancestrais e fonte misteriosa das auroras celestes.
A corrente semítica e a ariana, eis os dois rios por onde vieram todas as nossas idéias, mitologias e religiões, artes, ciências e filosofias. Cada uma dessas correntes traz consigo uma concepção oposta da vida, cuja reconciliação e equilíbrio seriam a própria verdade. A corrente semítica contém os princípios absolutos e superiores: a idéia da unidade e da universalidade em nome de um princípio supremo que, na aplicação, conduz à unificação da família humana. A corrente ariana encerra a idéia da evolução ascendente, em todos os reinos terrestres e supraterrestres e, na aplicação, conduz à diversidade infinita dos desenvolvimentos, em nome da riqueza da natureza e das múltiplas aspirações da alma. O gênio semítico desce de Deus para os homens; o gênio ariano sobe do homem para Deus. Um é representado pelo arcanjo justiceiro, que desce sobre a Terra armado do gládio e do raio; o outro, por Prometeu, que empunha o fogo roubado do céu, e percorre o Olimpo com o olhar. Esses dois gênios, nós os trazemos dentro de nós mesmos. Pensamos e agimos alternadamente sob o império de um e de outro. Todavia, eles estão ligados em nossa intelectualidade, e não fundidos. Contradizem-se e se combatem em nossos mais íntimos sentimentos e pensamentos sutis, como na vida social e em nossas instituições. Ocultos sob múltiplas formas, que se poderiam resumir sob os nomes genéricos de espiritualismo e naturalismo, dominam nossas discussões e nossas lutas. Inconciliáveis e invencíveis os dois, quem os unirá? Entretanto, o progresso e a salvação da humanidade dependem de sua conciliação e de sua síntese. Eis por que, neste livro, procuramos voltar à fonte das duas correntes, ao nascimento dos dois gênios. Para além das revoluções históricas, guerras dos cultos e contradições dos textos sagrados, entraremos na própria consciência dos fundadores e dos profetas que deram às religiões seu movimento inicial. Eles tiveram a intuição profunda e a inspiração que vêm de cima, a luz viva que produz a ação fecunda. Sim, neles pré-existia a síntese. O raio divino empalideceu e turvou-se em seus sucessores; mas reaparece e brilha, cada vez que, em qualquer época da história, um profeta, um herói ou
religiosas dos povos, interpretadas em seu sentido esotérico, vão mais longe. E nos permitem adivinhar que a primeira concentração do núcleo ariano no Irã se fez por uma espécie de seleção operada no próprio seio da raça branca, sob a direção de um conquistador legislador, que deu a seu povo uma religião e uma lei conformes ao gênio da raça branca. Com efeito, o livro sagrado dos Persas, o Zend-Avesta, fala do antigo legislador sob o nome de Yima, e Zoroastro, fundando uma nova religião, se refere a esse predecessor como o primeiro homem ao qual se dirigiu Ormuz, o Deus vivo, assim como Jesus Cristo se refere a Moisés. O poeta persa Firdusi denomina este mesmo legislador de Djem, o conquistador dos negros. Na epopéia hindu, no Ramayana, ele aparece sob o nome de Rama, vestido como rei indiano, cercado dos esplendores de uma civilização avançada; mas aí ele conserva suas duas características distintas: conquistador renovador e iniciado. Nas tradições egípcias, a época de Rama é designada pelo reinado de Osiris, o senhor da luz, que precede o reinado de Ísis, a rainha dos mistérios. Enfim, na Grécia o antigo herói semideus era honrado sob o nome de Dionísio, que vem do sânscrito Deva Nahousha, o divino renovador. Orfeu assim também denominou a Inteligência divina e o poeta Nonus cantou a conquista da Índia por Dionísio, conforme as tradições de Elêusis. Como os raios de uma mesma circunferência, todas essas tradições indicam um centro comum. A ele podemos chegar se acompanharmos a direção designada pelos raios. Então, além da Índia dos Vedas, além do Irã de Zoroastro, na aurora crepuscular da raça branca, vê-se surgir das florestas da antiga Cítia o primeiro criador da religião ariana, cingido com sua dupla tiara, de conquistador e de iniciado, empunhando o fogo místico, o fogo sagrado que iluminará todas as raças. Cabe a Fabre d'Olivet a honra de reencontrar este personagem (6). Foi aberta, assim, a vereda luminosa que até ele nos conduz e seguindo- a procurarei, por minha vez, evocá-lo.
(1). Esta divisão da humanidade em quatro raças sucessivas e originais era admitida pelos mais antigos sacerdotes do Egito. Elas estão representadas por quatro figuras de tipos e cores diferentes, nas pinturas do túmulo de Seti I, em Tebas. A raça vermelha traz o nome de Rot ; a raça asiática, de cor amarela, o nome de Amon ; a raça africana, de cor negra, o de Halásio ; a raça líbio-européia, de cor branca, cabelos loiros, o de Tamahu. – Lenormant, Histoire dês peuples d’Orient, I.
(2). Ver os historiadores árabes, assim como Aboul-Ghazi , história genealógica dos tártaros e Mohammed-Moshen, historiador dos persas. – William Jones, Asiatic Researches , I. Discruso sobre os Tártaros e os Persas.
(3). Histoire philosophique du genre humain , tomo I.
(4). Todos que já viram uma verdadeira sonâmbula ficaram impressionados com a singular exaltação intelectual que se manifesta durante o sono lúcido. Para aqueles que não testemunharam semelhantes fenômenos e que deles duvidariam, citaremos uma passagem do célebre David Strauss, que não é suspeito de superstição. Ele viu em casa de seu amigo, o doutor Justinus Kerner, a célebre “vidente de Prévost” e assim a descreveu: “Pouco depois, a visionária caiu em um sono magnético. Presenciei assim pela primeira vez o espetáculo desse estado maravilhoso, e, posso dizê-lo, na sua mais pura e mais bela manifestação. Sua fisionomia mostrava uma expressão sofredora, mas elevada e terna, como que inundada por uma irradiação celeste; uma linguagem pura, medida, solene, musical, uma espécie de recitativo; uma abundância de sentimentos que transbordavam e que se poderia comparar a um bando de nuvens, ora luminosas, ora sombrias, deslizando acima da alma, ou então a brisas melancólicas e serenas perdendo-se nas cordas de uma maravilhosa harpa eólia “ (Trad. R. Lindau, Bibliographie générale, art. Kerner).
(5). Ver a última batalha entre Ariovisto e César nos Comentários deste.
(6). Histoire philosophique du genre humain, tomo I.
entre os escandinavos. A religião começava, assim, pelo culto dos antepassados. Os semitas encontraram o Deus único, o Espírito universal no deserto, no cume das montanhas, na imensidão dos espaços estelares. Os citas e os celtas encontraram os Deuses, os espíritos múltiplos, no fundo de seus bosques. Lá eles ouviram vozes, lá tiveram os primeiros arrepios do Invisível, as visões do Além. Eis porque a floresta encantadora ou terrível sempre foi amada pela raça branca. Atraída pela música das folhas e pela magia lunar, ela para aí se volta constantemente, no decorrer das eras, como à sua fonte de Juventude, ao templo da grande mãe Herta. Lá dormem seus deuses, seus amores, seus mistérios perdidos. Desde os tempos mais longínquos, mulheres visionárias profetizavam sob as árvores. Cada povoação possuía sua grande profetisa, como a Voluspa dos escandinavos, com seu colégio de druidisas. Entretanto, estas mulheres, inicialmente nobremente inspiradas, tomaram-se ambiciosas e cruéis. De boas profetisas transformaram-se em malvadas feiticeiras. Elas instituíram os sacrifícios humanos e o sangue dos heróis corria continuamente sobre os dolmens, sob os cantos sinistros dos sacerdotes e aclamações dos citas ferozes. Entre os sacerdotes, encontrava-se um jovem na flor da idade chamado Ram, também destinado ao sacerdócio; mas, sua alma meditativa e o profundo espírito se revoltavam contra aquele culto sangüinário. O jovem druida era doce e grave. Muito cedo demonstrara uma singular aptidão para o conhecimento das plantas - das maravilhosas virtudes de seus sucos destilados e preparados -, tanto quanto no estudo dos astros e de suas influências. Ele parecia adivinhar e ver as coisas longínquas. Daí advém sua autoridade precoce sobre os druidas mais velhos. Emanava-lhe das palavras e de todo o ser uma grandeza afável. Sua sabedoria contrastava com a loucura das druidisas que clamavam maldições e proferiam oráculos nefastos nas convulsões do delírio. Os druidas denominavam-no “aquele que sabe”, e o povo o chamava de “o inspirado da paz”.
Entretanto, Ram, que aspirava à ciência divina, viajara por toda a Cítia e pelos países do Sul. Seduzidos por seu saber e sua modéstia, os sacerdotes dos negros transmitiram-lhe parte de seus conhecimentos secretos. Voltando à região do Norte, Ram se horrorizou ao ver a intensificação dos sacrifícios humanos entre os seus. Viu nisso a perdição de sua raça. Todavia, como combater um costume propagado pelo orgulho das druidisas, pela ambição dos druidas e pela superstição do povo? Então, outro flagelo se abateu sobre os brancos, no qual Ram acreditou ver um castigo celeste pelo culto sacrílego. De suas incursões no país do Sul e de seu contato com os negros, os brancos contraíram uma horrível doença, uma espécie de peste, que corrompia o homem pelo sangue, pelas fontes da vida. O corpo inteiro se cobria de manchas negras, o hálito tornava-se infecto, os membros inchados e corroídos de úlceras se deformavam e o doente expirava com dores atrozes. O hálito dos vivos e o odor dos mortos espalhavam o flagelo. Assim os brancos, pasmados, tombavam e estertoravam aos milhares pelas florestas, abandonadas até mesmo pelas aves de rapina. Ram, atormentado, procurava inutilmente um meio de salvação. Tinha ele o hábito de meditar sob um carvalho, em uma clareira. Urna tarde, adormeceu ao pé da árvore, após haver refletido longamente sobre os males de sua raça. Durante o sono pareceu-lhe ouvir uma voz forte que o chamava pelo nome e ele acreditou ter despertado. Viu então, diante de si, um homem de talhe majestoso, vestido, como ele próprio, com a roupa branca dos druidas. O homem carregava uma vareta, à qual se entrelaçava uma serpente. Ram, admirado, ia perguntar ao desconhecido o significado daquilo. Mas o desconhecido, tomando-o pela mão, fê-lo levantar-se e mostrou-lhe, na própria árvore sob a qual ele estava deitado, um belíssimo ramo de visgo. “Oh! Ram! disse-lhe, eis o remédio que procuras'' Depois, tirou do seio uma pequena foice de ouro, cortou um pedaço do ramo e lhe deu. Murmurou ainda algumas palavras sobre a maneira de preparar o visgo e desapareceu. Então, Ram despertou completamente e se sentiu bastante reconfortado. Uma voz interior lhe dizia que havia encontrado a salvação. Ele não deixou de preparar o visgo segundo os conselhos do