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Gêneros Textuais: Tipologia Injunctiva e Manuais de Instruções e Receitas Culinárias, Notas de aula de Tradução

Este artigo discute sobre gêneros e tipologias textuais, foca na tipologia injunctiva e analisa dois gêneros em que ela predomina: um manual de instruções e uma receita culinária. O texto explica que toda atividade comunicativa ocorre através de gêneros textuais, os quais são produtos da linguagem em funcionamento nas formações sociais. A distinção entre as tipologias textuais tem por base as diferenças linguísticas, e os gêneros são diferenciados pelos aspectos funcionais.

O que você vai aprender

  • Como a tipologia injunctiva se manifesta em manuais de instruções e receitas culinárias?
  • Quais são as diferenças entre as tipologias textuais?
  • Como os gêneros textuais influenciam o desenvolvimento da competência comunicativa?
  • Qual é a importância de gêneros textuais na comunicação?
  • Quais são os gêneros textuais de base injunctiva?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

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Caderno Seminal Digital, Ano 15, Nº 11, V 11, ( Jan / Jun 2009) - ISSN 1806-9142
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OS GÊNEROS TEXTUAIS E A TIPOLOGIA INJUNTIVA
Vanilda Salton KÖCHE
Adiane Fogali MARINELLO
Odete Maria Benetti BOFF
É consenso entre os teóricos que um ensino eficiente de língua ma-
terna pressupõe um trabalho com o texto. Geraldi (1993), um dos grandes
estudiosos do ensino de ngua portuguesa no Brasil, é enfático ao afir-
mar que a produção de textos, quer orais ou escritos, é ponto de partida
e ponto de chegada de todo o processo de ensino-aprendizagem. Isso de-
corre do fato de a materialização dos textos acontecer nas situações so-
ciais do dia-a-dia, na forma de gêneros textuais. Nessa perspectiva, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) recomendam o trabalho com o
texto e consideram a função social dos gêneros, aproximando realidade
social e ensino de língua. Sugerem ainda que o professor explore as tipo-
logias textuais no interior de cada gênero. Assim, o ensino de língua ma-
terna, metodologicamente situado na leitura, compreensão, análise e pro-
dução de gêneros textuais, desponta como um importante caminho para
auxiliar no desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos.
Este artigo apresenta uma discussão sobre gêneros e tipologias
textuais, aborda a tipologia injuntiva e analisa dois gêneros em que essa
tipologia predomina: um manual de instruções e uma receita culinária.
Este estudo é significativo, pois textos injuntivos fazem parte do coti-
diano do aluno e estão presentes nos diversos ambientes discursivos da
sociedade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) e os teóricos
Bakhtin (1992), Adam (1992), Bronckart (1999), Fávero e Koch (1998),
Geraldi (1993), Marcuschi (2002), Rosa (2003), Travaglia (1991), Sch-
neuwly, Dolz e colaboradores (2004) fundamentam este trabalho.
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1. UCS- CA RVI .
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OS GÊNEROS TEXTUAIS E A TIPOLOGIA INJUNTIVA

Vanilda Salton KÖCHE Adiane Fogali MARINELLO Odete Maria Benetti BOFF

É consenso entre os teóricos que um ensino eficiente de língua ma- terna pressupõe um trabalho com o texto. Geraldi (1993), um dos grandes estudiosos do ensino de língua portuguesa no Brasil, é enfático ao afir- mar que a produção de textos, quer orais ou escritos, é ponto de partida e ponto de chegada de todo o processo de ensino-aprendizagem. Isso de- corre do fato de a materialização dos textos acontecer nas situações so- ciais do dia-a-dia, na forma de gêneros textuais. Nessa perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) recomendam o trabalho com o texto e consideram a função social dos gêneros, aproximando realidade social e ensino de língua. Sugerem ainda que o professor explore as tipo- logias textuais no interior de cada gênero. Assim, o ensino de língua ma- terna, metodologicamente situado na leitura, compreensão, análise e pro- dução de gêneros textuais, desponta como um importante caminho para auxiliar no desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos. Este artigo apresenta uma discussão sobre gêneros e tipologias textuais, aborda a tipologia injuntiva e analisa dois gêneros em que essa tipologia predomina: um manual de instruções e uma receita culinária. Este estudo é significativo, pois textos injuntivos fazem parte do coti- diano do aluno e estão presentes nos diversos ambientes discursivos da sociedade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) e os teóricos Bakhtin (1992), Adam (1992), Bronckart (1999), Fávero e Koch (1998), Geraldi (1993), Marcuschi (2002), Rosa (2003), Travaglia (1991), Sch- neuwly, Dolz e colaboradores (2004) fundamentam este trabalho.

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  1. UCS-CARVI.

1. Os gêneros textuais e as tipologias textuais Toda a atividade comunicativa ocorre através dos gêneros textu- ais, o que justifica a multiplicidade dos gêneros. Para Bakhtin (1992), “se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivésse- mos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível” (p.302). Portanto, os gêneros exercem uma fun- ção fundamental nas relações entre os sujeitos, visto que a língua é con- cebida como uma atividade social, histórica e cognitiva. Nesse sentido, para Bronckart (1999), “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas ati- vidades comunicativas humanas” (p.103). O trabalho com gêneros textu- ais permite, portanto, que o sujeito se torne o autor de seu dizer e possa estar inserido em seu contexto social e histórico. Alguns exemplos de gê- neros textuais são: carta pessoal, receita culinária, manual de instruções, bula de remédio, romance, conto, reportagem, notícia jornalística, edito- rial, resumo, resenha, esquema, redação de vestibular, edital de concur- so, inquérito policial, piada, cardápio de restaurante, sermão, conferência, aula expositiva, conversação e reunião de condomínio. Bakhtin (1992) define os gêneros do discurso como tipos relati- vamente estáveis de enunciados produzidos pelas mais diversas esferas da atividade humana (Cf. BAKHTIN: 1992, p.279). Isso significa que eles podem ser modificados, dependendo da situação sócio-comunicati- va em que são empregados. Por sua vez, numa escala sócio-histórica, Bronckart (1999) afirma que: os textos são produto da linguagem em funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características relativamente estáveis (justificando-se que

tem por base as diferenças linguísticas, e o que distingue os gêneros são os aspectos funcionais. O conjunto das tipologias textuais é limitado e não tende a aumen- tar, ao passo que o número de gêneros é ilimitado, com tendência a ser ampliado no transcorrer do tempo. As tipologias dão suporte na composi- ção de um gênero. Assim, quando certa tipologia textual predomina num determinado texto concreto, dizemos que esse é um texto argumentativo, narrativo, descritivo, injuntivo, dialogal, prescritivo, entre outros.

2. Tipologia textual injuntiva A tipologia textual injuntiva caracteriza-se por guiar os indivídu- os para a execução de uma atividade específica e/ou estabelecer normas para direcionar as práticas sociais. É frequentemente encontrada nos gêneros textuais que circulam no cotidiano de qualquer indivíduo. Por exemplo, uma dona de casa, ao folhear o seu livro de receitas culinárias, depara-se com inúmeros textos injuntivos que visam a orientá-la no pre- paro de alimentos. A injunção está presente também em gêneros como os manuais e as instruções de uso e montagem, os textos de orientação (leis de trânsi- to, recomendações de trânsito e direção), os regulamentos, as regras de jogo, os regimentos, as leis, os decretos, os textos que ensinam a con- feccionar trabalhos manuais e objetos para o lar, as bulas de remédios, os textos doutrinários e as propagandas. Eles podem ser publicados em cartazes, revistas, panfletos, embalagens de produtos, correspondências, entre outros suportes. Segundo Travaglia (1991), essa tipologia abrange ainda a optação, que se constitui no discurso da manifestação do dese- jo; nesta circunstância, o locutor não tem controle sobre a concretização da situação - “Que Deus te ajude!” (p.50). De acordo com Bronckart (1999), a opção pela sequência injun-

tiva para compor um gênero textual implica o objetivo de querer “fa- zer agir” o interlocutor numa direção específica, apontada pelo texto. A ação, portanto, visa diretamente ao interlocutor. A injunção, conforme Travaglia (1991), almeja incitar à realização de uma situação (ação, fato, fenômeno, estado, evento etc.), requeren- do-a ou desejando-a, ensinando ou não como realizá-la. A informação diz respeito a algo a ser feito ou como deve ser feito. Fica a cargo do in- terlocutor executar aquilo que se solicita ou se define que seja feito, em uma ocasião posterior ao momento da enunciação (Cf. TRAVAGLIA: 1991, p.50). Está ligada, portanto, a comportamentos futuros. Na mesma linha de raciocínio, Rosa (2003) afirma que o produtor pode utilizar os textos injuntivos com várias finalidades: aconselhar o interlocutor a fazer algo, ordenar-lhe que cumpra determinadas tarefas, apelar para que aja numa determinada direção, instruí-lo, ensiná-lo a desenvolver uma atividade, entre outras (Cf. ROSA: 2003, p.25). Adam (1992) agrupa os gêneros de base injuntiva sob a denomi- nação de gêneros textuais de sequencialidade injuntiva-instrucional. Se- gundo o autor, esses gêneros buscam induzir atos e tratam explicita- mente de um fazer prático, de um agir-saber sobre o mundo. Por isso, caracterizam-se por apresentar uma estrutura linear ordenada tempo- ralmente, constituída por uma sucessão lógica ou cronológica de fases ou etapas de um comportamento ou processo a executar, recomendando ao interlocutor seguir rigorosamente as indicações. Nessa perspectiva, a partir das capacidades de linguagem domi- nantes dos sujeitos, Schneuwly, Dolz e colaboradores (2004) incluem os gêneros textuais em que predomina a injunção na ordem do “descrever ações” ou “instruir/prescrever ações”. Os autores destacam que essa or- dem diz respeito às normas que devem ser seguidas para atingir algum objetivo (instruções e prescrições) (Cf. SCHNEUWLY, DOLZ e colab.:

nada tarefa” (p.15). Conforme a autora, o “fazer agir” comunicado no texto está relacionado ao “dizer como fazer” do produtor, um “dizer” que está divulgado de forma explícita. O destinatário, geralmente, sabe que o texto injuntivo o conduzirá através de uma sequência programada de microações a concluir uma macroação, que almeja ou está incumbi- do de efetuar (Cf. ROSA: 2003, p.32). Num texto que ensina a confeccionar um origami, por exemplo, tem-se uma macroação a ser realizada: produzir a dobradura de um bar- quinho de papel. Para efetuá-la, é necessário que o leitor execute uma série de microações, explicitadas no texto. Elas estão relacionadas ao tipo e tamanho do papel e aos passos que precisam ser seguidos para, a partir de um pedaço de papel – a situação inicial –, chegar à figura do barco – o produto final. Conforme Rosa (2003), a tipologia textual injuntiva compõe-se de três etapas básicas. A primeira denomina-se “exposição do macro-ob- jetivo acional” - refere-se à indicação de um objetivo geral a ser atingi- do pelo leitor. A fase seguinte chama-se “apresentação dos comandos”

  • diz respeito à exposição de uma sequência de ações, estabelecida pelo produtor, a ser executada para a concretização do macro-objetivo acio- nal. A última etapa denomina-se “justificativa” - contempla a explicita- ção, por parte do produtor do texto, das razões pelas quais o destinatá- rio deve seguir o(s) comando(s) estabelecido(s). Segundo a autora, essa fase tem a sua aparição mais restrita na tipologia textual injuntiva e sua explicitação resultam de uma decisão do produtor do texto. Sua presen- ça é bastante comum nos textos de conselho e muito reduzida em leis e regimentos, pois nesses gêneros os comandos são vistos como obrigató- rios e inquestionáveis. Nesse sentido, Adam (1992) destaca que os gêneros textuais de se- quencialidade injuntiva-instrucional subentendem dois estados, “o de

partida” (ou inicial) e “o de chegada” (ou final), e aponta a existência de “um núcleo transformacional”. Ele exemplifica com a apresentação do gênero receita culinária: temos, de um lado, a lista dos ingredientes e, de outro, frequentemente, a foto do prato pronto, que constitui a atualização icônica da receita propriamente dita; o núcleo transformacional garante a passagem dos ingredientes não preparados ao prato concluído. Como se observa, o estado final origina-se de um macro-objetivo acional e decorre da execução de um plano de ação por parte do interlo- cutor que propiciou a transformação de um estado inicial. Geralmente, os textos injuntivos constituem sequências textuais específicas que assinalam imposição, ordem, indicação, sugestão ou conselho. Por exemplo, no Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990), o receptor se verá forçado a realizar as ações indicadas no texto: “o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segu- rança”. Caso o interlocutor não tome as atitudes apontadas, estará sujei- to à punição de acordo com o que define a legislação. Nesse código, o produtor do texto utiliza a injunção com o caráter discursivo de ordem. Ele representa um órgão do governo e se encontra em um nível hierarquicamente superior, o que lhe dá respaldo diante de seu interlocutor para determinar como deve agir. O produtor está legiti- mado socialmente, e isso garante que a interação tenha sucesso. Por outro lado, existem textos injuntivos em que o produtor não usa a injunção na perspectiva de uma ordem. Por exemplo, numa recei- ta culinária, o interlocutor não necessita obrigatoriamente seguir todos os comandos apresentados no gênero, exceto queira. Determinadas ins- truções aparecem como sugestão. Além disso, se desejar, o leitor poderá acrescentar ingredientes que não estão indicados no texto ou modificar as

3.1. Manual de instruções

SUPER MIXER MARKOCH Manual de Instruções Modelo: 0710/ Modelo: 0710/ Parabéns, agora você possui um SUPER MIXER com alto padrão de eficiência e qualidade, garantindo sucesso no preparo de suas recei- tas. Antes da utilização, leia atentamente as instruções de uso, pois o bom funcionamento de seu aparelho e a sua segurança dependem de- las. CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICAÇÕES DE SEU APARE- LHO O SUPER MIXER MARKOCH apresenta:

  • Botão Liga-Desliga + Pulsar
  • Lâminas de alta performance
  • Braço desmontável
  • Gancho porta-fio ANTES DE UTILIZAR O SEU SUPER MIXER
  • Limpe o aparelho com um pano macio para não riscar o mate- rial de acabamento das superfícies.
  • Desconecte o braço e lave com detergente neutro e água cor- rente. Cuidado com a limpeza das lâminas, pois elas são muito afia- das.
  • Após a limpeza, seque completamente o produto.
  • Toda a limpeza deverá ser feita com o produto desligado e des- conectado da tomada. COMO UTILIZAR O SEU SUPER MIXER
  • Verifique se a voltagem do aparelho é a mesma da tomada a ser utilizada.
  • Conecte o plugue na tomada.
  • Segure o aparelho pelo cabo anatômico e coloque-o dentro do recipiente com o alimento a ser preparado.
  • Com o braço dentro da mistura, acione o botão liga-desliga.
  • Caso a mistura seja muito espessa, aperte e solte o botão para acionar a função pulsar.
  • Se desejar bater diretamente na panela, retire primeiramente o recipiente do fogo e deixe esfriar um pouco. Introduza primeiramente o braço na mistura e só depois acione o botão.
  • Mantenha o botão pressionado durante a mistura e mova o apa- relho para baixo e para cima e em forma circular, a menos que a recei- ta indique outro movimento.
  • Aperte e solte o botão em intervalos menores de 1 (um) minu- to.
  • Desligue o aparelho soltando o botão liga-desliga e, então, re- tire o braço da mistura.
  • Primeiro processe os alimentos secos e só depois acrescente os líquidos.

IMPORTANTE Não utilize seu aparelho por mais de 1 (um) minuto ininterrup- tamente. Após deixá-lo ligado por 1 minuto, deixe-o esfriar desligado por cerca de 5 (cinco) minutos, antes de utilizá-lo novamente. Após este intervalo, você poderá reutilizá-lo novamente, sempre observan- do o tempo máximo de utilização ininterrupta. Isso evitará supera- quecimento e garantirá maior vida útil ao aparelho. Nota: Não utilize o Super Mixer em ingredientes ferventes para evitar respingos e queimaduras. Não use o aparelho para cortar carne ou gelo. Não utilize em massas pesadas e não faça o aparelho funcionar além da capacidade para a qual foi projetado.

COMO LIMPAR O SEU SUPER MIXER

  • Retire o plugue da tomada antes de iniciar qualquer limpeza.
  • Siga as instruções de limpeza do item ANTES DE USAR O SEU APARELHO.
  • Não use jamais palhas de aço, buchas de esfregar ou qualquer espécie de limpadores e materiais abrasivos, pois eles podem danifi-

zar a ação e explicitá-la de forma detalhada. Segundo Fávero e Koch (1998), esse gênero textual direciona com- portamentos sequencialmente ordenados. Verbaliza um processo linear de observação, e a atenção se fixa no objeto. O manual de instruções pertence à ordem do “descrever ações”, pois indica ao interlocutor, de modo detalhado, as ações a serem segui- das para a utilização adequada do aparelho. A tipologia textual de base é a injuntiva. De acordo com Travaglia (1991), a injunção põe em evidência as modalidades de ordem e prescri- ção. Assim, a função sócio-comunicativa do gênero em análise é ins- truir alguém a realizar algo. Pode-se, assim, incluí-lo na categoria dos textos injuntivos instrucionais-programadores. Esse manual distingue-se fundamentalmente pelas formas verbais imperativas (limpe, desconecte, seque, verifique, conecte, segure, man- tenha). Empregam-se ainda verbos no infinitivo (utilizar, acionar, dese- jar, bater, ligar, colocar, evitar) e no futuro do presente (deverá, poderá, evitará, garantirá, acarretará). O gênero vale-se de uma linguagem comum, com o emprego de um conjunto de palavras, expressões e construções usuais. Utiliza uma sintaxe acessível ao leitor comum, ou seja, a linguagem é simples, mas segue o padrão da língua escrita. Para se dirigir ao leitor, emprega o pronome “você” implícito (“Não utilize extensões auxiliares para au- mentar o comprimento do cabo plugue”). A estrutura do manual de instruções permite ao interlocutor en- contrar facilmente as informações que deseja e lhe proporciona orienta- ções claras e seguras, que possibilitam utilizar com sucesso o aparelho. O texto apresenta um título destacado (SUPER MIXER MARKOCH) que diz respeito ao nome e à marca do produto, seguido de um subtítulo (Manual de Instruções); na sequência, aparecem outros subtítulos que

apontam as características e especificações do aparelho e os procedi- mentos a serem efetuados (Antes de utilizar o seu Super Mixer; Como utilizar o seu Super Mixer; Como limpar o seu Super Mixer; Recomen- dações e Advertências Importantes). Na parte inicial, o texto apresenta uma lista dos elementos que se- rão manuseados no procedimento (lâminas, braço), seguida da exposi- ção de algumas de suas características (“lâminas de alta performance”, “braço desmontável”). O texto não utiliza desenhos para especificar os componentes do aparelho. No entanto, segundo Travaglia (1991), para substituir a descrição dos elementos, podem aparecer fotos ou desenhos com indicação dos nomes das partes, acompanhadas ou não da explici- tação de sua função (Cf. TRAVAGLIA: 1991, p.293). Em seguida, o manual de instruções expõe, em ordem cronológica, os procedimentos a serem efetuados antes de usar o Super Mixer. Na se- quência, explicita detalhadamente como utilizar o aparelho e as ações a serem realizadas para a limpeza após o uso. No final do texto, aparecem conselhos importantes com o intuito de ajudar o comprador a usar cor- retamente o aparelho (“Antes de ligar o plugue na tomada verifique se a voltagem do aparelho é compatível com a da rede elétrica local”). Esses lembretes objetivam também evitar possíveis acidentes domésticos (“Para evitar choques elétricos, nunca use o aparelho com as mãos molhadas, não molhe o corpo do aparelho e não o mergulhe em água”). A progressão do sentido e a continuidade do texto ocorrem através de itens não numerados que apresentam, numa sequência cronológica, instruções a serem assimiladas e efetuadas pelo usuário. As sentenças começam por verbos que direcionam a ação do leitor e apontam aquilo que deve ou não ser feito (mantenha, aperte, desligue, retire, siga). O texto emprega operadores argumentativos apropriados ao enca- deamento de ações (antes, após, primeiramente, depois) a fim de permi-

Modo de Preparo: Dissolva a gelatina na água, conforme instruções na caixa. Bata, utilizando o MIXER, a gelatina dissolvida, o leite condensado e o io- gurte natural. Coloque o creme em recipientes individuais e leve para gelar. Quando estiver firme, está pronto para servir. Sugestão: decore com uma fruta do sabor da gelatina. Você pode substituir o leite condensado por mais um pouco de iogurte natural para obter uma sobremesa mais saudável. Categoria: sobremesas - doces Esta receita: é light Cozinha: brasileira Temperatura: gelado Dificuldade: fácil Tempo de preparo: 15 min + o tempo de geladeira Rendimento: 6 porções (BERTIN: 2008, p. - adaptação das autoras)

A receita culinária “Delícia gelada” empregou a sequência injunti- va com o objetivo de orientar o interlocutor na preparação da sobreme- sa: descreve os ingredientes e define como executar a receita. Portanto, esse gênero textual pertence à ordem do “descrever ações”. A tipologia textual de base é a injunção, pois instrui seu interlocu- tor a fazer algo e indica-lhe as ações que deverão ser efetuadas através de verbos operacionais, em sua maioria, no imperativo (dissolva, bata, coloque, leve). Vale-se ainda de verbos no infinitivo (substituir, obter). A função sócio-comunicativa da receita é ensinar alguém a reali- zar algo. É viável, portanto, enquadrar o gênero na categoria dos textos injuntivos instrucionais-programadores. O texto tem como macro-objetivo acional instruir o leitor sobre o preparo de uma sobremesa, por meio de um plano de execução no qual

há a exposição de cinco ações básicas (dissolver a gelatina e batê-la jun- to com o leite condensado e o iogurte natural; colocar o creme em reci- pientes, levá-lo para gelar e servi-lo) e duas ações opcionais (decorar a sobremesa e substituir o leite condensado por iogurte natural). Para que o leitor possa obter o resultado final almejado, deverá efetuar as ações básicas de acordo com a ordem processual hierárquica indicada. Entre- tanto, ele o fará se desejar. O produtor do texto não explicita a justifica- tiva, ou seja, os motivos pelos quais o destinatário deve acatar a sequên- cia de ações estabelecida. Como se constata, essa receita conduz o interlocutor a efetuar uma macroação específica: preparar a sobremesa. Para isso, deverá realizar uma série de microações, que equivalem aos comandos. Verifica-se, as- sim, a presença de um núcleo transformacional que possibilita a passa- gem dos ingredientes não preparados (estado inicial) à sobremesa pron- ta (estado final). Com o intuito de tornar o texto acessível ao seu interlocutor e mostrar-lhe com clareza como proceder para alcançar resultados satis- fatórios, o gênero emprega uma linguagem comum e direta, com frases curtas e de fácil compreensão. Caracteriza-se pela objetividade, uma vez que deixa claro para o leitor as ações a serem executadas. Emprega orações na voz ativa, coordenadas em sua maioria: “coloque o creme em recipientes individuais e leve para gelar”. Para se dirigir ao leitor, o produtor utiliza um pronome de tratamen- to: “você pode substituir o leite condensado por mais um pouco de iogurte natural”. Contudo, na maioria das vezes, o pronome está implícito. Na construção do texto, a coesão entre os diversos elementos que o compõem é garantida através de operadores argumentativos, sobretudo os de adição, que apontam uma sequência de ações (“e leve para gelar”). O vocabulário usado nesse gênero pertence ao campo semântico da

ais e a compreensão de seus contextos comunicativos auxiliam na am- pliação da autonomia linguística do estudante. Assim, a exploração de textos de tipologia de base injuntiva, como a receita e o manual de ins- truções, também é um caminho para desenvolver a criatividade e a ca- pacidade crítica do aluno. Com essas reflexões, esperamos contribuir com subsídios para a prá- tica docente direcionada ao aperfeiçoamento das competências e habili- dades necessárias para a recepção, sistematização e produção de textos.

Referências

ADAM, J. M. Tipos de sequências textuais elementares. Tradução de Alexânia Ripoll et al. Revisão de Leci Borges Barbisan. Porto Alegre: Poligrafo, 1992. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ------. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BERTIN, J. Delícia gelada. In: Mix de receitas especiais. Caxias do Sul: UCS,

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministé- rio da Educação, 1999. BRONCKART, J. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacio- nismo sociodiscursivo. Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999.

FÁVERO, L. L. e KOCH, I. G. V. Lingüística textual: introdução. 4ed. São Pau- lo: Cortez Editora, 1998. GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993. MARCUSCHI, L. A.. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: BEZER- RA, M. A.; DIONISIO, A. P. e MACHADO, A. R. Gêneros textuais & ensino. 2ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p.19-36.

ROSA, A. L. T. No comando, a sequência injuntiva! In: DIONÍSIO, Â. P. e BE- ZERRA, N. S. Tecendo textos, construindo experiências. Rio de Janeiro: Lucer- na, 2003. SCHNEUWLY, B; DOLZ, J. et al. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

TRAVAGLIA, L. C. Um estudo textual-discursivo do verbo no português do Brasil. Tese de Doutoramento em Lingüística. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1991.