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Este texto discute a formação econômica de santa catarina após 1880, abordando a origem e crescimento do capital industrial, a integração de santa catarina no sistema nacional de economia, a especialização regional e as dinâmicas internas. O documento explora as mudanças sociais-demográficas, as exportações e as indústrias tradicionais, além da modernização da agricultura e a industrialização.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Alcides Goularti Filho Doutor em Economia pela Unicamp, Professor do Departamento de Economia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
o objeto de estudo deste texto é discutira formação econômica de Santa Catarina pós 1880. Para alcançar esse objetivo, foi construída uma nova periodização da história econômica de Santa Catarina, que leva em conta a mudança do padrão de crescimento da economia catarinense. A periodização é a seguinte: os anos de 1880 a 1945 caracterizam-se pela origem e crescimento do capital industrial; os anos de 1945 a 1962 foram marcados pela diversificação e ampliação da base produtiva; o terceiro período começa depois de 1962, quando há a integração e a consolidação da indústria catarinense; e o último período inicia-se em 1990, a partir da abertura comercial e financeira e da desregulamentação da econo- mia com o esfacelamento do Estado.
Padrões de crescimento; história econômica catarinense; diversificação regional.
The objective this text is studies the econoivíc formation of Santa Catarina after
1880. A new historical arrangement was built, considering the change in the economic growing pattern in Santa Catarina. The time-scale is as the foilowing: from 1880 to 1945 we have the origin and the growing ofthe industrial capital. From 1945 to 1962 the years were marked the diversification and amplification of the productive base. The third period starts after 1962, when the integration and the consolidation of the industry in Santa Catarina takes place. The last period begins in 1990 starting from the commercial and financial opening and of the deregulation ofthe economy with the sphacelament ofthe State.
Os originais deste artigo foram recebidos por esta Editoria em 03.05.02.
Mesmo não havendo uma integração comercial e produtiva intra-regional em Santa Catarina até o início dos anos 60, podemos tomar o Estado na sua totalidade a partir de 1880 e iremos constatar que havia características que o unificavam. Como o objetivo neste texto-resumo é estudar o Estado na sua totalidade, o marco inicial de nosso estudo começa em 1880. A vinda de novos imigrantes para as lavouras de café e para o Brasil meridional tornou-se uma política econômica deliberada pelo Governo Imperial somente a partir do último quartel do século XIX. Com a chegada de novos e de mais imigrantes a Santa Catarina, a ocupação e a fundação de novos núcleos coloniais começaram a se dispersar, saindo do eixo norte-Vale, chegando até o sul da província. Antes da chegada dos imigrantes ao sul da província, já havia as localidades: de Laguna, fundada em 1682; de Tubarão, fundada em 1836; de Araranguá, fundada em 1848; e de vJaguaruna, fundada em 1867. Tanto Araranguá como Jaguaruna e as outras localidades no litoral foram colonizadas, basicamente, por açorianos, que praticavam as atividades de pesca, e artesanato afins, e agricultura de sub- sistência. A ocupação pelos imigrantes, primeiro os italianos, seguidos dos polone- ses e dos alemães, no sul da província iniciou-se em 1877. Eles desembarca- ram em Desterro e desceram até Laguna e Tubarão, estabelecendo-se próxi- mos aos rios, onde fundaram os primeiros núcleos coloniais. Mesmo com a presença de alguns municípios e vilas, ao longo do litoral sul e de núcleos coloniais mais ho Interior, a região passou a ter um destaque econômico so- mente com o início das atividades carboníferas e com o início da construção da ferrovia pós 1880 (Dall'Alba, 1983). O oeste da província foi definitivamente demarcado após o conflito diplomá- tico entre Brasil e Argentina, conhecido como a Questão do Palmas, encerrado em 1895. Em 1850, o Governo Imperial já havia determinado a criação de uma colônia militar na região de Palmas. No entanto, somente com o agravamento do conflito diplomático é que foi apressada a ocupação na região, e, em 1882, foi fundada a Colônia Militar de Chapecó (Heinsfeld, 1996). Um ano após a assi- natura do Tratado, começaram as negociações entre o Governo e os agentes
sas microrregiões em Santa Catarina, dando ênfase ao processo de diversifica- ção, ou não, das suas respectivas estruturas produtivas nas últimas duas déca- das. A conclusão tem tão-somente um caráter reflexivo, dissertando sobre a possível totalidade das economias da Região Sul do Brasil e acerca das especificidades de Santa Catarina.
privados para a conclusão da construção da ferrovia São Paulo—Rio Grande, que cortava todo o oeste no sentido norte-sul (Thomé, 1983). Com a inaugura- ção do trecho ferroviário em 1910 e com a colonização da região por imigrantes ítalo e teuto-brasileiros provenientes do Rio Grande do Sul pós 1916 é que a região, efetivamente, passou a ter um destaque econômico mais expressivo, devido à exploração da madeira e da erva-mate e de pequenas atividades agropecuárias (Radin, 1997). Na realidade, a região oeste integrou-se definitiva- mente ao território catarinense somente depois de assinado o Acordo de Limi- tes com o Paraná em 1916. Mesmo assim, tomaremos como data inicial o ano de 1880, para termos uma unidade espacial de análise em Santa Catarina. Quando foi fundada a Colônia Militar e demarcado o território para a construção da ferrovia, já havia claras intenções do Governo catarinense em anexar a região oeste, tanto que, na questão dos limites, foi dado ganho de causa para Santa Catarina. Com base nestes fatos, imigração e atividades carboníferas no sul, funda- ção da Colônia Militar de Chapecó, exploração da madeira e aumento do fluxo de imigrantes para o norte e Vale do Itajaí, podemos tomar como ponto de partida o ano de 1880 para traçarmos uma nova periodização da formação econômica de Santa Catarina, que terá como base a mudança no padrão de crescimento. Como o objetivo é estudarmos o Estado como um todo e entendê- -lo dentro de urna unidade de análise, a partir de 1880 já podemos identificar elementos unif icadores da sua formação econômica. Quando afirmamos que no período que vai de 1880 a 1945 predominou o padrão de crescimento baseado na pequena propriedade mercantil e nas atividades tradicionais, não estamos excluindo o planalto serrano. É sabido que a grande propriedade pecuária e extrativista mercantil constituiu a base econômica do planalto serrano por um longo período (Costa, 1982). O padrão hegemônico no Estado era o da pequena propriedade, que ditava o ritmo de grande parte da economia catarinense. Em ambos os regimes de propriedades (grande e peque- na), porém, predominava o capital mercantil. Durante o período de 1880 a 1945, podemos dizer que se originaram e cresceram em Santa Catarina as indústrias madeireira, alimentar, carbonífera e têxtil. A metal-mecânica e a moveleira também nasceram nesse período, porém partiram para um crescimento mais acelerado somente nos anos posteriores. Nesse período, ocorreram duas grandes mudanças sociais-demográficas em Santa Catarina: a primeira, com a entrada de imigrantes europeus, de 1875 a 1900, no Vale do Itajaí, norte e sul, e que se estendeu em ritmo desacelerado até o início dos anos 20; e a segunda, com o movimento migratório de imigran- tes e descendentes provenientes do Rio Grande do Sul, a partir de 1917, em direção ao oeste catarinense, estendendo-se até os anos 50, e que fazia parte das frentes pioneiras de colonização capitalista.
As frentes pioneiras, o extrativismo vegetal e a construção da Estrada de Ferro São Paulo—Rio Grande (EFSPRG), no oeste do Estado (Bellani, 1991; Piazza, 1994; Thomé, 1983), resumem-se num só elemento, que explica a in- trodução de relações capitalistas de produção no oeste e no Contestado. A ocupação do oeste catarinense, que se estendeu até os anos 50, faz parte do movimento geral da expansão das fronteiras agrícolas no Brasil, no século XX, que chegou até a Região Norte, passando pelo Paraná, todo o Centro-Oeste e deslocando-se até o sul do Maranhão (Silva, 1982). A ocupação do oeste catarinense não deve ser vista apenas do ponto de vista estratégico territorial para demarcar terras comandadas pelo Governo Federal. Terra é um recurso que incorpora valor e se valoriza, portanto, fonte de acumulação capitalista. As fronteiras no oeste têm uma ligação direta entre o capital industrial, representa- do pelo grande fruste canadense Farquhar (que atuava em vários segmentos em todo o território nacional), e o capital mercantil, representado pelas companhias colonizadoras, que atuavam, simultaneamente e em comum acordo, com os governos locais, no sentido de buscarem a valorização máxima de seu capital, utilizando a terra como fonte de acumulação. Portanto, o objetivo não era ape- nas demarcar terras, mas, também, acumular capital por meio da venda da terra. Para demarcar terras, foram criados municípios e vilas; para escoar a pro- dução, foram abertas estradas, ferrovias e construídos portos fluviais; e, para acabar com a violência, do ponto de vista dos colonizadores, foram extermina- dos os índios e subordinados os caboclos ao trabalho nos moldes capitalistas, ou seja, foram dadas as condições materiais e sociais para a reprodução capi- talista. A fertilidade do solo, a mata existente, a ferrovia, as companhias coloni- zadoras e a chegada dos colonos, inicialmente, formaram uma nova e diferente vida econômica na região. No início do século XX, começaram a se consolidar os setores que coman- dariam a economia catarinense até o início dos anos 60: têxtil, madeireiro e alimentar. O aumento da quantidade produzida de madeira, têxtil e alimentos não alterou o padrão de crescimento, baseado no capital mercantil. Além do mais, seria impossível Santa Catarina alterar seu padrão de crescimento, por- que o padrão de acumulação nacional ainda era o mercantil. Até meados dos anos 40, a base produtiva da economia catarinense era comandada pelo peque- no e pelo médio capital mercantil. A presença de indústrias com mais de 80 trabalhadores era possível de ser verificada em vários setores, mas representava uma pequena parcela no conjunto, tanto na produção como na geração de em- prego. A partir da segunda metade dos anos 10 até o final dos anos 20, o valor das exportações catarinenses aumentou seis vezes, ritmo que se manteve nos anos
Do ponto de vista do sistema nacional de economia, a partir de 1933 alte- rou-se o padrão de acumulação do mercantil-agrário-exportador para o indus- trial. Já podemos falar em industrialização, porém ela foi limitada pela capacida- de de importar e pelas débeis bases técnicas e financeiras — cuja acumulação era horizontal — incapazes, portanto, de comandarem e financiarem os investi- mentos necessários para o País constituir "forças especificamente capitalistas de produção". Houve, nesse período, um crescimento do departamento de bens de produção. No entanto, ainda foi insuficiente para atender às necessidades da economia, que estava em franca expansão. Nesse período, a economia paulista foi novamente a mais beneficiada com os investimentos, até porque, no passa- do, a expansão do complexo cafeeiro se concentrava mais em São Paulo. Algu- mas regiões, não suportando a concorrência com a indústria paulista, foram sufocadas, e outras, beneficiadas em função do aumento das articulações co- merciais estabelecidas com a economia paulista (Mello, 1988; Tavares, 1998; Cano, 1985). Em Santa Catarina, devido à baixa capacidade de acumulação (excluindo os têxteis), à desintegração econômica e à falta de aporte financeiro, o período de ampiiação e diversificação do capital industrial iniciou-se somente na segun- da metade dos anos 40. Até então, o destaque ficava por conta das indústrias madeireira, ervateira, carbonífera, de alimentos e tê>|:til, ou se% setores tradi- cionais, com pouca capacidade de difusão tecnológiòa a jusante e a montante, sendo que os três primeiros estão ligados à disponibilidade de recursos natu-
tivas em Santa Catarina ainda continuavam as mesmas, e somente a partir de 1945 começou a mudar a estrutura econômica do Estado barriga-verde, com a ampliação da pequena indústria metal-mecânica em Joinville, com o surgimento da indústria de papel, pasta e celulose no planalto e com o das cerâmicas no sul. A indústria catarinense estava se consolidando e começava partir para outra base produtiva, que passava a comandar o processo de acumulação. O pequeno proprietário, o colono, o caboclo e o pescador são as matrizes sociais dessas transformações. O capital-dinheiro, concentrado nas mãos dos pequenos capitalistas, transformou-se rapidamente em capital-industrial. É a partir desse desdobramento que nasceu o grande capital industrial em Santa Catarina. E é o capital industrial, juntamente com o mercantil, que será o móvel da acumulação no período de 1945 a 1962, um período transitório para a fase de integração e consolidação da indústria catarinense.
rais. O núcleo mais dinâmico concentrava-se em Joinville — que surgiu antes de 1945 —, estava em fase de consolidação e era composto por pequenas oficinas mecânicas e funilarias, portanto, incapaz de imprimir um ritmo acelerado à eco- nomia catarinense. No período 1945-62, assiste-se, na economia catarinense, a uma verdadei- ra diversificação e ampliação da base produtiva. Houve uma diversificação, por- que surgiram novos setores corno os de papel, papelão, pasta mecânica, cerâmico, metal-mecânico, plástico, materiais elétricos e indústrias ligadas ao setor de transporte. Houve urna ampliação, porque: (a) os setores como o de papel, papelão, pasta mecânica, móveis e metal-mecânico, que nasceram an- tes ou nos anos 30, aumentaram a produção com o surgimento de novas indús- trias; (b) os setores carbonífero e têxtil ampliaram a capacidade produtiva; (c) e a agricultura começou a se industrializar, transitando do complexo agrocomercial para o complexo agroindustrial. Esse período foi urna fase transitória, em que ainda perduram traços do padrão de crescimento baseado na pequena produ- ção mercantil, e, ao mesmo tempo, connpçarn á surgif elementos de um novo padrão, baseado no médio e no grande capital iriidüstrial. Os setores com potencialidades mais dinâmicas, o metal-mecânico, o cerâmico e a produção de papel e pasta mecânica, nasceram da pequena produção e voltaram-se para o mercado nacional, expandindo-se, rapidamente, num momento em que a in- dustrialização pesada estava num processo acelerado de expansão e consoli- dação. Durante o período 1945-62, houve uma expansão dos setores tradicionais que se originaram no período anterior. Ao mesmo tempo em que se expandiam, havia uma diversificação a partir do próprio setor: o madeireiro diversificou-se para a produção de papel, papelão e pasta mecânica, e do setor dos alimentos nasceu a agroindústria. Durante o período 1945-62, ocorreu um verdadeiro alargamento da divisão social do trabalho em Santa Catarina: por um lado, com o surgimento de novos setores, como o cerâmico, a consolidação e a expansão acelerada do metal- -mecânico e a diversificação do complexo madeireiro para papel e pasta mecâ- nica; por outro lado, com a ampliação do têxtil e do carbonífero e o início da transformação do alimentar para o agroindustrial. O surgimento dessas novas indústrias, internamente, é resultado da metamorfose do capital mercantil para o industrial. O capital-dinheiro acumulado na esfera mercantil transformou-se em capital industrial, mesmo num processo lento de acumulação. A lenta acu- mulação da pequena produção mercantil foi acelerada quando o capital se engajou no "projeto nacional de industrialização" e no plánojáínento esíadual, surgindo as grandes indústrias catarinenses. A grande empresa passou a subordinar o pequeno capital, num processo de complementaridade. É a pequena produção gerando as condições para a sua própria negação. Com base no número de
o padrão de crescimento da indústria catarinense, até meados dos anos 40, era baseado na pequena propriedade e nos setores tradicionais da econo- mia, ficando, por um longo período (1880 a 1945), alterando apenas a quantida- de produzida. A partir de meados da década de 40, a indústria catarinense co- meçou a ampliar e a diversificar a sua base produtiva com o surgimento de setores dinâmicos. A infra-estrutura social básica e os arranjos institucionais não estavam preparados para tal processo de diversificação, obrigando o Esta- do a intervir na economia para facilitar o processo de acumulação. O padrão de crescimento alterou-se a partir de 1962, com o novo sistema de crédito, com os investimentos em energia e transporte e com a consolidação do setor eletro- -metal-mecânico, liderado pelas médias e grandes indústrias. Mesmo nos setores tradicionais, várias firmas se consolidaram, incorporaram outras marcas, tor- nando-se líderes nacionais. Internamente, o movimento geral da indústria catarinense passou a ser conduzido por grandes e médias empresas nos setores de alimentos (Sadia, Perdigão, Chapecó, Coopercentral, Seara e Duas Rodas), eletro-metal-mecânico (Tupy, Cônsul, Embraco, WEG, Kohibach, Busscar e Duque), cerâmico (Eliane, Cecrisa, Icisa, Portobello e Cesaca), têxtil-vestuário (Hering, Artex, Karsten, Teka, Sulfabril, Maiwee, Renaux, Buettner, Cremer, Marisol, Maiwee e Dõhier), papel e celulose (Klabin, Igaras, Irani, Trombini e Rigesa), madeireiro (Sincol, Adami, Battistella e Fuck), carbonífero (CBCA, CCU, Metropolitana, Criciúma, Catarinense e Próspera), moveleiro (Cimo, A r t e f a m a , R u d n i c k e L e o p o l d o ) , p l á s t i c o ( H a n s e n — T i g r e e Cipla —, Canguru e Akros) e porcelanas e cristais (Oxford, Schimitz, Ceramarte, Blumenau e Hering).
A mudança do padrão de crescimento em Santa Catarina só pode ser entendida, em primeira instância, pela mudança do padrão de acumulação em nível nacional, que tinha como tripé básico o capital estatal, o externo e o na- cional (a perna fraca). Na maioria das unidades federativas periféricas, a diversi- ficação e a integração produtiva deram-se com a presença do capital estatal, que financiava e isentava projetos privados ou investia diretamente. Já em outras unidades federativas, que tiveram uma formação socioespacial diferenciada, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a diversificação e a integração produtiva foram comandadas pelo capital de origem local e pelo Estado. A formação dos complexos agroindustriais em Santa Catarina está dentro desse movimento geral de constituição dos complexos em nível nacional e só pode ser entendida a partir da modernização conservadora e da industrialização da agricultura no Brasil (Silva; Kagayama, 1998). A industrialização pesada pós 1955, a criação de vários centros públicos de pesquisas básicas, a implantação
dos complexos petroquímicos ligados à Petrobrás e a consolidação de uma política nacional de crédito rural, ou seja, a forte atuação do Estado, permitiram a formação dos complexos agroindustriais em todo o País. Esses são os sus- tentáculos da modernização conservadora e dolorosa (Mello, 1988; Silva, 1982). Embora Santa Catarina tenha uma estrutura fundiária menos concentrada do que muitos estados brasileiros, os setores mais beneficiados com créditos, subsídios, amparo tecnológico e suporte técnico foram as grandes empresas. Em boa medida, a explicação para o "sucesso" dos grandes frigoríficos em Santa Catarina reside no longo processo de modernização conservadora e nas benesses da política agrícola (incluindo subsídios e financiamentos), delibera- dos pelo Estado. Em 1962, começou um novo período em Santa Catarina, quando o capital industrial passou a ser o móvel da acumulação capitalista. A modernização da agricultura, com a mutação do complexo agrocomercial — dos moinhos e frigo- ríficos, que comercializavam produtos quase que in natura — para o complexo agroindustrial de carne reforçou e consolidou o novo padrão de crescimento em Santa Catarina, comandado pelo Estado e pelas grandes e médias indústrias e agroindústrias. Acompanhando o movimento geral da industrialização brasileira, o padrão de crescimento em Santa Catarina sofreu profundas alterações a partir de 1962, quando a economia passou a ser pensada por órgãos governamentais. Apesar de a primeira experiência em planejamento ter sido o Plano de Obras e Equipa- mentos (POE) — 1956-60, foi somente com o Plano de Metas do Governo (Plameg) — 1961 -65 que efetivamente o Estado passou a utilizar instrumentos ativos de políticas econômicas para implantar e ampliar a infra-estrutura social básica e para financiar o capital privado local. A mesma proposta do Plano foi repassada para o Plameg II (1966-70) e para o Projeto Catarinense de Desenvol- vimento (PCD) — 1971 -74 e, em menor proporção, ao Plano de Governo (PG) — 1975-1979 (Bornhausen, 1955; Reis, Fontana, 1975; Salles, 1971; Schmitz, 1985). Destacamos quatro grandes áreas de atuação dos Planos: a) financeira - dotar o Estado de capacidade financeira para financiar investimentos de longo prazo por meio de agências de fomento e pro- gramas de incentivos; b) transporte - integrar as mesorregiões produtoras aos mercados nacio- nal e estadual; c) energia - ampliar a área de atuação da Celesc, distribuindo e gerando mais energia; e d) telecomunicações - aumentar a rede de telefonia e a oferta de linhas. É o Estado atuando como forma superior de organização capitalista, ala- gando as bases produtivas e ajustando-se à ordem econômica e politizando as relações econômicas.
Os anos 90 inauguraram uma nova fase na economia latino-americana. Durante um longo período, que iniciou em 1930 e se estendeu até o final dos anos 70, os governos latino-americanos tiveram uma ampla margem de mano- bra para manipularem políticas econômicas em prol da industrialização de seus respectivos países. O crescente endividamento nos anos 70 permitiu que mui- tos países latino-americanos continuassem seus projetos de industrialização. A disponibilidade de liquidez internacional proporcionada pelo petrodólar reduziu bruscamente as taxas de juros internacionais, tornando atrativa a tomada de recursos externos. Dada à atrofia do capital financeiro no Brasil, em boa medi- da, o II PND foi financiado por recursos externos. A quebra do padrão de finan- ciamento, a crise fiscal do Estado e o seu enfraquecimento enquanto poder de comando começaram a desenhar uma nova ontologia das relações na econo- mia brasileira (Baer, 1993; Lopreato, 1992; Carneiro, 1993). Quando se altera a
no Estado (Schmitz, 1991; Fonseca, 1988). O eixo central do sistema financei- ro desiocou-se do crédito ao consumo para o crédito ao investimento de iongo prazo. Após o reordenamento do BDE, no final dos anos 60, foram criados outros mecanismos de fomento, como o Fundesc, o Procape e o Prodec, além da criação do Badesc, todos com um propósito claro: fomentar e incentivar a indústria e a agroindústria catarinense.
Fazendo uma análise de todos os recursos liberados pelo BDE, Fundesc, Procape, BRDE, Badesc e Prodec, é fácil entendermos por que o complexo agroindustrial deu um salto quantitativo e qualitativo, por que o complexo eletro- -metal-mecânico se tornou tão dinâmico, por que a indústria de revestimentos cerâmicos integrou-se, rapidamente, nas economias nacional e internacional e por que o Vale do Itajaí se consolidou como o segundo pólo têxtil do País. Buscar explicação na figura do empresário inovador para entender o dinamismo da indústria catarinense no mínimo torna a análise descontextualizada. Não existe empresário inovador sem um arranjo institucional e financeiro propício à realização de novos investimentos, sem um estado de confiança, sem expecta- tivas favoráveis e com retorno garantido. Esse aparato financeiro que promove as finanças industrializantes faz parte de um movimento geral da industrializa- ção brasileira. A industrialização brasileira e, por extensão, a ampliação e a integração produtivas em Santa Catarina são um imperativo político e não obra do mercado, da mão invisível ou da capacidade inovadora de um indivíduo. Resu- mindo: em boa medida, reside nas finanças industrializantes a resposta do su- cesso de muitas empresas catarinenses.
relação entre o poder público e a dinâmica interdepartamental e o grande capital nacional, também se altera o padrão de acumulação. Com a desarticulação política do Estado na condução do processo de acumulação, investindo na infra- -estrutura social básica e na regulação econômica e financeira, o grande capital multinacional, principalmente o financeiro, passou, de fato, a comandar o pro- cesso de acumulação. As privatizações e as desnacionalizações suicidas, as- sociadas ao novo ciclo de endividamento especulativo externo dos anos 90, ao mesmo tempo enfraqueceram e fortaleceram o Estado: enfraqueceram no sen- tido de formular novas políticas de desenvolvimento em bases nacionais e forta- leceram para conduzir os ganhos especulativos do mercado financeiro. É dentro desse movimento mais amplo que devemos entender as mudan- ças estruturais na economia catarinense pós 1990, como a redução das atividades estatais, a reestruturação da indústria cerâmica, o desmonte do setor carbonífero, a r e e s t r u t u r a ç ã o patrimonial no c o m p l e x o eletro-metal-rnecânico, a desverticalização e a retração no segmento têxtil-vestuário e a desnacionalização no complexo agroindustrial. Uma das características que sempre marcou o desempenho do setor de revestimentos cerâmicos no sul de Santa Catarina foi a sua forma agressiva d^e atuar no comércio internacional. Em função da retração do mercado interno, durante a década de 80, a conquista do mercado externo tornou-se condição sine qua non para a manutenção e a reprodução da capacidade instalada das cerâmicas, obrigando as cerâmicas a introduzirem prematuramente — compa- rado com a inserção de outros setores — os novos métodos de produção e gestão. No início dos anos 80, as exportações de pisos e azulejos em Santa Catarina eram de, aproximadamente, US$ 5 milhões, representando 9,0% das exportações nacionais, chegando, no final da década, próximo dos US$ 50 mi- lhões, 28,7% das exportações nacionais. No final dos anos 90, as exportações já ultrapassavam os US$ 100 milhões, representando 43,8% das exportações nacionais (Secex/SED-SC). Quando a abertura do mercado começou a ser uma dura realidade para a economia brasileira, muitos setores foram profundamente abalados e outros simplesmente excluídos do mercado. Como as indústrias cerâmicas do sul catarinense, no que tange à incorporação de novas tecnologias, estavam, de certa forma, adaptadas para urna nova etapa de concorrência inter- nacional, evitou-se um desmantelamento do setor. Quando os novos equipa- mentos, máquinas ou insumos eram difundidos na Europa, rapidamente eram alocados nas cerâmicas catarinenses.
Q ano de 1990 marcou o fim do longo ciclo expansivo e acelerado do carvão, iniciado durante a Primeira Guerra, em que havia uma forte presença estatal no setor. O Governo Collor simplesmente liberou a importação do carvão metalúrgico, desobrigou as siderúrgicas estatais a comprarem o carvão nacio- nal, acabou totalmente com as cotas e fechou o Lavador de Capivari e as unida-
o objetivo neste item é fazermos urna análise da dinâmica recente de diversificação, ou não, da base produtiva das microrregiões em Santa Catarina, nas duas últimas décadas. Portanto, esta análise perpassa os dois últimos períodos analisados. Os anos 80 representaram, para a economia latino-americana, um longo período de baixo crescimento econômico, ocasionado pela crise da dívida exter- na e pelo enfraquecimento dos Estados nacionais em formularem políticas de desenvolvimento voltadas para os interesses nacionais. No Brasil, a situação não foi diferente. Durante toda a década de 80, ficamos mergulhados numa crise fiscal e financeira, que se originava na dívida externa e na interna. O longo pe- ríodo de crescimento que se iniciou nos anos 30, com taxa média de 7,5% ao ano, se esgotou em 1981. Dada a atrofia do sistema bancário nacional, que ainda não havia formado um capital financeiro forte (banco mais indústria), du- rante todo esse longo período de crescimento, o padrão de financiamento foi baseado essencialmente em recursos externos e em fundos públicos. Com a crise da dívida, voltamos a encontrar o nosso velho problema: o financiamento.
queda geral de 38,4% na década. Com as novas exigências impostas pelos frigoríficos, como ganho de escala, novos sistemas de iluminação e ventilação e salas para as matrizes melhor adaptadas, além da estratégia de trabalharem com integrados que ficaram dentro de um raio de abrangência mais próximo da empresa, o número de suinocultores teve uma queda considerável. No final de 1999, havia apenas 16.000 suinocultores, na sua grande maioria integrados. A redução de integrados na suinocultura pode ser acompanhada pelos dados for- necidos pela Sadia e pela Aurora. Percebe-se que, até o início dos anos 90, o número de integrados aumentava constantemente: a Sadia chegou a ter, em nível nacional, 14.500 integrados de suínos, reduzindo para 4.890 em 1999, e a Aurora reduziu de 8.910 para 5.947. Em compensação, dado o aumento de escala, o número de matrizes Aurora passou de 6,5 por propriedade para 14,34. Nos anos 90, a falta de uma diretriz nacional isolou as unidades subnacionais na elaboração de seus planos. A prática do planejamento já começou a entrar em crise no Brasil ainda nos anos 80, quando o Estado começou a enfrentar o problema do endividamento externo e de seus desdobramentos internos. O Es- tado ficou engessado na dívida externa e na crise fiscal e financeira, sem condi- ções de elaborar novos planos com objetivos nacionais. A cada plano que pas- sava, reduzia-se a atuação do Estado-nação e aumentava a crença no mercado. Essa lógica perversa está associada a um movimento mais geral da história recente, que são o neoliberalismo e a cosmopolitização das finanças.
OU seja, como financiar o crescimento sem a constituição de um forte capital financeiro nacional. O problema do financiamento é um espectro que ronda a economia brasileira, desde quando mergulhou num "projeto de industrialização acelerada". A década de 80 foi considerada, por alguns ideólogos da CEPAL, a "década perdida", porém é mister destacar que foi menos infame do que a de 90 (Tavares, 1998). A média de crescimento do PIB brasileiro nos anos 80 girou em torno de 2,0% ao ano. Contudo, se formos analisar o desempenho de algumas unidades federativas, vamos perceber que a década não foi perdida para todos. Alguns estados tiveram um desempenho bem acima da média nacional, como foi o caso de Maranhão, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Os que tiveram um desempenho próximo à média nacional fo- ram São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul (Pacheco, 1998). Vejamos os múltiplos determinantes que mantiveram o crescimento econômico em Santa Catarina em torno de 5,3% ao ano em dois níveis: o microrregional e o estadual. Na Região Sul, o crescimento foi basicamente estimulado pelo grande salto quantitativo da produção de carvão, iniciada pós 1973, quando a produção saltou de 4,3 milhões de toneladas em 1973 para 19,7 milhões em 1985. Mes- mo com o início do desmonte do aparato estatal pró-carvão em 1986, podemos afirmar que a segunda metade dos anos 80 testemunhou a continuidade de uma política de proteção, a continuidade de um "modelo". O setor cerâmico conti- nuou ancorado ao BNH até a sua extinção em 1986, e o ritmo da produção manteve-se acelerado com a abertura de novas unidades fabris (Goularti Filho, 1996). Os grupos Cecrisa e Eliane mantiveram um ritmo constante de inovação tecnológica, além de se integrarem nacionalmente. Em termos de exportação, em 1983 os azulejos e pisos catarinenses participavam com 9,0% das exporta- ções nacionais, saltando para 28,7% em 1989 (SED-SC). Ao lado da consolida- ção das cerâmicas, surgiram as indústrias de calçados, de matérias plásticas e do vestuário, que se mantiveram num ritmo contínuo de crescimento, sobretudo na geração de emprego. O setor calçadista foi um grande gerador de emprego; em meados da década chegou a ofertar 5.500 empregos diretos, perdendo ape- nas para o carbonífero. O último boom da indústria carbonífera, pautado np forte apoio estatal e na diversificação produtiva, explica o bom desempenho da eco- nomia sul catarinense nos anos 80. No oeste, a continuidade do crescimento foi garantida pela for^e expansão dos cinco grandes frigoríficos, tanto em nível nacional como estadual. A despei- to de toda a crise, o setor de alimentos manteve-se em ritmo constante de crescimento. As exportações de carnes, que iniciaram na segunda metade dos anos 70, passaram a ser responsáveis por mais de 13,0% das exportações catarinenses no final dos anos 80 (SED-SC). O número de integrados na