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2015. A entrevista encontra-se transcrita no Anexo H desta Dissertação. KOCH, Stephen. Oficina de escritores: um manual para a arte da ficção. Tradução de.
Tipologia: Provas
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado em Letras – do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Letras, na área de concentração em Estudos Literários. Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Sodré
Aos meus pais – que sempre acreditaram.
Um escritor se forma com muita leitura e escrita, por ouvir os outros e também por uma oficina literária.
Luiz Antonio de Assis Brasil
A Escrita Criativa tornou-se conhecida a partir de Oficinas Literárias, que têm se espalhado desde 1970 pelo Brasil, e, atualmente, por meio do advento de vários sites que compartilham técnicas de escrita. Luiz Antonio de Assis Brasil esclarece que o termo “Escrita Criativa” é usado para o exercício de escrita com domínio da criatividade e que, na cultura letrada atual, designa a escrita de uma obra literária de qualquer gênero, declinada num ambiente de ensino e aprendizagem, seja informal, seja acadêmico. Assim, o propósito de uma oficina que pretende ensiná-la seria o de usar técnicas e motivações específicas no campo da criatividade para desencadear a escrita de literatura. Neste sentido, além de discutir conceitos de “Oficina Literária” e de “Escrita Criativa” a partir dos estudos de diferentes teóricos e de entrevistas de oficineiros, pretende-se descrever e analisar o funcionamento dessas práticas de fomento à escrita no Brasil, investigando os conceitos que gerenciam uma oficina literária, suas possíveis metodologias, seus objetivos e seu alcance, e, assim, procurando reduzir o que se considera ainda uma insuficiência no número de estudos na área de Escrita Criativa.
Palavras-chave: Oficina Literária brasileira. Escrita Criativa brasileira. Formação de escritor.
Por sua vez, Luiz Antonio de Assis Brasil, em seu texto Histórico das oficinas literárias , esclarece que o primeiro programa notório de escrita criativa foi o “Program in Creative Writing”, iniciado pela Universidade de Iowa, em 1936, sob a direção de Wilbur Schramm, sucedido em 1941 por Paul Engle. Desse programa, em que também foram oferecidos seminários, palestras e workshops , já participaram, como alunos, autores como João Gilberto Noll, Affonso Romano de Sant'Anna e Charles Kiefer. Desde então, registra-se que várias universidades americanas têm implementado os cursos de Escrita Criativa em seus currículos. A França gerou os Ateliers d'Écritures , iniciados nos finais dos anos de 1960 com Elisabeth Bing; anos mais tarde, Claudette Oriol-Boyer, da Universidade de Grenoble, diretora da revista TEM ( Texte en Main ), tornou-se referência para o desenvolvimento de oficinas, com destaque às destinadas ao público escolar.
Na América Latina, Assis Brasil chama a atenção para o trabalho da Universidade do Texas em El Paso (México), que criou um curso de Maestría en Creación Literaria, que mescla conteúdos da Teoria Literária com exercícios de produção de textos de seus participantes. Outros países, como Paraguai, Uruguai e Cuba também possuem seus próprios “Laboratórios de Escrita”. Na Argentina, as oficinas, ou Talleres de Escritura, são ministradas por conhecidos escritores como Ricardo Piglia, autor de O laboratório do escritor (1994).
Em relação ao Brasil, Berenice Lamas e Marli Hintz (2002, p. 11) afirmam que as oficinas têm seu início, geralmente, ligado às instituições públicas. Cyro dos Anjos, em 1962, na Universidade de Brasília, iniciou o ciclo nacional das oficinas literárias. Seguiram-se outros casos como de Judith Grossmann, em 1966, na Universidade Federal da Bahia. Já em 1975, aconteceu no Rio de Janeiro uma importante oficina regida por Silviano Santiago e Affonso Romano de Sant´Anna, o que impulsionou que outras oficinas se realizassem pelo país.
Considerando o fator histórico, e para fins de registro, Amilcar Bettega Barbosa apresenta detalhadamente, e de forma cronológica, o surgimento das oficinas no Brasil no contexto universitário:
Em 1966, foi criada na Universidade Federal da Bahia, uma «Oficina de Criação Literária», primeiro como atividade extracurricular, depois como disciplina opcional (desta experiência resultou a publicação de um romance
escrito coletivamente). Houve ainda nos anos 60 uma experiência na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas é a partir da década de setenta que as oficinas começam a se multiplicar nas universidades brasileiras. Apenas para citar algumas universidades que nos anos 70 e 80 desenvolvem experiências nessa área, temos: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (SP) 1972; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Moura Lacerda (Ribeirão Preto, SP), 1975; PUC-RJ, sob a orientação do escritor e crítico Silviano Santiago, também em 1975; Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1977; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 1978; Universidade Federal do Espírito Santo, em 1981; Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (RJ), em 1981; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cabo Frio (RJ), 1982; Universidade Gama Filho RJ, em 1983 (BARBOSA, 2012, p. 46).
Em 1985, no Rio Grande do Sul, ocorreu a instituição da Oficina de Criação Literária que funciona, de modo ininterrupto, no âmbito do Curso de Pós-Graduação em Letras da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGL-PUC/RS), tornando-se, atualmente, uma das mais populares e procuradas no país. Outras oficinas também são oferecidas e popularmente conhecidas, como a organizada por Raimundo Carrero, em Recife, escritor que lançou livros como A preparação do escritor (2009), que disserta sobre o aprendizado do ofício da escrita. Cunha e Silva Filho (2015) situa outras oficinas ministradas pelo país, como a de Charles Kiefer, no Rio Grande do Sul; de Marcelino Freire e de João Silvério Trevisan, em São Paulo; de Silviano Santiago e de Esdras do Nascimento, no Rio de Janeiro. Registra-se também a oficina de poesia ministrada pelo professor Paulo Henriques Britto, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Experiência semelhante ocorre no Instituto Superior de Educação Vera Cruz, localizado em São Paulo, onde desde 2011 é oferecida com o Curso de Pós-Graduação de “Formação de escritores”, com duração de dois anos. Com a coordenação atual de Roberto Taddei e Márcia Fortunato, o curso se divide em dois núcleos: o de “ficção” e o de “não-ficção”. No site da instituição, explica-se que o primeiro eixo visa à produção de textos em prosa nos gêneros conto, novela, romance, crônica, ensaio e literatura para crianças e jovens. Já o segundo consiste em desenvolver habilidades para a escrita de memórias, biografias, críticas, ensaios, crônicas, artigos e reportagens^1.
(^1) Apesar de a “crônica” e de o “ensaio” serem trabalhados em ambos os eixos (ficção e não-ficção), não há explicações sobre a diferença de tratamento desses gêneros.
Como vimos, apesar da diversidade, a área de estudos em Escrita Criativa ainda é recente no Brasil: a Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul foi a primeira a criar essa área de estudo, que funciona ao lado da Linguística e da Teoria da Literatura. Sua linha de pesquisa específica “Leitura, Criação e Sistema Literário” é responsável por investigar a gênese de textos literários e não literários, sua relação com outras linguagens e, apoiada em teorias críticas da literatura e em documentos de escritores sobre o processo de criação, a inclusão do escritor no sistema literário. A linha já conta com diversos trabalhos defendidos, que, em sua maioria, como pode se verificar a partir do acervo digital do site da instituição, tratam da escrita de uma obra ficcional como parte fundamental de seu desenvolvimento, a qual é acompanhada por uma seção teórica de caráter ensaístico sobre a própria criação realizada. Essas obras literárias são produzidas a partir de gêneros diversos e são novelas, como Amor à guilhotina e como tudo começou (2011), de Juliana Teixeira Grünhäuser; romances, como A morte veio visitar meu avô e esqueceu quem ela era (2013), de Moema Vilela Pereira, ou mesmo obras de caráter híbrido, como a dissertação de mestrado Versões de Mariana – o romance e o livro de contos: uma aproximação (2013), de Luís Roberto de Souza Júnior. Algumas vezes, a seção teórica desses trabalhos conta com depoimento ou reflexão do escritor sobre a própria experiência como oficinando: este é a colaboração de Amilcar Bettega Barbosa em Da leitura à escrita: a construção de um texto, a formação de um escritor (2012).
Entretanto, diferentemente da perspectiva criativo-teórica desses trabalhos realizados, esta Dissertação opta por uma linha de investigação que se ocupa da Oficina Literária (OL)^2 propriamente dita, observando-a como objeto de análise. Neste sentido, segue parcialmente a Tese de Doutorado defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulada Oficina literária: o artesanato do texto (1992), de Maria de Assiz Cretton. Nessa pesquisa são abordados os conceitos de “criação”, “invenção”, “criatividade” e “imaginação”, para, em seguida, investigar o processo criativo, em que se defende a predominância do trabalho artesanal da literatura no lugar da inspiração. A autora também aborda a poesia de João Cabral de Melo Neto, de quem são estudados os poemas de cunho metalinguístico que enfocam a produção literária, como o “Catar feijão”, de A educação pela pedra (1965). Também são investigadas na Tese as metodologias de oficina adotadas em diferentes países, como maneira de compreender
(^2) Para efeito de praticidade, utilizaremos doravante a sigla OL.
as peculiaridades que foram assumidas em cada lugar e de inserir aquelas aproveitadas no Brasil. Por fim, Cretton insere a OL em um processo mais amplo, que chama de “pedagogia de criatividade”, responsável por relacionar ensino e criação.
Esta Dissertação adota, portanto, apenas alguns conceitos estudados por Cretton, como a “criatividade”, e busca em estudiosos contemporâneos algumas atualizações e recentes pesquisas sobre esse e outros conceitos relacionados ao tema da OL. Como a autora, usaremos também a investigação das metodologias das oficinas, todavia, não estudaremos o processo criador individual de um escritor, tampouco faremos a análise metalinguística de alguma obra literária, mas debateremos os métodos de realização das oficinas de Escrita Criativa.
Abordaremos o conceito de “criatividade” como forma de debater os estereótipos que rondam o processo criativo. A respeito do assunto, Zélia Maria de Oliveira (2012, p. 33) aponta que uma das tendências que herdamos da Antiguidade é a associação entre a criatividade e a loucura. Além dessa concepção de origem da criatividade, as ideias de dom, de talento natural, de herança genética, ou de inspiração divina para criar são apenas alguns mitos apontados pela pesquisadora, os quais podem inibir a compreensão da criatividade e do modo como desenvolvê-la. E é essa a compreensão que parece necessário observar para a realização do trabalho de uma OL.
Fora isso, compreendemos que a função de uma oficina de EC, além de ensinar as técnicas literárias, é também a de desbloquear a criatividade dos oficinandos, e comprovar, nem sempre intencionalmente, que qualquer um, se incentivado, pode desenvolver a competência linguística, seja por interesses pessoais ou para exercer atividades profissionais e/ou acadêmicas. Essa competência, junto ao talento, se existir, é que pode “tornar” alguém um escritor (DI NIZO, 2008, p. 31).
A Dissertação será dividida em três capítulos: 1. Antes da oficina , em que abordaremos conceitos de Escrita Criativa, de Oficina Literária e de Criatividade no campo teórico da Psicologia, como forma de compreender de que modo ela pode ser impulsionada ou desenvolvida; 2. Durante a oficina , em que adentraremos a maneira como esses cursos se organizam; para tanto, estudaremos como se dá o conhecimento da técnica literária e como se realizam algumas práticas e metodologias adotadas por diferentes oficineiros;
Escrita Criativa^3 é o termo usado para o exercício de escrita com domínio da criatividade (BUCHHOLZ, 2014). Em entrevista realizada por e-mail, Luiz Antonio de Assis Brasil (2015) esclarece que essa expressão, na cultura letrada atual, é aceita como a escrita de uma obra literária de qualquer gênero. É diferente, por exemplo, da escrita administrativa e jurídica. Além disso, a EC é sempre declinada num ambiente de ensino e aprendizagem, seja informal, seja acadêmico. Dessa maneira, o método dessa oficina seria o de usar técnicas e motivações específicas no campo da criatividade para desencadear a criação do texto literário; e a palavra “oficina” pode ser entendida como a organização de encontros ou de determinado ambiente para ser exercido e praticado um ofício: neste caso, o ofício de escrever criativamente (LAMAS; HINTZ, 2002, p.13).
Ressalta-se que “criar” é diferente de “inventar” ou “produzir” um texto literário, e diferentes concepções apontam para interpretações da EC. Leyla Perrone-Moisés (2006, p.100-101) argumenta que, por sua ligação com os setes dias em que o Deus judaico- cristão criou o mundo, o termo “criação” é de origem teológica e supõe “tirar algo do nada”, portanto, indica que o escritor criaria algo novo e fruto da sua vontade. “Inventar” apresenta-se mais ligado ao engenho humano: o escritor que inventa acredita mais na habilidade dos recursos humanos do que na inspiração. Das três concepções, a de “produção” é a mais materialista. Distante ainda mais de conotações místicas, idealistas ou sobrenaturais, o texto se torna mais um produto do mundo industrial.
Quando aborda a escolha desses termos, Maria da Graça Aziz Cretton (1992, p. 19) explica que, para um trabalho de oficina, de fato, o termo mais apropriado seria o de “invenção” por realçar a habilidade e o trabalho artesanal. Assinala, por outro lado, que é de opinião corrente o uso do substantivo “criação” para referenciar a “criação artística” – assim, é comum chamar de “Laboratórios de criação literária” as disciplinas acadêmicas cujo objetivo é incentivar os participantes a escreverem textos literários; no entanto, esse fato não indica que se pretende realçar o caráter divino ou até absoluto da palavra “criação”. Salienta também que há um problema na adoção de “invenção” por ser ela mais ligada ao uso nas áreas de ciências e de tecnologias. Mantendo, assim, o uso do vocábulo “criação”, a autora argumenta que o termo de uso comum entre os que
(^3) Para efeito de praticidade textual, usaremos a abreviatura EC para Escrita Criativa.
realizam a criação artística e os que desenvolvem a invenção científica seria “criatividade”, termo que abordaremos adiante. Vejamos, primeiramente, o que se entende por OL.
Quanto ao conceito de Oficina Literária^4 , João de Mancelos (2010, p. 156) a define como o “estudo crítico, a transmissão e o exercício de técnicas utilizadas por escritores e ensaístas de diversas épocas, culturas e correntes, para a elaboração de textos literários ou mesmo não literários”. Curiosamente, percebe-se que o foco de uma oficina, segundo Mancelos, apesar de seu título (Oficina Literária), não é estritamente literário , já que é possível também desenvolvê-la com estudantes que possuem dificuldade na escrita de Trabalho de Conclusão de Curso, Dissertação de Mestrado ou Tese, ou ainda com alunos de Ensino Fundamental e Médio com dificuldades de “desbloquear” a escrita.
Ou seja, as práticas de uma OL podem ser usadas tanto para o escritor, quanto para o “escrevente”. Roland Barthes (1982, p. 32) propõe essa tipologia e, entre ambas, admite que há em comum apenas o uso da palavra. O trabalho do escritor seria “com” e “na” palavra, enquanto o escrevente torna a palavra apenas um meio para exercer uma atividade, seja a de testemunhar, a de explicar ou a de ensinar. Usando os pressupostos da gramática francesa, Barthes explica que o primeiro é um homem intransitivo, pois sua ação é imanente no próprio objeto, enquanto o último, por utilizar a palavra sem a preocupação estética do primeiro e apenas como instrumento de comunicação, é transitivo ao exercer uma atividade noutro objeto que não é o centrado na linguagem. Para o filósofo francês, ainda existiria um terceiro tipo, o “bastardo”: o escritor- escrevente, fundado na condição paradoxal de que quem escreve oscila entre os dois papéis. De todo modo, não é esse tipo de oficina (para escrevente ) que nos interessa, mas aquela que lida estritamente com o propósito literário de uma escrita.
(^4) Igualmente para efeito de praticidade textual, usaremos a abreviatura OL para Oficina Literária.