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Uma análise comparativa da concepção do universal em platão e aristóteles, examinando suas respectivas ontologias e teorias do conhecimento. O texto aborda a natureza do universal como algo real, que possui características epistemológicas permanentes, permitindo o verdadeiro conhecimento. Além disso, são apresentadas críticas de aristóteles à teoria dos universais de platão.
Tipologia: Exercícios
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A monografia apresentada visa à obtenção do diploma de graduação pelo departamento de filosofia da Universidade de Brasília. Aluno: Jeferson Benício de Freitas Orientador: Guy Hamelin
Resumo
O nosso objetivo é examinar a questão do universal em Platão e Aristóteles, notadamente nas suas respectivas ontologias e teorias do conhecimento. Além disso, queremos enfatizar as principais afinidades e diferenças que existem entre elas. De maneira geral, podemos definir o universal como sendo uma entidade simplesmente conceitual ou real, segundo a teoria examinada, que é representada na linguagem por um nome comum como ‘homem’ ou ‘animal’. Na filosofia de Platão e Aristóteles, o universal representa algo real, que possui a característica epistemológica de sempre permanecer o mesmo, que possibilita o verdadeiro conhecimento.
Palavras-chaves: Universal; Teoria do conhecimento; Metafísica; Platão e Aristóteles.
Abstract
Our goal is to examine the issue of universal in Plato and Aristotle, especially in their respective ontologies and theories of knowledge. In addition, we want to emphasize the main affinities and differences between them. In general, we can define the universal as a merely conceptual or actual entity, according to the theory examined, which is represented in the language by a common name like 'man' or 'animal'. In the philosophy of Plato and Aristotle, the universal is something real, which has the characteristic of epistemological always remain the same, which enables true knowledge.
Keywords: Universal; Theory of knowledge; metaphysics; Plato and Aristotle.
são compostas. Na lógica, como o universal é usado. O raciocínio lógico é feito por dois caminhos: indução e dedução. A indução é um raciocínio que vai do particular para o mais geral, enquanto a dedução parte do mais geral para o menos geral. O particular é algo que percebemos como uma unidade separada. O mais geral é o que é comum a muitos seres. Por fim, checamos a conclusão de que as teorias de Platão e Aristóteles são distintas, pois Platão pretende chegar ao conhecimento das coisas verdadeiras apenas pelo pensamento, enquanto Aristóteles afirma que os seres sensíveis fazem parte do processo do conhecimento.
O universal é uma entidade abstrata ou concreta, segundo as teorias, representada por um nome comum, como ‘homem’, ‘animal’. A principal característica do universal é a imutabilidade, ou seja, o universal sempre continua ser o mesmo no tempo e espaço. O universal é denominado por Platão eidos , ou seja, forma ou Ideia. Quanto a Aristóteles, ele é chamado katholon , isto é, geral. Além disso, o universal possui outras propriedades, segundo as teorias em estudo, como ser um ente absoluto e abstrato. Ser absoluto quer dizer que existe por si, não necessitando de outra coisa para existir. Ele, também, é abstrato, porque não o percebemos com os sentidos, mas, sim, pelo pensamento. A palavra ‘ontologia’ significa, numa acepção comum, o estudo do ser. Os seres tratados pela ontologia são concretos, abstratos e inteligíveis. Em outros termos, a ontologia trata das características básicas que tornam possíveis dizerem que algo existe ou que há estados de coisas. O ser é tudo que existe e subsiste. Por fim, a teoria do conhecimento é uma ciência que tenta entender o processo de conhecer e entender a realidade e buscar formular fundamentos para discerni-la. Com a teoria do conhecimento, podemos distinguir o verdadeiro conhecimento da mera opinião. No mundo grego, o conhecimento está relacionado, em geral, com a verdade. Por outro lado, a opinião tem apenas a pretensão de verdade, mas não é a verdade. Para os antigos, o objeto possível do verdadeiro conhecimento deve ser imutável, pois não é possível conhecer algo que está em constante mudança. O ser que sempre permanece o mesmo é o universal, enquanto o ser particular está sempre em movimento e mudança. Então, tanto Platão, quanto Aristóteles desenvolveram teorias para conhecer esse ser imutável, o universal.
acompanhada pela sensação desprovida de raciocínio, uma vez que se gera e se corrompe, nunca sendo realmente. Ora, tudo aquilo que é gerado é necessário por uma causa; pois é impossível alguma coisa obter geração sem causa.^2 [...]
Assim, para o entendimento de cada tipo de ser, há um método específico. Porém, neste momento, não discutiremos os métodos de conhecimento. Por enquanto, vamos expor melhor os dois mundos ou realidades assim como os seres existentes neles de acordo com Platão.
Mundo inteligível e seres universais O mundo inteligível ou o mundo das Ideias serve de paradigma, de modelo para a criação do sensível. Portanto, o mundo sensível é um tipo de imagem do mundo das Ideias.^3 O universo das Ideias é uma realidade autônoma. O acesso a esse mundo dá-se através da alma. Os seres existentes nesse mundo são denominados de inteligíveis, Ideias ou universais. Eles possuem as seguintes propriedades: são eternos, imutáveis, transcendentes, abstratos, absolutos e invisíveis. São eternos, porque existem sempre. Esta conclusão pode ser obtida pelo fato de que Platão não ter feito nenhuma referência à geração, ao início ou ao fim da existência dos seres inteligíveis. Além disso, chegamos a esse resultado com o argumento do modelo para a criação do sensível, no qual Platão diz que o demiurgo criou o sensível com vista ao ser eterno.^4 Os seres inteligíveis também possuem a propriedade de serem imutáveis, pois sempre continuam sendo os mesmos.
[Sócrates][...] Aquela ideia ou essência a que em nossas perguntas e respostas atribuímos a verdadeira existência conserva-se sempre a mesma e de igual modo, ou ora é de uma forma, ora de outra? O igual em si, o belo em si, todas as coisas em si mesmas, o ser, admitem qualquer alteração? Ou cada uma dessas realidades, uniformes e existentes por si mesmas, não se comportará sempre da mesma forma, sem jamais admitir de nenhum jeito a menor alteração?
(^2) Platão, Timeu 28a (^3) Platão, Timeu 29b (^4) Platão, Timeu 29a
Forçosamente, Sócrates, falou Cebes, sempre permanecerá a mesma e do mesmo jeito. 5
Além disso, as Ideias são transcendentes, porque estão no mundo separado do sensível. Dizemos que são transcendentais, no sentido de existirem em outro mundo, e, neste caso, é o mundo inteligível. Também esses seres são abstratos, porque são imperceptíveis pelos sentidos, pois nossa compreensão é feita somente pelo pensamento. Por fim, os seres inteligíveis são absolutos, porque não necessitam de nada para existirem, ou seja, existem por si e em si. Essa afirmação é obtida na passagem do Fédon , em que Sócrates está dialogando com Símias. Este confirma que existe o justo, o belo e o bem em si, e todos eles não são visíveis.
[Sócrates] E com relação ao seguinte, Símias: afirmaremos ou não que o justo em si mesmo seja alguma coisa? [Símias] Afirmamos, sem dúvida, por Zeus. [Sócrates] E também o belo em si e o bem? [Símias] Também. [Sócrates] E algum dia já percebeste com os olhos qualquer deles? [Símias] Nunca, respondeu.^6
Podemos observar que as características ou atributos do ser inteligível parecem ser baseados na oposição aos seres sensíveis. A seguir, falaremos sobre o mundo sensível e os seres particulares que estão nele.
Mundo sensível e seres particulares O mundo sensível é composto de seres materiais que são formados a partir dos quatro elementos: fogo, terra, água e o ar.^7 A partir deles, foi criado o corpo do mundo sensível, isto é, os seres sensíveis. Uma das principais características deste mundo é estar em constante movimento. Para explicar essa mudança do mundo sensível, Platão desenvolve dois argumentos distintos: um atribuído a alma, como causa do movimento, e outro, a uma causa mecânica. O movimento causado pela alma é referente ao movimento do cosmo. Na explicação dessa mudança, Platão, primeiramente, diz que o mundo é um ser vivo
(^5) Platão, Fédon 78d (^6) Platão, Fédon 65d (^7) Platão, Timeu 32b
se gera em certo lugar e de novo parece nele, e que é captado pela opinião, juntamente com a sensação. E há ainda um terceiro gênero que é sempre, o do espaço, que não acolhe a destruição e fornece o lugar a todas as coisas têm geração; este é captável por meio de um certo raciocínio bastardo, não acompanhado de sensação e dificilmente credível; para ele olhamos como num sonho, afirmando que é de certa maneira necessário que todo o ser esteja em certo lugar e ocupe um certo espaço, e que aquilo que não está na terra nem no céu nada é.^11
A noção de espaço é utilizada por Platão para explicar onde os seres sensíveis são gerados. O espaço é o receptáculo, isto é, o lugar de recepção do sensível e da sua existência. Na tentativa de explicar melhor a geração e o elemento do espaço, Platão faz a seguinte analogia: o pai seria a forma, o inteligível; a mãe seria o receptáculo, o espaço onde é gerado o ser sensível e, por fim, o filho seria o que é gerado.^12 Uma vez que são expostos os tipos de seres descritos por Platão, podemos analisar melhor as relações que existem entre eles e aprofundar mais em seus conhecimentos. A relação dos seres sensíveis com os inteligíveis consiste na participação do sensível no inteligível. Assim, as coisas sensíveis possuem determinados atributos, porque há uma participação no inteligível. Por exemplo, a beleza do ser sensível é produzida pela união com o belo inteligível. Em suma, é a Ideia do belo que torna todas as coisas sensíveis belas.
[Sócrates] Então, considera, continuou, para ver se estás de acordo comigo. O que me parece é que se existe algo belo além do belo em si, só poderá ser belo por participar desse belo em si. O mesmo afirmo de tudo o mais. Admites essa espécie de causa? [Cebes] Admito, respondeu.^13
Por tudo isso, podemos entender que Platão descreve as Ideias como modelos ou arquétipos eternos e perfeitos, enquanto o os seres sensíveis são apenas cópias imperfeitas, que participam no mundo inteligível.
(^11) Platão, Timeu 52a (^12) Platão, Timeu 50d (^13) Platão, Fédon 100c
Além disso, como foi a partir das Ideias que o demiurgo criou os seres sensíveis, então, entende-se que Platão concebe o universal como anterior ao particular ( ante rem ). Esse tipo de atribuição foi dedicado a Platão na Idade Média. A tradição filosófica entende que Platão concebeu o universal existindo fora e anterior ao ser sensível. Essa concepção é amplamente difundida, porque é a teoria madura, que aparece na maioria das obras amadurecidas de Platão. Porém, no Menon , há uma passagem que indica que o universal existe no mundo sensível, fazendo parte da constituição dos seres particulares.^14 Trata-se do caráter comum de uma mesma espécie ou de um mesmo gênero de coisas sensíveis ou de indivíduos. Assim, concluímos que o universal desenvolvido na ontologia de Platão é um ser real que existe no mundo das Ideias. Ele possui as características de ser eterno, imutável, transcendental, abstrato, absoluto e invisível. Além disso, ele constitui o modelo para a criação dos seres concretos. Passaremos, agora, para a análise do universal na teoria do conhecimento de Platão.
Platão diz que as coisas sensíveis não são passíveis de conhecimento, pois estão em constante movimento. Assim, ele desenvolve a teoria das Ideias, segundo a qual há um mundo inteligível no qual os seres são Ideias imutáveis. Esses seres correspondem às essências das coisas sensíveis, que estão no mundo sensível. Essas essências dos seres sensíveis ou Ideias são os universais, que são objetos que devem ser conhecidos, pois são permanentes e imutáveis. O conhecimento do universal para Platão dá-se através da reminiscência, da recordação. Em outras palavras, conhecer é lembrar-se. A verdadeira essência das coisas é sua forma, sua Ideia. Conhecer as formas é conhecer a realidade última das coisas. Nessa teoria, o verdadeiro conhecimento é produzido pela mente, sem a participação dos sentidos, isto é, não se trata de um conhecimento empírico. O (^14) cf .: G.Hamelin. “Do Realismo moderado ao Realismo extremo em Platão”. Journal of Ancient Philosophy. Vol. III, Issue 2, 2009. Disponível no site: www.filosofiaantiga.com Acesso março de 2012
de trás da caverna, há um fogo que ilumina as figuras e projeta as sombras delas na frente dos prisioneiros amarrados. Um prisioneiro é libertado. Ele olha para trás e vê os objetos, dos quais só via as sombras. O prisioneiro vai em direção à entrada da caverna onde há uma luz que quase o cega. Quando consegue sair, vê primeiramente as sombras das coisas que estão fora da caverna. Em seguida, começa a ver melhor as coisas existentes. Depois de ter contemplado essas coisas fora, ele não quer voltar mais para dentro da caverna. Porém, ele retorna. Quando volta à caverna, depois de ter explicado o que viu, torna-se objeto de risos de seus companheiros. Podemos interpretar o mito da caverna de Platão da seguinte maneira. A parte de dentro da caverna representa o mundo sensível, enquanto o lado de fora, o mundo inteligível. Quando o prisioneiro está preso dentro da caverna, tem o primeiro grau de conhecimento, que é a opinião. A opinião é um tipo de conhecimento das coisas sensíveis, particulares. A partir do momento que o prisioneiro é libertado e vai com dificuldade para fora, começa a ter acesso ao conhecimento verdadeiro. Por fim, quando está fora da caverna e consegue ver as coisas que estão ali, consegue ter acesso a esse conhecimento verdadeiro. Esses seres que estão fora da caverna são os seres verdadeiros, que não mudam, que são sempre os mesmos, ou seja, são equivalentes aos universais do mundo das Ideias. Agora veremos a questão da imortalidade da alma em Platão. De acordo com alguns filósofos gregos da antiguidade, a alma é a parte do homem que tem a capacidade de aprender e raciocinar. De modo geral, alma é equivalente ao intelecto. Na teoria de Platão, a alma já possui o conhecimento verdadeiro quando se junta ao corpo. Assim, para saber se há conhecimento inato na teoria de Platão, é necessário analisar a questão da imortalidade da alma em Platão.
A imortalidade da alma em Platão No livro X da República , há também o argumento seguinte para justificar a imortalidade da alma.^16 Em todas as coisas, existem o mal e o bem próprio. O mal é tudo que destrói e o bem, o que preserva. Por exemplo, a doença é um mal para o corpo, porque ela o destrói. Por seu lado, o bem mantém o que já existe na coisa, ou seja, não causa a perda de nada, nem o que é bom, nem mal. O mal só causa o mal
(^16) Platão, República 608e-611a
naquilo que lhe for próprio, como o mal do alimento, que é a má qualidade dele, o destrói. Assim, o corpo possui o seu próprio mal e a alma, também, tem seu próprio mal. O mal da alma é a injustiça, que não destrói a alma. A injustiça, sendo o mal próprio da alma não conseguirá destruí-la, porque a injustiça faz ao contrário. Em vez de destruí-lo, aquele que a acolhe se torna cheio de vivacidade, ficando longe da morte, ou seja, quem possui a injustiça na sua alma tem mais vivacidade. Logo, quando uma coisa não morre pelo mal que lhe é próprio, então existirá para sempre, sendo imortal. A injustiça não destrói a alma, porque quem possui a injustiça se torna cheio de vivacidade e desperto. Os injustos morrem pelos castigos feitos pelos outros. Então, alma deve ser imortal. A importância da imortalidade da alma na teoria de Platão consiste na argumentação de que a alma transita nos dois mundos: o sensível e o inteligível. Assim, a alma não pode ser mortal, pois é necessário justificar o ciclo que faz entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Falaremos agora sobre a transmigração da alma, que explica o ciclo que a alma faz entre o mundo sensível e o mundo inteligível.
Transmigração da alma Há o mito de Er na República , livro X, onde Platão tenta explicar o caminho da alma quando sai do corpo e a sua volta ao mundo sensível. O mito de Er mostra ciclo que a alma faz na passagem entre os dois mundos.
O mito de Er^17 O mito de Er diz respeito ao caminho da alma depois que sai do corpo. Er, um armênio, havia morrido em uma batalha e seu corpo estava junto com os outros onde tinha acontecido o combate. Recolheram-no e levaram-no para ser sepultado, mas quando seu corpo estava em cima de um mármore, ele voltou à vida e contou o que viu no além. Ele, então, narra que a alma chega a um lugar divino onde havia duas aberturas próximas à terra, e duas, no céu. Entre essas aberturas, da terra e do céu, tinham juízes que mandavam as almas justas para a direita, que iam para o céu, e
(^17) Platão, República 615a-618e
Assim, podemos resumir, a partir desses mitos, a teoria do conhecimento de Platão do seguinte modo. A única maneira de ter acesso ao mundo das Ideias é através da alma. Algumas das características da alma são a sua imortalidade e a mobilidade. Assim, é capaz de sair do mundo sensível e ir ao mundo das Ideias e voltar ao mundo sensível de modo cíclico. Desse modo, a alma adquire o conhecimento verdadeiro, quando estiver no mundo das Ideias. Porém, quando volta para o mundo sensível, esse conhecimento do verdadeiro fica latente na alma, tendo a alma acesso a esse conhecimento através de vagas recordações. O processo que faz a alma recordar é a dialética. Com o entendimento da teoria do mundo das Ideias, da imortalidade da alma e da transmigração da alma, podemos compreender melhor o inatismo em Platão. De fato, o inatismo é o conhecimento que está dentro do sujeito, na sua alma, desde ao nascer. A dialética consiste em perguntas e respostas que permitem descobrir o verdadeiro conhecimento. Através dela, consegue-se conhecer os universais, que são as Ideias que pertencem ao mundo inteligível. Para Platão, o método da dialética e da maiêutica é o único meio para conhecer a verdade^18 e contém, frequentemente, a ironia socrática. Porém, há outros tipos de conhecimento ou pseudoconhecimentos diferentes dos obtidos pela dialética. Todavia, esses outros conhecimentos não são verdadeiro e são incapazes de conhecer o universal.
Diferença entre opinião e conhecimento No final do livro VI da República , Platão expõe os diferentes graus ou operações de conhecimento no mundo sensível e no mundo inteligível. Para isso, afirma que há dois tipos de seres: sensíveis e inteligíveis ou Ideias.^19 Os sensíveis estão no mundo sensível, as Ideias, no mundo inteligível. Para conhecê-los, há quatro tipos de conhecimento: imaginação ou suposição, crença, entendimento ou dianoia e inteligência ou nous. Porém, para explicar esses tipos de conhecimento, Platão inicia uma discussão sobre a teoria do Bem.^20 Nessa teoria, Platão faz uma analogia do Bem com o sol. Assim, o sol está
(^18) Platão, República 533c-d (^19) Platão, República 507b (^20) Platão, República 507b-509d
para o mundo sensível, como o Bem está para o mundo Inteligível. O sol possibilita a nossa visão das coisas sensíveis, pois, para vermos algo, é necessário haver claridade. Em outras palavras, o sol ilumina as coisas sensíveis para conseguirmos vê-las. O Bem também tem a mesma função que o sol, porém no mundo inteligível. É através do Bem que conhecemos os seres inteligíveis, os universais, pois o Bem ilumina as Ideias para nossa mente percebe-las. Em suma, de acordo com Platão, existem dois tipos de seres: os sensíveis e os inteligíveis. Os seres sensíveis são iluminados pelo sol, enquanto os seres inteligíveis o são pelo Bem. O sol e o Bem servem de intermediário na percepção dos seres. O conhecimento dos entes sensíveis possui graus diferentes, assim como o dos entes inteligíveis. Platão explica esses graus através do mito da linha.^21 Platão usa uma linha para representar o mundo sensível e o mundo inteligível. Essa linha é dividida em duas partes de tamanhos diferentes. Um lado representa o mundo sensível, enquanto o outro, o mundo inteligível. A parte maior da linha representa o mundo inteligível. Em seguida, as duas partes da linha são também divididas, outra vez, em duas partes diferentes. As duas partes da linha que constituem o mundo sensível representam dois tipos de conhecimentos: imaginação e crença ou fé. As duas outras partes que representam o mundo inteligível dizem respeito a outros tipos de conhecimento: entendimento ou dianoia, e inteligência ou nous. Platão resume os quatro tipos de conhecimento desta forma:
Pega agora nas quatro operações da alma e aplica-as aos quatro segmentos: no mais elevado, a inteligência, no segundo, o entendimento; ao terceiro entrega a fé, e ao último a suposição, e coloca-os por ordem, atribuindo-lhe o mesmo grau de clareza que os seus respectivos objetos têm de verdade.^22
Portanto, os níveis de conhecimento são: imaginação, crença, entendimento e inteligência. Esses níveis de conhecimento estão relacionados ao mundo sensível e ao inteligível. A imaginação e a crença referem-se ao mundo sensível, enquanto o entendimento e a inteligência, ao mundo inteligível.
(^21) Platão, República 509d-511e (^22) Platão, República 511e