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Manipulação Midiática em Truman e no Conto 'O Ator' de Verissimo, Notas de aula de Comunicação

Uma análise da influência e manipulação midiática na vida de pessoas, utilizando os exemplos do filme 'the truman show' e do conto 'o ator' de luis fernando verissimo. O autor identifica como a mídia está presente em nossas vidas e como ela pode controlar nossas ações e pensamentos.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Maracana85
Maracana85 🇧🇷

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Revista Crioula USP, Nº 16, Dezembro de 2015
“O show de Truman” e “O ator”: uma vida manipulada pela mídia
Luana Candaten
1
Maria Thereza Veloso
2
RESUMO: Este trabalho teve por objetivo realizar uma análise da influência e manipulação midiática na
vida das pessoas, identificar como e até que ponto ela está presente na vida de cada um, devido à grande
presença dessa força em cada ação que realizamos. Para tanto, os objetos de análise escolhidos foram o
filme “O show de Truman”, de Peter Weir, 1998, e o conto “O ator”, integrante do livro Comédias para
se ler na escola, de Luis Fernando Verissimo, 2001.
ABSTRACT: This study aimed to carry out an analysis of the influence and media manipulation in people's
lives, to identify how and to what extent it is present in the life of each one, due to the large presence of
this force in every action we take. Therefore, the chosen objects were the movie "The Truman Show", Peter
Weir, 1998, and the short story "O ator", a member of Comédias para se ler na escola, Luis Fernando
Verissimo, 2001.
PALAVRAS-CHAVE: Manipulação midiática; O show de Truman; O ator; Espetacularização da vida.
KEYWORDS: Media manipulation; The Truman Show; The actor; Spectacle of life.
Introdução
Vivemos em uma era marcada pela tecnologia, pela modernidade, pelo avanço em
todas as áreas e por alguém ou algo que se compromete a mostrar tudo isso ao mundo,
que, a todo instante, de alguma forma, está presente, sempre pautando as nossas ações, os
nossos desejos, influenciando a forma de pensar e de agir a mídia.
1
Mestranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, pela Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI, Câmpus de Frederico Westphalen, bolsista
Capes.
2
Doutora em Letras, na área de Linguística Aplicada. Docente do Departamento de Linguística, Letras e
Artes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI, Câmpus de Frederico
Westphalen.
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“O show de Truman” e “O ator”: uma vida manipulada pela mídia Luana Candaten^1 Maria Thereza Veloso^2 RESUMO: Este trabalho teve por objetivo realizar uma análise da influência e manipulação midiática na vida das pessoas, identificar como e até que ponto ela está presente na vida de cada um, devido à grande presença dessa força em cada ação que realizamos. Para tanto, os objetos de análise escolhidos foram o filme “O show de Truman”, de Peter Weir, 1998, e o conto “O ator”, integrante do livro “Comédias para se ler na escola ”, de Luis Fernando Verissimo, 2001. ABSTRACT: This study aimed to carry out an analysis of the influence and media manipulation in people's lives, to identify how and to what extent it is present in the life of each one, due to the large presence of this force in every action we take. Therefore, the chosen objects were the movie "The Truman Show", Peter Weir, 1998, and the short story "O ator", a member of “Comédias para se ler na escola”, Luis Fernando Verissimo, 2001. PALAVRAS-CHAVE : Manipulação midiática; O show de Truman; O ator; Espetacularização da vida. KEYWORDS : Media manipulation; The Truman Show; The actor; Spectacle of life. Introdução Vivemos em uma era marcada pela tecnologia, pela modernidade, pelo avanço em todas as áreas e por alguém ou algo que se compromete a mostrar tudo isso ao mundo, que, a todo instante, de alguma forma, está presente, sempre pautando as nossas ações, os nossos desejos, influenciando a forma de pensar e de agir – a mídia. (^1) Mestranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Câmpus de Frederico Westphalen, bolsista Capes. (^2) Doutora em Letras, na área de Linguística Aplicada. Docente do Departamento de Linguística, Letras e Artes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Câmpus de Frederico Westphalen.

A mídia funciona não como um instrumento de reflexão, mas como um meio que não permite o diálogo, que pré-determina nosso pensamento, que emite uma mensagem já sabendo qual será a reação da maioria de seus interlocutores. Além disso, ainda serve de espelho para uma grande parcela da sociedade moderna que espera ansiosa pela próxima moda a ser lançada por ela, que se aproveita para alavancar cada vez mais o consumismo entre os seus espectadores e transforma seu público em uma “sociedade do espetáculo”, como denomina Debord. Ele diz que: Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculo. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação”. (DEBORD, 1967, p. 13) Ou seja, cada pessoa veste a máscara que melhor lhe cabe no momento. Quando esta não mais lhe servir, ela buscará outra que, provavelmente, estará mais em voga, não vivendo a sua vida e nem seguindo seus preceitos, mas fazendo parte desse espetáculo midiatizado para impressionar outras pessoas. Toda essa banalização dos verdadeiros valores gera no ser humano o que Adorno chama de semicultura: A formação cultural agora se converte em uma semiformação socializada, na onipresença do espírito alienado, que, segundo sua gênese e seu sentido, não antecede à sua formação cultural, mas a sucede. [...] Apesar de toda ilustração e de toda informação que se difunde, a semiformação passou a ser a forma dominante da consciência atual, o que exige uma teoria que seja abrangente. (ADORNO, 1959, p.

Essa formação limitada é um dos primeiros passos para transformar a sociedade na representação de um espetáculo. As pessoas sabem de tudo um pouco, porém não sabem o suficiente sobre nada, falta-lhes senso crítico para questionar, principalmente, para enfrentar ideias e fatos que lhes são impostos e, dessa maneira, acabam por fazer parte do show.

“O show de Truman” é um filme escrito por Andrew Niccol e dirigido por Peter Weir, lançado em 1998 e estrelado por Jim Carrey. A narrativa fílmica conta a história da vida de Truman Burbank, que pensa ser uma pessoa como todas as outras, porém, tem sua vida, desde seu nascimento, transformada em um reality show que é transmitido 24 horas por dia para milhões de pessoas. Todos que o cercam são atores e fazem de tudo para que Truman não descubra que sua vida é uma farsa manipulada por Christof, diretor e criador do programa. Quando Truman percebe que há algo errado, começa uma busca incessante para descobrir a verdade e poder, finalmente, viver a sua vida, mas é constantemente interrompido pelos atores e diretores da atração que não querem que ele descubra a verdade. Mesmo as pessoas que lhe desejam contar a verdade acabam “sumindo da vida dele”. Quando Truman descobre a verdade, não tem dúvidas de que o que quer é viver o mais longe possível das câmeras. Logo no começo do filme, o diretor diz que prefere Truman a atores de verdade, pois estes fingem sentimentos, enquanto Truman, por não saber que é um astro e que sua vida é uma atração de grande sucesso, tem sentimentos puros, o que cativa as pessoas e aumenta a audiência. De fato, Truman é muito simples, como a vida que leva. Apesar de achar estranha a forma como as pessoas o tratam, nunca questionou, por exemplo, a mulher que sempre compra produtos novos e faz uma espécie de propaganda para apresentá-los, assim como seus amigos e conhecidos, cenas se repetindo, pessoas repetindo as mesmas ações o dia todo. A equipe de produção também cuida para que Truman, mesmo querendo viajar, não possa sair da cidade, se encarrega de “sumir” com as pessoas que tentam lhe contar a verdade, chegam, até mesmo, a forjar a morte do seu pai no mar, o que causa um trauma ao protagonista. Depois desta tragédia ele não consegue mais chegar perto do mar. Além de seu pai, também Sílvia, a mulher por quem ele se apaixona e que tenta lhe contar a verdade, é levada por um homem e, desde então, Sílvia passa a liderar um grupo pela libertação de Truman. Quando completa 30 anos, bem como o show da televisão, Truman começa a perceber fatos estranhos, como: um refletor caindo no meio da rua, quando ouve pelo rádio a equipe conversando e transcrevendo seus movimentos e o encontro com seu pai, que é levado por duas pessoas. Isso desperta em Truman a necessidade de descobrir o que estava acontecendo, de descobrir quem ele realmente é e qual é a sua vida. Depois de muitas tentativas de fuga da cidade, do retorno de seu pai e a superação de seu trauma, o

rapaz finalmente consegue fugir, usando o barco que acaba perfurando o cenário com o céu estampado, então, ele se dá conta de que há algo errado e que sua vida é uma farsa. Ele deixa a embarcação, caminha e encontra uma escada com uma porta de saída no topo. Quando está prestes a sair, Cristof fala com ele, explica que sua vida é um programa de televisão e que a verdade que ele irá encontrar lá fora não é maior do que a que ele vive. Mesmo assim, ele se despede de seu público, vira as costas e vai em busca de sua verdadeira identidade. O espetáculo chega ao fim e os telespectadores, que antes ficavam vidrados no show de Truman, comemoram a sua liberdade enquanto procuram outra coisa para assistir. Nesse filme fica evidente a forma como a mídia pode manipular as pessoas, controlando todos os passos do ser humano. Evidentemente, a vida não é idêntica ao filme, mas é pautada da mesma forma. Até que ponto vivemos nossas próprias vidas? Ou somos apenas atores de um espetáculo? Até que ponto pensamos por nós mesmos? É possível isso? Nesse filme, vimos que Truman faz de tudo para mudar a realidade em que o inseriram e começar a viver do seu jeito. Roubaram sua identidade e lhe deram uma outra, moldada segundo os parâmetros dos telespectadores. Sua fuga representa sua superação – tanto do trauma adquirido – como dos próprios medos e dúvidas a respeito de sua vida. A cena do barco indo em direção ao horizonte, ao desconhecido, enfatiza exatamente o que ele vive no momento: a busca pelo desconhecido que ele pretende descobrir. Essas incessantes tentativas de fuga representam a nossa própria tentativa de fugir do sistema em que vivemos e que nos interpela, nossa tentativa de não sermos atores neste grande cenário da mídia, mas, sermos os nossos próprios diretores. A imobilidade da massa mostra que tais tentativas não são fáceis ou mesmo possíveis, uma vez que a mídia

  • e quem mais estiver no cerne do sistema – trabalha para moldar os telespectadores a seu modo. Até mesmo os telespectadores que vibram com a liberdade de Truman, de certa forma, estão celebrando algo que queriam para si próprios, alcançar a liberdade de poder ir aonde quiserem. No entanto, o que eles fazem é procurar outro programa para assistir. A comodidade da vida moderna, junto com a envolvente indústria da comunicação e do entretenimento, acaba moldando o pensamento e o modo de agir dos que preferem ficar com o controle do televisor na mão, trocando de canal. É como Christof, diretor do show,

saber dos seus desdobramentos, damos mais e mais audiência até que uma nova tragédia ocorra para ocupar a nossas mentes. Fica evidente que sucumbimos aos meios de comunicação e à modernidade quando, ao sermos apresentados a essas tragédias, às que a mídia dá uma significante importância, não damos mais valor para os pequenos casos que acontecem a todo instante, sejam eles bons ou ruins – assaltos, tiroteios, estupros, trabalhos sociais que ajudam muitas pessoas, mas que não ganharam a devida importância e atenção. Assistimos a essas notas rápidas e muitas nos passam despercebidas, pois nossa atenção está voltada para algo maior, ou seja, a tragédia eleita como tal pelo editor de notícias do veículo conforme o interesse da diretoria da empresa. Assim também acontece com nosso personagem, que a cada “corta!” deveria esquecer a cena anterior e focar na próxima, decorar, falar, retocar a maquiagem e continuar a encenação. Porém, sua vida acaba se confundindo com seu suposto trabalho, que é atuar, o homem perde sua verdadeira identidade e acaba com várias outras que não lhe servem mais. Trata-se muito neste artigo de dois elementos: identidade e mídia. Podemos entender a identidade como aquilo que identifica, que torna o sujeito único, que o caracteriza, de acordo com questões éticas, sociais, culturais internas/externas desse sujeito. A mídia é um meio de comunicação de massa incumbida de transmitir informações das mais variadas categorias (notícias, cultura, entretenimento). Esses dois elementos possuem uma relação importante, tanto na questão social e cultural quanto para auxiliar na presente análise. Sendo a mídia uma difusora, a identidade pode se apropriar (e o faz) do que é difundido para se firmar e caracterizar um sujeito. Sobre isso, (HALL, 2005) diz que “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado”. BAUMAN (2005) traz uma definição muito apropriada para o tema identidade, que está intrinsecamente ligada à mídia, ele traz o conceito de identidade líquida como decorrência da pós-modernidade, fato que é agravado pela mídia. Bauman utiliza do termo ‘líquida’ pois este é um estado que – diferente do sólido – altera sua forma com facilidade, assim como a identidade na pós-modernidade. No caso dos objetos analisados neste artigo é

como se a identidade fosse o líquido e a mídia o recipiente que molda seu conteúdo. Hall e Bauman corroboram essa ideia de identidades que se modificam, que se fragmentam como consequência de uma sociedade moderna e midiatizada. Essa questão de a mídia influenciar na construção da identidade pode ser melhor analisada pelo que Giddens afirma: A mídia impressa e eletrônica obviamente desempenha um papel central. A experiência canalizada pelos meios de comunicação, desde a primeira experiência da escrita, tem influenciado tanto a auto- identidade quanto a organização das relações sociais. (GIDDENS, 1938, p. 12) Podemos entender que, sim, a mídia influencia na construção da identidade. Muito. Mas, no caso do nosso personagem, essa influência é tanta que ele perde sua identidade e constrói outra com os vários personagens que interpreta durante sua carreira. O sujeito pós-moderno que não possui mais uma identidade fixa, mas sim mutável, se assemelha aos nossos personagens, que por conta dessa fragmentação do mundo moderno acabam caindo numa possível crise de identidade, onde não se sabe mais qual o verdadeiro eu em meio a tantos “eus”. Elementos demonstrativos de manipulação: como filme e conto conversam Tanto no filme quanto no conto, temos uma vida manipulada pela mídia, uma perda da identidade própria e a construção de uma outra pelo sistema que rodeia e em que submergem nossos personagens, além da espetacularização da vida, que passa a ser um show assistido por milhares de pessoas. No conto, percebemos isto através de cada “corta!” que é gritado e pela interferência de alguém que vem “arrumar” o personagem para a próxima cena, alguém que representa essa mídia que nos prepara e nos molda para o próximo grande evento que ela cobrirá.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP & A, ,

O SHOW de Truman. Direção: Peter Weir. Produção: Andrew Niccol e Scott Rudin. Intérpretes: Jim Carrey, Ed Harris, Natascha McElhone e outros. Música: Philip Glass. Los Angeles: Universal Pictures, 1998. VERISSIMO, Luis Fernando. O ator. In_._ : Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.