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A Família como Centro da Transmissão da Fé: Uma Abordagem Catecumenal, Teses (TCC) de Teologia

Este artigo explora a importância da família como núcleo da transmissão da fé, com foco na abordagem catecumenal. O autor argumenta que a família, como célula básica da sociedade, desempenha um papel crucial na formação da fé e na construção de uma comunidade eclesial forte. O artigo destaca a necessidade de fortalecer os laços familiares e promover a evangelização dentro do lar, inspirando-se na figura de jesus cristo e na tradição da igreja.

Tipologia: Teses (TCC)

2018

Compartilhado em 04/01/2025

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O PROTAGONISMO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE
INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ:
um novo tempo para contagiar o mundo de alegria e esperança
Ariél Philippi Machado (FACASC) (ariel.philippi@hotmail.com)1
Marlene Bertoldi, iic (FACASC) (marlene@arquifln.org.br)2
RESUMO
O processo de educação da pautado pela inspiração catecumenal desponta como uma
novidade nas dioceses brasileiras. A proposta deste artigo é colocar a família no centro da
transmissão da fé, com sua realidade cotidiana, com a configuração que tiver, mas como
espaço de manifestação dos sinais divinos de esperança e salvação. O contexto de crise e
mudanças da contemporaneidade precisam ser lidos como oportunidades para que, com a
assistência da criatividade do Espírito Santo, a Igreja doméstica se coloque a serviço do Reino
de Deus. Neste contexto, a abordagem inovadora do papa Francisco pedindo à Igreja universal
a redescoberta da alegria que vem do Evangelho, precisa atingir inicialmente as famílias, para
que renovadas pelo encontro com Cristo, como famílias encantadas pela mensagem do
Evangelho, renovem as estruturas da comunidade eclesial.
Palavras-chave: evangelização; família; inspiração catecumenal.
ABSTRACT
The process of educating the faith based on catechumenal inspiration emerges as a novelty in
Brazilian dioceses. The purpose of this article is to place the family at the center of the
transmission of faith, with its daily reality, with the configuration it has, but as a space for the
manifestation of divine signs of hope and salvation. The context of crisis and contemporary
changes must be read as opportunities so that, with the assistance of the creativity of the Holy
Spirit, the domestic Church can place itself at the service of the Kingdom of God. In this
context, Pope Francis' innovative approach asking the universal Church to rediscover the joy
that comes from the Gospel, must first reach families, so that renewed by the encounter with
Christ, as families enchanted by the Gospel message, they renew the structures of the ecclesial
community.
Keywords: evangelization; family; catechumenal inspiration.
1 Especialista em Catequese - Iniciação à Vida Cristã pela Faculdade Católica de Santa Catarina (2017).
Licenciado em Matemática, Bacharel em Filosofia e Bacharel em Teologia. Mestrado em andamento em
Teologia pela PUCPR (2020-).
2 Especialista em Catequética pela PUCPR. Bacharela em Teologia e Catequética pela Urbaniana (ROMA).
Professora de Teologia Catequética na Faculdade Católica de Santa Catarina. Coordenadora do curso de
Especialização em Catequese – Iniciação à Vida Cristã, na Faculdade Católica de Santa Catarina.
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O PROTAGONISMO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE

INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ:

um novo tempo para contagiar o mundo de alegria e esperança

Ariél Philippi Machado (FACASC) (ariel.philippi@hotmail.com)^1 Marlene Bertoldi, iic (FACASC) (marlene@arquifln.org.br)^2 RESUMO O processo de educação da fé pautado pela inspiração catecumenal desponta como uma novidade nas dioceses brasileiras. A proposta deste artigo é colocar a família no centro da transmissão da fé, com sua realidade cotidiana, com a configuração que tiver, mas como espaço de manifestação dos sinais divinos de esperança e salvação. O contexto de crise e mudanças da contemporaneidade precisam ser lidos como oportunidades para que, com a assistência da criatividade do Espírito Santo, a Igreja doméstica se coloque a serviço do Reino de Deus. Neste contexto, a abordagem inovadora do papa Francisco pedindo à Igreja universal a redescoberta da alegria que vem do Evangelho, precisa atingir inicialmente as famílias, para que renovadas pelo encontro com Cristo, como famílias encantadas pela mensagem do Evangelho, renovem as estruturas da comunidade eclesial. Palavras-chave: evangelização; família; inspiração catecumenal. ABSTRACT The process of educating the faith based on catechumenal inspiration emerges as a novelty in Brazilian dioceses. The purpose of this article is to place the family at the center of the transmission of faith, with its daily reality, with the configuration it has, but as a space for the manifestation of divine signs of hope and salvation. The context of crisis and contemporary changes must be read as opportunities so that, with the assistance of the creativity of the Holy Spirit, the domestic Church can place itself at the service of the Kingdom of God. In this context, Pope Francis' innovative approach asking the universal Church to rediscover the joy that comes from the Gospel, must first reach families, so that renewed by the encounter with Christ, as families enchanted by the Gospel message, they renew the structures of the ecclesial community. Keywords: evangelization; family; catechumenal inspiration. (^1) Especialista em Catequese - Iniciação à Vida Cristã pela Faculdade Católica de Santa Catarina (2017). Licenciado em Matemática, Bacharel em Filosofia e Bacharel em Teologia. Mestrado em andamento em Teologia pela PUCPR (2020-). (^2) Especialista em Catequética pela PUCPR. Bacharela em Teologia e Catequética pela Urbaniana (ROMA). Professora de Teologia Catequética na Faculdade Católica de Santa Catarina. Coordenadora do curso de Especialização em Catequese – Iniciação à Vida Cristã, na Faculdade Católica de Santa Catarina.

Introdução O pontificado de Francisco caracteriza-se como uma ode à alegria da sociedade hodierna. Seu magistério é marcado pela insistência apaixonante de convocar os cristãos a pautarem suas vidas num itinerário de fé alegre e entusiasta. Não é em vão que ele publicou a sua primeira Exortação Apostólica com o título: A alegria do Evangelho ( Evangelii Gaudium). De suas páginas, brota um compromisso diário para todas as pessoas batizadas na fé cristã: viver a alegria de acreditar em Jesus Cristo, crucificado-ressuscitado. Desde a Igreja nascente, a comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré demonstrou fórmulas e cultos para dar razões à fé que trazemos no coração. Razões para aquela alegria que é o centro, o núcleo de nossa fé: Israelitas, escutai minhas palavras. Jesus de Nazaré foi um homem acreditado por Deus diante de vós com os milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio dele, como bem sabeis. A este, entregue segundo o plano previsto por Deus, vós crucificastes pela mão de gente sem lei, e o matastes. Mas Deus, libertando-o dos rigores da morte, o ressuscitou, pois a morte não podia retê-lo (At 2,22-24).^3 A dor, o sofrimento, a morte não têm mais a última resposta para a vida humana. As palavras de Pedro, carregadas de fé na ressurreição, precisam ser assumidas também hoje, em nossos lares, por nossos pais, mães, e demais pessoas responsáveis pela transmissão da fé nas famílias. É preciso transmitir às novas gerações esta certeza de que Deus Pai não abandona seus filhos e filhas. Pelo contrário, sabe surpreender e dar respostas inesperadas para aqueles momentos mais difíceis da vida, o último deles, a morte. No conjunto dos textos bíblicos do Novo Testamento temos trechos ditos querigmáticos, isto é, uma formulação de fé que guarda tal mistério sublime da concretização da promessa de vida, descendência, salvação e paz que Deus fez aos nossos Pais e Mães na fé, e agora vemos realizada em Jesus, o Nazareno. Esta certeza da promessa concretizada na vida e nos ensinamentos de Jesus, filho do carpinteiro José, precisa ser conhecida pelos fiéis, discípulos e discípulas de hoje, aprofundada com argumentos, orações, partilhas e testemunho concreto de vida fraterna. E estes argumentos da fé a serem aprofundados estão registrados, inicialmente nas Sagradas Escrituras, que posteriormente, foram desenvolvidos e guardados nos ensinamentos da Igreja. (^3) BÍBLIA do Peregrino. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2011.

Uma alegria que não podemos perder de vista: o amor de Deus. Nossas famílias precisam ser lembradas e contagiadas, diuturnamente, por esse grande dom que é a imparcialidade de um Deus amoroso e compassivo, disposto a resgatar a dignidade de seus filhos e filhas, seja a situação em que se encontrarem. Essa verdade de fé, que confessamos no Credo apostólico e celebramos em nossas liturgias, precisa ser testemunhada em nossa vida diária. A fé em Deus criador e providente fez os discípulos e discípulas da primeira hora compreenderem o mistério da ressurreição de Jesus Cristo. Da mesma forma, nossas famílias precisam ser despertadas para a bondade divina que alcança a humanidade e a criação inteira para ressuscitar as realidades que estão marcadas com sinais de dor e de morte. 1.1 A vida em família: prioridade diante dos desafios Dos muitos desafios da contemporaneidade, podemos destacar a complexidade da tecnologia, com suas múltiplas formas de comunicação e acesso à informação, com a possibilidade real do descarte da presença física em substituição pela presença virtual. São conceitos novos, muito acessíveis às pessoas nascidas após a revolução digital, mas pouco assumida pelas pessoas que estão à frente da evangelização em nossas comunidades. Além disso, os meios de comunicação sustentam o universo do consumismo e do individualismo, mobilizando inúmeras campanhas de moda e revoluções tecnológicas, com a pretensão de convencer as pessoas a colocarem nas sacolas e na palma da mão tudo aquilo que desejarem. Estamos vivendo de ambiguidades, num misto de informações e desinformações ( fake news ), um efeito colateral da globalização que nos mergulha constantemente na dificuldade de distinguir a verdade e da mentira. Vivemos um tempo em que se apresenta a morte de Deus Transcendente. Aparentemente nos mostram e tendem a nos iludir com gigantescas gôndolas com seus inúmeros atrativos de falsos deuses. Tendem a nos pegar pelo estômago e pelos olhos. As nossas relações deixaram de ser entre pessoas e passaram a ser cada vez mais relações de consumo. Nossas referências deixaram de estar atreladas ao bem apresentado no Evangelho de Jesus Cristo e passaram a ser cultivadas na idolatria dos bens. Trocamos felicidade por facilidade. Quanto mais facilmente possuímos, temos, tanto mais nos prometem felicidade prazerosa e momentânea. Estamos longe da busca pelo Eterno. Estamos sendo engolidos pela lógica do mercado? Estamos perdendo para a suposta eficiência do mundo sem Deus? O Evangelho de

Jesus Cristo deixou de ser atrativo. Perdemos a Alegria com o acolhimento e anúncio da Boa Nova?^6 As considerações feitas pelo Pe. José Ulisses Leva nos fazem refletir sobre as angústias e as dificuldades pelas quais passam as famílias em nossos dias. E mais, estas realidades desafiadoras de nossos dias devem nos preocupar, nos desinstalar e nos provocar para ações criativas da ação evangelizadora direcionadas à família. Estas realidades difíceis que as famílias enfrentam foram elencadas durante a V Assembleia Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe. No Documento de Aparecida foram listados os novos rostos de nossas famílias, que carecem de atenção e zelo eclesial. Mas, o Documento de Aparecida também deixou registrado algumas pistas concretas para assumir a evangelização da família como prioridade entre os desafios de nossos tempos. Uma destas pistas orienta que: Visto que a família é o valor mais querido por nossos povos, cremos que se deve assumir a preocupação por ela como um dos eixos transversais de toda ação evangelizadora da Igreja. Em toda diocese se requer uma pastoral familiar “intensa e vigorosa” para proclamar o evangelho da família, promover a cultura da vida, e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados.^7 Além dos conflitos externos que abalam a estrutura familiar, outros elementos, de foro interno, também precisam ser ponderados pelas pessoas responsáveis pela evangelização das famílias. É preciso que, além das angústias, a ação evangelizadora seja capaz de fomentar a esperança em Deus em cada lar de nossas comunidades. Afinal, não é novidade que, com o passar do tempo e com evolução da sociedade, a configuração familiar assumiu modelos diversos daquele tradicional. Também para estas famílias é possível propor a fé em Cristo como referência de valores e de vínculo em comunidade. Nas paróquias participam pessoas unidas sem o vínculo sacramental, outras estão numa segunda união, e há aquelas que vivem sozinhas sustentando os filhos. Outras configurações também se constatam, como avós que criam netos ou tios que sustentam sobrinhos. Crianças são adotadas por pessoas solteiras ou do mesmo sexo, que vivem em união estável.^8 (^6) LEVA, J. U. Família: angústias e esperanças no mundo de hoje. In: Revista de Catequese , São Paulo, v. 38, n. 145, p. 50-59, jan./jun. 2015. p. 58. (^7) CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO, 2007, p. 194; DAp 435. (^8) CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Comunidade de Comunidades : uma nova paróquia. Brasília: CNBB, 2014. p. 40. (Documento 99, 217).

Outro dado desta preparação é o fato de ser feita em processo desligada de integração e responsabilidade com a comunidade eclesial. E também, era uma preparação com limitada base bíblica e que pouco oferecia uma consciência litúrgica de vivência de ritos preparatórios, dando ênfase no conteúdo, com características de cunho doutrinal. Assim, por longo tempo, tivemos a sacramentalização das pessoas, mas pouco se investiu na genuína evangelização. O mundo mudou. Para justificar muitas necessidades pessoais, de vaidade e consumo, esta afirmação é bastante útil. Mas para a fé e para a vida de Igreja ela também é verdadeira e traz impactos significativos. Vemos que nas comunidades cristãs temos um grande número de pessoas batizadas, mas que carecem de formação bíblica, isto é, evangelização. A falta de um processo de educação da fé marcado pela progressividade, pela interação de catequese com liturgia e de inclusão nos serviços eclesiais, levou muitos cristãos a não assumirem seus compromissos de fé e, por consequência, a vida em comunidade. Apesar de a família ser abalada pelo contexto de evoluções da modernidade, a Igreja precisa capacitar seus membros, ministros ordenados e agentes leigos e leigas, para aproximarem-se das famílias de hoje, ajudando-as a reconhecer os sinais evangélicos que trazem consigo e levar seus membros para o encontro pessoal com Jesus Cristo. Assim, cumpre-se a tarefa ímpar de que cada família constitui a Igreja doméstica, como confirmou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Inspirado nessa imagem de uma Igreja servidora, como é próprio do interior da família, o papa são Paulo VI apresenta aquilo que precisa ser abraçado como missão da família cristã: Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, a família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e donde o Evangelho irradia. No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. E uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere.^11 Em poucas palavras, temos um resumo e um ponto de partida para a reflexão do que seja a inspiração catecumenal como inspiração para nossas atividades de evangelização. Não podemos pensar um processo de Iniciação à Vida Cristã sem a referência da família. O catecumenato, como instituição, caracteriza-se pela presença contínua de um membro da (^11) PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. Petrópolis: Vozes, 1976. p. 58; EN 71.

comunidade, adulto e tendo completado seu processo de iniciação sacramental, para acompanhar o itinerário de fé proposto aos novos candidatos e simpatizantes da fé cristã. Ao que se pode afirmar que o chão sólido de um processo de iniciação é a família e a comunidade inteira. Aprendemos da Igreja nascente que, em nossos dias, mesmo que no interior de uma família não possa se encontrar uma pessoa adulta para acompanhar um itinerário de fé de um catequizando, precisamos do compromisso sincero e da disponibilidade dos demais adultos que fazem parte da comunidade eclesial. Esta exortação foi feita pelo papa são João Paulo II, por meio da Exortação Apostólica Catechesi Tradendae : A comunidade cristã, efetivamente, não poderia pôr em prática uma catequese permanente sem a participação direta e experimentada dos adultos, quer eles sejam destinatários quer sejam promotores da atividade catequética. Depois, o mundo em que os jovens são chamados a viver e testemunhar a própria fé, que a catequese intenta aprofundar e consolidar neles, é um mundo governado pelos adultos: a fé destes, portanto, deverá também ela ser continuamente esclarecida, estimulada e renovada, a fim de impregnar as realidades temporais por que eles são responsáveis.^12 Tem-se compreensão da necessidade de renovar as estruturas de evangelização com a inspiração catecumenal quando os adultos, que estão na linha de frente da evangelização, tomam consciência da necessidade de pedirem uma reiniciação. Não no sentido sacramental, mas na postura sincera de conhecer e dar razão para a fé que trazem no coração, por meio do estudo da Palavra, da Liturgia e da Doutrina. Fazendo, com isso, que a fé percorra um itinerário progressivo, onde possa ser embalada, alimentada, fortalecida e provada nas atividades comuns da vida. Uma proposta honesta e convertida de Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal “desperta na pessoa o desejo de conhecer e encontrar-se com Jesus Cristo, amá- lo e tornar-se seu seguidor”.^13 E tal maturidade de proposta precisa partir das diferentes lideranças e agentes de evangelização que promovem a ação pastoral nas comunidades. Maturidade que compreende e sabe expor a necessidade de que a fé seja alimentada e cuidada desde o ventre materno até na hora do encontro definitivo com o Deus, na eternidade. Deste envolvimento de lideranças e famílias que surge o protagonismo dos lares na transmissão e educação da fé. Iniciativas novas, sob a criatividade do Espírito Santo, ajudarão no amadurecimento dos próprios familiares, quando perceberem acolhida por parte das (^12) JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 40; CT 43. (^13) CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório Nacional de Catequese. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 50. (Documento 84, 34).

O papa Francisco, quando encerrou o Ano da Fé, escreveu a Carta Encíclica Lumen Fidei (Luz da Fé), e com ela, podemos identificar elementos sobre o nosso pertencimento a Deus por meio da fé. Assim escreve o papa Francisco: Quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu a sua luz, não pode guardar este dom para si mesmo. Uma vez que é escuta e visão, a fé transmite-se também como palavra e como luz; dirigindo-se aos Coríntios, o apóstolo Paulo utiliza precisamente estas duas imagens. Por um lado, diz: “Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos” ( 2Cor 4,13); a palavra recebida faz-se resposta, confissão, e assim ecoa para os outros, convidando-os a crer. Por outro, São Paulo refere-se também à luz: “E nós todos que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem” ( 2Cor 3,18); é uma luz que se reflete de rosto em rosto [...]. A luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos como num espelho, e assim se difunde chegando até nós, para que também nós possamos participar desta visão e refletir para outros a sua luz, da mesma forma que a luz do círio, na liturgia de Páscoa, acende muitas outras velas. A fé transmite-se por assim dizer sob a forma de contato, de pessoa a pessoa, como uma chama se acende noutra chama. Os cristãos, na sua pobreza, lançam uma semente tão fecunda que se torna uma grande árvore, capaz de encher o mundo de frutos.^15 A resposta sincera por meio da fé, insere o crente no corpo místico de Cristo, é causa de filiação ao amor do Pai. A mesma fé, por meio das obras, vincula o crente aos irmãos e irmãs que formam a comunidade eclesial. Por isso que transmissão da fé exige pertencimento, exige vínculos de grupos, exige uma comunidade. Neste sentido, a evangelização das famílias passa pela dimensão de capacitá-las para o senso de célula da comunidade, semente do Reino de Deus, Igreja doméstica. E, assim, refletir por uns instantes:

  • Como está a convivência entre os membros de nossa família?
  • Nossa família dialoga para estabelecer critérios de convivência com outras famílias?
  • Quais os valores que conseguimos preservar por meio da convivência humana?
  • E quais valores nossa família possui para transmitir para outras pessoas?
  • Nossa família é capaz de valorizar o dom da fé recebido dos antepassados e da comunidade eclesial?
  • De que modo nossa família pratica e transmite a fé nos dias de hoje? O que foi transmitido e foi acolhido, torna-se resposta, compromisso. Assim, aquele que acreditou passa a ser um comunicador da fé. Por isso, podemos entender que fé, que é (^15) FRANCISCO. Carta Encíclica Lumen Fidei. Vaticano: 2013. Disponível em: < http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen- fidei.html >. Acesso em: 12 fev. 2020.

dom, é graça, torna-se visível em cada pessoa pelo testemunho. A fé, portanto, é adesão, é opção, é escolha. Depois, é resposta, compromisso, vínculo, pertença. A fé pessoal, do pai e da mãe, do padrinho e da madrinha, das pessoas que formam a comunidade, uma vez que é consciente, passa a ser amadurecida na pertença a uma comunidade de fé, a Igreja. Enquanto Igreja doméstica, a família transmite a fé aos seus novos membros pela prática dos valores evangélicos, comprometida com a construção de um mundo mais humano e justo, para defender a dignidade humana e a vida da criação inteira, sinal do Reino definitivo. Reforçando o que destacamos anteriormente afirmado pelo papa Francisco,^16 é na família que aprendemos a conviver na e com a diferença, a pertencer entre si e aos outros e a receber a fé que nos chega das gerações anteriores. 3.1 Em família, reacender a chama do dom da fé Partindo da inspiração do papa Francisco, podemos ser criativos para organizar momentos em família, para partilhar as experiências diárias, ou semanais, e investir em algumas reflexões sobre os valores que carregamos juntos e o que podemos transmitir a quem convive conosco. Para isso, sugerimos abaixo, algumas indagações para uma roda de conversa em família. A primeira pausa segue o tema da convivência:

- O que podemos aprender, ao observar que somos diferentes uns dos outros, mas membros da mesma família? De que maneira convivemos com as diferentes idades e gerações de nossa família? Como fazemos para conviver com os gostos diferentes de comida e lazer? As respostas precisam estar relacionadas com a caridade evangélica, no sentido de serviço mútuo, de diálogo entre pais, filhos e avós, com o perdão e a reconciliação entre os membros da família, com a acolhida e a fraternidade entre os vizinhos do condomínio e/ou bairro. Enquanto o mundo nos oferece a possibilidade da diversidade, o papa Francisco nos ensina que é preciso conviver na diferença, olhando para as atitudes de Jesus para imitá-las nos momentos de interagir com as pessoas. Para a segunda pausa e conversa em família, sugere-se o tema da pertença: - De quantos membros é constituído o nosso grupo familiar? De quais outros grupos cada membro de nossa família participa? De quais participamos em nossa família? Qual a (^16) FRANCISCO, 2013. p. 46; EG 66.

Muitas vezes, é melhor diminuir o ritmo, deixar de lado a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar o que ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas, para, quando ele voltar, poder entrar sem dificuldade.^18 Que a Família de Nazaré nos ajude a conviver na diferença, a pertencer aos outros e a transmitir a fé para contribuir no mundo com a alegria e a esperança próprios de quem se coloca no caminho do discipulado missionário de Jesus Cristo. Conclusão: um voto de esperança em nossas famílias A Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal se caracteriza pela partilha de experiências da fé, a começar pelas experiências da própria família, uma troca de saberes e iniciativas em torno de como conseguir conduzir seus membros no caminho da fé. Juntos, pais e filhos, catequistas e comunidade, partilham laços e abraços, bem como dores e tristezas, entrelaçados de ajuda, consolo e pertença. Ao anunciar Jesus Cristo às famílias, os agentes de evangelização necessitam assumir as atitudes de “proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena”,^19 concretizadas na visita gratuita às famílias para conhecê-las de perto. Enquanto responsáveis pelo anúncio do Evangelho, ministros ordenados e fiéis leigos e leigas, são convidados a fazer a experiência do acompanhamento da fé e da partilha de vida no interior das famílias. É preciso aprender, portanto, “a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro”.^20 Existem muitos caminhos possíveis para a evangelização das famílias, promovendo no seio do lar a esperança na vida e na dignidade humana. A abertura ao discernimento que vem do Espírito Santo precisa antecipar as tomadas de decisão. Por fim, seguem algumas ideias condensadoras do que foi discorrido nestas páginas, em vista da promoção da fé, da esperança e da alegria em nossas famílias:

  • Somos uma Igreja em “saída”. É preciso ir ao encontro das pessoas onde elas se encontram. Não é mais possível ficar esperando que elas venham em nossos espaços tradicionais. (^18) FRANCISCO, 2013. p. 46; EG 66. (^19) FRANCISCO, 2013. p. 100; EG 165. (^20) FRANCISCO, 2013. p. 102; EG 169.
  • A catequese familiar é um ambiente propício onde a Iniciação à Vida Cristã lança raízes na vivência do seguimento de Jesus Cristo, tendo por base a Palavra de Deus.
  • A estratégia de reunir pequenos grupos, por proximidade e vizinhança, proporciona vias concretas de diálogo, de confiança mútua, de vínculos comunitários e de ajuda fraterna.
  • A pastoral familiar precisa estar à serviço da comunidade, seja qual for a realidade, para diagnosticar qual seja a vocação daquela comunidade: é um bairro universitário, uma comunidade de idosos, um centro de cidade, uma vila rural? Ao responder essas perguntas, percebe-se a vocação da paróquia e como elaborar estratégias de evangelização que sejam mais próximas desses grupos. A família, seja qual for sua realidade, precisa ser considerada como protagonista da formação da própria fé. Não apenas como ouvinte, mas perceber o quanto a Igreja se beneficia com a presença de cada pessoa.
  • Precisamos reconhecer que a pluralidade de famílias, em seus vínculos e configurações, são espelho da pluralidade de maneiras que Deus oferece para que o único Evangelho de salvação seja anunciado, de maneiras diferentes, para a edificação do Reino dos Céus. Tudo isso é manifestação de Deus que causa alegria em nós quando estamos em comunhão com o seu projeto de vida em abundância para a criação inteira.