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O PLANO DE PODER DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO ..., Provas de Religião

Universal. Neste domínio encontram-se links para outros sites como o Arca Center, uma loja para a venda de produtos cristãos online, ou blogs de pastores e ...

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Lula_85
Lula_85 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
LUIZA CHUVA FERRARI LEITE
O PLANO DE PODER
DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS:
Estratégias territoriais da expansão neopentecostal no Brasil
Salvador - BA
Abril/2019
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

LUIZA CHUVA FERRARI LEITE

O PLANO DE PODER

DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS:

Estratégias territoriais da expansão neopentecostal no Brasil

Salvador - BA Abril/

LUIZA CHUVA FERRARI LEITE

O PLANO DE PODER

DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS:

Estratégias territoriais da expansão neopentecostal no Brasil

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia Orientador: Prof. Dr. Gilca Garcia de Oliveira Salvador - BA Abril/

A Marielle, nossa Mariguela, que queria ver o resultado desse trabalho e que eu queria tanto que estivesse por aqui. Não nos calarão!

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo demonstrar o modo como se orienta a expansão territorial do neopentecostalismo e especificamente da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no Brasil. As origens da presença evangélica no Brasil, o panorama da espacialidade neopentecostal no país, assim como as principais características do neopentecostalismo foram relacionadas ao surgimento da IURD no final da década de 1970 e ao seu desenvolvimento enquanto uma das mais emblemáticas denominações neopentecostais. O fortalecimento da religião pentecostal foi analisado a partir de sua capilaridade pelo tecido social, observada na diversidade e multiescalaridade de suas práticas. A categoria "plano de poder", criada por Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal, reforça a racionalidade presente na expansão desta denominação, desenvolvida no trabalho a partir da identificação dos espaços em disputa à consolidação deste "plano" e das práticas socioespaciais da IURD no Brasil. Tais práticas representam as estratégias territoriais e a territorialidade iurdiana e foram agrupadas e desenvolvidas a partir de quatro eixos de análise: templo, rua, mídia e política. Palavras-chave: Neopentecostalismo. Estratégias Territoriais. Plano de Poder. IURD (Igreja Universal do Reino de Deus)

ABSTRACT

This work aimed to demonstrate how the territorial expansion of Neo-Pentecostalism and specifically the Universal Church of the Kingdom of God (UCKG) in Brazil is oriented. The origins of the evangelical presence in Brazil, the panorama of neopentecostal spatiality in the country, as well as the main characteristics of Neo-Pentecostalism were related to the emergence of the Universal Church in the late 1970s and its development as one of the most emblematic Neo-Pentecostal denominations. The strengthening of the Pentecostal religion was analyzed from its capillarityzation by the social web, observed in the diversity and multiscalarity of its practices. The “Plan of Power" category, created by Edir Macedo, founder and leader of the Universal Church, reinforces the rationality present in the expansion of this denomination, developed in the research from the identification of the spaces in dispute to the consolidation of this "plan" and socio-spatial practices of Universal Church in Brazil. These practices represent the territorial strategies and the territoriality of Universal Church and were grouped and developed from four axes of analysis: temple, street, media and politics. Keywords: Neopentecostalism. Territorial Strategies. Plan of Power. Universal Church (UCKG).

Tabela 14: Percentual relativo da população residente e percentual relativo do total de fiéis da IURD por região do IBGE, Brasil, Censos 2000 e 2010 ………………………………...…. 93 Tabela 15: Total de templos em números absolutos e % por unidade da federação, 2019), e % da população residente total do Brasil e % do total de fiéis da IURD, 2010 ……………….. 96 Tabela 16: Média do total de fiéis, 2010, por templo, 2019, por unidade da federação e por capital e % relativo dos fiéis da IURD residentes na capital ……………………………….. 97 Mapa 1: Templos da Igreja Universal do Reino de Deus por Município, Brasil, 2019 …… 99 Mapa 2: Mapa de Calor - Concentração de templos da IURD por município, Brasil, 2019. Mapa 3: Percentual de fiéis da IURD na população total de município, Brasil, 2010 …….. 101 Tabela 17: Parlamentares da Bancada Evangélica do Congresso Nacional por legislatura, Brasil, 1987-2019 ………………………………………………………………………..… 137 Tabela 18: Parlamentares federais ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, Brasil, 1987- 2019 ………………………………………………………………………………………... 138 Tabela 19: Parlamentares da Bancada Evangélica nacional por partidos, 2015-2018 e 2019- 2022 ………………………………………………………………………………………... 140 Tabela 20: Parlamentares da Bancada Evangélica nacional por UF, 2015-2018 e 2019- .. …………………………………………………………………………………………….... 140 Tabela 21 – Parlamentares da Bancada Evangélica por filiação religiosa, Brasil, 2015-2019 … …………………………………………………………………………………………...…. 143

Sumário

  • INTRODUÇÃO.......................................................................................................................
    1. O NEOPENTECOSTALISMO NO BRASIL...................................................................
    • 1.1. PANORAMA SOCIOESPACIAL DA PRESENÇA EVANGÉLICA NO BRASIL...
      • 1.1.1 Influência estadunidense e a neopentecostalização................................................
      • 1.1.2 Teologia da prosperidade........................................................................................
      • 1.1.3 Teologia do Domínio: a guerra espiritual...............................................................
    • 1.2 A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS.........................................................
      • 1.2.1 Transnacionalização da Igreja Universal do Reino de Deus..................................
    • ESPACIALIDADE.............................................................................................................. 1.3. A EXPANSÃO NEOPENTECOSTAL NO BRASIL: DIVERSIDADE E
    • REINO DE DEUS – DISPUTAS POR HEGEMONIA................................................... 2. PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS TERRITORIAIS DA IGREJA UNIVERSAL DO
    • 2.1. O PLANO DE PODER DA IURD................................................................................
    • DA IURD............................................................................................................................. 2.2. EIXOS DE AÇÃO: ESTRATÉGIAS TERRITORIAIS E TERRITORIALIZAÇÃO
      • 2.2.1. O Templo...............................................................................................................
      • 2.2.2. A Rua...................................................................................................................
      • 2.2.3. A Mídia................................................................................................................
    1. A POLÍTICA: NEOPENTECOSTAIS NO ESTADO BRASILEIRO.........................
    • BRASILEIRO: GÊNESE E TERRITORIALIDADE........................................................ 3.1 O PERFIL DA BANCADA EVANGÉLICA DO CONGRESSO NACIONAL
    • 3.2 A AÇÃO DA BANCADA EVANGÉLICA................................................................
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................

Para compreender a orientação da expansão neopentecostal no Brasil e especialmente da IURD, foi realizado um levantamento das práticas socioespaciais da denominação^1 , a partir das quais buscamos compreender as estratégias territoriais que viabilizam a expansão da mesma. Para tal, organizamos a análise a partir de quatro eixos: o templo, a rua, a mídia e a política, que se configuram como estratégias territoriais e elementos da territorialidade iurdiana e que, portanto, estão conectados entre si, se relacionam como parte de um mesmo processo. Neste sentido, é fundamental olharmos para o fenômeno enquanto um processo de múltiplas escalas, que ora se sobrepõem, ora se hierarquizam, mas que estão fundamentalmente articuladas. A atualidade do fenômeno da expansão neopentecostal, a velocidade com que se dão os acontecimentos e fatos políticos traz uma dinâmica diferenciada para a pesquisa, assim como uma potencial contribuição com análises dos processos em voga. A dispersão deste fenômeno pelo tecido social e seus mais profundos reflexos na sociedade brasileira reforçam também a importância da temática para compreender as dinâmicas espaciais, as disputas de poder e, logo, as estratégias de territorialização. A capacidade de reprodução de uma cultura religiosa, com valores próprios, só se torna possível porque há uma consolidação de bases materiais que viabiliza este processo. Estas bases materiais são reflexo de práticas e relações sociais e se configuram espacialmente de maneira diversa também. Há, neste sentido, um importante simbolismo, assim como impactos objetivos no espraiamento pelo território e na ocupação de espaços. O pentecostalismo brasileiro torna-se capaz de se difundir pelas camadas populares da sociedade, na multiplicação de fiéis, de templos, na eleição de candidatos evangélicos, ao mesmo tempo em que se fortalecem as denominações pentecostais enquanto frações da burguesia, enquanto empreendimentos religiosos, no ramo das comunicações principalmente, mas não apenas. A expansão pentecostal não se trata de um fenômeno somente religioso e deve ser observada a partir da sua configuração múltipla, além disso, as consequências desta expansão rebatem também sobre os não crentes, a toda a sociedade. Quais estratégias tornam possível essa eficiente capilarização na sociedade? Neste sentido, uma categoria fundamental na pesquisa é a de hegemonia, a partir do referencial de (^1) O termo denominação é comumente utilizado para se referir às Igrejas evangélicas. Assim, dizemos que existe hoje uma variedade de denominações evangélicas e a IURD é uma delas.

Gramsci^2 , que pode nos ajudar a refletir sobre este processo, uma vez que tal expansão se dá tanto na disputa por direção política na sociedade civil, através da diversidade de práticas acima referidas, como pela dominação, através da ocupação de espaços na sociedade política. Outras noções relacionadas ao conceito de Hegemonia para Gramsci, como: Estado ampliado e Bloco Histórico foram de suma importância e operacionais no desenvolvimento da pesquisa. Para além da relevância social e, na verdade, diretamente relacionado a isso, um exercício de reflexão importante foi entender os caminhos pessoais que me aproximaram do tema e, neste sentido, percebo cinco momentos fundamentais, que embora difusos e sobrepostos no correr da vida, trago aqui brevemente:

  • Meu contato com os movimentos sociais da luta pela terra no campo e no Estado do Rio de Janeiro se iniciou em 2005. Nestes anos de convivência conheci e vi algumas pessoas do movimento se tornando evangélicos, especialmente nos últimos anos. Algumas destas eram lideranças dos movimentos e, em todos os casos, houve uma mudança grande na postura em relação à luta, ao movimento e à própria vida que me inquietava;
  • Desde 2012, como professora da rede municipal do Rio de Janeiro, tive contato com muitos alunos, dos 11 aos 16 anos, que se identificavam como evangélicos e isso não podia passar despercebido, uma vez que chegavam a mim pelos caminhos mais particulares possíveis: em discussões em sala de aula – sobre a origem da Terra, gênero, aborto, família etc. ou nos sonhos de se tornarem pastores, ou músicos de Igreja e tantas histórias mais;
  • O fato de a minha companheira ser candomblecista e isso, em meio a todas as inquietações, me torna mais curiosa à temática religiosa do que até então. Filha de ateus, nunca enveredei por estes caminhos. Poder ver de perto a resistência de povos de terreiro, diante de tantas práticas e discursos de racismo e intolerância de centenas de anos, é também uma via de inquietação e sensibilização;
  • As eleições de 2014, quando dois candidatos à Presidência da República eram declaradamente evangélicos e a Bancada Evangélica do Congresso Nacional teve um fortalecimento significativo. No Rio de Janeiro, o senador, e hoje prefeito, Marcelo (^2) GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. Vol. V.

A relação entre religião e política está na origem da modernidade, na imbricação entre a Igreja Católica e o surgimento dos Estados-nação e, portanto, é um tema bastante debatido pelas ciências sociais em geral. Especificamente sobre o protestantismo, Max Weber^5 inaugura a importante discussão em torno da relação entre ética religiosa e racionalidade econômica, no contexto europeu, na transição do século XIX para o XX. A fim de apreender a diversidade de práticas socioespaciais da IURD, a pesquisa bibliográfica foi realizada também de forma temática, abrangendo assim trabalhos acadêmicos de outras áreas do conhecimento, como: História, Psicologia, Comunicação, Antropologia e Sociologia. Além do levantamento bibliográfico interdisciplinar e sistemático, a metodologia da pesquisa contou com levantamento de dados do IBGE, especialmente a partir de 1980, a respeito da religião evangélica e da Igreja Universal. Porém, o IBGE apenas produz dados a respeito do número de fiéis, neste sentido, houve levantamento primário de dados no caso do número de templos da Igreja Universal, no Brasil e no Mundo, a partir de pesquisa realizada nos diversos sites oficiais da Igreja Universal em cada país onde possui templos. As tentativas de contato direto com o setor de comunicação da Universal não tiveram retorno, nem por e-mail e nem por telefone, o que manteve a internet como fonte fundamental de dados, em especial os endereços oficiais destacados ao longo da dissertação. Outra fonte de dados fundamental foi o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), que produz dados sobre o Congresso Nacional e a partir do qual foi gerada a maioria dos dados e análises do capítulo 3, a respeito dos evangélicos no Estado brasileiro. O recolhimento de notícias e reportagens sobre o neopentecostalismo e a IURD ao longo do período do curso de mestrado possibilitou compreender o modo como a Igreja estava sendo vista pela mídia e as principais questões pautadas a cada momento. Os dados gerais a respeito da IURD, sejam quantitativos, como a magnitude, as transações financeiras, os investimentos realizados, ou qualitativos, como a diversidade e o alcance dos seus projetos, são de difícil acesso e pouco transparentes. Com isso, foi realizado, sempre que possível, o levantamento de dados primários, mas também a comparação e conferência de dados previamente levantados por outras fontes. Uma vez que a pesquisa realizou o levantamento de uma diversidade de práticas socioespaciais da IURD, essa foi uma dificuldade que acompanhou todas os momentos da pesquisa. (^5) WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001

Partindo do pressuposto da já identificada expansão neopentecostal, o objeto do estudo é a expansão territorial da Igreja Universal do Reino de Deus, como parte da execução do "plano de poder" da mesma, que é a maior representante do neopentecostalismo brasileiro. Na citação que abre a dissertação: “Lembre-se: estamos tratando de uma disputa por espaços e por consolidação desses espaços” (MACEDO e OLIVEIRA, 2008 p. 45/46), Edir Macedo afirma que a construção do "plano de poder" é uma disputa por espaços. A pesquisa pretendeu responder as seguintes perguntas: de que maneira ocorre a expansão da Igreja Universal do Reino de Deus? Quais os modos de operação da IURD para a construção de hegemonia? A hipótese é que a expansão da IURD ocorre através de diferentes estratégias territoriais, que se desenvolvem tanto na sociedade política como na sociedade civil, visando a construção de hegemonia e orientadas por uma racionalidade e intencionalidade expressas no seu "plano de poder". A associação neopentecostal com os espaços de poder político, a sociedade política, é viabilizada pela capacidade de espraiamento desta religião por diversas frentes de atuação da sociedade civil, o que pode ser expresso na importância do voto, e que dialeticamente é também viabilizado e alimentado pela maior presença da Igreja na sociedade política. O objetivo geral desta pesquisa foi demonstrar como se orienta a expansão territorial do neopentecostalismo e especificamente da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil. Para tal, identificamos como objetivos específicos, relacionar o levantamento histórico da presença evangélica no Brasil, o panorama da espacialidade neopentecostal no país, assim como as principais características do neopentecostalismo, ao surgimento e desenvolvimento da IURD; caracterizar o "plano de poder" da Igreja Universal do Reino de Deus a partir da identificação dos espaços em disputa à consolidação deste, assim como discutir as estratégias territoriais e a territorialidade iurdiana a partir dos quatro eixos identificados: templo, rua, mídia e política. A fim de compreender a orientação da expansão territorial da Igreja Universal, utilizamos a categoria “plano de poder” , elaborada por Edir Macedo em livro homônimo, para designar o projeto de poder de sua Igreja. Embora haja diversos trabalhos acadêmicos analisando ou fazendo referência a muitos livros de Edir Macedo, o livro “Plano de Poder”, no qual o autor apresenta tal categoria, não parece ter sido particularmente analisado. Neste sentido, o instrumental teórico-metodológico da Geografia Política embasou a pesquisa, a

momento é possível compreender a importância da Teologia da Prosperidade e da Teologia do Domínio, como bases ideológicas do neopentecostalismo, estruturantes do processo de expansão neopentecostal brasileiro e transversais ao "plano de poder" que é desenvolvido ao longo da dissertação. Na segunda parte deste capítulo, observam-se dados que caracterizam a expansão e o fortalecimento, especialmente do pentecostalismo, ao longo do século XX e XXI, assim como nuances e discussões em torno da religiosidade brasileira atual: secularização e trânsito religioso. Em seguida, tem-se como foco na denominação que é objeto da pesquisa, a Igreja Universal do Reino de Deus e algumas de suas principais características. No segundo capítulo, são apreendidas as principais estratégias territoriais que configuram e viabilizam a expansão territorial neopentecostal e, especialmente, da Igreja Universal. Para tal, discute-se o "plano de poder" da Igreja Universal do Reino de Deus a partir da análise do livro homônimo e em seguida são apresentadas as estratégias territoriais e práticas socioespaciais da IURD, que foram organizadas e desenvolvidas a partir dos seguintes eixos de análise: o templo, como estratégia territorial fundamental da IURD; a rua, as múltiplas territorialidades da IURD, que vão além do templo e do sagrado; e a mídia, grande reprodutora e multiplicadora de ideologia, território simbólico onde cada pessoa é disputada inclusive em suas residências. O terceiro capítulo corresponde à análise do quarto e último eixo identificado: os espaços de representação política, cuja ocupação é o objetivo primeiro do "plano de poder" apresentado no livro. A análise deste último eixo foi realizada a partir do recorte na Bancada Evangélica do Congresso Nacional Brasileiro, cuja formação foi emblemática e precursora do fortalecimento neopentecostal na Política, a partir da qual outras bancadas estaduais e municipais também ganharam força. O conceito chave da pesquisa é o território, que remete às relações de poder e disputas que se dão sobre determinado espaço. À medida que o entendimento de que a expansão neopentecostal é um fenômeno complexo e, portanto, multidimensional, aproxima-se a compreensão integradora de território, que envolve tanto “uma dimensão simbólica, como forma de ‘controle simbólico’, e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar, como forma de domínio e disciplinarização dos indivíduos” (HAESBAERT, 2007. p. 22). O neopentecostalismo se desenvolve a partir de bases territoriais concretas, exemplificadas na

figura espacial dos templos, mas também a partir de elementos simbólicos, como a difusão de ideologia, que viabilizam o aumento no número de fiéis ou de eleitores que, dialeticamente, impulsionam a expansão da religião que será, necessariamente, também uma expansão territorial. O poder é uma dimensão das relações sociais e o território é a expressão espacial desta dimensão. Assim como o território só existe pela existência das relações de poder, segundo Souza (2016), também o poder só se exerce com a referência a um território e, muito frequentemente, por meio de um território. Não há influência que seja exercida ou poder explícito que se concretize sem que seus limites espaciais, ainda que às vezes vagos, igualmente sejam mais ou menos perceptíveis. Mesmo quando se exerce poder a grandes distâncias, por meio das modernas tecnologias de comunicação e informação, o alvo ou destinatário jamais é um grupo social “flutuando no ar”, mas sempre um grupo social em conexão com um espaço (a ser [des]territorializado, portanto). (SOUZA, 2016. p. 87) A perspectiva relacional, justificada pela noção de que o poder se exerce sobre outro e não sobre si mesmo, é expandida ao conceito de território, que, segundo Rogério Haesbaert, “pode ser concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural” (HAESBAERT, 2004. p. 79). Às múltiplas dimensões do poder e, por consequência do conceito de território, soma- se a ideia da multiescalaridade. A análise espacial a partir da abordagem de escalas diferenciais é imprescindível à análise deste fenômeno. Uma vez que em cada escala revelam- se aspectos diferenciados e complementares, indicando também um procedimento metodológico de entrecruzamento de escalas, que viabilizem a análise integrada do fenômeno, cuja territorialidade se dá, ao mesmo tempo: nos templos, espacializados em nível local; nas ações de rua das Igrejas; no plano da política, nas bancadas de diferentes níveis de poder; no alcance das rádios evangélicas, ou dos canais televisivos, dos jornais. As práticas socioespaciais a partir das quais as Igrejas se estabelecem e se espacializam contribuem com a efetivação do projeto de poder neopentecostal. Ainda que nem todas as práticas socioespaciais representem ou decorram diretamente de uma ação intencionada e racionalizada em vista do projeto de poder, entende-se que tais práticas