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Uma análise da implantação de atividades turísticas em ganchos, santa catarina, e suas influências na paisagem local e na comunidade. A pesquisa utiliza a categoria geográfica de paisagem para identificar, caracterizar e interpretar os elementos do espaço estudado, além de abordar as concepções de paisagem por parte dos grupos empresariais e promotores turísticos. A análise abrange diferentes formas de abordagem, incluindo uma centrada no espaço e outra centrada no sujeito.
Tipologia: Resumos
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FLORIANÓPOLIS, 2003
Orientadora: PROF. MARIA DOLORES BUSS
FLORIANÓPOLIS, 2003
A prática do turismo vem sendo, muitas vezes, apresentada nos “discursos oficiais” como atividade que, além de proporcionar o desenvolvimento econômico, auxilia na proteção dos bens culturais e naturais, criando, assim, expectativas crescentes em diversos locais. No entanto, nota-se que em certas localidades este tipo de atividade, agregado a “ideais desenvolvimentistas” tem gerado perdas significativas para as comunidades locais, comprometendo a sua qualidade de vida, servindo apenas como instrumento de ampliação de riqueza para alguns segmentos da sociedade. Em áreas litorâneas, as transformações decorrentes de atividades turísticas, também têm ocasionado impactos negativos ao equilíbrio ecológico local e às comunidades pesqueiro-artesanais que necessitam desta área para viver. Por se tratar de um espaço valorizado esteticamente por sua beleza paisagística e, economicamente, pela diversidade de recursos disponíveis, o espaço litorâneo torna-se “matéria-prima” de grande importância para a expansão do processo capitalista, que, quando transformado em mercadoria turística, passa a atender as tendências do mercado e, nem sempre, as necessidades sociais. Frente a essas contradições, este trabalho trata de uma abordagem do turismo, na qual, através da análise do patrimônio público, ou seja, dos bens pertencentes a uma determinada comunidade, possa-se obter conhecimentos que propicie o entendimento das relações harmônicas e desarmônicas do turismo com esse patrimônio. O patrimônio aqui discutido não trata apenas de bens materiais ou naturais, mas de toda bagagem sócio- cultural desta comunidade, bem como, seu modo de viver, de se relacionar, de pensar e de agir. Deste modo a própria comunidade estará inserida no sentido de patrimônio. Sendo a Geografia uma ciência social que estuda a sociedade e a natureza, a ênfase do seu objetivo recai na investigação de como a sociedade ocupa, organiza e transforma o lugar em que vive. Para a análise do patrimônio público da área em estudo e o entendimento de como este se envolve na construção e reconstrução do espaço local, recorreremos a categoria geográfica de paisagem, entendendo-a como “[...] o aspecto visível, diretamente perceptível do espaço” (DOLLFUS, 1973, p.13), a fim de identificar, caracterizar e interpretar os elementos que compõe o espaço que está sendo estudado e, ainda, o seu envolvimento no modo de pensar e de agir dos moradores locais, cujas
Conforme CASTROGIOVANNI (1999: 28), “ enquanto paisagem visual, os cenários são simples percepções, no entanto, quando enfrentam o processo analítico, apresentam-se nas suas complexidades”. À medida que se propõe a tornar o turismo como atividade econômica prioritária, surgem preocupações em evidenciar certos componentes, a fim que estes se transformem em atrativos turísticos. Neste processo pode ocorrer uma “artificialização”^1 do patrimônio, materializado, muitas vezes, na criação de paisagens exóticas diferentes das nativas; construção de museus, onde, às vezes, a cultura local é expressa através de meras teatralizações; ou até mesmo na promoção de culturas forjadas, utilizadas no sentido de dar “ status” ao produto turístico a ser comercializado. No entanto, tais transformações não podem aparecer escrachadas, sem estar dentro de um “ideal “ou “benefício coletivo”. Deste modo, quem promove o turismo apela para ideologias e campanhas no sentido de criar opinião pública favorável a implantação de práticas sintonizadas com discursos de “turismo sustentável”, “ecoturismo”, dentre outros; na promessa de satisfazer as necessidades sociais e econômicas de determinadas comunidades, alegando proporcionar qualidade ambiental para as gerações futuras. O que levou a escolha do objeto de estudo se deve a forma como estão divulgando e promovendo o turismo no município de Ganchos^2 e suas áreas circunvizinhas, que serve de reflexão aos assuntos aqui mencionados, ou seja, como o desenvolvimento turístico é promovido para “a grande solução” dos problemas locais (assim como que praticamente em quase todo litoral catarinense) visto que a preocupação exacerbada das autoridades em atrair turistas enaltece a importância de estudos de impacto sobre a comunidade local, principalmente quando esta apresenta indícios de degradação no campo sócio-ambiental. Para CASTROGIOVANNI (2000) existem grandes riscos quando a turistificação dos lugares antecedem, pela força econômica e política, às necessidades emergentes dos lugares e os estudos necessários de (re)conhecimento científico das paisagens envolvidas. Deste modo, conhecer os anseios, idéias, percepções, valores e atitudes dos moradores e
(^1) Artificial no sentido de ser forjado e não por ser construído pelo trabalho humano. (^2) O município de Ganchos mudou de nome em 1967, passando a chamar-se de Governador Celso Ramos, em homenagem a um personagem político catarinense que exerceu aquela função. Tal fato, imposto pelo poder político local, gerou o descontentamento da população, que até hoje, refere-se ao município pelo seu nome original. A exemplo da Professora Célia M. Silva, e em respeito aos anseios da comunidade, também conservaremos o nome de Ganchos para identificar aquele município, que parcela de sua área será estudada em nossa pesquisa.
visitantes com relação a paisagem geográfica local será de grande valia para o entendimento das transformações sócio-espaciais que aquela localidade vive. Ainda, FERNÁNDEZ (1979) , comentado em PIRES (1999:164), afirma que
“(...) as atuações humanas afetam em maior ou menor grau os aspectos perceptivos da paisagem, da mesma forma que afetam a qualquer outro aspecto do meio ambiente, então a paisagem assume importância semelhante aos demais elementos do meio físico, constituindo-se num valor estético a ser valorizado e protegido”. Apesar do processo de implantação do turismo na área em estudo estar relativamente em seu estágio inicial, já se percebe, transformações na paisagem, bem como no modo de viver e pensar daquela comunidade. A comunidade de Ganchos se caracteriza por guardar consigo fortes traços da cultura de seus antepassados, que “teve início” com a vinda dos lusitanos atraídos pela pesca da baleia a aproximadamente 250 anos, e posteriormente, sofreu as influências dos açorianos que ocupavam as áreas vizinhas. Estes deixaram importantes marcos histórico- culturais. Além dos aspectos histórico-culturais, Ganchos dispõe de um rico ambiente “natural”, composto de variados e importantes ecossistemas, responsáveis pela manutenção das comunidades nativas. Diante das transformações sócio-espaciais ocorridas nos últimos anos, Ganchos t ornou-se local de intensas contradições, que vão desde os contrastes sociais, até freqüentes choques entre a cultura “de minorias” local e a cultura “dominante imposta”, que se refletem nos “conflitos” entre pesca artesanal e pesca mercantil, polícia e os farristas da brincadeira do boi, turistas e comunidade tradicional, pescadores / banhistas e “donos” de “praias privadas” , dentre outros. Relatos afirmam que, “As praias do município de Governador Celso Ramos [...] estão sendo privatizadas. Hotéis e moradores estão fechando as praias para uso exclusivo, contrariando o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), uma lei que garante que praias são bens públicos de uso comum do povo [...]” (O ESTADO, 06/09/99)
Diante deste quadro, coube-nos, então, algumas indagações que nortearam nossa pesquisa: Ainda que não se apresente tão evidente como em outras localidades litorâneas,
por mais parcial ou mais pequena^3 que pareça contém parte das relações que são globais .” (1997:57) e deste modo, possui o seu valor e a sua contribuição para o entendimento do espaço geográfico. Esta pesquisa também consiste num aprofundamento da Monografia de Conclusão de Curso, intitulado “O patrimônio público e o desenvolvimento turístico na Armação da Piedade/Ganchos -SC” que realizamos em 1997, que conforme o próprio título, abordava os impactos socio-ambientais das atividades turísticas naquela comunidade. No entanto, além de aprofundar o estudo já realizado, este trabalho, agora visa dar uma abordagem diferente ao tema, procurando analisar a percepção de alguns integrantes da comunidade sobre o espaço e o resgate de suas marcas na paisagem. O que propõem-se com este trabalho é ampliar a discussão sobre o tema, verificando algumas das dimensões que envolve a paisagem e os seus observadores, não se preocupando tanto em trazer resultados conclusivos, aceitos cientificamente (pelo menos nos moldes positivistas), mas refletir as relações que uma sociedade tem com o seu espaço geográfico, relação esta expressa na paisagem. A fim de nortear nosso estudo acerca da percepção de alguns moradores locais e visitantes sobre a paisagem de Ganchos, foram utilizadas entrevistas e aplicação de questionários (com usos de imagens fotográficas), em diferentes momentos da pesquisa, cujas etapas dos procedimentos metodológicos, sucederam-se da seguinte maneira: 1 - Entrevista com moradores e visitantes em caráter informal, sendo que a medida que íamos fotografando o local, colhíamos informações com a comunidade, ouvindo, gravando e anotando suas considerações. 2 - Entrevistas programadas com moradores mais antigos da localidade. 3 - Aplicação de questionários (anexo 1), para 21 pessoas, sendo 11 moradores residentes no município, 8 visitantes e dois vendedores ambulantes. Para a análise da visão panorâmica da Praia de Palmas (onde encontra-se o empreendimento “Palmas do Arvoredo”, foram utilizadas apenas as respostas daqueles moradores e visitantes que transitavam no local naquela ocasião. Os outros foram indagados sobre outras paisagens, visíveis no momento da “entrevista”.
(^3) Conforme o autor “ mais pequena” é escrito no sentido hispânico de menor de todas.
4 – Uso de 20 imagens fotográficas referentes as várias paisagens da localidade. Destas, solicitou-se que escolhessem as três imagens mais “bonitas” (no sentido estético da qualidade visual da paisagem e sobre as sensações agradáveis despertadas por elas) e as três mais “feias”, nas quais, teriam que justificar suas escolhas, e com isso, fornecer subsídios sobre as suas percepções sobre cada uma delas.
Além deste meio de análise, também recorremos a materiais promocionais das atividades turísticas e imobiliárias em Ganchos, em que, baseando-se nos textos e nas imagens apresentadas, auxiliaram na compreensão da concepção de paisagem por parte dos grupos empresariais e promotores turísticos, e ainda, do uso de atributos paisagísticos na promoção da vocação turístico do local e para o comércio de seus produtos imobiliários. Assim, no primeiro capítulo, apresentaremos algumas das concepções do conceito de paisagem, com base na sua contextualização histórica desde a antigüidade até a sua retomada pelos geógrafos humanistas após 1970, e também, sob o enfoque de categoria de análise do espaço geográfico, como é apresentada por alguns autores. Em ambas abordagens, a paisagem pressupõe um ou mais observadores, cujo “elo’” entre estes ocorre através do processo perceptivo do sujeito sobre a paisagem, que traduz os aspectos do espaço geográfico, e de suas atitudes e comportamentos, que de certa forma materializam- se nas formas espaciais. Deste modo, faremos uma análise teórica sobre o processo perceptivo da paisagem apresentando as idéias de diferentes autores. Em seguida, serão apresentadas algumas destas concepções para uma análise das atividades turísticas no espaço, com base em diferentes formas de abordagem, dentre as quais, destacam-se: uma centrada no espaço (utilizando as categorias de análise espaciais propostas por SANTOS , 1985), e outra centrada no sujeito, através da leitura da paisagem. No segundo capítulo, analisaremos algumas das “facetas” incorporadas no fenômeno turístico e de suas implicações em novos formatos espaciais, na qual assume, por estar inseridos no contexto do mundo globalizado comentado por SANTOS (2001), as mesmas características existenciais, dotados de pelo menos três mundos num só: um turismo de fábulas, um turismo perverso e um turismo baseado em novas perspectivas. Após , sob o enfoque de diferentes autores, apresentaremos algumas das especificidades do
O município de Ganchos (Governador Celso Ramos) possui uma área de 82 km² e integra a Microrregião da Grande Florianópolis, Estado de Santa Catarina, a cerca de 50 km de distância da capital. Tem sede administrativa localizada na latitude 27°18’53’’ S e longitude 48°33’33’’ W de Greenwich. Possui como limites territoriais o município de Biguaçu a Oeste, a Leste e ao Sul o Oceano Atlântico e ao Norte o município de Tijucas e o Oceano Atlântico.
Por se tratar de uma área de tamanho expressivo, nossa pesquisa teve enfoque maior nas proximidades litorâneas, onde se concentra a maioria da população, as principais atividades econômicas e as praias, no total de 23 (no município), principal alvo do crescimento turístico e imobiliário, onde ocorrem as mais evidentes transformações paisagísticas e onde se encontram as maiores manifestações das culturais. No entanto, não houve preocupação em delimitar precisamente tais áreas, já que trabalhamos com as concepções de paisagem e de lugar, que variam, em determinados momentos, conforme a percepção dos sujeitos entrevistados para esta pesquisa. Também foram considerados as características e influências dos entornos, dos municípios e cidades vizinhas, que contribuíram para o entendimento da realidade estudada. Portanto, através do uso de entrevistas e aplicações de questionários com os moradores, priorizamos as localidades de:
mercantil. Nesta praia está sendo implantado o empreendimento “Palmas do Arvoredo” onde serão assentadas 14.000 pessoas^4 sob um contexto de resgate da cultura açoriana nos traços arquitetônicos das construções e uso correto dos recursos naturais, segundo o discurso de seus administradores;
(^4) Conforme material promocional “É notícia” do Empreendimento “Palmas do Arvoredo”.
Na construção de um raciocínio sobre o espaço geográfico e na compreensão de sua essência, a geografia vem se utilizando de diversificados conceitos e metodologias de “acordo” com as ideologias emergentes nos vários períodos históricos, das necessidades dos pesquisadores diante do seu objeto de estudo. No entanto, a complexidade que envolve cada um desses conceitos como o de região, espaço, paisagem, lugar e território requer uma contextualização histórica já que aparecem em determinados momentos como reflexo da visão social do sistema produtivo, ora um conceito assumindo maior relevância, ora outro, embora de certa forma seja muito difícil entender um sem considerar os demais. Por se tratar a paisagem de um conceito socialmente construído ao longo de um período histórico dotado de significações, que expressam a cultura impressa no meio natural e que, simultaneamente, imprime sobre esta mesma comunidade um sentido ao seu modo de viver e se relacionar; e por esta pesquisa visar a compreensão do mundo experimentado e vivido de uma comunidade em uma determinado local optou-se por uma abordagem do espaço geográfico, na qual a concepção de paisagem ganha destaque na compreensão homem-natureza, sem, no entanto, procurar compreendê-la como o objeto de estudo da Geografia, mas enquanto um dos conceitos operacionais de sua análise. A noção de paisagem preconiza desde as representações artísticas da antigüidade e idade média, apresentadas nas pinturas e posteriormente na criação de jardins, ligadas às diferentes culturas e à questão espacial em diferentes momentos histórico s. Na antigüidade, segundo FIGUEIRÓ (1998), a pintura era centrada na figura humana, aparecendo apenas como o cenário para o movimento humano, enquanto que na pintura medieval cristã, perde o seu caráter antropocêntrico, aproximando-se de uma representação mais paisagística. Paralelamente ao período medieval, surgem os jardins dotados de sentido paradisíaco que serviria para “representar a pátria perdida, absolutamente fechado, planejado e destoante do mundo terreno” (1998: 43), a volta ao “Jardim do Édem”.
Enquanto a pintura medieval era impregnada de idealismo e expressava simbolicamente a paisagem não como lugar específico mas como lugar idealizado, com o advento do racionalismo renascentista começam a surgir propostas de representação da paisagem em um caráter mais concreto (a partir das pinturas holandesas por volta de 1430), buscando aproximá-la ao máximo possível do mundo real “ se afirmando cada vez mais como um mosaico de elementos naturais e não-naturais, passíveis de serem captados pelos sentidos humanos em um determinado momento, a partir de um determinado local”(FIGUEIRÓ, 1998:44). Tais idéias vão apresentar estreitas ligações aos estudos dos cientistas ingleses, em especial Bacon (1561-1626), em que a paisagem representada, agora, tem o sentido de inventariar o cenário observado, cujo conhecimento só é adquirido pela via empírica e experimental e não mais especulativa. Esta visão de paisagem ainda seria compartilhada pelo racionalismo francês, baseado no modelo científico de Decartes (1596-1650), cujas perspectivas de análise da paisagem eram verticalizadas e cartográficas compostas de procedimentos matemáticos e astronômicos. Na Europa do século XIX, a idéia de paisagem é dividida , de um lado, pela corrente científica que separa a paisagem da natureza, esquartejada pela ciência analítica, de uma paisagem-estética ligada ao artístico; e do outro lado, o romantismo alemão que não distinguia a paisagem científica da estética e que resgatava a unidade perdida entre homem e natureza e a idéia de paisagem enquanto totalidade (FIGUEIRÓ op. cit .). Da visão integradora alemã, a noção de paisagem associada entre o conjunto de elementos observados e do espaço vivido é incorporada à Geografia Moderna. Assim, conforme MORAES (1997) por muito tempo a paisagem foi o objeto de estudo da geografia para muitos estudiosos, em que os fenômenos geográficos eram explicados (e em muitos casos, ainda são) a partir da descrição dos aspectos visíveis do real, que, ora eram enumerados e discutidos através de suas formas (morfológica), ora eram relacionados entre si, procurando na sua interação e na sua dinâmica o funcionamento da paisagem (fisiológica), mantinham a Geografia como uma concepção de ciência de síntese, que trabalha com dados de outras ciências. Muitos também, segundo SANTOS (1997:63), “confundiam” o conceito de paisagem com o de região, cujos termos eram associados como resultado da ação de determinados grupos, com suas técnicas, costumes e hábitos sobre os recursos naturais (gênero de vida).
A fenomenologia busca verificar a apreensão do mundo pela percepção, intuição e comportamento das pessoas, utilizando a experiência vivida pelo indivíduo. Trata-se do “mundo-vivido” dotado de uma série de significados que envolvem as pessoas na trama de seu dia-a-dia. Contrapõem-se as ciências positivistas que observam os significados do mundo através dos conceitos científicos e das convenções sociais, cuja base empírica se interessa, ou pelo objeto, ou pelo sujeito, o que para a fenomenologia esses são fundidos na experiência. Segundo LOWENTAL (apud HOLZER, 1997), os estudos geográficos dividem-se em três temas: 1) a natureza do ambiente; 2) o que pensamos e sentimos sobre o ambiente;
Em outra abordagem, centrada na análise do espaço geográfico, SANTOS (1985) trata a paisagem como uma das categorias de análise desse espaço expressa nas “formas geográficas” (categoria 1). Esta, segundo o autor, refere-se aos aspectos visíveis de determinada coisa, em que estão contidas, não somente o presente, mas também o passado dotadas de contextualização histórica. As formas não podem ser analisadas isoladas, já que cairía-se no empirismo, pois resultam de uma rede de relações sociais que supõem uma multiplicidade de funções. A “função” (categoria 2) implica no papel e tendência desempenhado pelos espaços criados. Diante das mudanças das funções dos elementos espaciais e dos ritmos da dinâmica social, o conteúdo social é materializado nas formas, transformando, assim, diferentes paisagens. No princípio da mutação funcional da paisagem ,
“ A sociedade não mudou , permaneceu a mesma , mas se dá de acordo com ritmos distintos, segundo os lugares, cada ritmo corresponde a uma aparência, uma forma de aparecer ”(SANTOS 1997:69)
Além das mutações funcionais, o autor ainda se utilizada da categoria “estrutura” (categoria 3), que seria a matriz social onde as formas e as funções são criadas, tendo que ser respeitada a estrutura social de cada período histórico para que se entenda a transformação ou inércia das formas. As mutações estruturais das paisagens consistem nas “ alterações de velhas formas para adequação às novas funções ” (SANTOS 1997:70). As formas envelhecem tanto físico como socialmente, seja pela sua inadequação física, ou pelo desuso, desvalorização, preferência social a outras formas, modismo, etc... Enquanto o físico, mais previsível, muda pela durabilidade dos materiais, o social muda de acordo com o quadro político, econômico, social e cultural. O “processo” (categoria 4) seria a própria estrutura em ação contínua de transformação. Esta contempla as outras categorias num movimento diacrônico, ainda, que para SANTOS ,