






Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
O documento discute a evolução do g20, criado em 1999, de um grupo informal para discutir problemas centrais da economia internacional, passando por sua ascensão como centro de deliberação e concertação econômico-financeira global após a crise global de 2008. O texto aborda as dificuldades e desafios na incorporação de países em desenvolvimento, a limitação do g20 como foro de discussão de governança econômica internacional, e a transformação do g20 em sucessor do g7. Além disso, o documento discute as reformas implementadas no âmbito do g20, como a ampliação do conselho de estabilidade econômico-financeira (fsb) e as reformas do banco mundial.
O que você vai aprender
Tipologia: Exercícios
1 / 10
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Carlos Márcio Bicalho Cozendey**
Quando o G20 Econômico-Financeiro^1 foi criado em 1999, na esteira das crises asiática, russa e brasileira, para congregar os principais países avançados e os maiores países em de- senvolvimento, o mundo havia mudado. Constatava-se que a periferia havia crescido e, pela via da globalização financeira, podia afetar as economias centrais. O Grupo foi formado para discutir os grandes temas financeiros internacionais num horizonte mais amplo do que o do G7/8,^2 mas era indisfarçável o objetivo de trazer os grandes países “emergentes” a práticas e comportamentos considerados adequados para o prosseguimento sem sobressaltos da internacionalização dos fluxos financeiros. Quando esse mesmo G20 se tornou uma reunião de chefes de Estado e de governo e se autodeclarou, em Pittsburgh, em 2009, o principal foro para a cooperação econômica internacional entre seus membros, o mundo havia mudado de novo. Era o centro quem gerava a crise e constatava que a periferia era essencial na recuperação, e que, em boa medida, as práticas e comportamentos antes considerados adequados estavam por trás da maior crise econômica desde a década de 1930. O G20 é, hoje, um grupo informal que busca atuar como centro de identificação e discussão dos problemas centrais da economia internacional, a fim de buscar soluções pela ação coordenada de seus membros e pela interação com os organismos internacionais pertinentes. A incorporação dos grandes países em desenvolvimento aos processos deci- sórios internacionais por essa via não é, entretanto, isenta de dificuldades e desafios à sua eficácia. Por outro lado, na medida mesmo em que, ao contrário do G7/8, o G20 abre a perspectiva de uma representatividade mais ampla, surgem questionamentos quanto à legitimidade de sua composição.
Número 8 Out.|Dez. 2011 Boletim de Economia e Política Internacional Dinte
ipea
A crise asiática de 1997 tornou claro que o efeito das turbulências econômicas internacionais era doravante de mão dupla e que os riscos, tanto quanto os benefícios, também podiam se transmitir da periferia aos países centrais. Mas fica evidente a limitação do G20, criado dois anos depois, como foro de efetiva discussão da governança econômica internacional, quando se recorda que, no mesmo ano de 1999, foi criado o Financial Stability Forum (FSF), com sede em Basileia, cujos membros eram apenas países avançados e alguns centros financeiros internacionais, deixando de fora países importantes como Brasil, China e Índia. A crise asiática era vista como resultado dos “erros” dos países da região e, nesse sentido, cabia fazer com que os códigos de conduta e recomendações baseados em padrões de governança e transparência do G7 fossem adotados por todos os países como forma de reduzir os riscos globais. De 1999 a 2008, o G20 foi apenas um foro de discussões sem um papel mais saliente. Na medida em que, em meados da primeira década do século XXI, a economia global en- trava numa trajetória de crescimento exuberante, não só o G20 ficava em segundo plano, como o G7/8 se concentrava cada vez mais em temas políticos e mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) perdia relevância. Frente à presença crescente dos países “emergentes” na economia mundial, o G7/8 buscou mitigar o déficit de legitimidade de sua representação ao convidar alguns países emergentes importantes para suas reuniões como observadores.^3 Havia, naturalmente, preocupação com desequilíbrios econômicos globais, como os déficits comerciais dos Estados Unidos e os superávits chineses, mas o satisfatório e continuado ritmo de crescimento da economia mundial servia como justificativa para adiar mudanças na governança econômico-financeira global.^4 A crise financeira global, deflagrada pela quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, veio como um choque drástico para a economia global, em especial as economias avançadas, uma vez que os países do G7 foram desta vez o epicentro da crise. Logo se tornou claro que a crise assumia dimensão global e exigia, portanto, respostas de política econômica globalmente coordenadas. No contexto dessa emergência, o G estava disponível como um mecanismo configurado e operante, pronto para ser utilizado, sem a necessidade de uma discussão penosa sobre qual a composição adequada para um grupo capaz de coordenar a reação à crise mundial. Ao contrário do processo do G8+5, que preservava a diferenciação entre dois grupos de países e movia-se lentamente a uma incorporação dos emergentes nos processos decisórios do G7, no G20 todos eram membros plenos, em igualdade de condições de participação. Dessa forma, alterou-se a governança econômico-financeira global com a conversão da reunião do G20, em novembro de 2008, em Washington, em um encontro de cúpula de líderes.
Número 8 Out.|Dez. 2011 Boletim de Economia e Política Internacional Dinte
ipea Em conjunto, os países-membros do G20 respondem por 90% do PIB mundial, assim como 80% do comércio internacional (incluindo o comércio intra-UE) e dois terços da população do planeta. O peso econômico e a ampla representação dos membros do G dão-lhe elevado grau de influência no gerenciamento da economia e do sistema financeiro globais. As principais organizações econômicas internacionais participam de suas reuniões, o que assegura apoio técnico adequado e transmissão das orientações do G20 a seus pro- gramas de trabalho. Diferentemente de instituições internacionais, tais como a Organização para Coope- ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o FMI ou o Banco Mundial, o G20 (como o G7) não dispõe de um secretariado permanente. Na realidade, como grupo informal, o G20 não aprova acordos nem toma decisões vinculantes, mas suas orientações são tomadas pelas organizações e tratadas pelos seus processos decisórios internos. Assim, as atividades e os resultados implementados por meio dessas organizações não dependem da legitimidade do G20 em si, mas recebem a legitimidade de que disponham essas organizações. Eviden- temente, o peso econômico dos países do G20 faz com que seja muito provável que suas orientações e propostas tenham curso nas organizações internacionais pertinentes. A presidência do G20 é rotativa entre seus países-membros, sendo escolhida de um grupamento regional diferente a cada ano. Em 2010, a Coreia do Sul presidiu o G20, ao passo que, em 2011, a França assumiu a presidência e será sucedida pelo México em 2012. A direção do G20 é conduzida em coordenação com uma troika móvel com representantes do país que o presidiu antes, do que o preside atualmente e daquele que assumirá a tarefa de presidi-lo no ano seguinte. O papel da troika é assegurar a continuidade da atuação do G ao longo das diversas gestões. A urgência de resultados trazida pela crise, porém, reforçou o papel da presidência de turno, que tem tido uma atuação proeminente na definição das agendas e condução das negociações, em prejuízo do papel da troika. Se em 2009 e 2010 as reuniões de cúpula se realizaram duas vezes por ano, a partir de 2011 elas passam a ser anuais. Os ministros de Finanças e presidentes de BCs do G20, que se reuniam, em geral, anualmente, passaram a reunir-se três a quatro vezes por ano. A agenda de temas ampliou-se e os trabalhos são conduzidos ao longo do ano em duas vias, uma conduzida pelos vice-ministros de Finanças e vice-presidentes de BC ( deputies ), a outra pelos representantes dos líderes ( sherpas ).^5 O trabalho técnico de base assume a forma de grupos de trabalho, grupos de especialistas, seminários, relatórios e estudos de caso sobre assuntos específicos. Embora a participação nas reuniões seja reservada, o público é informado por meio da divulgação de comunicados e outras informações sobre as reuniões oficiais.^6 A superação da crise trouxe novos desafios ao G20: como manter uma agenda de resultados quando as urgências já não definem as prioridades e asseguram a disposição política de fazer
Número 8 ipea Out.|Dez. 2011 Dinte Boletim de Economia e Política Internacional
“o que for preciso”? Como evitar que o êxito passado e as dificuldades de obter consensos no presente dilatem a agenda para temas menos concretos e de mais longo prazo? Como assegurar ações econômicas coordenadas, quando o crescimento na retomada se faz a duas velocidades, com os emergentes crescendo muito mais vigorosamente que os países desenvolvidos? No momento em que parecia se normalizar o funcionamento da economia, nova tur- bulência nos mercados financeiros da Europa, devido ao problema das dívidas soberanas e à debilidade do desempenho econômico nos Estados Unidos, mostrou que a recuperação não estava assegurada e que os países emergentes podem não ser suficientes para arcar com a tarefa de soerguer a economia mundial. Por sua vez, o tratamento introspectivo desses problemas – a situação nos Estados Unidos vista como um problema interno e a da Europa como algo a ser resolvido entre europeus, com o apoio dos Estados Unidos por meio do FMI (ou seja, em última instância, pelo G7!) – coloca em questão o papel do G20 na gover- nança econômica internacional. Nenhum desses dois temas estava, naturalmente, previsto na pauta do G20 proposta no início do ano pela presidência francesa. Mas tampouco foi o G20 efetivamente mobilizado em torno deles.
Ao início de 2011, a presidência francesa propôs as prioridades para seu período à frente do G20, que podem ser assim resumidas:^7
Número 8 ipea Out.|Dez. 2011 Dinte Boletim de Economia e Política Internacional
Outro subgrupo, copresidido por Brasil e Alemanha, ficou com o encargo de examinar os temas relativos à gerência dos fluxos de capital. Diante da expansão da liquidez interna- cional resultante das políticas monetárias expansionistas dos países emissores de moeda de reserva, os países emergentes, com maior crescimento, passaram a atrair um fluxo de capital muitas vezes excessivo, que cria problemas macroeconômicos, cambiais e de estabilidade financeira. Por outro lado, os países desenvolvidos, normalmente exportadores de capital, temem que as medidas de defesa adotadas pelos emergentes possam gerar a multiplicação de barreiras ao movimento de capitais. Nesse sentido, deve ser produzido um documento de “conclusões coerentes” sobre o tema que não crie limitações à atuação dos emergentes e reconheça a necessidade de medidas de gerenciamento em certas situações (na medida mesmo em que não estão em cogitação limitações à ação de política monetária dos emissores de moeda de reserva), mas não avalize a utilização de medidas de gerenciamento de capitais em substituição a outras medidas econômicas necessárias. Deve ser também dinamizada iniciativa liderada pelo Banco Mundial de fortalecimento dos mercados locais de bônus, vistos como ferramenta auxiliar na redução da volatilidade dos fluxos de capitais.
Número 8 Out.|Dez. 2011 Boletim de Economia e Política Internacional Dinte
ipea final do grupo de estudos sobre commodities do G20 reconheceu, a instâncias do Brasil e de outros países, a necessidade de eliminação gradual dos subsídios para reduzir as distorções econômicas nos mercados agrícolas. O Brasil apoiou e contribuiu ativamente também para as conclusões no campo da segurança alimentar, que incluem propostas para o aperfeiçoa- mento dos mecanismos de ajuda alimentar de emergência e apoio ao desenvolvimento da produção nos países em desenvolvimento.
Número 8 Out.|Dez. 2011 Boletim de Economia e Política Internacional Dinte
ipea REFERÊNCIAS COSTA, R. T. da. G20. Um novo balanço de poder. Política Externa , v. 18, n. 1, jun./ago.
CNPEPI. Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional. O Brasil no mundo que vem aí. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão (FUNDAG), 2011. p.135-140. HEINBECKER, P. The future of the G20 and its place in global governance. Apr. 2011 (CIGI G20 Papers, n. 5). IMF. International Monetary Fund. World Economic Outlook Update. June 2011. REDDY, Y. V. Global crisis recession and uneven recovery. New Delhi: Orient Blackswan Private Ltd, 2011. DOCUMENTOS OFICIAIS Declaração da Cúpula de Líderes do G20. Washington, 15 de novembro de 2008. ______. Londres, 2 de abril de 2009. ______. Pittsburgh, 24-25 de setembro de 2009. ______. Toronto, 26-27 de junho de 2010. ______. Seul, 11-12 de novembro de 2010.