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panorama de criação do nacionalismo no Brasil. O terceiro capítulo trata do nacionalismo na Era Vargas, seu desenvolvimento desde os primeiros anos até a.
Tipologia: Exercícios
Compartilhado em 07/11/2022
4.5
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Pedro Henrique Ramos Cabral
Monografia apresentada para obtenção do grau de bacharel em Ciência Política na Universidade de Brasília. Professor orientador: Prof. Dr. Paulo César Nascimento Examinador: **___________________________________________ Professor Dr. Paulo César Nascimento (Universidade de Brasília)
Brasília, 2016 AGRADECIMENTOS**
CABRAL, P. H. R. O nacionalismo brasileiro na égide do Estado getulista. Brasília.
The current work has as its goal to analyse the brazilian nationalism during President Getúlio Vargas’s office, from the 30’s, starting with the provisory office, until 1945, year he rennounced. For this purpose, this work aimed to analyse the nationalism developed in the period based on existing theory. The first chapter presents three theories of nationalism, the one present in Eric Hobsbawm, Ernest Gellner discussing about the concepts of the agro-literate and industrial societies; and Benedict Anderson and the theory of the imagined community. The second chapter aims the brief analyses of the development of nationalism in the Spanish and Portuguese americas and how it was created particularly in Brazil. The third chapter presents the nationalism in the Vargas Era, its development since the first years until the forming of its most distinguishing facet, started with the instauration of Estado Novo. The fourth chapter presents the final conclusions of this work. Keywords: nationalism; Vargas Era; Estado Novo, nationalism in America, development of the nationalism, imagined community, agro-literate society, industrial society. SUMÁRIO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar teorias do nacionalismo e aplica- las ao caso brasileiro, possibilitando uma análise que permeie diferentes variáveis e formas de se abordar este tema tão frutífero. Este trabalho está divido em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata, basicamente, de teorias do nacionalismo. Nesta primeira parte, trabalhos de teóricos como Hobsbawm (1990), Nascimento (2003), Gellner (2000) e Anderson (1991) são mobilizados a fim de representarem o marco teórico com o qual se fará a análise do nacionalismo brasileiro durante a Era Vargas. O segundo capítulo aparece como uma breve apresentação do nacionalismo na América do Sul, suas particularidades em comparação à sua modalidade europeia. Neste capítulo saliento já algumas particularidades do caso brasileiro, a qual aprofundo no capítulo subsequente. O terceiro capítulo foca-se no estudo do caso brasileiro. Apresento uma nova conceituação sobre o nacionalismo, de Ludwig Lauerhass (1986), estudioso do período Vargas. Neste capítulo o nacionalismo é analisado nas políticas educacionais, trabalhistas, as relações com a igreja católica, a política externa, a participação na segunda guerra, o auge do autoritarismo no Estado Novo e seu subsequente comprometimento com a queda de Vargas (LAUERHASS, 1986). O quarto capítulo destina-se a aplicação das teorias ao caso brasileiro, sem deixar de levar em consideração as peculiaridades do Brasil. Como poderá ser visto, a partir da análise das definições que serão apresentadas neste trabalho, o conceito de “nação” e de “nacionalismo” não se encontram esgotados na literatura e nos mais diversos estudos sobre os temas. O nacionalismo por si só já apresenta, como ponto comum entre estudiosos, ainda uma vasta área de análise a ser percorrida e exaurida. Assim sendo, o estudo do nacionalismo brasileiro também apresenta vasta área de exploração e análise. Em suma, a proposta deste trabalho é apresentar importantes teorias do Nacionalismo, aplica-las ao caso brasileiro, mais especificadamente na Era Vargas, tida como auge do nacionalismo brasileiro (LAUERHASS, 1986) e possibilitar a análise deste fenômeno à luz de diferentes marcos teóricos.
1.1. Nações e nacionalismos: uma criação moderna O conceito de nação, assim como o de nacionalismo forjou-se, no sentido em que hoje o interpretamos, segundo Hobsbawm (1990), na modernidade (HOBSBAWM, 1990:27). Ao longo dos anos, o termo sofreu significativas alterações. Por exemplo, em 1884, a palavra nación costumava desginar apenas “o agregado de habitantes de uma província, de um país ou de um reino” ( Idem ). Porém, o autor utiliza como hipótese inicial que a nação é um corpo de indivíduos, “suficientemente grande”, que se consideram membros desta nação (HOBSBAWM, 1990:17). Hobsbawm (1990) ao apresentar o seu conceito de nacionalismo, define-o como um princípio que concebe a unidade política e nacional como sendo congruentes (HOBSBAWM, 1990:18), assim, o dever político de um povo de um país “A” em relação à sua organização política que representa a sua nação sobrepõe-se às suas outras obrigações públicas ( Idem ). Ou seja, o nacionalismo seria o reconhecimento de um dever político para com uma nação (esta já existente ou não) a qual o indivíduo enxerga-se como participante, colocando a defesa deste dever em patamar de maior importância sobre outros interesses (HOBSBAWM, 1990:18-9). O estudo do conceito de nação e nacionalismo, segundo Hobsbawm (1990) encontra- se situado na era moderna, na era do “Estado-nação”. Assim, a nação, segundo o autor, não poderia ser entendida como uma forma inerente e pré-existente à organização social. Neste sentido, o nacionalismo e o Estado antecedem a formação das nações, formando-as, e não o oposto (HOBSBAWM, 1990:18-19). Por sua vez, o processo de formação das nações dar-se-ia de forma dual, segundo o autor: as nações seriam feitas essencialmente “pelo alto”, mas para entendê-las seria necessária uma análise “de baixo”, tomando em consideração os interesses das pessoas comuns, e não somente daquelas encarregadas de se pensar “a questão nacional” ou de dirigentes do governo. A opinião pública, as manifestações sociais, as greves, os interesses particulares, entre outros, têm muito a dizer sobre as nações ( Idem ). Podemos apontar, como conceito de relevada importância, na ascensão do nacionalismo ao longo dos séculos, o de laços protonacionais. Estes seriam os sentimentos de vínculo a uma nação que seriam mobilizados por um Estado ou um movimento nacional, de forma a ajustá-lo a essa nação e a esse Estado moderno. Tais
Hobsbawm, ao explorar esse caráter imaginativo da nação reveste de importância os ícones, por exemplo, as bandeiras, os hinos e os símbolos visíveis, que possibilitariam “ver o que não pode ser visto” (HOBSBAWM, 1990:73). As horas cívicas nas escolas, ao incentivarem as crianças a entoarem o hino nacional, facilita a visualização da nação, assim como, por exemplo, a propaganda eleitoral em uma disputa para presidente. Mais deste caráter imaginativo será abordado na próxima parte deste capítulo. Um curioso ponto levantado por Hobsbawm (1990) é o de as línguas, em geral, serem construtos semiartificiais. Segundo ele, elas seriam o oposto do que o nacionalismo pretende que o sejam; no caso, as bases da cultura e mentalidade nacionais (HOBSBAWM, 1990:77-8). Ou seja, estas seriam praticamente inventadas. Este ponto é utilizado pelo autor para apontar para a dificuldade em se visualizar reais “línguas nacionais”, antes de se processar uma educação primária geral ( Idem ). As ditas línguas nacionais, seriam, no melhor dos casos, idiomas administrativos ou literários. A comunicação oral, a ser feita por uma única língua oficial, só encontraria reais possibilidades para sê-lo com a generalização da educação, do contrário, os idiomas estariam sujeitos a alterações e a uma área geográfica limitada, dentro de um mesmo Estado, como foi o caso da Itália do século XIX, para citar um exemplo, quando da unificação em 1860 que apenas 2,5% da população utilizava a língua italiana cotidianamente (HOBSBAWM, 1990: 85). Um conceito abordado por Hobsbawm (1990) e também por Nascimento (2003) é o de nacionalismo cívico. Segundo os autores, este tipo de nacionalismo seria inclusivo, onde a cidadania e a incorporação de um cidadão à nação não se daria meramente por questões de raça, língua falada ou ancestralidade. Nas palavras de Nascimento (2003): “Nessa concepção de nação, o que torna um indivíduo cidadão não é a língua que ele fala nem o lugar de onde é proveniente, mas a adesão aos princípios políticos da soberania popular e do governo representativo” (NASCIMENTO, 2003:42) Outro importante conceito trazido por Nascimento (2003) é o de nacionalismo étnico. Este diferentemente do cívico, seria menos “democrático”, uma vez que seria menos inclusivo, pois basearia em critérios étnicos primordiais (NASCIMENTO, 2003:43). Um exemplo ilustrativo disso é a importância dada à raça e a cultura alemãs no processo de formação de sua nação ( Idem ).
Um ponto importante levantado por Hobsbawm (1990) é o de que as nações geralmente são mais a consequência de um Estado estabelecido do que a sua fundação (HOBSBAWM, 1990:104). Ou seja, segundo o autor, as nações formar-se-iam como tais após a criação do Estado e não o contrário. Porém, vale ressaltar, que o autor aponta que a mera criação de um Estado, em si, não é suficiente para a criação de uma nação (HOBSBAWM, 1990:105). Acerca disto, uma passagem do autor é bastante elucidativa: “Um patriotismo puramente baseado no Estado não é necessariamente ineficaz, desde que a própria existência e funções do Estado-cidadão territorial moderno constantemente envolva habitantes em seus assuntos e, inevitavelmente, forneça uma “paisagem” institucional e processual diferente de todas as outras e que seja o cenário de suas vidas, por ele amplamente determinadas” (HOBSBAWM, 1990: 122) A partir deste ponto podemos notar a necessidade de o Estado incluir constantemente os seus cidadãos em seus assuntos. Alguns laços que trariam ligação aos cidadãos, por exemplo, são: o serviço militar, o correio, os tributos e as comunicações (HOBSBAWM, 1990:117). Há uma necessidade de se buscar a lealdade dos cidadãos, onde os “excluídos devem entrar no jogo” ( Idem :117-8). 1.2. A nação como uma comunidade imaginada Benedict Anderson define a nação como uma comunidade política imaginada, sendo também “intrinsicamente limitada e soberana” (ANDERSON, 1991 [2011] p. 25). O caráter imaginativo da nação dar-se-ia devido ao fato de nem os membros de uma pequena nação poderem conhecer-se mutuamente, ou seja, nesta nação, seja pequena ou grande, os membros dela participantes não se conheceriam, mas em suas mentes existiria a imagem de sua comunhão. As limitações da nação dizem respeito a seu aspecto geográfico finito, como, por exemplo, as fronteiras, que as separam. A soberania da nação diz respeito à própria soberania de seu Estado ( Idem ). O processo de formação deste caráter imaginativo, formador das nações, em muito deveu-se ao desenvolvimento dos meios de comunicação em massa, para citar exemplos
do emprego de tal modelo ainda apresenta-se como, em muito, útil e elucidativa. Com certeza podemos apontar restrições, dada a diversidade de organizações sociais, as mais variadas formas de construção e variados processos que diferenciem sociedades das mais plurais maneiras. Porém, como instrumento analítico, principalmente para os objetivos deste trabalho acadêmico, o modelo de Gellner e suas contribuições teóricas são de grande valia. Partindo então para a análise utilizando as contribuições teóricas de Gellner, é preciso definir os dois modelos societais apresentados pelo autor. O primeiro seria a sociedade agro-letrada. Neste modelo, a sociedade seria baseada na agricultura e pastoreio. Seria dotada de tecnologia estável, ou seja, sem grandes incrementos constantes, embora estes possam ocorrer de tempos em tempos. A relação com a natureza é de parceria estável, onde seria possível obter da primeira constante provisão de bens. A visão, portanto, não seria a de um domínio crescente da natureza (GELLNER, 2000:108) Com a estabilidade tecnológica, a quantidade de produção seria equilibrada. Assim, produzir além do necessário não seria o objetivo dos indivíduos. Porém, um valor típico desta sociedade seria o título de “nobre”, que seria a combinação de vocação militar e status elevado (GELLNER, 2000:108) Portanto, estar bem situado na escala hierárquica seria o objetivo dos indivíduos e não meramente o aumento de sua produção. Há um segundo traço presente neste primeiro tipo de sociedade, decorrente da estabilização tecnológica e do aumento da população: a condição malthusiana, que seria representada pelas limitações de aumento da produção de alimentos, de um lado, e pelo aumento da população, de outro. Como neste tipo de sociedade é valorizada a “prole” (com mais atenção neste caso à masculina, segundo o autor) como recurso de força de trabalho e de defesa militar, uma vez que os recursos (que são limitados) são armazenados e controlados socialmente pelos indivíduos melhor situados hierarquicamente, aqueles em posição social inferior, em uma crise de abastecimento ou diminuição relativa de provisões entre os indivíduos (produção estável sem grandes crescimentos e aumento da população: condição malthusiana), seriam aqueles que mais teriam dificuldade de acesso aos alimentos (GELLNER, 2000:108-110). Assim, neste tipo de sociedade, a ideia de o “homem ser o seu posto” é a consideração mais importante para o indivíduo ( Idem ). Para explicar como se manteve este primeiro tipo de sociedade, o autor utiliza-se de dois argumentos: a coerção e o consentimento. Ambos estariam presentes em ameaças
quando em tentativas de se alterar a ordem social ou na internalização de ideias que reforcem a legitimidade do sistema hierárquico desta sociedade, que seriam disseminadas a fim de se evitar qualquer desvio de sua organização (GELLNER, 2000:110). Gellner (2000) sustenta que ambos os fatores atuariam de forma conjunta e que perceber qual seria mais destacado seria de tarefa difícil, porém haveria presença de um sistema ideológico, que combinando estes fatores, trariam a possibilidade de se transferir legitimação e estabilidade (Idem). No segundo tipo de sociedade abordado pelo autor, a agro-letrada, por sua vez, o "homem é a sua cultura e/ou o seu saldo bancário" (GELLNER, 2000:110), o que confere aos postos maior efemeridade, permitindo ascensão ou declínio. Outra característica da sociedade agro-letrada é o caráter excludente da educação. Como não há disseminação desta, os que a possuem diferenciam-se dos que não a possuem, o que os confere status intrinsicamente superior. Seja no uso de línguas mortas (faladas apenas entre restritos grupos) ou na capacidade de instruir-se a partir de registros escritos, a diferenciação entre a obtenção de conhecimento: "na prática" ou com educação formal, separa os indivíduos e os confere status diferenciado; o primeiro mais rudimentar e popular, enquanto o segundo mais rígido, formal, de menos acesso e de maior prestígio. Gellner ( 2000 ) aponta que neste tipo de sociedade há uma tensão entre estas duas culturas, uma tida como superior e a outra como inferior. A partir destas tensões cria-se, neste tipo de sociedade, um status quo de difícil mobilidade, onde há poucos incentivos para mudança, seja pela vontade de se manter a diferenciação pelas classes dirigentes, roupando-se de um status que a diferencia naturalmente como superiores, seja pelo motivo de a própria cultura já provocar divisões marcadas na sociedade, estimulando, por exemplo distanciamento linguísticos. Segundo Gellner (2000), na Rússia do século XIX o uso do francês pela elite a diferenciava do grande restante da população; ao mesmo tempo que na Itália apenas 2,5% da população falava italiano de "forma correta" (GELLNER,2000:113) Assim, Gellner ( 2000 ) conclui sobre a sociedade agro-letrada que a cultura presente nesta não estimula a formação de unidades políticas. O termo "nação" denota um "conjunto corporativo frouxo" (GELLNER, 2000:114), que seria a aristocracia participante da política, excluindo-se o restante dos indivíduos. O termo nação refere-se a uma categoria política e não cultural de pessoas ( Idem ). A "nacionalidade", portanto, não encontra bases para se sustentar, uma vez que as redes culturais de grupos ou
na nova interação econômica, que exige maior qualificação técnica por parte dos indivíduos para que possam adentrar o novo tipo de produção (GELLNER, 2000:116). É importante ressaltar que nas passagens utilizadas o autor não apresenta uma definição muito clara ou delimitida do que seria esta "cultura superior" que, por vezes é, no texto, sinônimo de "educação". Cabe na análise aqui feita, não discutir especificamente as limitações ou amplitude destas definições, porém, tomar a ampliação do acesso à informação, à formação técnica como um fator presente neste novo tipo de sociedade apresentado por Gellner (2000). Assim, neste novo tipo de sociedade, existe uma necessidade de padronização da cultura, que deverá ser partilhada. Neste ponto, segundo o autor, a proliferação de subculturas internas não seria encorajada e seria inibida. Partilhar da mesma cultura superior seria condição para a consecução da própria dignidade e moral, seria a possibilidade de fazer parte desta ampliada "linguagem cultural". Segundo o autor, o indivíduo ao procurar pertencer a esta cultura superior seria nacionalista (GELLNER, 2000:117). Porém, antes de adentrar neste aspecto, é necessário situar um importante aspecto: o econômico. Preponderantemente, este seria o principal fator a legitimar a ordem social. A busca pelo crescente crescimento econômico é, assim, o primeiro fator. Como para o crescimento econômico é necessário a descoberta de novas técnicas, pesquisas e capacitação mais ampliada, a padronização da cultura apresenta-se como fator de destaque, uma vez que esta seria a responsável pela transmissão dos conhecimentos necessários para a própria ampliação e partilha dos conhecimentos das mais diversas áreas (GELLNER, 2000:117-8). Gellner (2000) aponta para as constantes mudanças da estrutura ocupacional nesta sociedade, que trariam certa instabilidade a suas estruturas burocráticas. Há a ideia de os postos nesta burocracia deverem ser preenchidos de forma meritocrática e não na forma anteriormente preenchidos na sociedade agro-letrada, baseada no fator hereditário, altamente restrito. Assim, segundo o autor, este segundo tipo de sociedade seria mais igualitário, por permitir a maior entrada de indivíduos em ambientes antes circulados apenas por indivíduos com status para tal. Mais uma vez, poder-se-ia problematizar esta ideia de crescimento da igualdade presente nas contribuições teóricas do autor, porém, ateremo-nos à constatação de que, comparativamente, este segundo tipo de sociedade apresenta, em relação ao primeiro tipo de sociedade apresentado pelo autor, mudanças amplas e de fácil percepção. O simples fato de os cargos serem "abertos" a indivíduos
não necessariamente participantes de um grupo hegemônico "a" ou "b" já sinaliza diferença importante na comparação entre os tipos societais (GELLNER, 2000:117-9). Um ponto importante levantado por Gellner (2000) é o de que o ônus da padronização da cultura recai sobre o Estado, além da responsabilidade que vem junto a isto: a de formar "seres humanos socialmente aceitáveis e economicamente operacionais" (GELLNER, 2000:119). A partir daí, Gellner (2000) aponta que toda cultura objetiva formar-se em um Estado, ou seja, segue-se a ideia de “para cada cultura um Estado”, e vice-versa ( Idem ). A nacionalidade, portanto, recebe meios de se formar e de se apresentar a partir desta passagem de estágio, da sociedade agro-industrial para a industrial avançada. A primeira não oferecia condições para o estabelecimento da nacionalidade, uma vez amalgamando diferentes culturas e perpetuando uma restrita como sendo a superior; e relegando as outras como subculturas dentro de um mesmo domínio político, baseado na coerção e consentimento. Na gradual passagem para a sociedade industrial avançada, foi possível fornecer as condições para o estabelecimento da nacionalidade, isso possível graças à ampliação e padronização da cultura superior. Assim, a noção de cultura superior, partilhada por variados indivíduos que reconhecem seu vínculo para com esta cultura, ou mesmo uma cultura inferior que reconheça seu vínculo a uma cultura superior, possibilitaram a formação da ideia de "nação", segundo o autor (GELLNER, 2000:124). É de suma importância apontar que a era do nacionalismo para Gellner (2000) é em mesma medida a era do irredentismo, ou seja, a aplicação da ideia de “uma cultura, um Estado”, onde a anexação de territórios ou a demarcação da própria área geográfica, com base em identificação étnica ou de anterior posse histórica, que pode ser verdadeira ou não, assume centralidade, principalmente a partir do início do século XIX (GELLNER, 2000:124).
no tocante aos países de domínio espanhol. O aumento do controle de Madri explica as vultuosas remessas em impostos que eram enviados para a Coroa no continente europeu. Por exemplo, o México, no início do século XVIII, em impostos, enviava à Coroa a soma de aproximadamente 3 milhões de pesos. Entretanto, no fim do mesmo século o país passava a repassar 14 milhões, ou seja, quase o quíntuplo (ANDERSON, 2011:89). O quadro de insatisfações com a Coroa não era diferente no Brasil. O século XVIII neste país presenciou importantes movimentos de rebeldia. Porém o regionalismo ainda sobrepunha-se ao “nacional”. Exemplos, no Brasil, como a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração dos Alfaiates (1798) e a Revolução de Pernambuco (1817) são exemplos importantes das insatisfações em solo brasileiro em relação à Coroa portuguesa. Porém, tais movimentos (e não foram os únicos do período, aliás) assumiram feições mais regionais do que propriamente nacionais. Em primeiro lugar, clamava-se o “mineiro”, o “baiano” e o “pernambucano”, só depois se clamava o “brasileiro” (FAUSTO, 2015:99). Porém, há de se fazer referência a outros fatores que, no caso, americano, principalmente na América do Sul, são de grande valia explicativa. Primeiramente, é importante salientar que a língua não era um fator de diferenciação entre a metrópole e a colônia, uma vez, como citado, a elite e as camadas populares eram, em boa parte, descendentes ou estrangeiros; logo, compartilhavam da mesma língua. O fluxo de informações, seja com a vinda da imprensa (no caso brasileiro juntamente com a família real em 1808) ou com o desenvolvimento das comunicações transatlânticas favoreceu a difusão das ideias liberais que circulavam pela Europa. Como aponta Anderson (2011), tal difusão espalhou pelo continente americano um republicanismo , onde não se tentou aplicar o mesmo princípio monárquico que fora amplamente vigente na Europa pós-Revolução das Ideais; com a devida exceção do Brasil, que se tornou Império, mas neste caso, com a própria vinda da família real. Um ponto importante que deve ser destacado é o de que desde o século XVI, as novas repúblicas da América do Sul eram unidades administrativas, que possuíam suas atividades econômicas e seus desdobramentos de ordem social. Entretanto, as dificuldades de comunicação e transporte no continente antes da era industrial criaram regiões geograficamente e economicamente distantes entre si. As diferenças de relevo, climáticas e a própria política de Madri (exclusividade comercial para com a metrópole), por exemplo, influenciaram esta relativa autossuficiência entre as unidades. Porém, como abordado por Anderson (2011), somente o estabelecimento de uma unidade administrativa não cria por si só lealdade a esta. Neste ponto, o autor apresenta
a importância do “significado” que pode ser criado a partir da operação destas unidades administrativas. A condição de crioulo e de peninsular (nascido na Europa) trazia uma diferenciação irremediável: nascer na América é necessariamente não ser espanhol, assim como nascer na Europa é necessariamente não ser americano. Assim, mesmo compartilhando da mesma língua, e basicamente os mesmos costumes e cultura, os filhos de espanhóis e portugueses (assim como os de outros países europeus) nascidos na América eram virtualmente diferentes dos nascidos na Europa, e de certo não seriam igualmente capazes, em comparação aos metropolitanos, de ocupar elevados cargos (ANDERSON, 2011:97-8). Anderson (2011) aponta que a exclusão dos nascidos na América, em boa parte, encontrou “fundamento” nas teorias de contaminação ecológica e biológica que marcaram o expansionismo europeu desde o século XVI (ANDERSON,2011:98). Mas ao mesmo tempo, embora houvesse este afastamento entre peninsulares e crioulos, estes últimos, em comparação aos indígenas encontrados no continente (mais fáceis de serem subjugados, catequisados ou “conquistados”), compartilhavam, basicamente, de todas as ferramentas utilizadas na Europa: sabiam manusear armas, estavam a par das mesmas ideias sociais, e possuíam influência econômica destacada. Ou seja, os crioulos, embora postos em posição menos elevada em relação ao prestígio social, possuíam meios de ação, pois podiam defender-se com certa igualdade da metrópole (ANDERSON, 2011:98-99). Perpassando a formação do nacionalismo brasileiro, como acima fora brevemente exposto, a influência europeia fez-se presente e atuou como matriz ideológica, embora, como será aprofundado mais à frente, não exaure, em termos de modelo, a complexidade deste fenômeno no Brasil. Diferentemente de seus vizinhos sul-americanos, o nacionalismo brasileiro obteve uma roupagem menos decisiva no processo de Independência, uma vez que esta fora feita de forma pouco turbulenta, sem um caráter revolucionário, seguindo a estrutura monárquica da Casa de Bragança. Este fato apresenta-se como um fator explicativo do tardio surgimento do nacionalismo brasileiro e também um traço distintivo deste país em relação às repúblicas sul-americanas (LAUERHASS, 1986:19- 20). Outro ponto a ser levantado é o de o nacionalismo desenvolvido no Brasil não ter adquirido uma forma violenta, não tendo se formando a partir da presença de uma “ameaça externa”, mas sim a partir de crises internas. A roupagem característica