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A resenha da obra 'o labirinto de creta' de antônio josé da silva, o judeu, publicada pela editora edibrás de uberlândia. A obra é uma opereta jocosa que aborda o mito grego do minotauro e sua ligação com a crítica às sistemas de censura da época. A pesquisa também discute as influências do mito no mundo literário universal e as figuras do bobo, do trapaceiro e do bufão na revelação da subjetividade pura. Além disso, o texto explora as relações amorosas e artimanhas praticadas pelos personagens, criando um labirinto confuso e desnorteante. O documento também fornece informações sobre a vida de antônio josé da silva, seu contexto histórico e a importância de sua obra.
Tipologia: Slides
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lucas gilnei pereira de melo Graduado em Letras pela Universidade Federal de Goiás, mestre e doutorando em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais, Brasil).
A EDIÇÃO DE O LABIRINTO DE CRETA, LANÇADO PELA EDIBRÁS DE UBERLÂNDIA-MG, é a quarta obra de Antônio José da Silva, o Judeu, publicada com organização e notas pela Professora Kenia Maria de Almeida Pereira e posfácio da professora Lyslei do Nas- cimento. Com o intuito de divulgar o teatro do comediógrafo luso-brasileiro, a pes- quisadora fez o lançamento de Obras do Diabinho da Mão Furada, em 2006, pela Edi- tora Impressa Oficial do Estado de São Paulo / Oficina do Livro Rubens Borba de Mo- raes. Logo, veio a público Guerras do Alecrim e Manjerona, pela EdUFU, em 2012. O terceiro foi Os Encantos de Medeia, pela EDUSP, em 2013. O empreito se faz valoroso por tratar-se de um autor barroco pouco estudado e lido pela academia, além de em- parelhar-se a Gil Vicente, ao colocar no palco, sutilmente, na boca de seus bonecos de cortiça, críticas e ironias aos sistemas de censura da época, através de chacotas e qui- proquós. O inusitado riso, na maioria das vezes, surge dos bonifrates graciosos, de suas falas à parte, espécie de pensamento dito em voz alta que somente o espectador da pe- ça consegue ouvir. Assim, com a posse de seus verdadeiros intentos, esbaldam-se com as armações e descalabros. A obra em questão bebe na fonte primordial do mito grego do Minotauro. O ser monstruoso, metade homem e metade touro, é fruto da vingança do deus Poseidon ao descobrir que o Rei Minos não sacrificara um touro enviado pelo próprio deus, por considerá-lo de rara beleza. Poseidon enfeitiça então Pasífae, esposa de Minos, para que ela se apaixone pelo touro. Escondida dentro de uma vaca, construída por Dédalo, consegue manter relações sexuais com o touro, dando origem ao Minotauro. Enver- gonhado, o Rei Minos pede a Dédalo uma solução para o problema. Por esse motivo, o inventor constrói o labirinto, onde habitará o monstro, que, de tempos em tempos, receberá sete mancebos e sete donzelas como sacrifício. Teseu se compadece das víti- mas e se oferece para acabar com esse tormento. Com a ajuda de Ariadna, filha de Mi- nos e possuidora do segredo para escapar do labirinto, Teseu consegue derrotar o mons- tro e sair ileso, seguindo o fio do novelo de Ariadne para desvelar o caminho. Lugar de mil portas e confusas passagens, o labirinto representou, ao longo da his- tória, como afirma a professora Kenia, na apresentação da obra, “o próprio inconscien- te e seus meandros, envolveria ainda questões inerentes aos dilemas humanos: traição, adultério, medo, desespero, morte, abandono, e, também, à própria criação literária: o
O Labirinto de Creta : o mito do Minotauro na visão cômica de Antônio José da Silva, o Judeu lucas gilnei pereira de melo Cretan Labyrinth : the myth of Minotaur in the comical approach of Antônio José da Costa, the Jew
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texto como labirinto” (p.10). Ainda na apresenta- ção da obra de Antônio José, a pesquisadora cita o mito grego que reaparece de formas múltiplas na literatura universal, em textos de Ovídio, Vir- gílio, James Joyce, sendo recorrente a emblemática figura do minotauro e do labirinto. Na opereta jocosséria de Antônio José da Silva, O Labirinto de Creta, encenada originalmente no Teatro do Bairro Alto, em Portugal de 1736, Teseu e Esfuziote, seu criado inseparável, aparecem na praia de Creta após terem naufragado. O príncipe de Atenas, não tendo escapado de ser um dos sa- crifícios entregues ao minotauro, enfrenta seu des- tino para satisfazer a promessa do Rei Minos. Nes- sa aventura, Teseu combina com Dédalo de matar o terrível monstro e acabar com os sacrifícios. An- tes disso, apaixona-se perdidamente por Ariadna, recebendo dela e de Fedra, que também nutre ar- dor por Teseu, ajuda para vencer o monstro do la- birinto. A primeira o ajuda com um fio que o leva para fora da sombria construção, enquanto a se- gunda oferece um veneno para matar o monstro de uma vez por todas. Assim, Teseu vence o Mi- notauro e confirma o oráculo que dizia que um “vivo morto e um morto vivo” daria fim ao terrível ser fantástico. Em uma inversão, o Rei pede per- dão à Teseu pela inumanidade cometida. O prín- cipe fica com Ariadna e retorna à Atenas. O riso acontece por intermédio dos graciosos Esfuziote, Taramela e Sanguixuga. O trio, desejo- sos de benfeitorias a qualquer custo, são os criados dos personagens principais e estão presentes na maioria das cenas. Esfuziote entra como sacrifício ao minotauro para completar a lista, finge-se de Teseu para conquistar Taramela e adquire asas, com ajuda de Dédalo, para buscar a nau que os resgataria do labirinto. Taramela se deixa envolver por desejar ser uma princesa tal qual sua ama e faz jus ao nome, por revelar segredos que causam re-
viravoltas na trama. Sanguixuga está em meio ao embaraço e causa outros tantos ao dar a Tebandro a máscara que Fedra destinou à Teseu. Assim, pe- los graciosos passa o fio condutor das histórias. Pelo riso e pela crítica ao poder, o trio tempera as cenas de maneira ácida, expondo a malícia por trás de cada atitude. Como, por exemplo, quando Es- fuziote comenta a recepção que o Rei faz à Teseu, tratando-o como príncipe às vésperas de ser joga- do como comida de minotauro, dizendo que “aqui- lo é o mesmo que engordar para matar”. Excessos e hipocrisias não passam despercebidos pelas ti- radas espirituosas dos graciosos. Para Bakhtin (1998), as máscaras, e aqui po- demos pensar nas marionetes utilizadas pelo Ju- deu, “dão o direito de não compreender, de con- fundir, de arremedar, de hiperbolizar a vida; o direito de falar parodiando, de não ser literal, de não ser o próprio indivíduo; (...) o direito de tor- nar pública a vida privada com todos os seus se- gredos mais íntimos” (BAKHTIN, 1998, p. 278). Para o mesmo autor, as figuras do bobo, do tra- paceiro e do bufão ajudaram a revelar a figura do “homem interior – subjetividade pura e ‘natural’” (BAKHTIN, 1998, p. 279). Não podemos nos furtar de fazer referência ao hábil e labiríntico texto de Antônio José, que brin- ca com os fingimentos e excessos da linguagem. O labirinto confuso e desnorteante se estende às re- lações amorosas e artimanhas praticadas pelos per- sonagens. Em diversos momentos da peça, algum personagem finge ser o que não é, escuta atrás das portas ou não sabe ao certo quem está do seu lado, como, por exemplo, no baile de máscaras. Para Francisco Maciel da Silveira, “‘a cada passo encon- tramos mil barafundas e circunlóquios’, pois cons- truídos sob o prumo e fio de quiproquós, figuram não só um labirinto, mas uma ‘sala de enganos’, um ‘gabinete de espelhos’, ou seja, reino e recinto