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1. Alterações no marco regulatório. Como se sabe, a indústria brasileira passou ... automotriz, além de demanda acelerada: as empresas gigantes mundiais não ...
Tipologia: Resumos
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LC/L. Novembro de 1999
Este documento foi preparado pelo Sr. Ricardo Bielschowsky, Oficial de Assuntos Econômicos do Escritório da Cepal em Brasília, no âmbito do Projeto “Crecimiento, empleo y equidad: América Latina en los años noventa” (HOL/97/6034), financiado pelo Governo dos Países Baixos. Este texto foi concebido a partir de uma pesquisa CNI/CEPAL, que o autor coordenou em colaboração com Flávio Castello Branco e José Guilherme dos Reis, da CNI. O autor deseja expressar sua gratidão a ambos pelo apoio logístico e pelas valiosas e generosas contribuições no plano intelectual. Deseja igualmente agradecer a Cézar Medeiros pelo múltiplo apoio, e especialmente pela contribuições ao entendimento do comportamento do setor siderúrgico. As opiniões expressadas neste documento, que não foi sometido à revisão editorial, são de exclusiva responsabilidade do autor, podendo não coincidir com as da Organização.
Este trabalho descreveu o processo de investimento que teve lugar na indústria brasileira no triênio 1995-97, depois de concluída a abertura comercial e implementado o programa de estabilização - o Plano Real. Apresenta, em base à extensa pesquisa, dois conjuntos de resultados centrais.
Primeiro, identificou, a nível da indústria como um todo, um “mini-ciclo de modernizações”. Ainda que os segmentos mais dinâmicos tenham estendido o investimento além da modernização, o movimento mais importante e generalizado foi a modernização. O argumento analítico apresentado é o de que o processo foi viabilizado pelo fato de que o investimento em modernização caracteriza-se por um alto rendimento, porquanto eleva a eficiência de todo o estoque de capital preexistente. O argumento resolve um “enigma”, qual seja, o de que, em circunstâncias de baixa rentabilidade (associada à taxa de câmbio valorizada), elevadas incertezas (ainda que muito inferiores ao período mega-inflacionário) e juros altos, a indústria haja elevado substancialmente a taxa de investimento, pelo menos em relação aos níveis prévios ao Plano Real. Durante o mini-ciclo, a eficiência marginal do capital foi alta, superior mesmo ao alto “custo de oportunidade do capital”, que são as taxas de juros astronômicas pagas pelo títulos públicos (média de 20% ao ano no triênio 1995-97, em termos reais).
Segundo, o trabalho hierarquiza o grau de dinamismo relativo entre os distintos setores da indústria e explica o que determinou essa hierarquia. A análise dos determinantes dos investimentos concentra-se nos impactos da evolução macroeconômica e de organização industrial pós-abertura sobre a rentabilidade, o crescimento e os investimentos das empresas dos distintos setores. Buscam-se os determinantes, por um lado, no crescimento da produção e na rentabilidade do capital e, por outro, na relação entre a “trilogia” investimento/crescimento/rentabilidade e as condições em que a organização “microeconômica” de cada setor enfrentou a concorrência internacional.
O trabalho integra um estudo sobre o desempenho da economia latino-americana nos anos noventa, depois de iniciadas as reformas e depois dos substanciais avanços conquistados na estabilização de preços na região. Por essa razão, um de seus objetivos foi avaliar os efeitos do novo contexto regulatório, pós-abertura e privatizações, e do novo contexto macroeconômico introduzido pelo Plano Real.
No caso brasileiro, os impactos oriundos da evolução da macroeconomia nos anos noventa - ou seja, turbulências anteriores ao Plano Real e dificuldades posteriores ao mesmo -
misturam-se com os que advêm da abertura, e seguramente comprometem alguns dos efeitos potencialmente benéficos da mesma sobre a competitividade da indústria, conspirando contra esses efeitos, também no que se refere a eventuais impulsos positivos à decisão de investir. A pesquisa confirmou estudos anteriores, ao revelar que o que move os investimentos é essencialmente o crescimento do mercado interno. A intenção de aumentar as exportações não está ausente da decisão de investir, mas essa decisão determina-se essencialmente pelas perspectivas do mercado doméstico. Ocorre que, como há consenso no país de que há problemas para que o modelo de estabilização com âncora cambial se sustente a médio prazo, e de que enquanto se sustenta exige taxas de crescimento baixas, as expectativas quanto a rentabilidade futura também se deprimem.
Na seção 3.6, final, formula-se uma síntese dos resultados encontrados em termos de impactos da abertura e do Plano Real sobre o processo de investimento na indústria brasileira. Vale antecipar a conclusão de que, inevitavelmente, uma avaliação “isolada” do impacto da abertura sobre os investimentos se encontra inviabilizada, pelos efeitos desorientadores das condições macroeconômicas sobre a alocação de recursos na economia, em especial a valorização da taxa de câmbio, as elevadas taxas de juros, e as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento no modelo de âncora cambial.
Um versão avançada do trabalho já estava concluída antes da instabilização financeira e da introdução da política contracionista de novembro de 1997. Um dos argumentos centrais já havia sido enunciado muito antes, em artigo que os autores do presente texto tiveram a oportunidade de publicar na Folha de São Paulo, em 23 de fevereiro de 1997:
“(...) Os investimentos estão sendo programados tendo como horizonte temporal prazos relativamente curtos. A fase atual parece corresponder a um “mini-ciclo de modernizações” e, como tal, seu fôlego seria intrinsecamente muito reduzido, visto não ser possível prosseguir por muito tempo extraindo rendimentos elevados de investimentos relativamente pequenos.
Assim, seria a “fase fácil”, inaugural, de um eventual ciclo de investimentos de longo prazo, cujo delineamento não estaria claro, segundo a percepção e programação das empresas. Para confirmar esse novo ciclo, podem ser necessárias mudanças nos estímulos que o setor industrial vem recebendo do quadro macroeconômico, mais além da estabilização introduzida pelo Plano Real. Entre elas, destacam-se sinais de segurança com relação à continuidade do crescimento e ajustes nas taxas de câmbio e de juros (...)”.
Lamentavelmente, no momento em que o autor “inserta” a citação anterior num texto já concluído, as dificuldades macroeconômicas parecem afastar a hipótese de eventual desdobramento imediato do mini-ciclo de 1995-97 em um ciclo de investimento mais robusto. Tudo indica que um longo e duro período de ajuste se interporá entre o referido mini-ciclo e um eventual novo ciclo de investimento de maior fôlego.
Em termos de crescimento econômico, o período examinado teve altos e baixos, bastante associados ao “stop and go” derivado da prioridade governamental de administração da estabilidade macroeconômica nas difíceis condições do modelo de “âncora cambial”. Ainda assim, do ponto de vista do comportamento dos investidores, o período pode ser visto como um todo uniforme devido à continuidade do controle inflacionário e, em termos de formação de expectativas empresariais favoráveis ao investimento, como um período muito “superior” aos sete anos de hiperinflação que lhe antecederam. Muito provavelmente, terá sido “superior” também ao período de dificuldades em que a economia do pais parece ter ingressado a fins de 1997.
Utilizam-se quatro fontes de informação neste documento: i) dados de uma pesquisa que realizamos a fins de 1996 junto a 730 empresas de porte médio e grande (média de 950 empregados), sobre caracteristicas e determinantes do investimento na indústria entre 1995 e
1999 (CNI/CEPAL,1997); ii) resultados de entrevistas que fizemos nos meses de maio e junho de 1997 com cerca de 40 empresários e especialistas em indústria; iii) estatísticas do IBGE e de outras instituições; iv) resultados apresentados na literatura recente sobre indústria no Brasil.
O enfoque analítico empregado é keynesiano, e combina as duas dimensões fundamentais dessa abordagem. Primeiro, a de que o investimento depende da relação entre rentabilidade prevista, mediada pelos riscos e incertazas do empreendimento (eficácia marginal do capital), e as taxas de juros – que o empresario é obrigado a pagar, se necessitar fundos de terceiros, ou a deixar de ganhar, sempre que estiver aplicando seus próprios recursos. Segundo, a de que entre os factores que determinam a rentabilidade esperada estão, além das incertezas e riscos, a taxa de crescimento das vendas (o “acelerador”) e da rentabidade nos últimos anos.^2
O esquema é apropiado para a análise do impacto macroeconômico e das reformas sobre o desempenho inversionista, tanto a nivel agregado como a nível dos setores e dos agentes. O postulado básico keynesiano de que os investimentos expandem-se até o ponto em que sua rentablidade iguale-se à taxa de juros aplica-se aos três niveis: a nível agregado, o fenômeno é uma média ponderada dos comportamentos dos diferentes setores, os quais, por sua vez, correspondem à média ponderada do comportamento das empresas que o compõem.
Foi possível, por essa razão, empregnar o modelo analítico, tanto no exame do setor industrial como un todo, como na desagregação setorial, em que se buscou hierarquizar os setore segundo o dinamismo relativo do investimento.
Este trabalho integra um estudo da CEPAL sobre determinantes do investimento na América Latina depois das reformas e da estabilização. Por essa razão, formula-se, na seção V, final, uma síntese dos resultados encontrados em termos de impactos da abertura e do Plano Real sobre o processo de inverstimento na indústria brasileira. Vale antecipar a conclusão de que, inevitavelmente, uma avaliação “isolidada”do impacto da abertura sobre os investimentos se encontra inviabilizada, pelos efeitos desorientadores das condiçõos macroeconômicas sobre a alocação de recursos na economia, em especial a valorização da taxa de câmbio, as elevadas taxas de juros, e as incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento no modelo de âncora cambial.
Tabela 1 TARIFAS DE IMPORTAÇÃO, 1990- (em percentagens) Datas Média Mediana Intervalo Desvio padrão 1990 32.2 30 0 - 105 19. Fevereiro.1991 25.3 25 0 - 85 17. Janeiro 1992 21.2 20 0 - 65 14. Outubro 1992 16.5 20 0 - 55 10. Julho 1993 13.2 12,8 0 - 34 6. Dezembro 1994 11.2 9,8 0 - 24,7 5, Dezembro 1995 13,9 12,8 0- 55,5 9, Fonte: Pinheiro (1996) e Kume (1996).
Os acontecimentos ligados à crise mexicana e à evolução desfavorável na balança comercial levaram o governo brasileiro a introduzir modificações "ad hoc" na política de comércio exterior para diferentes segmentos industriais, principalmente elevações temporárias de tarifas, devolvendo-as ao nível médio de 14%, equivalente à tarifa externa comum do Mercosul. O momento foi aproveitado para conferir às montadoras do setor automobilístico um robusto pacote de medidas de estímulo, adicionais às que haviam recebido anos antes, em 1992. Essas modificações estarão sendo mencionadas na seção 4, em que cada segmento estará sendo comentado em separado.
O tratado do Mercosul foi implementado e, a partir de janeiro de 1994, passou a vigorar tarifa zero entre os mesmos. A lista de exceções é longa, mas em todos os casos a convergência para a unificação completa está devidamente negociada e pactada.
De um modo geral, a abertura do comércio exterior brasileiro foi um processo que ocorreu com grande velocidade. Não convém, na reflexão sobre os efeitos da “rapidez” sobre a competitividade e os investimentos da indústria, isolá-los dos que advêm do fato de que o momento em que o processo transcorreu foi um dos mais infelizes da história econômica brasileira: megainflações até 1994, forte apreciação da taxa de câmbio (ver tabela 2 abaixo), e forte recessão em 1990-92. A análise do desempenho da indústria brasileira depois da abertura tem que levar em consideração a simultaneidade desses eventos. O ponto será retomado posteriormente.
O processo de privatização na indústria foi realizado essencialmente entre 1992 e 1994. Foram vendidas praticamente todas as estatais importantes na petroquímica e na siderurgia, os dois segmentos que concentravam mais de 90% da presença do estado como produtor direto na indústria de transformação.
Em 1995 foi votada no Congresso uma lei que eliminou uma série de restrições à propriedade industrial, destacadamente o impedimento para o registro de patentes a fármacos e demais produtos de base bioquímica. Simultaneamente, suprimiu-se por decreto a proibição de remessas referentes a pagamentos de royalties por marcas e patentes em empresas multinacionais.
As empresas multinacionais receberam outros estímulos à presença no Brasil. Em 1991 terminou a reserva de mercado para empresas nacionais na indústria de informática. Uma emenda constitucional de 1994 eliminou a possibilidade legal de estabelecer-se diferenciação entre empresas nacionais e estrangeiras, com o que as últimas passaram a ter iguais direitos de acesso a setores de atividade, a agências oficiais de crédito e a incentivos e subsídios governamentais. Além disso, houve forte redução na tributação sobre a remessa de lucros. Anteriormente pagavam 25% sobre as remessas até 12% do capital registrado, e alíquotas crescentes. A partir daí, passou a vigorar uma alíquota única de 15% para quaisquer remessas, sem restrições.
Eliminaram-se por completo os controles de preços sobre os produtos industriais, depois de algumas décadas de prática contínua. A bateria de subsídios e incentivos do governo federal dirigidos à indústria também foi em boa parte eliminada, dando seqüência a um processo iniciado já na década dos oitenta. Restaram incentivos à Zona Franca de Manaus, e alguns incentivos ao setor eletrônico. Como novidade, foram introduzidos, em 1994, incentivos fiscais à atividade de pesquisa e desenvolvimento e, muito mais relevante, a isenção de impostos estaduais sobre exportações, em 1996.
A grande figura nova do quadro institucional da indústria nos últimos dois a três anos, além do já mencionado regime especial para a indústria automobilística, são os incentivos estaduais e municipais aos novos investimentos, imunes aos controles da OMC. O fenômeno é conhecido pela expressão “guerra fiscal”, devido à acirrada disputa entre os diferentes governos pela localização das fábricas, traduzidas em generosas ofertas de incentivos dos mais variados tipos (terra grátis, isenção de tributação estadual e municipal, crédito em bancos estaduais, etc).
2. O quadro macroeconômico
A questão da evoluçao do quadro macroeconômico brasileiro depois da Plano Real tem sido objeto de numerosas análises. Combinam-se, no contexto, sinais “favoráveis” e “desfavoráveis”para a decisão de investir. De forma muito estilizada, pode-se sugerir que suas características de maior influê foram as seguintes:
2.1 Factores favoráveis
Houve êxito no controle inflacionário, eliminado-se megainflação que, desde 1987, vinha deprimido os investimentos na economia brasileira; a taxa de inflação baixou de mais de 1000% ao ano a cerca de 20% em 1995, 10% em 1996 e 5% em 1997;
Tabela 2-B BRASIL: TAXAS DE JUROS REAIS, 1995- MODALIDADE PERÍODO JUROS PRAZO TITULOS DO BANCO CENTRAL (“custo de oportunidade p/o capital”)
1995- Abril 97
20% (média) 14%
LIQUIDEZ IMEDIATA
CAPTAÇÃO INTERNA BNDES GIRO
1995- Abril 97 1995- Abril 97
8,0% a 12,5% (média) 5,5% a 10,0% (flutuante) 42% (média) 34%
Até 10 anos
Até 3 meses CAPTAÇÃO EXTERNA EMISSÃO DE EURONOTES IMPORTAÇÃO EQUIPAMENTOS INTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA (Resolução 63) DEBENTURES
Abril 97 Abril 97
Abril 97
Abril 97
12,1% a 14,5% (mais risco cambial) 10% a 12% (mais risco cambial) 14% a 17%
(mais risco cambial) 19% a 23% (mais risco cambial)
3 anos
1 a 5 anos 1 a 3 anos
1 ano
Fonte: Banco Central, Blaser consultoria e Fafner consultoria.
Para efeitos da análise que efetua no presente documento, em que se destaca a relação entre rentabilidade e riscos/incertezas que norteia as decisões de investir do empresariado, vale observar que, não obstante o enorme avanço promovido pela estabilidade de preços, o quadro macroeconômico deu lugar a uma atitude de cautela por parte deos empresários. Conforme se analisará posteriormente, esse foi um dos resultados do questionário aplicado a 730 empresas, e confirmado pelas entrevistas realizadas junto a executivos de empresas do setor industrial, nacionais e estrangeiras. Esse “clima” refletia –continuamente nas previsões que um bom número de analistas macroeconômicos faziam sobre o futuro da economia brasileira, onde destacavam as preocupações com a valorização cambial e o déficit externo, por um lado, e com os juros elevados, a dívida pública e déficit público, por outro.
3. Indicadores de desempenho da indústria de transformação
A tabela 3 mostra indicadores básicos de desempenho da indústria brasileira nos anos 90s, que ilustram as quatro características marcantes da evolução da indústria como um todo, nesse período: a) aumento da produtividade associado à reestruturação com redução de emprego, b) baixo dinamismo; c) explosão nas importações, não acompanhada por elevações significativas nas exportações, e d) rentabilidade negativa evoluindo para escassamente positiva (e contrastando com as elevadas taxas de juros).
Talvez a característica mais destacada da evolução recente da indústria brasileira seja o fato de que, mesmo após a conquista da estabilidade de preços proporcionada pelo Plano Real, ainda continuou longe o dinamismo de outras épocas. Seu nível de atividade em 1997 foi
praticamente igual ao de 1989, ano prévio ao início da abertura comercial, e não muito superior ao de 1980, ano final do ciclo de industrialização iniciado na década de quarenta, e que teve seu auge na década de setenta. Como resultado, a participação da indústria no PIB caiu de z% a x%, entre 1980 e 1997.
Nos anos noventa, a indústria teve apenas dois bons anos, 1993 e 1994, em que recuperou-se da maior recessão de sua história, a do triênio anterior. Cresceu, no biênio, os 16% que havia caído no período 1990-92. Em 1995 e 1996 o crescimento acumulado foi de 2,7%, muito menor do que o crescimento do PIB nesse biênio, que foi de 7,2%. Vale notar que enquanto o crescimento acumulado do PIB brasileiro, no período 1990-1996, foi de 12,3%, o crescimento acumulado da produção industrial foi de modestos 1,5%. Há que se advertir que, por detrás dessas cifras agregadas existe, como se verá em seção posterior, forte heterogeneidade de comportamentos entre os distintos segmentos do setor industrial como, aliás, só acontece em períodos de radical reestruturação, como o da década dos noventa.
Uma segunda característica básica da indústria brasileira na presente década é a forte elevação na produtividade por trabalhador, concomitante à forte redução no emprego, resultante de um processo de racionalização e reestruturação nos âmbitos produtivo e administrativo das empresas do setor.
Segundo o IBGE, o emprego industrial em 1996 correspondeu a dois terços do que se registrava em 1989 e a pouco mais da metade do que se registrava em 1980. Nesse mesmo contexto, a produtividade por operário (valor bruto da produção por horas trabalhadas) cresceu com enorme velocidade. Segundo os dados do IBGE, ela teria se elevado em nada menos que 54%, entre 1989 e 1996. 1
É interessante notar que em 1995 houve uma desaceleração nos ganhos de produtividade mas que, em 1996, eles se reaceleraram. É provável que o ano de 1995 separe duas fases. Numa primeira, de 1991 a 1994, a produtividade teria se elevado pelo intenso processo de racionalização por que passou o setor industrial, ao qual não teriam concorrido, de forma importante, tecnologias incorporadas em equipamentos, já que foi um período de escasso investimento fixo; na segunda, a partir de 1995, e conforme se argumenta mais adiante, os ganhos de produtividade devem estar predominantemente associados à incorporação de novos equipamentos poupadores de mão-de-obra e redutores de custo de um modo geral.
O período tratado no presente documento é a segunda fase. Vale a pena, por isso, antes de prosseguir, recordar que são muitos os estudos que descrevem a primeira fase (por exemplo, Bielschowsky, 1992 e 1994, IEI/UNICAMP, 1994, Ferraz e outros, 1995). Esses trabalhos mostram que a reestruturação foi um processo que teve caráter de emergência para as empresas, determinado pela agudização da crise macroeconômica, e confirmado pela percepção sobre a irreversibilidade da abertura econômica e pela valorização da taxa de câmbio. Mostram também que fez-se uma radical racionalização do processo produtivo, tendo como objetivos a redução de custos e o controle da qualidade, e incluindo mecanismos como a desverticalização, a
Tabela 4 COMÉRCIO EXTERIOR DA INDÚSTRIA BRASILEIRA, 1989- (US$ bilhões correntes) Exportação Importação Saldo 1989 26,3 11,2 15, 1990 22,5 12,6 9, 1991 22,6 13,2 9, 1992 26,2 13,0 13, 1993 28,2 17,3 10, 1994 30,7 22,9 7, 1995 34,3 35,8 -1, 1996 34,7 37,3 -2, Fonte: Moreira e Correa - Abertura Comercial e indústria - o que se pode esperar e o que se vem obtendo - BNDES - Textos para Discussão 49, Brasília, 1996.
O objetivo desta seção é caracterizar o processo inversionista em curso entre 1995 e 1997 na indústria de transformação em seu conjunto, analisar seus determinantes, e colocar em perspectiva a questão dos investimentos nos próximos anos. Desde logo, vale chamar a atenção para o fato de que no exame do “conjunto” da indústria omite-se a existência de heterogeneidade de comportamentos entre setores e dentro de setores. Essa diferenciação é parcialmente feita nas duas seções seguintes, em que hierarquizam-se os principais setores, segundo o dinamismo dos investimentos e examinam-se as causas do comportamento inversionista.
1. As evidências
A pesquisa CNI/CEPAL é rica em evidências sobre o processo de investimento na indústria brasileira. O trabalho tem a virtude de repousar sobre uma amostra que, embora não tenha sido constituída com técnica probabilística, resultou ser extraordinariamente representativa do universo das empresas. Essa conclusão é permitida pela comparação do comportamento das 730 empresas da amostra com as 5700 que compõem o universo das empresas da Revista Gazeta Mercantil (responsáveis por cerca de 85 a 90% da produção industrial brasileira), da qual a amostra foi retirada: a taxa de expansão das vendas e a rentabilidade do capital próprio das empresas da amostra e do universo das empresas da Gazeta são extremamente parecidas. A nível agregado, as vendas das 730 empresas da amostra cresceram a taxas idênticas às do universo e obtiveram taxas de rentabilidade extraordinariamente parecidas.^4 A semelhança de desempenhos mantém-se forte também quando se compara setor a setor. O índice de correlação simples relativamente a vendas e rentabilidade, setor por setor, alcança, respectivamete, 0,98 e O,70.^5
Entre as evidências, há quatro que permitem uma visão de conjunto do que está ocorrendo com o investimento industrial.
Primeiro, estimamos que, como proporção do PIB, as taxas de investimento na indústria brasileira recuperaram-se fortemente nos últimos anos, superando as taxas da primeira metade dos anos 90s, que haviam sido as mais baixas das últimas décadas. De acordo com essa estimativa, o nível de investimento anual do triênio 1995-97 seria, em termos absolutos, algo como 82% superior ao que ocorreu na média do biênio 1992-93. Apesar desse significativo aumento, as taxas de investimento encontram-se a um nível ainda bem abaixo das que se registraram no auge do ciclo de investimentos dos anos setenta, e apenas nas imediações das que ocorreram na “década perdida”, os anos 80 (Tabela 5):
A tabela 7 mostra, ainda, que o volume de investimentos em “expansão” e “novos produtos”, projetado pelas empresas para os próximos anos, cresce em relação aos investimentos em modernização. Há que se observar, no entanto, que o significado dessa recomposição deve ser relativizado pelo fato de que o volume total de investimentos projetado para o futuro é relativamente modesto. Ou seja, o investimento em expansão/novos produtos ganha importância sobre o investimento modernizante, mas o total projetado para ambos os tipos é relativamente reduzido. O mesmo argumento vale para a categoria das plantas 100% novas.
Tabela 7 OBJETIVO(S) DOS INVESTIMENTOS FIXOS DAS EMPRESAS, 1992-94, 1995-96 E 1997- (% das empresas da amostra que apontam o objetivo listado como predominante a/) 1992-94 1995-96 1997- Redução de custos 52,2 61,9 54, Reposição de equipamentos 57,3 55,2 49, Desobstrução de gargalos 30,2 43,4 32, Expansão de plantas 33,3 41,7 47, Novos produtos 27,1 39,2 57, Novas plantas 11,4 20,4 32, Fonte: Pesquisa CNI/CEPAL sobre investimentos na indústria brasileira, 1995-99, Rio, CNI, 1997. a/ As empresas responderam à seguinte questão: “para cada um dos períodos, assinale em quais dos tipos abaixo se enquadram, predominantemente, os investimentos em capital fixo de sua empresa (aceitam-se múltiplas respostas)“.
Quarto, encontramos evidências relativas a uma promissora elevação de capacidade produtiva no principal produto ou linha de produtos das empresas (tabela 8). Isto quer dizer que, pelo menos nesses produtos, os investimentos “modernizantes”, voltados essencialmente à redução de custos, são também portadores de aumento de capacidade. Esse fato significa que a indústria poderá seguir elevando a produção nos próximos anos, com pouco esforço adicional de investimento. Conforme se comenta mais adiante, o rendimento médio do capital na indústria está aumentando muito, na atual fase, aliviando os requisitos de esforço de poupança- investimento para crescer.
Tabela 8 CAPACIDADE DE PRODUÇÃO PREVISTA PARA DEZ/1996 E DEZ/1999, RELATIVAMENTE A DEZ/ (distribuição, em %, das respostas das empresas da amostra) Dezembro/96 Dezembro/ Menor 4,6 0, Igual 30,8 6, Até 25% superior 36,4 22, 25% a 50% superior 16,0 31, Mais de 50% superior 9,7 33, Investimento em novos produtos 2,5 5, TOTAL 100,0 100, Fonte: Pesquisa CNI/CEPAL sobre investimentos na indústria brasileira, 1995-99, Rio, CNI, 1997.
Adverte-se, porém, que, de acordo com um quinto conjunto de evidências da pesquisa, essa capacidade adicional não necessariamente reverteria a tendência a ampliação dos saldos comerciais negativos. A tabela 9 resume as respostas das 730 empresas da amostra. Mostra que há intenções tanto de de aumentar significativamente o coeficiente exportado como o coeficiente
importado. Como é muito mais fácil confirmar intenções de importar do que de exportar, a leitura dos números dificilmente pode dar lugar a otimismo. 6
Esses dados são, obviamente, muito insuficientes para um diagnóstico sobre o futuro do saldo comercial. Indicam apenas a possibilidade de que a maior capacidade produtiva da indústria venha a atenuar a tendência adversa, e não a reverta. A advertência tem por fundamento o fato de que a abertura e a evolução da taxa de câmbio levaram as empresas a procederem uma forte reestruturação nas suas funções de produção e em sua composição de compras. Elas desverticalizaram-se, especializaram-se e direcionaram parte de suas compras ao exterior. Como, no esencial, o quadro de abertura e de preços relativos não se alterou, não há nenhuma razão para que a expansão de capacidade associada a investimentos em modernização altere o sentido dessa reestruturação. Trata-se de maior capacidade associada a um coeficiente de importações maior. Os investimentos só estariam revertendo a tendência assinalada se o aumento do coeficiente de importações que “carregam” se traduzisse em aumento mais que proporcional das exportações, o que não parece ser o caso.^7
Tabela 9 DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS DA AMOSTRA SEGUNDO A PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES E DAS IMPORTAÇÕES NO FATURAMENTO, EM 1996, E PREVISÃO PARA 1999 Coeficiente de exportação Coeficiente de importação 1996 Previsão p/ 1999 1996 Previsão p/ Menor que 5% 53,2 30,2 51,9 38, Entre 5 e 10% 16,9 21,8 18,1 19, Entre 10 e 20% 14,2 23,1 12,3 17, Entre 20 e 50% 10,2 18,2 11,8 17, Maior que 50% 5,6 6,8 5,8 7, TOTAL 100 ,0 100,0 100,0 100,
2. Análise dos determinantes
A recuperação dos investimentos no período 1995-97, ainda que modesta, não deixa de surpreender. Ao lado do impacto extraordinariamente positivo da eliminação da inflação, subsistiu, no ambiente econômico brasileiro, um importante conjunto de fatores que pesaram desfavoravelmente sobre a decisão de investir das empresas industriais, e que pesaram na direção de contrarrestar os efeitos benéficos da estabilidade de preços sobre essa decisão.
Combinaram-se, no ambiente econômico do triênio estudado, baixa expectativa de rentabilidade e altas taxas de juros.
a) Baixa expectativa de rentabilidade associada à alta expectativa de riscos/incertezas: