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Através dessas atividades lúdicas o educador pode promover trocas entre os alunos, auxiliando-os na busca de alternativas para algumas situações-problema.
Tipologia: Notas de aula
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Modalidade a Distância
Porto Alegre 2010
Modalidade a Distância
Trabalho de Conclusão apresentado à Comissão de Graduação do Curso de Pedagogia – Licenciatura, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial e obrigatório para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.
Orientadora: Profª. Drª. Aline Lemos da Cunha Tutora: Profª McT: Eliane Gheno
Porto Alegre 2010
“Ensinar é um exercício de imortalidade, de alguma forma continuamos a viver naqueles, cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra.”
Rubem Alves
Resumo
O presente trabalho é composto por questões que envolvem a prática pedagógica numa perspectiva lúdica, como forma de motivar e auxiliar os alunos da quarta série do ensino fundamental, no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, ressalto nos escritos, a importância de chamar a atenção dos alunos para a fase da infância como forma de evitar que as crianças “adulteçam” cedo demais, o que é cada vez mais comum nos dias de hoje. Poderá ser relevante ainda para que os professores das séries iniciais repensem suas práticas, a fim de aproximar seus alunos dos interesses de suas faixas etárias, permitindo assim o resgate da infância como forma de valorizar o ambiente lúdico. Para fundamentar teoricamente este trabalho tive como referências alguns teóricos da Educação. Dentre eles cito: Benjaminn (1994) e Louro (2008) que nos trazem um pouco do contexto histórico do brincar; Brougére (2001), Fortuna (2001 e 2006), Negrine (1994) e Friedmann (1996) que nos mostram as contribuições do lúdico para o processo de aprendizagem das crianças; Kisnhimoto (1984, 2002 e 2006) e seus colaboradores contribuem com suas pesquisas sobre como é visto o jogo, o brinquedo e a brincadeira nas construções sociais, e as contribuições destes para a educação; Machado (1998) remete às questões do lúdico ao imaginário das crianças, transformando assim suas realidades; Moylles (2002 e 2006) demonstra a influência da mídia e dos adultos na infância e atitudes de preconceito com relação ao brincar; Por fim, destaco o pensamento de Santin (1999 e 2001) que nos fala sobre suas pesquisas com relação aos significados da palavra lúdico e a importância disso para as crianças e Postmann (1999) nos apresenta suas contribuições com relação aos estudos realizados acerca dos diversos papéis desempenhados pelas crianças na sociedade em meio às desigualdades sociais. Sendo assim, a maioria dos pesquisadores aqui mencionados apresentam em comum a idéia de que o brincar, o jogo e os brinquedos podem mudar de acordo com os contextos sociais. Também abordam a importância do brincar para o desenvolvimento do ser humano como um todo. Com esse trabalho é possível perceber a importância de se levar o lúdico para a sala de aula, auxiliando as crianças de forma prazerosa na construção do conhecimento e no desenvolvimento das habilidades necessárias para processo de ensino e aprendizagem, além de valorizar a infância e seu fundamento no brincar.
Palavras-chave: Lúdico - sala de aula - aprendizagem
“Numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papéis diferentes”. (Neil Postmann, 1999)
É comum crianças da faixa dos dez e treze anos, passarem por um conflito entre o ser criança e ser adolescente. Por isso, muitos não aceitam mais brincar na escola, com o receio de serem vistos como crianças pequenas. Eis então o grande desafio da sala de aula: como motivar esses alunos para a realização de atividades lúdicas, como forma de proporcionar aprendizagem, sem que estes se sintam depreciados? Este trabalho de conclusão foi desenvolvido com base na minha prática docente, realizada durante o estágio com alunos de quarta série do ensino fundamental. Esses alunos estão na faixa etária dos dez aos treze anos e inseridos em uma escola pública municipal de Alvorada. Para essa prática, contei com o auxílio dos professores de arte-educação e do ambiente informatizado. A cada ano que passa as crianças ingressam mais cedo na escola, o que, muitas vezes, acaba modificando aspectos importantes da infância. Também, com a evolução da tecnologia e a vida atribulada de atividades profissionais para o sustento das famílias por parte de seus pais, as crianças são praticamente obrigadas a “abrir mão da infância” muito antes da idade cronológica idealizada. Aquela infância, prevista em estudos como os de Piaget, sobre as fases do desenvolvimento infantil (prevendo doze anos, para o início da adolescência) tornam-se uma referência, mas não uma delimitação.
Então se percebe aqui, o quanto fica comprometida a espontaneidade das crianças, em especial na escola. As crianças demonstram não querer participar de atividades lúdicas, pois já se consideram adolescentes. Assim, a ludicidade como prática pedagógica, tão importante para o desenvolvimento das crianças, acaba ficando em horários e espaços reduzidos ao pátio, no recreio e/ou nas aulas de educação física. O lúdico está merecendo maior atenção, pois é o espaço onde as crianças exercem relações afetivas e com o mundo, com as pessoas e com os objetos. Através dessas atividades lúdicas o educador pode promover trocas entre os alunos, auxiliando-os na busca de alternativas para algumas situações-problema encontradas na fase de transição da infância para a adolescência. Fase esta, vivida pelas crianças dessa turma de estágio.
1.1. Justificando este estudo
O presente trabalho visa contribuir com outros educadores, demonstrando o quanto o lúdico na sala de aula pode promover o desenvolvimento de habilidades como: autonomia, cooperação, descoberta e raciocínio, pois o brincar é um instrumento de aprendizagem e parte do processo educativo da criança. Para Dornelles (2001, p.105), o brincar proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perceber como os outros o vêem e auxilia a criação de interesses comuns, uma razão para que se possa interagir com o outro. Essas trocas são extremamente importantes na busca de alternativas para algumas situações- problema encontradas na transição da fase da infância para adolescência, vivida, como já dito anteriormente, pelos estudantes dessa turma que realizei o estágio (4ª série do ensino fundamental). Além disso, David Brown afirma que o brincar na educação ajuda a promover a aprendizagem da criança (apud MOYLER et all., p.63). Segundo Louro (2008), brincar está presente na vida e na educação da humanidade desde os tempos mais remotos. Além de ser uma forma prazerosa de
Ao mencionar a palavra “lúdico”, logo se pensa em algo prazeroso. Brincar sem ter compromisso com o resultado, simplesmente se divertir. Alguns autores contribuem para uma análise mais pormenorizada do “brincar”, apontando para diversas dimensões deste tema. Santin (2001) destaca que a palavra lúdico vem de ludus (lat.) , que significa jogo. No sentido original latino, o termo refere-se ao divertir-se. Nos dicionários encontramos como definição para esta palavra: “ o que é relativo ao jogo. ” A palavra jogo, tradução de jocus (lat.) , em algumas línguas, é utilizada como sinônimo de lúdico. Este mesmo autor também destaca que o lúdico é o mundo da criança e que este já não pertence ao mundo dos adultos (SANTIN, 1999). Isso significa que o adulto deve compreender e vivenciar essa manifestação com crianças e adultos, e assim reencontrar o lúdico. Apenas desta forma o professor, como adulto, auxiliará a criança na sua produção simbólica. Mas aqui se percebe que tentar definir a palavra lúdico, ou jogo, não é uma tarefa fácil, pois cada um pode compreendê-la de modo diferente. Quando nos referimos ao lúdico com os jogos de faz-de-conta, logo nos deparamos com a presença de situações imaginárias; já em jogos específicos de tabuleiros ou jogos esportivos, encontramos regras e especificidades. Segundo Kishimoto (2006), no Brasil, termos como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta demonstrando um baixo nível de conceituação deste campo. Enfim, cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem. Para Moyles (2002), faz mais sentido considerar o brincar como um processo que, em si mesmo, abrange uma variedade de comportamentos, motivações, oportunidades, práticas, habilidades e entendimentos. Então, analisando sob essa
ótica, o brincar, o lúdico, é um instrumento de aprendizagem, idéia que se torna relevante na construção deste trabalho.
2.1. Como o jogo pode contrapor a lógica do deixar de ser criança para estudantes da quarta série do ensino fundamental?
As crianças que estão inseridas na quarta série do ensino fundamental passam por um momento de transição entre o ser criança e o “adultecer”. O modo como vivemos em nossa sociedade sugere que as crianças precisam desempenhar vários papéis no dia-a-dia, onde assumem muitas responsabilidades impostas pelos adultos, seus familiares e responsáveis. Isso se dá, a meu ver, pelo fato de que o custo de vida nas grandes cidades se torna cada vez mais alto pelos avanços da tecnologia ou pela desvalorização salarial e competitividade no mercado de trabalho. A mídia mostra ainda, crianças como miniaturas de adultos até mesmo no modo de vestir. Filmes e desenhos animados transmitidos a esse público, não mais abordam a infância como fase de ingenuidade e inocência. Em tempos passados, mais precisamente no século anterior, alguns programas de televisão só iam ao ar depois de determinado horário como forma de preservar a infância e a inocência das crianças. Hoje em dia, adultos e crianças assistem aos mesmos programas e poucas atividades de lazer estão diferenciadas de acordo com a faixa etária. Segundo Marconde Machado (2004), o brincar encontra-se no espaço do sonho. Uma criança livre e feliz brinca quando come, quando sonha, quando faz seus pequenos discursos poéticos. Santin (2001), afirma que a maior diferença que existe entre o adulto e a criança, é que o primeiro vive num mundo de resultados, seriedade, produtividade, e a criança no reino da imaginação entregue ao brinquedo, sem preocupar-se com planejamentos e resultados.
Sabemos que muitos pesquisadores focam seus trabalhos nos conflitos ocasionados nas passagens das fases do desenvolvimento humano. Segundo Piaget, para cada transição, novos conflitos aparecem. Isso se dá em várias etapas da vida e nas fases escolares ficam bem visíveis. Ousaria eu afirmar que a transição da educação infantil para as séries iniciais é tão ou mais difícil para as crianças, porque nessa transição as crianças praticamente deixam um mundo “imaginativo” para entrar no mundo chamado de “real”. De acordo com o pensamento de Santín (2001) considero que é necessário que as pessoas possam repensar sua existência, percebendo quanto o lúdico pode ser, também, uma fonte rica para o desenvolvimento das potencialidades e habilidades dos seres humanos. Segundo este autor
Parece que o homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria de viver, perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia, da imaginação guiada pelo impulso lúdico. O brinquedo acabou sendo reduzido a um fenômeno marginal na paisagem da existência adulta, porque é modelada e determinada por fenômenos mais sérios. Tudo o que ele faz precisa ter resultado. O que interessa é o objetivo estranho do mesmo. (SANTIN, 2001, p.23)
...Osorridente.Na praia dos mundos sem fim, as crianças se mar brinca com as crianças e a praia brilha reúnem. A tempestade ronda pelo céu sem caminhos.Os navios naufragam no mar sem rotas.A morte está solta e as crianças brincam. Na praia dos mundos sem fim as crianças se reúnem para a grande festa. (Tagore,In: MARCONDE 2004).
Sabe-se hoje, que o conhecimento é adquirido por um processo de natureza assimiladora e não simplesmente registradora, segundo Piaget. A utilização do jogo na sala de aula potencializa a exploração e a construção do conhecimento por contar com motivação interna típica do lúdico. Mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não jogos. De acordo com alguns estudos, o brincar deve estar incorporado no cotidiano escolar não como oferta de recreação para relaxar e dispensar energias fora da sala de aula ou como meio de transmitir conteúdos, e sim como uma maneira que as crianças encontram para interpretar e interagir com o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas. Além disso, é na situação de brincadeira que as crianças podem colocar desafios para além do seu comportamento diário, levantando hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pelas pessoas e pela realidade com o qual interagem. Segundo Brougére (1998, p.10 apud Kishimoto,
crianças. Esses conflitos entre elas podem promover tanto o desenvolvimento moral como intelectual. Isso pode ocorrer pela existência de diferentes pontos de vista e é iniciado pela confrontação de idéias e desejos dos outros que devem ser levados em consideração durante a execução ou criação das regras desse jogo. Cabe então ao professor, não impor uma solução para o conflito dessas crianças, e sim facilitar, mediar, para que elas busquem soluções para seus problemas, possibilitando assim, o desenvolvimento da autonomia e encorajando-as a cooperarem entre si. Se não houver um acordo no decorrer do conflito, o professor pode propor soluções. Mas se as crianças estiverem solucionando sozinhas o conflito, é sensato que o professor evite intervir na situação, considerando que as crianças são capazes de fazê-lo. Dessa forma os conflitos podem ser vistos como fonte de crescimento pessoal e coletivo. Sobre estas aprendizagens que o jogo e o brinquedo proporcionam, Carvalho considera que
Mesmo sem a intenção de aprender, quem brinca aprende, até porque se aprende a brincar. Como construção social, a brincadeira é atravessada pela aprendizagem, pois os brinquedos e o ato de brincar, a um só tempo, contam a história da humanidade e dela participam sendo aprendidos, e não uma disposição inata do homem. ( 2003, p.21)
É possível compreender, portanto, que as crianças apresentam maior facilidade no raciocínio lógico quando lhes são apresentados, os conteúdos, de forma mais concreta, com o manuseio de algum recurso material que possibilite interagir com os mesmos. Assim ao levar o lúdico para a sala de aula, estamos proporcionando às crianças que criem suas possibilidades de solução das situações, e aproximando-as de situações reais em que utilizem tais conteúdos. Brougére (2001) e Fortuna (2002) consideram que a ludicidade contribui de forma positiva para a aprendizagem infantil e pode ser uma aliada da prática docente em sala de aula, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Percebe-se uma prática, entre os professores dos anos iniciais, de proposição de atividades lúdicas na sala de aula tais como recreação, socialização, integração. Mas também se sabe que as famílias cobram das instituições educacionais, atividades ditas “sérias”, cadernos cheios de conteúdos e atividades repetitivas o que, muitas vezes, interfere na prática docente. Heaslip (apud MOYLLES, 2006)
ressalta que os professores percebem que estão sendo pressionados pela mídia e muitos se sentem forçados pela opinião pública desinformada, a reconsiderar seus métodos e escolhas em sala de aula. A falta de informação ou ainda, concepções de escola conservadoras são refletidas na educação até mesmo pela reação dos pais frente a algumas situações ocorridas no cotidiano escolar. Moyles (2006) ainda coloca que grande parte do público acredita que “brincar é divertido, mas isso as crianças podem fazer em casa. Crianças são mandadas para a escola para aprender”. Essa crítica feita aos professores demonstra claramente equívocos das famílias, dos adultos, por falta de informação, desconsiderando que o brincar seja o principal meio de aprendizagem da infância. São muitas as contribuições que estas atividades podem trazer para o processo de desenvolvimento infantil escolar: trabalhos em grupo, espontaneidade, prazer em aprender, motivação e curiosidade nos conteúdos, obediência às regras do jogo, desenvolvimento de muitas habilidades essenciais para a formação do sujeito. Segundo Brougére (2003), quando se fala em jogo, fica subentendido que há mais de uma pessoa envolvida nessa atividade e para ser lúdico deve ser jogado por escolha espontânea da criança, sabendo-se que todo jogo tem suas regras, independente de seus jogadores. Diferente dos jogos, nas brincadeiras infantis pode-se utilizar somente os sentidos, sendo expressos pelas crianças sem a utilização de objetos como nas rodas cantadas, pega-pega, esconde-esconde, Fita, entre outras. Ou até mesmo com a utilização de objetos ou instrumentos diversos, como nas brincadeiras de cabra-cega, que utilizam vendas nos olhos; Passar o anel, onde são utilizados objetos pertencentes às próprias crianças. Para Brougére (2003), o jogo surge como um instrumento para a sociedade (como também era para os Astecas) e é hoje um instrumento para a educação da criança e para favorecer a integração social. O jogo pode ser recreação ou relaxamento prazeroso, ou ainda pedagógico, que pode fazer parte do cotidiano escolar, para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Conforme Negrini As contribuições do jogo no desenvolvimento global da criança é que todas as dimensões do jogo estão, intrinsecamente vinculadas a inteligência, a afetividade, a motricidade e sociabilidade são inseparáveis, sendo que a afetividade constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança. (1994, p.19)
Precocemente se veem, também as crianças acometidas por responsabilidades adultas (como por exemplo, o trabalho infantil) que a obriga abreviar ou encurtar seus anos de infância para assumir outro papel na sociedade. Sendo assim, a sociedade adulta atual trata a infância de forma contraditória. Ao mesmo tempo em que seus discursos e leis valorizam os estágios iniciais da infância, renegam um tratamento infantil em estágios posteriores. Em algumas situações ainda utiliza o adjetivo “infantil” para desqualificar atitudes e comportamentos considerados impróprios perante os adultos da sociedade. A sensação que tenho, é que essa passagem da infância para adolescência se dá de forma abrupta, como se fosse um processo que acontecesse do dia para a noite. Em meio a tantas incertezas e mudanças como é possível definir a infância? O que é fato é que a infância muda com essas transformações sociais. A cultura do brincar, ou o interesse pelos brinquedos, materialização da atividade em si, teve sua origem na Alemanha, em lugares não especializados, como oficinas de entalhadores madeiras ou de fundidores de estanho. (BENJAMIN, 1984, p.67). Foi somente a partir do século XVIII, que os brinquedos surgiram no mercado de fabricantes especializados. Inicialmente essa fabricação tinha como principal objetivo: produzir objetos de arte menores para a decoração interna das casas. Com o tempo foram ganhando tamanhos maiores e foram perdendo seu caráter discreto, minúsculo e agradável (BENJAMIN, 1984, p.68). E assim, a indústria de brinquedos foi adquirindo espaço no contexto social. Os brinquedos e brincadeiras infantis se revelam de acordo com as culturas, em diferentes contextos sociais. Segundo Tânia Fortuna (2006), no que diz respeito à constituição da subjetividade infantil, os brinquedos são parte importante deste processo e tão afetados pelas mudanças contemporâneas como o são os adultos e as crianças. Corroborando esta idéia, Friedmann salienta que
Os jogos e as brincadeiras, evidentemente mudaram muito desde o começo do século até os dias de hoje nos diferentes países e contextos sociais. Mas o prazer de brincar não mudou. Ao observarmos detidamente a brincadeira infantil, duas características se destacam de imediatos: o prazer que envolve o jogo se contrapõe a momentos de tensão a uma seria compenetração dos jogadores envolvidos. O jogo é prazeroso e serio ao mesmo tempo. (1996, p.11).
Tânia Fortuna (2006) ainda relata que a ambigüidade de uma cultura que atribui o tempo todo, um baixo status social ao brincar, associando-o à perda de tempo, “coisa de criança”, não seriedade, enquanto valoriza a juventude, o jogo imediato e sem limites, tem implicações sobre a constituição da infância. É notório que as crianças estão adultecendo ou sendo adultizadas precocemente, atraídos pela era da televisão, do consumo, dos grandes avanços da tecnologia, do uso da internet e jogos eletrônicos. A infância contemporânea mostra- se unida pelos mesmos interesses dos adultos. E o surpreendente é que mesmo mantendo essas atitudes, nossas crianças não demonstram estarem preocupadas com o futuro. E ainda, segundo Tânia Fortuna (2006), a imagem do futuro para essas crianças, portanto corresponde a um desejado presente. Outro fator importante que exerce influência sobre a infância, é que muitas famílias, de modo geral, na sociedade capitalista atual, não tem tempo para brincar com seus filhos, pois trabalham fora e distanciam-se de muitos momentos importantes da sua infância. E ainda, quando estão presentes, não disponibilizam de tempo para brincar e acompanhar suas atividades. Assim, os jogos e brincadeiras infantis, até mesmo aqueles que fazem parte do nosso folclore, estão esquecidos. Pois são passados de geração para geração, relação essa que vem sendo encurtada ao longo do tempo. Em meio a tantas transformações sociais, econômicas e tecnológicas, a “evolução” das atividades lúdicas das crianças vem sendo uma preocupação entre os educadores, pois são inúmeras as diferenças do brincar de antigamente para o brincar atual, e cada vez mais rápido ocorrem transformações. Até mesmo a falta de tempo para brincar.
3.2. O lúdico na intervenção contra o fracasso escolar
Acredito que as atividades lúdicas possam ser uma das formas de diminuição do fracasso escolar. A busca por novas metodologias de ensino, que objetivem motivar, estimular os alunos no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, são cada vez mais discutidas no mundo inteiro, prevendo uma educação de qualidade e emancipadora.