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Guias e Dicas
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Horto do Esposo: Edição Crítica de Irene Freire Nunes, Provas de Literatura

Este artigo revisa a edição crítica do horto do esposo, um texto medieval português do final do século xiv, organizada por helder godinho e publicada em 2007 pela edições colibri. O horto do esposo é uma espécie de guia de sobrevivência do cristão para o mundo em que se vivia então, com todas as suas atribulações. A edição de godinho apresenta uma apresentação dos testemunhos, um estudo preliminar sobre os manuscritos e fragmentos do horto do esposo que chegaram até nós, e uma transcrição do texto. O artigo discute também a natureza e o propósito do horto do esposo, e sua relevância para a compreensão da mentalidade cultural da época.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância do Horto do Esposo para a compreensão da mentalidade cultural medieval?
  • Como é a edição crítica do Horto do Esposo organizada por Helder Godinho?
  • O que é o Horto do Esposo?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Mauricio_90
Mauricio_90 🇧🇷

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O Horto do Esposo: literatura medieval portuguesa para todos.
Horto do Esposo: portuguese medieval literature for everyone.
Prof. Ms. Antonio Marcos G. Pimentel1
Resenha de:
GODINHO, Helder (coord.). Horto do Esposo. Edição crítica de Irene Freire
Nunes. Lisboa: Edições Colibri, 2007.
Em 1956, Bertil Maler publicou, pelo Instituto Nacional do Livro, sua
edição crítica de um dos mais significativos textos da literatura portuguesa
medieval em dois volumes: o Orto do Esposo, volume I, texto crítico (MALER:
1956a), e o volume II, comentário (MALER: 1956b). Só mais tarde, em 1964, o
autor publicará em Estocolmo um terceiro volume que intitulou Correções dos
volumes I e II, estudo das fontes e do estado da língua, glossário, lista dos
livros citados e índice geral (MALER, 1964). Até 2007, essa era única edição
pela qual se poderia chegar até o manuscrito alcobacense de fins do século
XIV, de autoria anônima; Maler publicou uma obra exaustiva sobre todos os
aspectos literários do Orto do Esposo, apesar de problemas relatados por ele
próprio no volume III de sua obra e, nesta, também corrigidos.
Agora, através da bem cuidada edição crítica de Irene Freire Nunes
pela Edições Colibri, organizada por Helder Godinho, com a colaboração de
Margarida Santos Alpalhão, Paulo Alexandre Pereira e Joaquim Segura, e
estudos introdutórios de Ana Paiva Morais ("A exigência do sentido: modos a
exemplaridade no exemplum medieval") e Paulo Alexandre Pereira ("Uma
didática da salvação: o exemplum no Horto do Esposo), estudiosos da literatura
portuguesa medieval têm uma nova oportunidade de reler o Horto do Esposo
de uma forma mais linear, mais abrangente, sem o inconveniente de utilizar-se
1 Antonio Marcos Gonçalves Pimentel é professor de Língua e Literatura Latina e
Língua Portuguesa credenciado no departamento de pós-graduação lato sensu de Letras, na
Universidade Federal Fluminense (UFF). É mestre em literatura comparada e doutorando na
mesma área também pela UFF. Publicou em 2009 O Monge, a Irmã e o Orto do Esposo pela
Eduff, sua dissertação de mestrado.
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O Horto do Esposo : literatura medieval portuguesa para todos. Horto do Esposo : portuguese medieval literature for everyone.

Prof. Ms. Antonio Marcos G. Pimentel^1 Resenha de: GODINHO, Helder (coord.). Horto do Esposo. Edição crítica de Irene Freire Nunes. Lisboa: Edições Colibri, 2007.

Em 1956, Bertil Maler publicou, pelo Instituto Nacional do Livro, sua edição crítica de um dos mais significativos textos da literatura portuguesa medieval em dois volumes: o Orto do Esposo , volume I, texto crítico (MALER: 1956a), e o volume II, comentário (MALER: 1956b). Só mais tarde, em 1964, o autor publicará em Estocolmo um terceiro volume que intitulou Correções dos volumes I e II , estudo das fontes e do estado da língua, glossário, lista dos livros citados e índice geral (MALER, 1964). Até 2007, essa era única edição pela qual se poderia chegar até o manuscrito alcobacense de fins do século XIV, de autoria anônima; Maler publicou uma obra exaustiva sobre todos os aspectos literários do Orto do Esposo , apesar de problemas relatados por ele próprio no volume III de sua obra e, nesta, também corrigidos. Agora, através da bem cuidada edição crítica de Irene Freire Nunes pela Edições Colibri, organizada por Helder Godinho, com a colaboração de Margarida Santos Alpalhão, Paulo Alexandre Pereira e Joaquim Segura, e estudos introdutórios de Ana Paiva Morais ("A exigência do sentido: modos a exemplaridade no exemplum medieval") e Paulo Alexandre Pereira ("Uma didática da salvação: o exemplum no Horto do Esposo ), estudiosos da literatura portuguesa medieval têm uma nova oportunidade de reler o Horto do Esposo de uma forma mais linear, mais abrangente, sem o inconveniente de utilizar-se

(^1) Antonio Marcos Gonçalves Pimentel é professor de Língua e Literatura Latina e Língua Portuguesa credenciado no departamento de pós-graduação lato sensu de Letras, na Universidade Federal Fluminense (UFF). É mestre em literatura comparada e doutorando na mesma área também pela UFF. Publicou em 2009 O Monge, a Irmã e o Orto do Esposo pela Eduff, sua dissertação de mestrado.

das três edições de Bertil Maler, sobre quem, naturalmente, não cai nenhum demérito pelas condições editoriais do INL na década de 50, sendo o próprio Horto do Esposo , escrito e transliterado por Maler na ortografia portuguesa do século XIV, um trabalho de enormes proporções literárias, semióticas e histórico-culturais. A edição de Godinho apresenta ainda uma apresentação dos testemunhos, isto é, um estudo preliminar sobre os manuscritos e fragmentos do Horto do Esposo que chegaram até nós: quantos são, de onde vieram, em que condições estão e onde permanecem armazenados; capítulo este, aliás, impossível sem os estudos anteriores de Maler. Feitos todos os estudos necessários à compreensão de um texto medieval de cuja mentalidade hoje só podemos nos aproximar, a edição de Godinho começa então a transcrever o Horto do Esposo. Mas o que vem a ser, afinal, o Horto do Esposo? Bem à moda da literatura da época, o livro é uma espécie guia de sobrevivência do cristão para o mundo em que se vivia então, com todas as suas atribulações – não se pode esquecer que, nessa época, Portugal passou por uma grande crise de alimentos e, junto com o restante da Europa, pela Peste Negra e pelo Cisma do Ocidente da Igreja Católica, que fez a cristandade dividir-se entre três papados distintos – e necessidades culturais, políticas e religiosas. Como, contudo, o letramento e a erudição estavam longe de abarcar a grande maioria da população portuguesa e, por extensão, européia – e insistimos na questão européia por ter tido o Horto do Esposo uma divulgação e uma recepção bastante amplas, dados os testemunhos de inventários de bibliotecas e mosteiros mesmo nos séculos posteriores –, era preciso que se usasse de uma linguagem que se adaptasse ao que de possibilidades didáticas e pedagógicas tivessem camponeses, artesãos e, como a tradição nos ensina, a cultura popular em geral, ainda que este rótulo seja discutível. A conclusão a que se chegou levou a sistematização de um gênero literário não exatamente novo – pois o exemplum é uma manifestação da fábula da Antiguidade reconfigurada pela matriz cristã –, mas que adaptou-se perfeitamente bem às necessidades de seus autores. Seu funcionamento baseava-se no princípio da auctoritas , isto é, no discurso legitimado pela Igreja que, ainda que pagão, servia para

exegese acadêmica destinada a poucos. Nada mais equivocado. Trazer o Horto do Esposo a lume em pleno século XXI é possibilitar a todo leitor de língua e literatura portuguesa uma obra preocupada não somente com uma configuração ortodoxo-cristã de viver a vida, mas também, e firmemente, dedicada a nos fazer contemplar uma beleza simples do mundo, a viver a Regra de Ouro de forma harmoniosa, a reavaliarmos o peso de nossas preocupações frente ao que é realmente necessário à vida, ao viver em paz e alegria. Hoje, ler o Horto do Esposo é um daqueles prazeres literários de que falaram Proust e Barthes, é mergulhar despretensiosa, mas não irresponsável nem inconseqüentemente num diálogo com outras histórias e outras vivências como falara Bakhtin. O Horto do Esposo é para os simples do século XIV e os simples do século XXI, como já o registrara o próprio autor do livro, que, aliás, está envolto numa encomenda misteriosa:

Eu mui pecador e nom digno de todo bem escrevi este livro pera proveito e spiritual diletaçom de todolos simplezes fiees de Jhesu Christo, e spicialmente para prazer e consolaçom da alma de ti minha irmãa e companheira da casa divinal e humanal, que me rogaste

muitas vezes que te fezesse em linguagem u livro dos

fectos antigos e das façanhas dos nobres barões e

das cousas maravilhosas do mundo e das

propriedades das animalias pera leeres e tomares

espaço e solaz em nos dias em que te convem

cessar dos trabalhos corporaes. (GODINHO, 2007,

p.3).

Mas isto é investigação e instigação para outros trabalhos.

Bibliografia: MALER, Bertil. Orto do esposo. Vol. I. Texto crítico. Rio de Janeiro : Instituto Nacional do Livro, 1956a. 360 p. ______. ______. Vol. II. Comentário. Rio de Janeiro : Instituto Nacional do Livro, 1956b. 224 p. ______. ______. Vol. III. Correções dos vols. I e II, estudo das fontes e do estado da língua, glossário, lista dos livros citados e índice geral. Estocolmo : Almqvist & Wiksell, 1964. 162 p. PIMENTEL, Antonio M. G. O Monge, A Irmã e o Orto do Esposo. Niterói: Eduff, 2009.