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Um estudo sobre anemias em cães, onde os autores interpretam as alterações do hemograma em alguns casos observados clínicamente. O texto aborda as observações de anemias por diminuição da eritropoiese, com comparações feitas com outros autores. Além disso, são discutidas as modificações características na série leucocitária e na taxa de hemoglobina, além de outras informações relevantes. O documento também cita vários estudos relacionados às anemias em cães.
Tipologia: Notas de estudo
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DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E CLINICA MÉDICAS (1* Cadeira) Diretor: Prof. Dr. Sebastião N. Piratininga
(TH E CANINE BLOOD PICTURE IN SOME PATHOLOG1CAL CONDITIONS)
M a x F e r r e ir a M ig l ia n o L ivre-Doccnte — Assistente 3 estampas (9 figuras)
O objetivo dêste trabalho foi o de trazer uma contribuição ao es tudo das alterações hematológicas encontradas em diversas doenças do cão. Para levar a bom têrmo êste estudo, tornou-se necessário o conhe cimento do hemograma do cão normal. Tendo consultado os dados apresentados por 64 autores que pesquisaram o sangue de cães consi derados normais, verificamos que a maioria dos resultados não era con corde com os que observávamos em cães portadores de determinadas afecções, as quais poderiam ocasionar pequenas modificações sôbre a sé rie eritrocitária ou sôbre a série leucocitária. Êste fato nos levou a pesquisar os valores hematológicos em cães “ clinicamente normais”. Subentendemos como tais os cães que recebe ram cuidados adequados de higiene e de alimentação desde a idade jo vem e, submetidos a exame clínico completo momentos antes da extra ção do sangue. Pelas nossas observações verificamos que os dados referentes à taxa de hemoglobina são superiores aos encontrados pela maioria dos outros autores, havendo, por outro lado, concordância com os achados por S m i t h (1944) e por B il d (1952). A velocidade de sedimentação das hemácias, que em nossas obser vações foi insignificante na primeira hora, discorda da apresentada pela maioria dos autores; neste sentido, confirmamos a achada por B il d. Por fim, queremos ressaltar as diferenças relativas à fórmula leu cocitária. A percentagem de linfócitos dos cães “ clinicamente normais” por nós observada é inferior à encontrada por grande parte dos auto-
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res citados no quadro I, concordando, porém, com a achada por T a l l - qvist e W ille b r a n d (1900), Me zin c e sc u (1902), N icolas e D u m o l in (1903), K r u m b h a a r , Murse e P earce (1913), K o h a n a w a (1928), A le- xandrov (1930), Castrodale e colaboradores (1941), M u n d h e k (1941), E l H in d a w y (1948) e Cerr u ti (1950).
Essas diferenças, particularmente as relativas à taxa de hemoglo bina e à velocidade de sedimentação das hemácias, resultam, provavel mente, de terem sido empregados nas observações dos autores citados no quadro I, cães parasitados, não submetidos a cuidados especiais de higiene e de alimentação ou, quando os receberam o foi por curto es paço de tempo e, assim mesmo considerados por êles como “ normais”. Realmente, encontramos naquele quadro resultados hematológicos ex traídos de trabalhos experimentais, nos quais havia a preocupação do autor em verificar aqueles dados com o fito de observar possíveis mo dificações em sua experimentação e valores apresentados por autores que se dedicaram ao estudo do hemograma do cão normal. N o caso de trabalhos experimentais, os cães empregados não foram submetidos a exame clínico; às vêzes, por simples inspeção, eram tidos como normais.
No grupo dos autores que realizaram trabalhos orientados na pes quisa do hemograma do cão, encontramos alguns mais criteriosos, que selecionaram os animais. Essa seleção, em alguns casos, foi feita pelo aproveitamento de cães que se apresentavam em ambulatórios clínicos, para vacinação, admitindo-os, portanto, como normais. Outros, no en tanto, embora tivessem aquêle mesmo objetivo, não se preocuparam em fazer exame clínico completo, incluindo na média normal dados de ani mais sèriamente infestados por vermes, razão pela qual, se comparar mos os dados dos autores que realizaram trabalhos experimentais (mar cados com um asterisco no quadro I ), com os dos autores que pesqui saram os dados do cão normal, não encontramos diferenças acentuadas. Não menos importante para o estabelecimento de um hemograma normal é o conhecimento das variações fisiológicas; tais variações fo ram abordadas em nossa tese, levando-se em consideração as modifica ções que ocorrem no espaço de 24 horas, as dependentes da digestão, a influência da idade e do sexo, as modificações que podem ocasionar a altitude, o clima e a estação do ano. Levamos também em considera ção as modificações sofridas durante a gestação, a lactação e a pseudo- prenhez, assim como a influência da hereditariedade. Por fim, men cionamos as modificações que podem ser encontradas durante o exer cício, banho frio, massagem e aquelas encontradas durante o ato cirúr gico, na fase de anestesia e no pós-operatório.
430 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 5, fase. 3, 1955
B) Doenças parasitárias — Verminoses
Doenças orgânicas
1 ) Afecções da pele e do ouvido
D) Doenças neoplásicas
Em nossa tese apresentamos estudo bibliográfico relativamente às alterações hematológicas encontradas nessas diversas doenças, tanto em relação aos animais como ao homem. Limitar-nos-emos neste apanha do de conjunto a fazer referências às observações dos diversos autores ao abordarmos os capítulos especializados.
M ATE RIAL E MÉTODOS UTILIZADOS NO PRESENTE TRABALHO
Para nossas observações hematológicas empregamos cães portado res de doenças diversas, apresentados para exame clínico no Ambula tório da Faculdade de Medicina Veterinária e em nossa clínica par ticular. A seleção dos casos clínicos obedeceu, de modo geral, ao seguinte critério: a) doenças nas quais o diagnóstico diferencial oferecia difi culdades; b) doenças consideradas de observação rara; c) doenças dos órgãos hematopoiéticos. Além das observações em casos patológicos, fizemos algumas em cães clinicamente normais, que viviam em condições higiênicas boas e que recebiam cuidados semelhantes àqueles da maioria dos cães empre gados nas observações patológicas. O objetivo dessa pesquisa foi veri
M. F. Migliano — Hemograma do cão em diferentes condições patológicas 431
ficar se os dados fornecidos pelo quadro I poderiam ser empregados com segurança, para fim comparativo. Os exames clínicos foram, na medida do possível, complementados por exames de urina e de fezes, pesquisas bioquímicas do sangue, exa mes radiológicos e bacteriológicos, realizados nos diversos Departamen tos da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. Os casos fatais, sempre que possível, foram necropsiados. O sangue obtido para nossos exames, foi extraído da veia marginal da orelha, segundo técnica usual, para se fazer o esfregaço sangüíneo; para as demais pesquisas, das veias jugular ou safena, na dependência do porte do animal. O sangue venoso extraído era imediatamente colocado em frasco contendo mistura anti-coagulante (oxalato de amónio 12 mg. e oxalato de potássio 8 mg., para 10 ml. de sangue). Logo a seguir eram feitas as pesquisas hematológicas. Para a dosagem da hemoglobina empregamos o hemoglobinômetro de Sahli-Adams; a contagem do número de hemácias e de leucócitos, pelo emprêgo da câmara de Neubauer-Spencer; a hemossedimentação foi verificada em pipeta de Westergren; o volume globular foi obser vado pelo hematócrito de Wintrobe; os esfregaços sangüíneos foram co rados, preferencialmente, pelo corante de Leishmann e, mais ramente, pelo método panóptico de Papenheim. Para a contagem diferencial de leucócitos, as percentagens numé ricas expressas em nossos quadros foram obtidas, na maioria das vêzes, pelas médias das contagens de quatro esfregaços, contando em cada um, 100 células (total de 400 células). Nos casos de leucocitose intensa, as percentagens foram obtidas pelas médias das contagens de quatro grupos de 200 células (total de 800 células). Nos cães que apresentavam leucopenia, a percentagem baseou-se em quatro contagens de 50 células (total de 200 células). Selecionamos para nossas observações hematológicas, 510 cães, sen do 30 clinicamente normais e 480 com diversas afecções. Os hemogramas foram repetidos, quando possível, durante a evo lução do processo.
QUADRO HEMÁTICO DO CÃO ADULTO NORMAL
Para poder estabelecer os limites seguros do quadro hematológico do cão normal, selecionamos os resultados obtidos de 30 cães que, após
M. F. Migliano — Hemograma do cão em diferentes condições patológicas 433
Metástase de adenocarcinoma nos gânglios retrofaringeos médios (3 casos). Mononucleose (4 casos). Essa variedade de afecções num mesmo quadro se justifica por te rem apresentado todos os cães dêste grupo, intensa reação ganglionar, com exceção do caso de leucemia mielóide. Assim agindp, pensamos contribuir para a orientação diagnostica daquelas afecções, algumas vê- zes de interpretação difícil. O caso de leucemia mielóide teve o diagnóstico revelado pelo exame hematológico. Os quatro casos considerados como de mononucleose, foram assim classificados em virtude da sintomatologia e da evolução associadas ao dados hematológicos. Dos cães que apresentaram o qua dro clínico de leucose linfática (inteftsa reação ganglionar, esplenome- galia e evolução fatal), apenas dois revelaram imagem sangüínea típica de leucemia linfática. Dois outros, tiveram o leucograma próximo ao observado na linfoadenose aleucêmica, embora, mesmo assim, não hou véssemos encontrado percentagem de linfócitos tão elevada; nos casos restantes, a maioria revelou quadro hemático semelhante ao de um quadro leucocitóide, comum de processo inflamatório, havendo mesmo linfopenia em alguns dêles, razão pela qual, enquadramo-los como lin- fomas malignos.
Leucemia mielóide — O caso por nós classificado de leucemia mie lóide, foi o único a não apresentar, aparentemente, reação ganglionar; contudo, foi o animal que apresentou a esplenomegalia mais evidente. A imagem sangüínea foi típica de leucemia mielóide, pois encontramos 60,66% de mielócitos do total de leucócitos, no sangue periférico. O número de leucócitos não foi tão elevado como o das leucemias típicas, embora tivéssemos encontrado leucocitose acentuada (57.700 leucócitos por mm.3). A dedução do índice de desvio dava valor muito baixo (1:0,3), com predomínio dos mielócitos. Êste quadro hemático difere diametralmente daquele que W ir t h (1920) classificou como de mielose, pois em suas observações havia leucocitose ligeira ou moderada com ligeiro desvio para a esquerda, porém, em nenhum caso havia número elevado de formas jovens (mie lócitos ou mieloblastos), que justificassem aquêle têrmo; além disso, havia intensa hiperplasia ganglionar, o que não foi encontrado em nossa observação. Pelos dados clínicos e hematológicos, julgamos que as verificações de W ir t h , assemelham-se às classificadas como de lin- fomas malignos e que, a metaplasia mielóide, por êle encontrada, é fe
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nômeno de observação comum em diversas afecções do cão, de origem inflamatória ou irritativa, como demonstrou B loom. Como vimos, anteriormente, raras têm sido as observações de leu cemia mielóide em cão. Algumas delas, mesmo, podem ser postas em dúvida; realmente, apenas duas observações apresentaram aspectos dês- te tipo de leucemia: a de B r io n e L u c a n (1943) e a de G irard e F lu - c h er (1937). A primeira, constitui a única citação em que a leucemia mielóide foi diagnosticada pelo exame de sangue periférico; assim mes mo, a apresentação dos dados hematológicos não foi completa, pois ape nas foram apresentados os valores da contagem diferencial. A outra, teve o diagnóstico baseado no mielograma.
Leucemia linfática — Verificamos pelo exame hematológico em dois cães (4.072-53 e 2.793-54), quadro típico de leucemia linfática: contagem global de leucócitos muito elevada (322.133 e 647.000 por mm3, respectivamente) as mais elevadas de nossas observações e, per centagem de linfócitos acima de 90% (90,25% e 99,25%, respectiva mente). Ao exame da série eritrocitária havia anemia intensa, microcítica em um e macrocitica no outro, com presença de normoblastos e eritro- blastos no sangue periférico. A hemossedimentação mostrou-se muito aumentada (sedimentação total em 1 hora). A relação leucócitos/eritrócitos, que normalmente está próxima a 1:500, baixou para 1:3 e 1:1,1, tal o grau da leucocitose e o da anemia. Casos de leucemia linfática típica, raramente têm sido observados. Os seguintes autores apresentaram dados hematológicos com aquelas características: W e il e Clerc (1904, um dos casos), W ir t h e B a u m a n (um dos casos), C h a r to n e Mi l i n (1944, um dos casos), I n n e s , P arry e Berger (1946, dois dos casos). Outros autores têm encontrado afecções de características clínicas idênticas, apresentando ao exame de sangue, predomínio absoluto dos linfócitos, porém com número de leucócitos não muito elevado ou mes mo normal. Nestes casos o aspecto hematológico é o de linfoadenose aleucêmica. Dos 12 casos por nós observados, que apresentavam o mesmo quadro clínico e número de leucócitos não muito elevado, ape nas em 2 cães, encontramos percentagem de linfócitos apreciavelmente elevada, porém, inferior à percentagem de neutrófilos. Como a ima gem sangüínea não foi típica de linfoadenose, preferimos considerar êsses dois casos juntamente com os outros nove, em capítulo à parte.
degeneração (aspecto borrado, sem citoplasma e com 3 nucléolos), ao lado de numerosos monoblastos e linfoblastos, sugere tratar-se de leu cemia linfática ou de leucemia monocítica, porém, no total, a contagem diferencial permanecia pràticamente normal. Como vemos, difícil se torna classificar com precisão o quadro he matológico observado neste grupo de casos, razão pela qual os enqua dramos nos linfomas malignos. O índice de desvio não mostrou alterações significativas. Em 3 casos havia ligeiro desvio para a esquerda; num outro, desvio para a direita e, nos restantes, permaneceu próximo ao normal. No referente à série eritrocitária, chama a atenção, diferenciando dos casos de leucemia típica, que as alterações não são tão evidentes; o número de hemácias oscilou entre 2.130.000 e 9.120.000 por mms e a taxa de hemoglobina entre 5,5 e 19 g por 100 ml; dos 9 casos em que foi feita verificação da série eritrocitária, 7 apresentavam número de hemácias superior a 4.300.000 e taxa de hemoglobina acima de 9 g. O valor hematócrito foi verificado em 3 casos, revelando em um, anemia ligeiramente macrocítica e nos outros, normocíticas, normo- crômicas. A velocidade de sedimentação revelou-se aumentada em 3 casos em que foi pesquisada; em 2 dêles, o aumento foi ligeiro e, no outro em que se processou de forma mais acentuada, não foi, mesmo assim, com a intensidade que se observou nas leucemias, onde, na primeira hora, havia sedimentação total. Verificando os resultados hematológicos obtidos no grupo das afec ções dos órgãos linfáticos, tanto os do quadro I II como os do quadro IV, vemos que os linfomas ocorrem com maior freqüência no cão, embora considerados sob várias denominações pelos outros autores. Diferem das mieloses por não aparecerem formas jovens de granulócitos (mieló- citos ou mieloblastos) em percentagens significativas; os resultados he matológicos não se enquadram entre os das linfoadenoses, por não ocor rer linfocitose acentuada ou predomínio de formas jovens de linfócitos. A imagem sangüínea se caracteriza, na maioria dos casos, por ane mia de grau ligeiro, leucocitose moderada, neutrofilia, eosinopenia e linfopenia; o índice de desvio não sofre modificações significativas. Êste quadro foi interpretado, por alguns autores, como de leucemia mie- lóide (mielose). Em outras vêzes, mais raras, encontramos linfocitose ligeira ou moderada e, menos freqüentemente, monocitose, podendo ser êste qua
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dro interpretado, segundo alguns autores, como de leucemias linfáticas ou monociticas, respectivamente.
Adenocarcinomas — Em 3 cães que apresentavam aumento de vo lume dos gânglios linfáticos, particularmente os retrofaríngeos médios, com aspecto idêntico ao encontrado nos linfomas, fizemos observações hematológicas, com fito comparativo. Pelo hemograma observamos nos 3 casos neutrofilia moderada, lin- fopenia acentuada e monocitose. Em dois casos houve eosinopenia e em dois, o índice nuclear não se alterou. O número de leucócitos foi elevado em um caso (leucocitose acen tuada); em outro, havia leucocitose ligeira e, num terceiro, havia leu- copenia. Somente em um caso fizemos verificação da série eritrocitária, en contrando-se anemia acentuada. Em resumo a modificação mais constante do quadro hemático de 3 cães que apresentavam formação tumoral dos gânglios retrofaríngeos médios (adenocarcinoma — pelo exame histopatológico), foi: neutrofi lia e monocitose moderadas e linfopenia acentuada.
Linfossarcoma — Em um cão que apresentava linfossarcoma, o quadro hemático revelou: anemia ligeira, microcítica, velocidade de se dimentação moderadamente aumentada, leucocitose intensa (superior à maior taxa encontrada nos linfomas), neutrofilia moderada com ligeiro desvio para a esquerda, eosinopenia, linfopenia e monocitose ligeira. Comparando-se nossos dados com os de B loom e Me y e r (1945), K onde (1949) e R a k o w e r e Cuba (1949), que observaram igualmente um caso cada um, verifica-se que as alterações em relação à série eri trocitária foram mais ou menos semelhantes. A leucocitose observada por aquêles autores, foi igualmente acentuada. A contagem diferen cial, nos casos dos dois primeiros autores citados, revelou como em o nosso, neutrofilia com desvio para a esquerda, enquanto R ak o w e r e Cuba observaram linfocitose.
Mononucleose — Em quatro cães portadores de hiperplasia gan glionar generalizada, apresentando sinais clínicos e evolução semelhan tes aos observados na mononucleose humana, verificamos quadro hema tológico condizente com aquela afecção; nos quatro animais, o quadro hemático caracterizou-se por leucocitose ligeira, linfocitose, com pre sença de linfoblastos no sangue circulante (na observação 2.179, 15%
M. F. Migliano — Hemograma do cão cm diferentes condições patológicas 439
Série eritrocitária — Anemia intensa (em dois casos o número de hemácias esteve ao redor de 1 milhão por mm3 e a taxa de hemoglo bina, perto de 3 gramas por 100 ml de sangue), normocítica e normo- crômica em dois casos e ligeiramente macrocítica e hipocrômica em dois outros. Série leucocitária — Levando-se em consideração o número de gló bulos brancos e a contagem diferencial, podemos considerar, como ca racterística, a panleucopenia. Em cinco casos a leucopenia foi mode rada ou acentuada e em um outro, encontramos leucocitose ligeira; neste o grau de anemia foi menos pronunciado que nos outros. Porém, a alteração mais evidente foi a eosinopenia acentuada (4 casos) ou aneosinofilia (2 casos). Em três casos encontramos linfocitose ligeira, relativa.
O índice nuclear revelou desvio para a esquerda em todos os casos, acentuado em quatro. Os dados por nós obtidos assemelham-se aos observados por Co n ceição e Dias (1944) e aos dos casos agudos de Hin d a w y (1951), no que se refere à contagem de leucócitos e grau de anemia. Quanto à fórmula leucocitária, embora encontrássemos em dois casos aneosinofilia, achamos não ser característica, como verificaram Conceição e D ia s ; pode considerar-se haver eosinopenia muito acen tuada ou aneosinofilia. No que se refere ao número de linfócitos, mes mo não tendo encontrado o grau de linfocitose observado por G roulade (1954) e por Conceição e D ia s , nos casos de piroplasmose, excluídos os casos de afecções dos órgãos linfóides, foi onde encontramos as per centagens mais elevadas.
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aumentado, urobilinúria acentuada, bilirubinúria e fezes pleocrômicas); em dois dêles, retiramos fragmentos do baço e do figado, tendo o exame histopatológico revelado em um dos casos necrose fibrinóide em focos e, no outro, congestão passiva e infarto anêmico.
O hemograma permitiu diferenciar os casos benignos dos casos fa tais; nos primeiros, havia anemia ligeiramente macrocítica, neutrope- nia relativa e eosinofilia absoluta e, nos outros, cuja sintomatologia lembrava a doença de Banti do homem, o volume corpuscular médio foi normal, a contagem diferencial caracterizou-se por neutrofilia, eosi- nopenia acentuada e desvio para a esquerda. Os restantes dados hematológicos, tanto dos casos benignos como dos casos fatais, não apresentaram modificações significativas. A repetição do hemograma nos casos curados, quando já havia de saparecido a esplenomegalia, revelou que a taxa de hemoglobina, o nú mero de hemácias e o volume corpuscular médio haviam se aproximado do normal. As alterações hematológicas observadas em nossos casos, diferem das observadas por H in d a w y (1951); provàvelmente, as causas da es plenomegalia não tenham sido as mesmas.
a) Anemia aplástica — Em uma de nossas observações, caracte rizada clinicamente por hemorragias generalizadas (bôea, nariz, ânus e vulva), manchas purpúreas na pele e anemia intensa, verificamos qua dro hematológico típico de anemia aplástica. O número de hemácias não chegou a 1 milhão por mm3, a taxa de hemoglobina era inferior a 2 g por 100 ml de sangue e o volume corpuscular médio intensamente aumentado. Na série leucocitária havia intensa leucopenia, causada pela dimi nuição dos granulócitos, de tal forma que, pela raridade de seu encon tro, poderíamos considerar como agranulocitose; assim, para cada 100 leucócitos, havia apenas 4 granulócitos neutrófilos, dos quais, apenas
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Um estudo comparativo de nossos achados em casos de anemias por diminuição da eritropoiese, com os de outros autores, poderá ser feito somente em relação a duas observações; no caso de anemia aplás tica, com a observação de K n o w l e s e colaboradores (1948) e nos casos de anemia por deficiência do fator de maturação, com o de M ig lia n o (1953). No primeiro caso, de anemia aplástica, o quadro por nós observa do foi mais completo que o de K n o w le s e colaboradores; assim, a leu- copenia achada na observação dêstes autores não foi tão evidente, che gando mesmo, 24 horas antes da morte, a não existir. Por outro lado, na contagem diferencial não observaram agranulocitose. O quadro do nosso caso é o mesmo que o observado por Crawford (1954), nos casos graves de anemia aplástica do homem. Nas anemias consideradas carenciais, o quadro clínico e o hemo grama assemelharam-se ao observado por M ig l ia n o (1952).
Num dos casos, em que a hemorragia teve provável origem trau mática, a leucocitose foi bastante acentuada (55.650 leucócitos por mm3), revelando o exame do esfregaço sangüíneo, existência de for mas jovens de granulócitos neutrófilos (mielócitos e metamielócitos), ao lado de aumento acentuado de formas em bastonete, resultando des vio acentuado para a esquerda. Completando êsse quadro, havia neu tropenia relativa, linfocitose absoluta e monocitose.
O outro caso, em que a hemorragia interna ocorreu por rutura de um vaso sangüíneo hepático, aparentemente ocasionada por processo neoplásico, a leucocitose foi ligeira, apresentando a contagem diferen cial, neutrofilia acentuada e linfopenia correspondente. As alterações observadas nesses casos são admitidas por W in t r o b e (1951), citando a existência de leucocitose, que pode ser bastante ele vada e de desvio para a esquerda com aparecimento de mielócitos no sangue circulante. Embora considere a anemia como normocítica, con diciona que nos casos de hemorragia profusa, pode haver macrocitose. Em nossos casos, naquele de anemia mais acentuada, esta era ligeira mente macrocítica.
M. F. Migliano — Hemograma do cão em diferentes condições patológicas 443
C) DIÁTESES HEMORRÁGICAS
Em nossas observações clínicas encontramos, algumas vêzes, fenô menos hemorrágicos, relacionados com alterações do sangue, associados a manifestações purpúricas. Algumas delas eram púrpuras não trom- bocitopênicas sintomáticas relacionadas a processos infecciosos (leptos- pirose), encontrando-se, o estudo das alterações hematológicas observa das, nos capítulos correspondentes às afecções. Outras eram purpuras trombocitopênicas sintomáticas relacionadas a alterações do sangue em processos anêmicos (anemia aplástica e anemias carenciais), estudadas no capítulo anterior. Enfim, apenas duas observações clínicas mostra ram sinais de púrpura trombocitopênica essencial ou primária, cuja sin tomatologia e dados hematológicos lembravam a doença de Werlhof, do homem. Diferenciando-se da púrpura trombocitopênica sintomática, encon trada em alguns processos anêmicos de nossos casos, caracterizados por pancitopenia, nos casos de púrpura trombocitopênica primária encon tramos somente oligocitemia ligeira, enquanto o número de leucócitos era ligeiramente elevado. A contagem diferencial revelou neutrofilia acentuada, eosinopenia, linfopenia e monocitopenia. Havia intenso des vio para a esquerda, com aparecimento de mielócitos e metamielócitos no sangue periférico. Pelo exame do esfregaço sangüíneo encontramos alguns megaca- riócitos, enquanto as plaquetas não foram encontradas. O número de plaquetas, tanto nos casos de púrpura essencial como nos casos de sintomática foi inferior a 30.000 por mm3. W ir t h (1950) e R oberts (1952) descreveram casos semelhantes, tendo encontrado, porém, leucopenia; no referente à contagem diferen cial, nossas observações assemelharam-se às de W i r t h. R oberts não verificou alterações. Segundo K racke (1943), é importante fazer a contagem de leucó citos, pois há leucopenia na insuficiência da medula óssea (como nos casos por nós observados nas anemias) e na leucemia aleucêmica, ao passo que, o número é normal ou elevado na púrpura trombocitopênica essencial.
Os dados hematológicos colhidos nas observações de processos anê micos e de púrpura encontram-se reproduzidos no quadro V, a coloca
M. F. Migliano — Hemograma do cão em diferentes condições patológicas 445
Em relação à série leucocitária, as alterações foram mais elucida tivas: em 6 animais encontramos leucopenia, que foi acentuada em apenas 1 caso; 2 cães tinham o número de glóbulos brancos dentro dos limites normais; apenas em 4 observações, o número de leucócitos foi acima do normal, sendo que em duas, havia leucocitose ligeira e nas outras, leucocitose moderada. A observação de leucopenia correspondeu aos casos em que a doen ça se apresentou de forma mais grave, com exceção de uma observação (1.817-52). Por outro lado, dois dos animais que apresentaram leuco citose, constituíram casos benignos, com tendência à cura (26-46 e 2.515-53). No referente à contagem diferencial, 7 animais apresentaram neu trofilia, acentuada em 5, particularmente naqueles que apresentavam encefalomielite. A percentagem de eosinófilos, nos casos de mielite, mostrou-se normal ou elevada, enquanto nos casos de encefalomielite, encontramos eosinopenia ou aneosinofilia. A taxa mais elevada de eosi nófilos foi encontrada num cão que se achava em convalescença, tendo apresentado perturbações encefálicas. O número de linfócitos perma neceu, na maioria dos casos, abaixo do normal; porém, os valores mais baixos foram encontrados nos casos de encefalomielite e os mais ele vados nos casos de mielite, portanto, em ordem inversa à neutrofilia. Os monócitos não sofreram modificações significativas. O índice nuclear, na maioria das observações, mostrou-se normal ou ligeiramente elevado; em apenas 5 cães encontramos, ao exame he matológico, desvio para a esquerda, sendo que dois dêles apresentavam complicação pulmonar. A velocidade de sedimentação foi ligeiramente aumentada.
b) Forma pulmonar — As modificações encontradas na série eri- trocitária foram mais uniformes do que as observadas na forma ner vosa. Todos os animais dêste grupo apresentavam anemia de grau li geiro ou moderado. O número de leucócitos apresentou-se elevado em 5 casos e normal em 2. A leucocitose foi intensa em 2 cães e ligeira ou moderada nos demais.
A contagem diferencial caracterizou-se por neutrofilia em todos os casos, cm geral acentuada, eosinopenia e linfopenia. Apenas num caso a percentagem de linfócitos foi normal, coincidindo com o único animal que apresentou tendência à cura. Neste caso, foi encontrada a taxa mais elevada de hemoglobina, o maior número de hemácias e a menor
446 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 5, fasc. 3, 1955
percentagem de monócitos. Em 5 das 7 observações, verificamos mo- nocitose.
O índice nuclear mostrou-se com desvio para a esquerda em 6 ca sos; o grau de desvio para a esquerda manteve relação direta com o grau de neutrofilia, isto é, êle foi mais acentuado nos casos de neutro- filia intensa. Em três casos em que a moléstia se apresentou de forma muito grave, encontramos mielócitos no sangue periférico. Em 2 cães, nos quais a doença teve evolução fatal, embora trata dos com sôro específico e antibióticos, observamos que a contagem di ferencial não mostrou variações significativas durante a evolução, en quanto havia tendência para se acentuar a intensidade do desvio nu clear. Portanto, podemos considerar como achado desfavorável a não modificação do hemograma no curso do tratamento, persistindo o des vio para a esquerda ou se acentuando. Por outro lado, no caso 2.963- 53, embora fôsse mais evidente a forma intestinal, a repetição do he mograma revelou diferenças no quadro leucocitário, à medida que evo luiu para a cura.
c) Form a intestinal — Em 4 casos encontramos aumento numé rico dos polimorfonucleares, desvio para a esquerda dos neutrófilos e linfopenia; em 3 havia neutrofilia e em um outro, eosinofilia. A variação do número de neutrófilos não foi uniforme, sendo des provida de significado. Por observações sucessivas do quadro hemático de um cão que evoluiu para a cura verificamos que, à medida que melhorava o estado geral, havia diminuição gradativa do grau de leucocitose e o índice nuclear se aproximava do normal; havia, também, tendência à eleva ção do número de linfócitos e monócitos, chegando a se verificar, na última observação feita, neutropenia acentuada, conseqüente à eleva ção numérica dos demais elementos celulares. Devemos salientar, que anteriormente a qualquer medicação empregada, aquele animal já apre sentava taxa de eosinófilos elevada.
d) Forma cutânea e infecção exclusiva -por virus (sem infecção secundária bacteriana) — Neste grupo consideraremos as alterações he matológicas observadas em três casos de cinomose que não apresenta vam fenômenos respiratórios, digestivos ou nervosos; dois dêsses ani mais apresentavam a doença sob a forma cutânea e, o outro, teve o exame hematológico feito alguns dias antes do aparecimento dos sin tomas clínicos resultantes da infecção bacteriana mista, portanto, numa fase correspondente à de infecção pura por vírus.