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Guias e Dicas
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Debates para Desenvolver Competência Argumentativa em Alunos do Ensino Fundamental e Médio, Notas de aula de Construção

Um projeto de desenvolvimento da competência argumentativa em alunos do ensino fundamental e médio, que visa melhorar suas habilidades de expressão oral e escrita. Os professores enfrentam desafios para ajudar os alunos a produzirem textos argumentativos e buscam soluções, como fornecer exemplos de textos boos, valorizar a leitura e pesquisa, e utilizar o registro formal em textos orais. O projeto inclui a realização de debates, a criação de uma wiki para divulgação e comentários, e o estudo da refutação.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Abelardo15
Abelardo15 🇧🇷

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O gênero debate a serviço... 335
O gênero debate a serviço
da capacidade de análise crítica,
da autonomia e do posicionamento
eficaz
Daniela Favero Netto*
Problema de Pesquisa
É consensual a afi rmação por parte de professores de todas
as áreas do Ensino Fundamental e Médio que nossos alunos têm
difi culdades para expressar suas ideias, formulações e opiniões, seja
por meio do texto oral, seja por meio do texto escrito. Estu dos
vêm sendo feitos na tentativa de diagnosticar a razão do problema,
bem como de propor uma solução, inclusive em áreas de estudo
como Ciências, História, Geografi a, entre outras.
Os professores, que se defrontam diariamente com o
desafi o de contribuir com o desempenho dos alunos ao produ-
zirem textos, veem-se em uma constante busca por respostas às
seguintes questões:
• Trago exemplos de textos bons, de diversos gêneros
textuais, para que meus alunos os tenham como exemplo. Por
que, então, meu aluno não leva em conta o tipo de interlocutor
a quem o texto se dirige?
• A leitura de jornais de grande tiragem e circulação bem
como de notícias on-line são recorrentes em sala de aula, em
que também são oportunizadas discussões sobre os assuntos
anali sados. Por que, então, meu aluno tem difi culdade para
* Professora de Língua Inglesa do CAp\UFRGS. Mestre em Teoria e Análise Linguística.
E-mail:d.faveronetto@gmail.com
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O gênero debate a serviço... (^) 335

O gênero debate a serviço

da capacidade de análise crítica,

da autonomia e do posicionamento

eficaz

Daniela Favero Netto*

Problema de Pesquisa

É consensual a afirmação por parte de professores de todas as áreas do Ensino Fundamental e Médio que nossos alunos têm dificuldades para expressar suas ideias, formulações e opiniões, seja por meio do texto oral, seja por meio do texto escrito. Estudos vêm sendo feitos na tentativa de diagnosticar a razão do problema, bem como de propor uma solução, inclusive em áreas de estudo como Ciências, História, Geografia, entre outras. Os professores, que se defrontam diariamente com o desafio de contribuir com o desempenho dos alunos ao produ- zirem textos, veem-se em uma constante busca por respostas às seguintes questões:

  • Trago exemplos de textos bons, de diversos gêneros textuais, para que meus alunos os tenham como exemplo. Por que, então, meu aluno não leva em conta o tipo de interlocutor a quem o texto se dirige?
  • A leitura de jornais de grande tiragem e circulação bem como de notícias on-line são recorrentes em sala de aula, em que também são oportunizadas discussões sobre os assuntos analisados. Por que, então, meu aluno tem dificuldade para
  • Professora de Língua Inglesa do CAp\UFRGS. Mestre em Teoria e Análise Linguística. E-mail:d.faveronetto@gmail.com

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argumentar sobre determinados temas polêmicos que vêm à tona em nosso cotidiano?

  • Oriento meus alunos a partir de diversos textos de apoio de autores consagrados antes de cada produção oral ou escrita. Por que, então, meu aluno encontra dificuldades para expor seu ponto de vista e embasá-lo com um discurso sólido?
  • Se ofereço ao meu aluno o contato com instrumentos que poderiam lhe proporcionar a construção de argumentos consistentes, por que insiste em utilizar uma estruturação de ideias que culmina em generalizações facilmente rebatidas pela contra-argumentação?

Pécora (1999) assinala como resposta provável à inconsis- tência argumentativa − a qual se caracteriza, na grande maioria das vezes, pelo uso de afirmações que recaem em lugar-comum, ou seja, generalizações reproduzidas por meio de uma linguagem consagrada, não diversificada, a qual acaba por não individualizar o produtor, que não revela esforço persuasivo sobre seu interlo- cutor − “a transformação das condições de produção da escrita em condições de reprodução, e a transformação de seu espaço em cúmplice privilegiado de um processo de desapropriação dos sujeitos da linguagem (PÉCORA, 1999, p. 112). O autor faz menção às condições de produção escrita, mas o mesmo problema de ausência de autonomia, de falta de posicionamento, repete-se nos textos argumentativos orais de nossos alunos. Levando em consideração a importância de se preparar nosso aluno para ter uma atuação eficaz na sociedade, este projeto quer possibilitar-lhe o exercício da expressão de suas ideias, na tentativa de melhorar sua competência argumentativa por meio da apresentação oral de seus posicionamentos via debate. É importante ressaltar que o trabalho com oralidade em sala de aula não pode corresponder a um simples exercício da língua falada, já que o bom desempenho oral é uma exigência social. Asseveram Costa Val e Zozzoli:

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Objetivos e Metas

O trabalho com o gênero debate, a ser desenvolvido com alunos das turmas 81 e 82 do Colégio de Aplicação da UFRGS, de que trata este projeto, tem por objetivos e metas que esses alunos possam:

  • Valorizar a leitura e a pesquisa como fonte de informação para embasamento de textos argumentativos.
  • Desenvolver a capacidade de organização e divisão de tarefas.
  • Aprofundar sua competência argumentativa com o uso de argumentos que não sejam contraditórios nem generalizações.
  • Utilizar corretamente os operadores argumentativos.
  • Utilizar o registro formal em texto oral, adequando-o ao gênero debate.
  • Planejar um texto para ser apresentado oralmente, fa- zendo análise crítica de sua qualidade.
  • Pensar sobre situações hipotéticas de contra-argumen- tação, prevendo possíveis argumentos para lançar mão durante o debate.
  • Resolver satisfatoriamente situações-problema que pos- sam surgir em razão da contra-argumentação.
  • Contra-argumentar adequadamente e de maneira res- peitosa.
  • “Valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário .” (PCNs de Língua Portuguesa, 1997, p. 33)
  • Criar uma wiki para divulgação dos debates e para co- mentários sobre esses.
  • Produzir um documentário.

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Metodologia

É comum tratar-se o texto oral como uma produção muito diferente do texto escrito. Uma das razões possivelmente seja o fato de se associar a língua escrita, por vezes, e erroneamente, ao código a ser utilizado em contextos situacionais, em práticas sociais, em que é exigida a formalidade; e de se associar, por seu turno, a língua falada aos contextos em que a coloquialida- de é permitida. No entanto, com relação à produção de textos argumentativos, há outros pontos a serem considerados no que tange tanto ao texto oral quanto ao texto escrito para que se estabeleçam diferenças a serem levadas em conta no momento da produção textual, as quais dizem respeito muito mais a outros fatores do que ao fato de serem apresentados por meio da fala ou por meio da escrita, tais como: a proximidade e o envolvimento entre os interlocutores; a situação de comunicação; o objetivo do texto, etc. Frente a esse contexto, as práticas referentes ao trabalho que se pretende realizar levarão em conta, além de atividades de análise e de uso de operadores argumentativos, de estudo de pressuposições, entre outras marcas linguísticas de argumentação, o estudo de outros aspectos, como a finalidade da atividade, a relação entre os interlocutores, a função e o uso do gênero debate na sociedade, procurando-se aproximar esse tipo de texto falado ao “pólo da escrita formal”. O trabalho iniciará com alunos da oitava série do Ensino Fundamental e será desenvolvido também durante o primeiro ano do Ensino Médio, ou seja, terá sua conclusão quando os alunos estiverem no Ensino Médio, preparando-se para o ano em que concluirão suas atividades na escola. Nas palavras de Ribeiro (2009, p. 17), as crianças são capazes de argumentar desde muito cedo e [...] essa capacidade argumentativa se amplia a partir de suas experiências com práticas discursivas construídas culturalmente . Assim, a opção por se trabalhar com alunos da oitava série deve-se ao fato de, nesta fase

O gênero debate a serviço... (^) 341

por recurso à autoridade, por exemplificação, por justificativa, por recor- rer a diferentes formas de refutação, por analogias, descrições, relatos, negociação de conflitos, formas especiais de transmissão das palavras alheias, etc. (CRISTÓVÃO; DURÃO; NASCIMENTO, 2003, p. 2).

Portanto, mais um objetivo a ser atingido ainda nessa fase é evidenciar as estratégias argumentativas de que os debatedores se utilizam. Há uma série de debates disponibilizados na Internet, os quais serão previamente selecionados e aos quais os alunos assistirão; esse recurso servirá de mote para discussão sobre mecanismos de sustentação e de refutação de posicionamentos sobre os temas discutidos. Além disso, nesse momento do trabalho, simultaneamen- te será feito o estudo das marcas linguísticas da argumentação (recursos retóricos, tempos verbais, funções de tematização e rematização), em especial, dos operadores argumentativos, entre os quais, os evidenciados por Koch (1993):

  • Operadores com função de ajustamento e precisão (isto é, quer dizer, ou seja, etc.);
  • Operadores com função de oposição, refutação ou recusa (mas, ao contrário, contudo, etc.)
  • Operadores que estabelecem hierarquia (mesmo, até, até mesmo, inclusive, etc); entre outros.

Com relação à escolha do tema, cabe salientar que ela será feita de acordo com a faixa etária e capacidade dos alunos para discorrerem sobre o assunto. Segundo Ribeiro, “os temas escolhi- dos não podem ser tão difíceis que os alunos não dominem, nem tão fáceis que não permitam um avanço cognitivo . (RIBEIRO, 2009, p. 52). Serão considerados, então, os seguintes fatores no que atine à escolha do tema:

  • Dimensão psicológica: interesse dos alunos;
  • dimensão cognitiva: nível de complexidade compatível com os alunos;
  • dimensão social: aprofundamento crítico-social; e

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  • dimensão didática: conteúdo de aprendizagem. (DOLZ; SCHENEUWLY; DE PIETRO, 2004, apud RIBEIRO, 2009, p. 52).

O segundo momento, o de estudo para aprofundamento , será a fase em que cada grupo de debate (o grupo contra e o grupo a favor da propositura apresentada como tema) fará a pesquisa sobre o assunto, bem como organizará seus argumentos a serem apresentados no debate. Nessa fase será quando os alunos estuda- rão inclusive os possíveis contra-argumentos que utilizarão para contestar os argumentos da equipe de posição contrária à sua. É importante salientar que haverá uma parte do grupo cujo enfoque será unicamente estudar o assunto e propor argumentos, já que serão escolhidos pelas próprias equipes três debatedores para cada grupo, cujo compromisso será representar sua equipe diante do auditório. Ademais, é importante aferir que cada grupo terá um professor orientador, o qual auxiliará fazendo a análise prévia dos argumentos selecionados pelo grupo e da sua organização, a fim de que possíveis equívocos ou até conflitos internos do grupo possam ser sanados antes do debate. Após o período de organização do texto oral que será apre- sentado pelas equipes, o debate será realizado com a mediação de um aluno que irá se preparar para tal ofício, cuja atribuição é abrir e fechar o debate, cumprimentar o auditório, apresen- tar os debatedores, expor o tema, regular a dinâmica de trocas entre debatedores, e, no final do debate, organizar o momento destinado a perguntas elaboradas pelo auditório aos debatedores (RIBEIRO, 2009). Todo o processo de estudo do tema, que culminará com o debate, será registrado por fotos (inclusive do debate), para que os participantes analisem sua postura, por vídeo, para que anali- sem sua performance , a fim de que possam fazer uma autocrítica que evidencie o que fi cou bom e o que precisa ser melhorado, bem como as estratégias utilizadas pelos debatedores do grupo oponente que não tenham sido utilizadas por seu grupo. Enfim,

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debate de opinião, pretende-se que eles possam identificar-se como sujeitos de suas produções. Ao final do trabalho, espera-se que tenham aprofundado seus conhecimentos sobre as temáticas abordadas, e que haja uma evolução no que se refere a sua competência argumentativa, a sua capacidade de elaboração de conceitos e a sua desenvoltura em processos de análise em relação a diversas áreas, já que os temas poderão abranger todas as áreas de conhecimento e que as pes- quisas poderão ter a colaboração de professores das quatro áreas: Comunicação, Ciências Exatas e da Natureza, Humanidades e Expressão e Movimento. Frente aos resultados e às expectativas referentes ao tra- balho que se pretende realizar, serão brevemente pontuadas as difi culdades que poderão surgir ao longo do desenvolvimento deste projeto. A seguir serão apresentadas as Referências básicas utilizadas na elaboração do presente projeto.

Referências

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 8 ed. São Paulo: Ática, 2004.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

CRISTÓVÃO, Vera Lúcia Lopes; DURÃO, Adja B. de A. B. e NASCIMENTO, Elvira L. Debate em sala de aula: práticas de linguagem em um gênero escolar. In: Anais do 5º Encontro do Celsul , Curitiba, 2003.

KLEIMAN, Angela. Ofi cina de leitura – teoria e prática. Campinas: Pontes, 1993.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1993.

KOCH, Ingedore G. Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2005.

O gênero debate a serviço... (^) 345

NEVES, Maria Helena de Moura. Ensino de língua e vivência de linguagem – temas em confronto. São Paulo: Contexto, 2010.

PCN – Parâmetros curriculares nacionais – Língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

PCN – Parâmetros curriculares nacionais – Língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF. Versão on- line. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues. pdf. Acesso em: 15 de set. 2011.

PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes,

RIBEIRO, Roziane Marinho. A Construção da argumentação oral no contexto de ensino. São Paulo: Cortez, 2009.

WASHINGTON, Denzel. O grande desafi o (The great debaters), EUA,

  1. Produzido por: Harpo Films, Marshall Production, Road Rebel, The Weinstein Company.