




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Deusa”, no qual a deusa Bhuvaneśvarī se apresenta como sendo a Realidade ... Madhu Bazaz Wangu elabora uma extensa análise sobre as inúmeras Yak i īs e.
Tipologia: Notas de estudo
1 / 272
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
FLÁVIA BIANCHINI
Orientador: Prof. Dr. Fabricio Possebon
.
B577e Bianchini, Flávia. O estudo da religião da grande deusa nas escrituras indianas e o canto I do Devi Gita / Flávia Bianchini.-- João Pessoa, 2013. 261f. : il. Orientador: Fabricio Possebon Dissertação (Mestrado) – UFPB/CE
UFPB/BC CDU: 279.224(043)
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida, sem a qual não teria sido possível a minha dedicação total ao presente trabalho.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pela oportunidade de realizar meus estudos neste programa.
Agradeço ao professor Fabricio Possebon pela orientação e por abrir espaço em sua agenda de trabalho para ministrar um curso introdutório de Sânscrito.
Agradeço ao professor Deyve Redyson Melo dos Santos por sua acessibilidade e abertura para com todos os alunos, tornando mais leve a jornada acadêmica.
Agradeço à professora Maria Lucia Abaurre Gnerre pela coordenação do Grupo PADMA de estudos orientais e pelos projetos e publicações desenvolvidos por este grupo.
Agradeço especialmente ao professor Roberto de Andrade Martins por seu infinito apoio e orientações, sem os quais não teria chegado ao término desta dissertação.
Agradeço à “Suprema Deusa”, foco deste estudo, que me inspirou e conduziu na realização destes estudos, e por orientar meus passos e caminho espiritual.
Agradeço a Ś r ī Ga ṇ e ś a e a Agni Deva pela remoção dos obstáculos e pela proteção espiritual, muito necessários ao longo desta jornada.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu marido e companheiro, Roberto de Andrade Martins, por todo o imenso apoio, infinito amor e infinita compreensão nas horas difíceis.
Sem o seu apoio e compreensão, nas inúmeras vezes em que pensei em desistir deste mestrado, eu não teria chegado até aqui. Sem seu apoio, orientação, correções e sugestões não teria concretizado esta pesquisa e não teria percorrido o caminho até aqui. Agradeço infinitamente pela sua compreensão e amor.
ABSTRACT
The subject of this dissertation is the religion of the Great Goddess in Indian scriptures, especially in the first canto of Dev ī G ī t ā. This religion, belonging to Hinduism, presents itself as a devotional movement called Śāktism. Its roots lie in the ancient Indian Vedic tradition, but it only became an independent movement, with its own original concepts, in the Medieval period of India. This study presents a vast outlook of the development of Śāktism, from the Vedic age to the medieval Tantric Indian period, presenting information on the female deities and about other fundamental topics for the understanding of the religion of the Great Goddess. This dissertation culminates with a translation and commentary of canto I of the Dev ī G ī t ā, a work belonging to the Dev ī Bh ā gavata Pur āṇ a. This scripture is recognized as an important source leading to the recognition of Śāktism as an independent cult, and it is the oldest extant work where the Indian Goddess is presented as the supreme deity, as the Ultimate Reality and as the source of all creation.
Devī Gītā, Śāktism, Great Goddess, Indian scriptures, history of Śāktism, Hinduism.
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
2
Divindade Suprema. Na tradição indiana ela é equivalente ao próprio Brahman , o Absoluto. Essa singularidade assinala a relevância deste estudo. A tradição indiana apresentou, ao longo do tempo, uma grande variedade de divindades femininas. Quando cada uma delas é considerada como uma entidade distinta, não se trata propriamente da religião da Grande Deusa. No entanto, a partir de certo período histórico, fica clara a ideia de uma única Deusa primordial, que pode se manifestar sob diferentes formas – as muitas deusas. Assim, dependendo do texto e do período considerado, Parvat ī pode ser considerada uma dentre muitas deusas da tradição indiana, ou como um dos nomes de Mah ā Dev ī. Por isso, além das denominações mais amplas como Dev ī e Mah ā Ś akti , a Grande Deusa tem um enorme número de nomes e epítetos. Deve-se, no entanto, tomar cuidado para distinguir entre o culto das dev ī s e o culto de Mah ā Dev ī. Este último tem um importante papel na religiosidade indiana especialmente a partir do primeiro milênio da era cristã, em uma época que corresponde ao Período Medieval europeu^1. A religião indiana da Deusa – o Śāktismo^2 – é uma das linhas espirituais indianas pouco estudadas no Brasil. Há escasso material traduzido para o português, embora exista uma vasta bibliografia em outros idiomas. Sob o ponto de vista internacional, a grande quantidade de obras publicadas e de escrituras indianas encontradas sobre o assunto, mas ainda não traduzidas, demonstra o quanto este tema é importante. No entanto deve-se salientar que a religião da Ś akti foi fonte de desdém e preconceito nos estudos realizados pelos primeiros estudiosos europeus sobre o tema, pois o seu culto estava, em geral, conectado com o que era considerado como a face mais degradada do Hinduísmo, a saber: sacrifícios tanto de animais quanto de seres humanos; rituais tântricos considerados impuros devido à mistura de castas; e ingestão de alimentos e bebidas estimulantes. Nota-se que não existe nenhuma pesquisa realizada no Brasil que aborde especificamente o tema do pensamento religioso sobre a Grande Deusa ou estude uma de suas principais escrituras – o Dev ī G ī t ā. Encontramos algumas dissertações e teses
(^1) Costuma-se falar sobre o Período Medieval indiano como correspondente ao mesmo período histórico do Período Medieval europeu; mas trata-se apenas de uma equivalência cronológica, não havendo semelhança entre as situações históricas nas duas regiões. (^2) Vamos utilizar a expressão aportuguesada “Śāktismo” para indicar a religião da Ś akti ou Dev ī. A palavra sânscrita Śā kta é utilizada tanto para representar essa corrente religiosa quanto para identificar os seus devotos ou seguidores.
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
3
brasileiras que tratam sobre assuntos próximos (Gonçalves, 2009; Salvador, 2009; Oliveira, 2010; Souza, 2010), mas nenhuma delas se aprofunda diretamente no conteúdo da religião da Deusa – o Śāktismo, nem aborda essa obra em particular. Outro fator importante para a escolha deste tema foi a percepção de que, nas últimas décadas, há uma crescente quantidade de movimentos espirituais e sociais de retorno ao culto da Deusa Mãe, da espiritualidade de origem matriarcal, do paganismo feminino, do retorno à Natureza (Vieira, 2011). O estudo dessas formas religiosas, que tem se intensificado nas últimas décadas, abriu uma nova frente de pesquisas na História das Religiões, que, até meados do século XX, estudava quase exclusivamente a religiosidade masculina (Kinsley, 2002). Nesse contexto atual, torna-se evidente a importância social de estudos a respeito da tradição religiosa indiana associada à feminilidade. O debate acadêmico em torno das questões de gênero tem crescido no âmbito internacional, inclusive no trato de temas relacionados ao feminino nas culturas e escrituras orientais, como podemos ver nas obras de John Stratton Hawley, David Kinsley e Lise Mckean. Sob esse aspecto – a presença e manifestação do feminino nas religiões –, esta pesquisa pretende dar uma contribuição relevante, tendo em vista a carência de estudos orientados nesta área no universo das ciências das religiões no Brasil. Dessa forma, percebendo a relevância de empreender um estudo sobre o Śāktismo, esta dissertação tem como objeto de pesquisa o estudo da religião da Grande Deusa na Índia, a partir de uma contextualização histórica. Para isso, apresenta um levantamento de obras da literatura sânscrita que conduziu à criação da corrente Śā kta , e analisa um dos textos fundamentais dessa tradição. O texto escolhido foi o Canto I do Dev ī G ī t ā ou “cântico da Deusa”, no qual a deusa Bhuvaneśvarī se apresenta como sendo a Realidade Última. Esta parte final da dissertação permite ao leitor ter um contato direto com um texto significativo da literatura indiana sobre a Grande Deusa. O Dev ī G ī t ā faz parte do sétimo livro do Dev ī Bh ā gavata Pur āṇ a , uma escritura considerada muito importante, por seu conteúdo e colocações espirituais, no que se refere à religião da Grande Deusa. A datação desse Pur āṇ a é incerta; alguns autores consideram que ele foi composto entre os séculos VII e IX d.C.; outros supõem que seria dos séculos XI ou XII (Brown, 1990, p. 8). Essa obra é considerada uma das escrituras fundamentais para a consolidação histórica do Śāktismo.
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
5
sérios (Brown, 1999, p. 33). A tradução de Swami Satyananda Saraswati é considerada por Mackenzie Brown como “menos confiável e geralmente mais confusa e criadora de equívocos do que seu predecessor da década de 1920” (Brown, 1999, p, 33). Portanto, essas duas outras traduções serão utilizadas com cautela. Verificamos que a quarta versão, publicada sob o nome de Rai Bahadur Śrīśchandra^6 , não é uma tradução independente. Trata-se de uma nova edição da tradução de Swami Vijñanananda com as seguintes alterações: foi introduzido o texto em devan ā gar ī utilizando uma edição realizada por Pushpendra Kumar (a obra de Swami Vijñanananda só apresentava a tradução para o inglês); a tradução foi subdividida em estrofes, seguindo o texto sânscrito (na edição original muitas estrofes eram apresentadas juntas); e os termos transliterados existentes na tradução foram normatizados (por exemplo: Vyâsa foi substituído por Vyāsa). É importante realizarmos uma breve apresentação sobre os demais autores. Swami Vijñanananda é o nome religioso de Hariprasanna Chattopadhyaya (1868- 1938), também conhecido como Hari Prasanna Chatterji. Hari Prasanna nasceu em Belgharia, Kolkata, Índia. Durante sua adolescência foi um discípulo direto de Sri Ramakrishna. Estudou engenharia e trabalhou durante alguns anos nessa profissão, publicando dois livros sobre o assunto. Em 1896 fez seus votos religiosos, adquirindo o novo nome, com o qual publicou suas obras filosóficas e religiosas. Escreveu uma biografia de Ramakrishna ( Paramahamsa-charit , publicado em 1904), traduziu dois textos astronômicos sânscritos ( S ū rya Siddh ā nta , em 1909, e B ṛ hat J ā takam , em 1912), uma obra importante da tradição Vai ṣṇ ava ( Narada Pancharatram , 1921) e a tradução completa do Dev ī Bh ā gavata Pur āṇ a (1922). Iniciou a tradução do R ā m ā ya ṇ a de V ā lm ī ki , mas só chegou a completar as duas primeiras partes, antes de falecer. Swami Vijñanananda passou um tempo considerável no Ramakrishna Math, tornando-se o Presidente da Missão Ramakrishna em 1937. Foi sob sua presidência e supervisão direta que o Templo Ramakrishna em Belur Math foi construído e consagrado. Foi um grande estudioso da tradição indiana (Vijñanananda, 2007, p. [i])^7.
(^6) A folha de rosto do livro indica: “English translation by Rai Bahadur Śrīśchandra” e não há qualquer outra explicação sobre a autoria na obra. (^7) Ver também informações disponíveis na Internet, em: http://www.belurmath.org/vijnananda.htm, acesso em 10/06/2013.
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
6 Não foi possível localizar o nome original de Swami Satyananda Saraswati. Norte- americano, nascido no final da década de 1940, viajou para a Índia na segunda metade da década de 1960, onde permaneceu por quinze anos, antes de regressar aos Estados Unidos. Estudou o pensamento religioso Śā kta , recebendo iniciação de um guru no culto de Ca ṇḍī (recitação ritual do Dev ī Mah ā tmya ) e na cerimônia do fogo, em 1971. Depois do seu retorno aos Estados Unidos, dedicou-se à difusão do culto Śā kta , juntamente com Shree Maa. Swami Satyananda Saraswati vem da linhagem Dashnami de Adi Shankaracharya, cujos Swamis recebem a designação Saraswati , “que denomina os sannyasis que são estudiosos e vivem a vida de um brâmane”^8. A tradução publicada por Swami Satyananda Saraswati tem diversas peculiaridades. Embora o Dev ī G ī t ā corresponda aos dez capítulos finais (31 até 40) do sétimo livro do Dev ī Bh ā gavata Pur āṇ a , este autor incluiu também parte do capítulo 29 (a partir da estrofe
(^8) As informações pessoais sobre Swami Satyananda Saraswati foram extraídas da seguinte página da Internet: http://www.shreemaa.org/who-we-are/meet-swami-satyananda-saraswati/, acesso em 06/09/2012. (^9) Comunicação pessoal, por e-mail, no dia 10 de setembro de 2012.
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
8 granting all desires, Giver of Bliss and Strenght, the form of all sound, may that Ultimate Goddess, being pleased with our hymns, present Herself before us. (Saraswati, 2003, p. 84) – Os Deuses ofereceram muitas vibrações amorosas à Deusa. Todos os seres vivos a chamam de forma do Universo. Possa ela, que é como uma vaca que concede todos os desejos, doadora de felicidade e força, a forma de todos os sons, possa aquela Deusa Suprema, estando satisfeita com nossos hinos, apresentar-se diante de nós. Vemos que a tradução de Vijñananda, reproduzida por Śrīśchandra, introduz muitos comentários que são difíceis de separar do texto propriamente dito. Alguns estão entre parênteses, mas outros não (como no início do parágrafo transcrito acima). A tradução de Satyananda Saraswati adiciona, também, alguns elementos que não estão presentes no texto em sânscrito. Porém a tradução de Mackenzie Brown também não pode ser considerada inquestionável e deve ser comparada com as demais. Através da presente pesquisa tentamos esclarecer as características desse sistema religioso (o Śāktismo), abordando suas bases conceituais, seu conjunto de normas e métodos de adoração. Apresentamos um estudo sobre o papel do Dev ī G ī t ā, procurando esclarecer as contribuições específicas desse texto (quanto às doutrinas e práticas), comparando-o a alguns outros textos anteriores e do mesmo período, assim como às concepções filosóficas de outros sistemas do pensamento indiano. O trabalho exigiu, por um lado, uma vasta pesquisa sobre a religião da Grande Deusa na Índia, e, por outro, o aprofundamento em uma escritura específica – o Dev ī G ī t ā. O presente texto está dividido em uma Introdução e mais três capítulos. O primeiro capítulo apresenta um histórico das concepções a respeito das divindades femininas no pensamento indiano, da pré-história até o período medieval indiano, quando ocorre o desenvolvimento do Śāktismo, na tradição dos Pur āṇ as e dos Tantras. O segundo capítulo apresenta o Dev ī Bh ā gavata Pur āṇ a e fornece uma visão geral do Dev ī G ī t ā, indicando também sua relação com os diferentes tipos de escrituras indianas que são centrais para o estudo do Śāktismo. Este capítulo discorre também sobre a deusa Bhuvane ś var ī, que é a divindade feminina central do Dev ī G ī t ā, apresentando também sua concepção em diferentes contextos, revelando o seu papel e natureza. O terceiro capítulo contém uma tradução, análise e comentário do Canto I do Dev ī G ī t ā, acompanhada do seu texto em sânscrito seguido pelo comentário detalhado de muitos
BIANCHINI, F. UFPB-PPGCR 2013
9
aspectos importantes do Canto I do Dev ī G ī t ā, utilizando diversas outras fontes para esclarecer esse texto. Essa tradução é precedida por uma introdução que aborda questões relativas à metodologia adotada e alguns tópicos relevantes para sua compreensão. Há também um Glossário dos termos sânscritos mais importantes do Canto I do Dev ī G ī t ā. Os três capítulos são seguidos pelas considerações finais a respeito do trabalho que foi realizado. Veremos que o estudo do Dev ī G ī t ā permite lançar um novo olhar sobre o culto da Grande Deusa indiana, a partir de um enfoque acadêmico que visa mostrar a conexão que esse texto específico possui com uma longa história da religião da Deusa na Índia, ao longo de milhares de anos.