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tese doutorado corpo e psicanalise
Tipologia: Teses (TCC)
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Não perca as partes importantes!
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da PUC-Rio como parte dos requisitos parciais para obtenção do título de Doutor em Psicologia Clínica.
Orientador: Prof. Marcus André Vieira
Rio de Janeiro Junho de 2013
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Departamento de Psicologia do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Prof. Marcus André Vieira Orientador Departamento de Psicologia - PUC-Rio
Profa. Ana Maria de Toledo Piza Rudge Departamento de Psicologia - PUC-Rio
Profa. Nuria Malajovich Munoz Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof. Domenico Cosenza Università di Pavia - Itália
Prof. Roberto de Assis Ferreira Departamento de Pediatria - UFMG
Profa. Denise Berruezo Portinari Coordenadora Setorial de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Teologia e Ciências Humanas – PUC-Rio
Rio de Janeiro, 14 de junho de 2013.
Ao Davi, que renova em mim o mistério do saber do corpo,
com a poesia dos olhos que vêem o mundo pela primeira vez.
Ao Marcus André Vieira pelas marcas que sua transmissão continua deixando em minha formação. E pelo acolhimento desta escrita que virou tese, sob sua orientação.
À Escola Brasileira de Psicanálise do Campo Freudiano, especialmente à Seção Rio da Escola Brasileira de Psicanálise, pelo encontro com a orientação lacaniana que dá a direção do meu percurso ao longo de todos esses anos.
A Stella Jimenez, pelo que se escreve na vida através da análise. À Comunità La Vela – equipe, pacientes e especialmente ao Prof. Domenico Cosenza – pela generosidade com que me acolheram e permitiram uma aproximação em sua experiência, com o que não se compartilha, mas se transmite.
Ao Carlo Viganò [ in memorian ] pelas preciosas indicações de leitura e pelas perguntas que não esperaram resposta.
Ao Istituto Freudiano della Scuola Lacaniana di Psicoanalisi de Milão, por acolher minha inscrição e pelo acesso aos seus grupos de trabalho.
À Direção do IPUB, pela aposta decidida da Prof. Maria Tavares que carimbou meu passaporte para a Itália e à Prof. Ana Cristina Figueiredo, diretora de ensino, amiga querida, convicta do valor da psicanálise aplicada ao trabalho nas instituições, pelo convite ao trabalho que se renova há tantos anos junto ao Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica.
Ao IPUB, que se encarna sem cessar em novos laços, novas inquietações, novas demandas, novos sorrisos e novos sofrimentos, reiterando o convite ao trabalho.
À PUC – Rio pelos novos encontros, pelo acolhimento do Departamento de Psicologia aos meus projetos vinculados à trajetória do doutorado. E também à Marcelina, pela gentileza e pela paciência.
fazer sua casa também minha e, então, encontrar serenidade para o trabalho de escrita.
A Costanza Lunare por me ajudar a abrir minha porta de entrada na língua que tão longe me levou na minha própria língua e por tudo mais, outras portas, outras línguas.
A Tatiane Grova a quem confiei cegamente a revisão da tese, por acolher o produto de uma escrita livre, alienada. Mas, um tanto insubmissa às regras da ABNT.
A Vania Gomes, Magda Delecave, Aline Vilanova, Gilbert Souza e Simone Ravizzini, pelo que cada uma me ofereceu neste caminho da preparação da tese.
À velha guarda – Selma, Ana Maria, Ana Paula, Marcelo, José Luiz e Solange –, também aos novos velhos integrantes, Natarelli e Denise, pela fé na taba.
A minha mãe, Celina, aos meus irmãos, André Luiz e Aline e a minha primeira sobrinha, Rebeca. Por me acompanharem de perto e de longe, temperando com o aconchego e a lembrança de seu fuzuê, minhas andanças. A toda minha família, pelo carinho.
A te che mi tieni...
Vilanova, Andréa da Silva; Vieira, Marcus André (Orientador). Um corpo se escreve: do traço à trama. Rio de Janeiro, 2013. 241p. Tese de Doutorado – Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
O dispositivo analítico, tal como circunscrito por Freud e Lacan não opera sem o corpo. Mas de que corpo se trata? Com o nascimento da ciência moderna introduz-se no mundo o sujeito sem substância. Enquanto a ciência o foraclui, a psicanálise nasce neste mesmo ponto, recolhendo-o. Da imagem com todos os seus efeitos de captura sobre o vivente, passando pelo corpo que encontra sua homologia com o inconsciente, a partir dos furos que ressoam entre eles, veremos o objeto a vir colocar em jogo a substância que dá esteio ao sujeito lógico. A teoria do significante constitui os contornos da superfície sobre a qual operamos definida em torno do furo, efeito de traço. Mas a clínica nos confronta com manifestações que colocam situações que exigem um passo a mais em relação à superfície definida em torno do furo, do Outro e do resto. Destacando do significante a dimensão da letra, Lacan nos conduzirá a uma retomada dessas operações que lança novas balizas de orientação e implica em um novo aparato de leitura. Para concluir, exploramos as possibilidades da teorização da letra na clínica, a partir de um caso clinico que conjuga o objeto como causa, mas a partir do qual investigamos as possibilidades da perspectiva da reiteração do gozo como fundamento da escrita de que se trata na psicanálise.
Sujeito; corpo; objeto a ; gozo; letra; reiteração e escrita.
Atravessei em claro meu espanto. Nas muletas das palavras, apoiei meu corpo até sarar o pensamento. Vilanova, A. (2013)
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Tributária dessa interrogação, a elaboração possível acerca do corpo constituirá um modo de interrogar a própria prática clínica a partir da psicanálise. De que corpo se trata na psicanálise? À primeira vista, nos deparamos com duas perspectivas, uma que poderia ser tomada como epistemológica, na via de elaboração de um saber sobre o corpo, e outra, digamos dirigida à terapêutica, tomando os exemplos que interrogaremos aqui. Mas será nossa resposta clínica e teórica a partir de Freud e Lacan que dará o tom de nossa elaboração, buscando no apoio da clínica a articulação que esses dois campos encontram sob a orientação da psicanálise.
Nessas experiências clínicas que recolhemos e que pretendemos apresentar, recortamos a presença do corpo manifesta através de sintomas que são, em princípio, dirigidos à medicina. Sabemos que a psicanálise nasce do encontro do médico neurologista Freud com o corpo da histérica. Ele faz do que não se formula em torno das paralisias motoras seu ponto de partida para uma investigação que nos conduzirá a uma apreensão inédita do corpo. Estamos sob os contornos de um método que conjugará investigação e tratamento inaugurando uma perspectiva ética, na qual o clínico não está fora de seu campo de intervenção.
No primeiro capítulo, tomaremos apoio no conceito de falha epistemo- somática que Lacan nos apresenta em sua conferência “Psicanálise e medicina”, de 1966, como uma indicação que parte daquilo que se configura entre dois campos, como o título da conferência aponta. Veremos como esse conceito constitui a ruptura que a psicanálise introduz na leitura da clínica. Pois nos incita a uma discussão fundamental acerca da realidade do corpo vivo que a experiência analítica permite circunscrever e o faz de modo original. Na conferência, Lacan deixa evidente que em relação ao corpo há uma dimensão de saber que não cabe no próprio saber e que nos orienta em nossa experiência de vivente na linguagem.
Interrogaremos as articulações das palavras com os corpos, explícitas já em Freud, mas que encontrarão em Lacan o tom de uma elaboração que coloca em primeiro plano a dimensão que essa experiência fundamental constitui para o ser falante. Pretendemos demonstrar como Lacan nos oferece acesso à realidade que se constitui, a partir do encontro das palavras e do corpo, no que cada um coloca
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de si na língua que fala. Veremos como é aí que podemos encontrar o mais singular de cada um, como a investigação em torno da satisfação do sujeito nos permite localizar a partir da clínica.
Não é por acaso que não encontramos nem em Freud, nem em Lacan uma formulação conceitualmente bem acabada sobre o corpo. O corpo resiste ao conceito. Esta é a nossa pista fundamental. Para além de um saber acabado ou de qualquer terapêutica, estamos às voltas com o corpo a ser decantado da prática e na prática analítica, no fazer que enlaça analista e analisante. Na psicanálise não partimos do corpo como algo já dado, não nos apoiamos apenas na forma do corpo, ainda que, como veremos, esta dimensão implique em mecanismos fundamentais para pensarmos a experiência humana, fundada na presença do corpo.
Tomá-lo como questão é, antes, antecipar que o corpo resiste ao sentido, ainda que paradoxalmente o encontro das palavras com os corpos constitua a sede de registros fundamentais para uma existência. Veremos como os vértices conceituais que estabelecem, por um lado, os contornos do corpo tomado como organismo submetido à fisiologia e à morfologia, dentro do saber médico; por outro, como o suporte de um registro histórico-antropológico, não compreendem o aspecto subversivo que a psicanálise confere à leitura que introduz na clínica.
Um corpo não se define, vive-se, goza-se dele, dirá Lacan no Seminário 20. A direção que se evidencia, portanto, está para além de interrogar o que é um corpo. Afinal, como afirma Lacan no Seminário 22 , um computador, ou uma máquina podem ser tomados como corpo, mas a diferença fundamental é que não é óbvio que haja vida aí. Em nosso percurso pretendemos interrogar esta vida que anima os corpos e que não cabe na cadaverização que o discurso da ciência prescreve como abordaremos.
No primeiro capítulo, desenvolveremos uma discussão apoiada na elaboração lacaniana que nos oferece a gênese da categoria de sujeito sob as coordenadas do nascimento da ciência moderna. A partir de sua leitura de Koyré, Lacan instrumentaliza uma discussão na qual formaliza a pertinência da categoria de sujeito ao discurso da ciência, mas circunscrevendo que se a ciência promove o nascimento do sujeito, não o reconhece. É neste ponto que elaboraremos as
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abordagem da experiência na clínica. Buscaremos apoio na arte para desenvolver nossa reflexão. Escolhemos para tanto o filme The pillow book , dirigido por Peter Greenaway em 1996, como apoio a nossa investigação em torno da letra.
E, por fim, o capítulo quatro será o momento de interrogar o caso que deu origem à tese, confrontando-o com o dispositivo do passe, introduzido por Lacan na formação do analista. Trata-se de um artifício que serve fundamentalmente à transmissão da psicanálise a partir da experiência de análise, que poderíamos resumir como aquilo de que o analista dá testemunho em sua passagem de analisante à analista, como veremos. Cotejar estas duas dimensões da experiência clínica – a entrada e a saída de uma análise – foi a solução encontrada para interrogar e sublinhar a dimensão da letra na prática psicanalítica, apontando para novas perspectivas quanto aos ensinamentos que se pode extrair dos testemunhos daqueles que levam suas análises a termo.
O caso que orienta a tese foi acompanhado nos moldes de um acompanhamento individual, realizado ao longo de seis anos no ambulatório do Instituto de Psiquiatria. Interrogaremos o tratamento dessa paciente, que se apresenta a partir de um diagnóstico médico, compreendido dentro da medicina como uma doença psicossomática, o que constitui um campo bastante controverso, de contornos nada fáceis de cernir. Não nos deteremos nesta discussão. Pretendemos apresentar os efeitos do encontro de Linda com o dispositivo analítico, no que este se compõe do encontro com uma presença que encarna para o sujeito uma interrogação sobre seu modo de satisfação. O modo através do qual Linda estabelece seus laços com a vida nos revela as aparas com as quais faz corpo, escrevendo-o e reescrevendo-o, a partir das modalizações do gozo no curso do seu tratamento.
É a linguagem que cria hsing , a natureza [...] do ser falante. (Lacan, 1971/2009, p. 54)
O livro da natureza
O campo da experiência humana não pode ser pensado fora da perspectiva de que estamos num universo discursivo. Encontramos nas bases do que se denomina o corte epistemológico entre o conhecimento clássico e a episteme moderna a via de elaboração fundada numa perspectiva de leitura que circunscreveremos com Alexandre Koyré, uma referência fundamental à elaboração lacaniana. Trata-se de uma referência submetida por Lacan a “fins que lhe são alheios”, como afirma Milner (1995/1996, p. 9), pelos efeitos de uma leitura que conduzirá nossa discussão. Como veremos, Lacan tomará Koyré como apoio para introduzir uma leitura do conceito de sujeito que funda uma homologia entre a ciência e a psicanálise. Destacamos desde já que o eixo fundamental do pensamento de Koyré (1953/1991) que orienta a démarche lacaniana é o corte que incidirá sobre o modo de apreensão do mundo. A operação de matematização que Galileu introduz designará ao universo um novo desenho, cuja perspectiva introduzirá a leitura como via de acesso aos fenômenos.
A ruptura com o conhecimento antigo, baseado na imaginarização do universo, concebido em termos de modelos mentais desde Aristóteles, dá lugar a uma hipótese fundamental que orientará a ciência a partir de então: a natureza deve ser lida como um texto escrito em caracteres matemáticos. Como efeito dessa reorientação fundamental da leitura do mundo, a física-matemática produziu a possibilidade de uma abertura do mundo e de seus fenômenos às equações matemáticas, introduzindo uma exigência de leitura que se liga à pura abstração. A operação da ciência esvazia de significação todo o universo, introduzindo o vazio de sentido onde antes uma cosmologia fundada em características essenciais