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O CONTO AS FORMIGAS SOB O ENFOQUE DA SEMIÓTICA ..., Resumos de Semiótica

análise do conto de Lygia Fagundes Telles, As formigas. Palavras-chave: Semiótica francesa. Análise da narrativa. Contos. Abstract; A. J. Greimas French ...

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

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O CONTO AS FORMIGAS SOB O ENFOQUE DA SEMIÓTICA
GREIMASIANA
Jacy Marcondes Duarte
Resumo: A semiótica francesa de A. J. Greimas oferece para o professor de literatura um modelo eficaz
para a análise de narrativas, que pode tanto beneficiar o aluno como leitor de textos literários como futuro
professor. Com o objetivo de exemplificar a aplicação do modelo a um objeto literário, apresentamos a
análise do conto de Lygia Fagundes Telles, As formigas.
Palavras-chave: Semiótica francesa. Análise da narrativa. Contos.
Abstract; A. J. Greimas French semiotics presents to the literature professor an efficient model for the
narrative analysis, which can beneficiate the student not only as a literary texts reader, but as a future teacher.
Looking forward to exemplify the application of the model to a literary object, we present the analysis of
the story written by Lygia Fagundes Telles, As Formigas.
Keywords: French Semiotics. Narrative Analysis. Tales.
INTRODUÇÃO
Não é nosso objetivo nem a descrição exaustiva da teoria semiótica greimasiana nem a
discussão crítica de sua eficácia. O que pretendemos aqui defender é que os elementos teóricos
dessa linha de investigação podem ser de valia para o estudo literário, constituindo para o aluno de
Letras uma maneira de desvendar as estratégias discursivas que compõem a prosa. Acreditamos
que a “fruição” estética está ligada à capacidade analítica, e que cabe a nós professores fornecer ao
aluno instrumentos de análise para o desvendamento dos objetos literários.
Podemos entender a narrativa como um palco em que se apresentam vários actantes, que se
opõem ou se aliam de acordo com seus projetos ou desejos (objetos de valor e respectivos
programas narrativos). Há um percurso gerativo de sentido, composto por três instâncias: o nível
profundo ou fundamental, o nível narrativo e o nível discursivo. Fora do percurso, há o nível
textual ou de superfície, no qual analisam-se os recursos literários utilizados, como linguagem
figurada, recursos fônicos, vocabulário etc, nível este que tem merecido menos atenção dos
semióticos, já que a proposta da Semiótica é analisar e explicar os sentidos do texto, ou seja, os
mecanismos e procedimentos do Plano do Conteúdo, colocado sob a forma de um percurso
Doutora em Linguística pela USP Professora na Faculdade de São Paulo Centro Novo
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O CONTO AS FORMIGAS SOB O ENFOQUE DA SEMIÓTICA

GREIMASIANA

Jacy Marcondes Duarte Resumo: A semiótica francesa de A. J. Greimas oferece para o professor de literatura um modelo eficaz para a análise de narrativas, que pode tanto beneficiar o aluno como leitor de textos literários como futuro professor. Com o objetivo de exemplificar a aplicação do modelo a um objeto literário, apresentamos a análise do conto de Lygia Fagundes Telles, As formigas. Palavras-chave: Semiótica francesa. Análise da narrativa. Contos. Abstract; A. J. Greimas French semiotics presents to the literature professor an efficient model for the narrative analysis, which can beneficiate the student not only as a literary texts reader, but as a future teacher. Looking forward to exemplify the application of the model to a literary object, we present the analysis of the story written by Lygia Fagundes Telles, As Formigas. Keywords: French Semiotics. Narrative Analysis. Tales. INTRODUÇÃO Não é nosso objetivo nem a descrição exaustiva da teoria semiótica greimasiana nem a discussão crítica de sua eficácia. O que pretendemos aqui defender é que os elementos teóricos dessa linha de investigação podem ser de valia para o estudo literário, constituindo para o aluno de Letras uma maneira de desvendar as estratégias discursivas que compõem a prosa. Acreditamos que a “fruição” estética está ligada à capacidade analítica, e que cabe a nós professores fornecer ao aluno instrumentos de análise para o desvendamento dos objetos literários. Podemos entender a narrativa como um palco em que se apresentam vários actantes, que se opõem ou se aliam de acordo com seus projetos ou desejos (objetos de valor e respectivos programas narrativos). Há um percurso gerativo de sentido , composto por três instâncias: o nível profundo ou fundamental, o nível narrativo e o nível discursivo. Fora do percurso, há o nível textual ou de superfície, no qual analisam-se os recursos literários utilizados, como linguagem figurada, recursos fônicos, vocabulário etc, nível este que tem merecido menos atenção dos semióticos, já que a proposta da Semiótica é analisar e explicar os sentidos do texto, ou seja, os mecanismos e procedimentos do Plano do Conteúdo, colocado sob a forma de um percurso  (^) Doutora em Linguística pela USP – Professora na Faculdade de São Paulo – Centro Novo

gerativo. Nossa análise do conto de Lygia Fagundes Telles é focada no percurso gerativo de sentido. A escolha do conto As Formigas deve-se ao fato de termos realizado em sala de aula um trabalho de análise a partir de contos, com resultados bastante positivos: os alunos passaram a enxergar o conto com outro olhar, percebendo suas estratégias discursivas e efeitos de sentido. O conto em questão é um dos que foram trabalhados e não é longo. A narrativa conta a história de duas estudantes que, por necessidade, alugam um quarto no sótão de uma pensão decadente, onde passam três noites e do qual acabam fugindo às pressas, em função de acontecimentos insólitos (há no quarto um caixote com ossinhos de anão, deixado pelo morador anterior, e que vai sendo manipulado por formigas, as quais vão montando o esqueleto com ordenação perfeita, durante as noites). OS ACTANTES EM CENA (nível narrativo) Como actantes principais temos as duas moças (Sujeito 1), cujo objeto de valor é o quarto de pensão, ou seja, premidas pela necessidade econômica (Destinador delas) querem e devem morar naquele lugar, que é o único que podem pagar. Como objeto de valor secundário – muito secundário, mas pertinente – temos que a estudante de medicina declara que pretende montar o esqueleto do anão. Como anti-sujeito se configura na narrativa o Sujeito 2 – as formigas – que se contrapõe ao objeto de valor das moças (as moças acabam indo embora às pressas). O objeto de valor desse Sujeito 2 pode ser dividido em dois: primeiro, as formigas querem e devem montar o esqueleto do anão , tarefa à qual se dedicam cada noite. Em segundo lugar, um objeto de valor implícito, que é o de expulsar as moças do quarto. O Destinador das formigas – a razão que as move – não é também explicitado. A montagem do esqueleto está ligada à expulsão das moças, pois elas se sentem ameaçadas por essa atividade misteriosa das formigas e fogem da pensão. Como actantes secundários, elementos que ajudam ou atrapalham os sujeitos, temos o cheiro das formigas, a noite, o aspecto da pensão e da dona dela, que são adjuvantes das formigas e contribuem para assustar as moças; e o dia, o álcool, o sapato usado para matar as formigas, que são adjuvantes das moças.

encardidas, charutinho, tosse encatarrada, bruxa, saleta escura, atulhada de móveis velhos, palhinha furada, estreita escada - que favorecem a leitura na isotopia do insólito, do sobrenatural. b) as que descrevem a vida das moças – as malas, japona, gravura, lata de sardinha, pão, bolacha, chá, omelete, chocolate, urso de pelúcia, lâmpada de duzentas velas, álcool - que levam à isotopia da condição socioeconômica desfavorável (mostram os poucos haveres delas). c) as que descrevem o sujeito 2, as formigas – ruivas, pequenas, compactas, rápidas, inúmeras, disciplinadas, levava as mãos à cabeça, sacudia a cabeça (uma formiga) , cheiro ardido, trilha só de ida, trilha espessa - que também favorecem a isotopia do insólito. d) as que descrevem os ossos do anão no caixotinho - brancos, perfeitos, limpíssimos, miudinhos, brancura de cal, todos os dentinhos – levando-nos para o insólito, pois não há explicação razoável para tais características naquele ambiente, nem para o próprio anão (“ raro à beça”, na fala da estudante de medicina). O anão é o grande mistério, seus ossos limpos e brancos se contrapondo à obscuridade e sujeira próprias da pensão (“ agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho (p.37) ). Em torno desse mistério gravitam os outros elementos insólitos (as formigas), tristes (os móveis e o prédio velhos) e esquisitos (como a dona da pensão, chamada de bruxa pela estudante de medicina no final). O anão é o elemento insólito, que aparece também no sonho da estudante (“ No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto (p.37) ”). As figuras, portanto, em sua maioria recobrem temas (elementos abstratos, explícitos ou subjacentes) que têm a ver com o eixo semântico natural x sobrenatural: velhice, tristeza, pobreza, decadência, mistério, obscuridade, inexplicável, encaminhando o leitor inevitavelmente à percepção de que algo sobrenatural está ocorrendo no quarto de pensão e possivelmente pondo em perigo as moças.

O espaço no conto é sempre fechado, o quarto de pensão. As moças saem, estudam, vão a uma festa, mas isso nos é apenas informado; é só no quarto que há ação, tudo acontece lá. Dito de outro modo, o espaço aberto é apenas mencionado, e o quarto encerra as protagonistas, prende-as, constituindo parte da ameaça misteriosa que vai se construindo durante o conto. O tempo na narrativa é cronológico (três noites). Tudo acontece à noite, inclusive a chegada das moças à pensão e a fuga delas. OS EPISÓDIOS DA NARRATIVA É possível dividirmos as narrativas em episódios; toda vez que há uma transformação de estado, temos um episódio. No conto de Lygia, é possível utilizarmos a divisão em episódios como marca das fases do embate entre o Sujeito 1 (as moças) e o Sujeito 2 (as formigas). Para isso, dividimos a narrativa com base em disjunções temporais. Antes da divisão, é importante lembrar que a narrativa como um todo está marcada pela oposição espaço aberto/fechado: Situação inicial Chegada das moças à pensão (do espaço aberto p/o fechado) transformação Montagem do esqueleto (no espaço fechado) Situação final Saída das moças (do fechado p/o aberto) Passemos aos episódios: 1º - ocupação do quarto S’..................................... T ......................................S” Disjunção c/o quarto conversa c/a dona Conjunção c/o quarto (S’ = situação inicial; T = transformação; S” = situação final) Nesse primeiro episódio, há a conquista pelo S1 (as moças) do seu objeto de valor: elas conseguem um quarto barato para morarem. As moças vencem (sujeito glorificado). Quanto à marcação temporal, é noite quando se apossam do quarto. Há um deslocamento espacial das moças (de fora para dentro). 2º - aparecimento das formigas S’........................................ T ......................................S”

OBSERVAÇÕES FINAIS

Através da desmontagem analítica feita através dos elementos semióticos, o conto As formigas nos mostra como estão bem imbricados o tempo, o espaço e a ação, nessa pequena narrativa. É a velha história do desconhecido, sobrenatural, surreal influenciando a vida das pessoas: um dos grandes medos arquetípicos do ser humano é justamente o “além” e os elementos a ele relacionados. O conto ilustra muito bem esse medo: quando o comportamento das formigas sai do “natural” e passa para o outro polo, o “sobrenatural”, as moças desistem de lutar contra os bichos e também desistem de entender a situação. Desmontando o conto, percebemos sua arquitetura, que nos parece muito bem planejada: o paralelismo entre a marcação temporal (as noites), a recorrência espacial (espaço fechado) e as ações de ambos os sujeitos. Somem-se a isso os elementos descritivos, como as figuras, que compõem um cenário adequado a acontecimentos insólitos, como formigas inteligentes capazes de montar um raro esqueleto de anão. Será que eram formigas mesmo? E o anão, representa o quê, na verdade? Acaba a história, não acaba o mistério. REFERÊNCIAS BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto , São Paulo:Ática, 2003. EVERAERT-DESMEDT, Nicole. Semiótica da narrativa. Coimbra:Almedina, 1984 FIORIN, José Luís. Elementos de análise do discurso. São Paulo:Contexto, 2000 TELLES, Lygia Fagundes. As formigas. In: Venha ver o pôr-do-sol e outros contos. São Paulo:Ática, 1988, p.35-42. Recebido em: 03/10/ Aprovado em: 15/01/