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Esta brochura, escrita por inês duarte com a colaboração de madalena colaço, maria joão freitas e anabela gonçalves, aborda a importância do conhecimento lexical no sucesso escolar e descreve os aspectos envolvidos no conhecimento das palavras da língua portuguesa. Além disso, apresenta uma série de propostas de atividades relacionadas ao trabalho sobre o léxico.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Inês Duarte
Colaboração Madalena Colaço Maria João Freitas Anabela Gonçalves
Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular Lisboa/
Inês Duarte
Colaboração Madalena Colaço Maria João Freitas Anabela Gonçalves
Dificuldades associadas ao enriquecimento do capital lexical
Componentes essenciais do ensino orientado para o enriquecimento
Estrutura sonora das palavras e sua relação com a forma ortográfica:
Introdução
Nesta brochura, aborda-se a importância do conhecimento lexical no sucesso escolar (secção 1) e descrevem-se sinteticamente os aspectos envolvidos no conhecimento das palavras da nossa língua (secção 2). Depois de se referirem, na secção 3, algu- mas das dificuldades associadas ao ensino orientado para o enriquecimento do capital lexical e para a promoção da consciência lexical, enunciam-se, na secção 4, aspectos essenciais a ter em conta na programação de actividades dirigidas a estes dois objectivos. A secção 5 contém exemplos do que deve constar no catálogo de recursos a construir com os alunos. Estas secções são da autoria de Inês Duarte.
As restantes secções apresentam propostas de actividades dirigidas a vários aspec- tos a considerar no trabalho a desenvolver sobre o léxico com os alunos.
Na secção 6, exemplificam-se actividades focalizadas no formato fonológico das palavras e na relação entre este e o respectivo formato ortográfico. Utilizam-se neste capítulo símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, que pode ser consultado na brochura O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica, como indicação para o professor de que, nas actividades em questão, deve ser pri- vilegiado o formato fónico das palavras e não o seu formato ortográfico. As activi- dades deste capítulo são da autoria de Maria João Freitas.
A secção 7 apresenta exemplos de actividades centradas na estrutura interna das palavras. Estas actividades foram elaboradas por Madalena Colaço, Maria João Freitas e Anabela Gonçalves.
As actividades contidas na secção 8 trabalham vários aspectos do significado das palavras e são da autoria de Madalena Colaço, Inês Duarte e Anabela Gonçalves.
Nas secções 9 e 10, da autoria de Madalena Colaço e Anabela Gonçalves, explo- ram-se aspectos sintácticos das frases simples.
Por sua vez, a secção 11 apresenta actividades focalizadas nas relações de coesão que se estabelecem entre frases. São suas autoras Madalena Colaço, Inês Duarte e Anabela Gonçalves.
Finalmente, a secção 12, da autoria de Inês Duarte, contém exemplos de elabo- ração de mapas conceptuais, actividade que desempenha um papel importante na compreensão da leitura e na preparação para a escrita.
Introdução
Capital lexical e consciência lexical:
um factor de (in)sucesso escolar
As palavras são instrumentos extremamente poderosos: permitem-nos aceder às nossas bases de dados de conhecimentos, exprimir ideias e conceitos, aprender novos conceitos. É por isso fácil de compreender que exista uma correlação forte entre sucesso escolar e capital lexical (i.e., o conjunto organizado de palavras que conhecemos e usamos). Com efeito, quanto menor é o capital lexical de um falante, tanto mais penoso é o processo de leitura e tanto menor é o seu desempenho na compreensão da leitura.
Um estudo realizado nos Estados Unidos (Snow, Barnes, Chandler, Goodman & Hemphill, 1992) mostrou que, até à entrada na escola, os filhos de profissionais diferenciados são expostos a mais 50% de palavras do que os filhos de trabalha- dores manuais e ao dobro das palavras dos filhos de famílias que recebem subsídio de desemprego.
Ora, crianças com um capital lexical reduzido não conseguem atribuir significado ao que lêem, pelo que a leitura é para elas um processo penoso e não compensador. Assim, lêem cada vez menos e, portanto, não conseguem aprender palavras novas através da sua repetição num grande número de textos. Esta situação, conhecida na literatura como um dos Efeitos de Mateus (quer dizer, uma situação em que a interacção com o contexto aumenta as diferenças individuais), pode ser sintetizada da seguinte maneira:
O capital lexical é igualmente um factor determinante da qualidade da escrita. Com efeito, quanto maior for, tanto maiores são os recursos disponíveis para seleccionar vocabulário preciso e para evitar repetições lexicais.
Crianças com maior capital lexical à partida lêem mais, tornam-se cada vez melhores leitores, aumentam através da leitura o seu capital lexical. Pelo contrário, crianças com capital lexical reduzido à partida lêem menos, tornam-se cada vez piores leitores, pelo que não aumentam o seu capital lexical através da leitura.
Apresenta-se na figura 1 o modelo conceptual que representa as inter-relações entre conhecimento lexical, compreensão da leitura e qualidade da produção escrita.
Figura 1 – Modelo conceptual que inter-relaciona conhecimento lexical, compreensão de leitura e qualidade da produção escrita
Adaptado de Lubliner & Smetana 2005.
Neste modelo, factores socioeconómicos ( e.g., nível de escolarização dos pais, material impresso que existe em casa), conhecimento prévio sobre o mundo (con- dicionado, por exemplo, pela riqueza das interacções com adultos e pelo acesso a manifestações culturais) e variedade linguística de origem das crianças determi- nam o capital lexical com que entram na escola. Este capital lexical influencia e é influenciado pelo volume de leituras e pelo nível atingido na compreensão da lei- tura. Por sua vez, capital lexical, volume de leituras e nível atingido na compreen- são da leitura são factores que favorecem a qualidade da produção escrita, a qual, por sua vez, tem efeitos positivos na compreensão da leitura. Finalmente, o ensino explícito do léxico colmata as limitações do capital lexical de partida e “desenca- deia a espiral ascendente que conduz ao sucesso escolar” (Lubliner & Smetana 2005: 10).
A visibilidade dada no PNEP à promoção do desenvolvimento do capital lexical das crianças e ao desenvolvimento, concomitante, da sua consciência lexical 1 , constitui uma resposta ao desajuste entre a relevância, demonstrada pela investigação, que esta área do conhecimento e do uso da língua tem no sucesso escolar e a pouca importância que lhe tem sido dada no nosso sistema educativo.
Ensino explícito do léxico
Capital lexical
Conhecimento prévio
Domínio do português padrão
Factores socioeconómicos
Volume de leituras
Compreensão de leitura
Produção escrita
Capital lexical e consciência lexical: um factor de (in)sucesso escolar
(^1) A consciência lexical é o tipo de consciência linguística que diz respeito ao conhecimento das propriedades das palavras que integram o nosso capital lexical. Sobre o conceito de consciência linguística, ver a brochura O Conhecimento da Língua: desenvolver a consciência linguística.
A complexidade envolvida
no conhecimento das palavras
Todos temos consciência da complexidade envolvida no conhecimento de cada pala- vra. Assim, para um falante escolarizado do português, saber a palavra mesa signi- fica conhecer intuitivamente a sua forma fónica (neste caso, [’mezɐ]), a sua forma gráfica (
(1) 1. Móvel formado por uma placa horizontal (tampo) assente sobre bases verticais (pernas), sobre o qual se podem colocar objectos ou realizar várias actividades. (…) 2. Qualquer desses móveis onde se dispõem os alimentos, às refeições. A comida já está na ~! (…). 3. O conjunto dos ali- mentos. (…) A casa tem uma ~ muito farta. (…). 4. Conjunto de pessoas que se sentam na mesma mesa. Uma ~ muito animada. 5. Conjunto das pessoas que dirige um acto ou preside a uma assembleia. A ~ do júri. (…).
É claro que a maioria das crianças que entram no 1.o^ ano de escolaridade apenas conhecem aspectos parciais da palavra mesa. Concretizando: ii(i) sabem a sua forma fónica, mas não a gráfica;
i(ii) conhecem os significados indicados em 1. e 2. na entrada de dicionário acima transcrita;
(iii) provavelmente, não conhecem os significados indicados em 3. a 7.
No 1.o^ ciclo, aprenderão a forma gráfica da palavra e serão, porventura, confronta- das com discursos orais e com textos escritos em que mesa ocorra com alguns dos significados indicados em 3. a 7.
Quando pensamos no significado de matar/assassinar, verificamos que o podemos parafrasear por “alguém ou algo causou que alguém deixasse de estar vivo”. Assim, para construir uma frase com matar/assassinar, é necessário escolher uma expres- são com o papel de causador da morte (o sujeito da frase activa) e outra com o papel de entidade morta (o complemento directo da frase activa). Contudo, matar e assassinar distinguem-se quanto ao tipo de causador que exigem: enquanto matar aceita que o causador tenha causado a morte intencional ou involuntariamente, assassinar exige que ele tenha tido a intenção de matar. Por isso, só metaforica- mente aceitamos (6a), uma vez que a nossa cultura não atribui a fenómenos da natureza como “erupções do Vesúvio” vontade e intencionalidade; por isso, também sentimos que expressões como (6b) contêm um pleonasmo, pois o advérbio repete o significado já contido no significado do verbo; por isso, finalmente, consideramos anómalas expressões como (6c), porque o advérbio contradiz a intencionalidade codificada no significado do verbo:
(6) a. A erupção do Vesúvio matou intencionalmente os habitantes de Pompeia.
b. O réu assassinou deliberadamente quatro jovens. c. * O réu assassinou involuntariamente quatro jovens.
Inversamente, consideramos bem formadas expressões como (7), uma vez que o papel de causador atribuído por matar deixa em aberto se o acto foi ou não inten- cional:
(7) a. O réu matou deliberadamente quatro jovens.
b. O réu matou involuntariamente quatro jovens.
Faz ainda parte do conhecimento que temos das palavras outra condição que alguns itens impõem ao contexto em que podem ocorrer. Decorrente do seu significado e dos papéis semânticos que distribuem às expressões com que se constroem, alguns itens exigem que os seus argumentos refiram entidades com certas propriedades semânticas. Exemplificando, um verbo psicológico como aterrorizar exige que a expressão nominal que ocorre numa frase activa com a função de complemento directo designe uma entidade animada ou humana, como em (8a). A estranheza de uma frase como (8b) deve-se ao facto de o violento sismo não designar uma enti- dade animada nem humana, pelo que não conseguimos interpretá-la como descri- ção de uma situação do mundo real. Somos, por isso, forçados a interpretá-la como relativa a um universo fictício, em que forças da natureza sejam dotadas das pro- priedades que atribuímos aos animais e aos seres humanos:
(8) a. O violento sismo aterrorizou os habitantes da região. b. Os habitantes da região aterrorizaram o violento sismo.
A complexidade envolvida no conhecimento das palavras
O nosso conhecimento das palavras envolve ainda uma outra dimensão, a da sua estrutura interna. Com efeito, uma das razões pelas quais temos um capital lexical tão rico e aprendemos rapidamente e sem esforço palavras novas reside no facto de muitas palavras terem elementos comuns. Perante formas como útil, utilidade, utilizar, reconhecemos nas duas últimas a palavra-base (o radical) útil; em utili- dade reconhecemos o sufixo -dade, que encontramos em palavras como igualdade, liberdade, normalidade, e que sabemos implicitamente que permite formar nomes a partir de adjectivos; por sua vez, em utilizar, reconhecemos o sufixo -izar, pre- sente em palavras como atomizar, radicalizar, visualizar, que sabemos implicita- mente que permite formar verbos a partir de nomes e de adjectivos. Do mesmo modo, identificamos em formas como pensar, repensar, compensar, recompensar, a mesma palavra-base, pensar; em repensar, detectamos o prefixo re-, que se encontra igualmente em palavras como reaver, reencontrar, reviver; na palavra compensar, reconhecemos o prefixo com(/n)-, que ocorre também em palavras como conformar, comprometer, conviver; já em recompensar, identificamos a pre- sença dos dois prefixos, com(/n)- e re-.
Por sermos falantes do português, sabemos implicitamente que unidades menores do que as palavras como os sufixos e os prefixos acima ilustrados têm significado e contribuem para formar novas palavras, através de regras que também conhece- mos intuitivamente. Este conhecimento é crucial quando ouvimos ou lemos pala- vras novas, pois podemos inferir o significado de algumas delas a partir do conhe- cimento dessas unidades e das regras da sua combinação.
Muitas palavras portuguesas são constituídas não só por radicais e sufixos ou prefi- xos com significado lexical, mas também por sufixos com significado estritamente gramatical. É o que acontece, por exemplo, com a maioria dos nomes comuns e dos adjectivos, variáveis em número (e por vezes também em género), e com os verbos, variáveis em tempo, modo, aspecto, pessoa e número. Assim, uma palavra como gato pode ocorrer em quatro formas, que combinam os valores de número singular vs. plural e de género masculino vs. feminino, enquanto uma palavra como cantar pode ter 65 formas diferentes, que combinam diferentes valores de tempo, modo, aspecto, pessoa e número.
Deste modo, o conhecimento de prefixos e de sufixos de valor lexical e gramatical e das suas regras de combinação com radicais habilita-nos a reconhecer e a integrar no nosso capital lexical um sem número de palavras e de formas de palavras. Esta capacidade revela-se muito cedo em produtos de criatividade lexical das crianças, que formam constantemente palavras conformes com as regras da língua, como nos exemplos reais abrancado (por esbranquiçado ), desvestir (por despir ), quentar (por aquecer ), e na regularização de paradigmas flexionais irregulares, como nos exemplos muito frequentes * papeles, * dizi, * fazi.
A complexidade envolvida no conhecimento das palavras
Dificuldades associadas ao enriquecimento
do capital lexical e ao desenvolvimento
da consciência lexical
Um programa consistente visando o enriquecimento do capital lexical das crianças e o desenvolvimento da sua consciência lexical enfrenta várias dificuldades.
A primeira delas é a diferença entre oral e escrito. Todos sabemos que o léxico que os adultos escolarizados utilizam na conversa espontânea é menos rico e variado do que o que se encontra, por exemplo, num livro de histórias para crian- ças. É provável que, à entrada na escola, muitas crianças não tenham como parte do seu capital lexical (oral) verbos como iludir ou resgatar, nomes como califa ou mago, adjectivos como hercúleo ou viscoso , conectores como contrariamente a, não só… mas também. Assim, a tarefa de decifração em que se encontram envolvi- das nas etapas iniciais da aprendizagem da leitura é dificultada, porque a palavra penosamente decifrada não corresponde a nenhuma entrada do seu dicionário mental.
Outra das dificuldades reside na dimensão da tarefa. De acordo com Biderman (2002), apud Bortoni-Ricardo (2007) 2 , o léxico de línguas de cultura como o portu- guês ultrapassará as 500 000 palavras. Dicionários recentes do português conterão, de acordo com esta lexicógrafa, os seguintes números de entradas: ii(i) Academia das Ciências de Lisboa: 60 000;
i(ii) Aurélio: 130 000; (iii) Houaiss: 230 000.
Biemiller (2007), baseado em investigação desenvolvida por si próprio e por outros autores, estima que, no final do 2.o^ ano de escolaridade, uma criança normal saiba cerca de 6000 palavras (a contagem inclui palavras homónimas mas não, eviden- temente, formas de palavras), número que atingirá 10 000 no final do 6.o^ ano de escolaridade.
(^2) BORTONI-RICARDO S.M. (2007). Compreensão da leitura: da palavra ao texto. In: Guimarães, Eduardo; Mollica, Maria Cecília. (Orgs.). A palavra: forma e sentido: 99-107. Campinas, SP: Pontes Editores.