Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE NO PERÍODO ..., Notas de aula de Direito

militares paranaenses da 5aRegião Militar e da Força Estadual Paranaense; c) o período de 1930-1945 ... Manoel Ferreira Ribas nasceu em Ponta Grossa.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Samba_Forever
Samba_Forever 🇧🇷

4.6

(172)

224 documentos

1 / 10

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE
NO PERÍODO DE 1930 A 19451
Ricardo Costa de Oliveira
Universidade Federal do Paraná
RESUMO
Procuramos faz er no presente artigo alguns a pontam entos sobre a po lítica pa ranae nse no perí odo 1930-
1945. Nossas investigações mostraram que: a) o Paraná foi um nú cleo ativo e um destacado pro tagonis ta
da Revolução de 1930; b) a m aior pa rte das fo rça s op eracio nais na frent e de São Paulo eram unidades
militares paranaense s da 5aRegiã o Militar e da Força E stadu al Paranaense; c) o período de 1930-1945
caracterizou-se por um p adrã o de continuidade dos grupo s tradicion ais da classe dominante no poder
local; d) havia uma conver gência entre e sta elite po lític a local e o processo de m odernização do Estado e
da socieda de que caracterizou a política varguista; e) no plano econ ômico, inicia-se uma nova orienta ção
industrial e se estru tura o norte cafeeiro com elem entos paulistas; e f há, a partir de então, uma maior
influência de m ilitares do Exérc ito e de ga úchos na po lítica paranaense.
PALAVRAS-CHAVE: política parana ense (1930-1945); Revoluç ão de Trinta; Estado N ovo (1937-1945).
I. INTRODUÇÃO
O movimento político de 1930 no Paraná
apresentou difereas com as rupturas políticas
anteriores provenientes do Rio Grande do Sul. Em
1838, na revolta Farroupilha, e em 1894, durante
a Revolução Federalista, as forças revolucionárias
meridionais pararam no território paranaense. A
incapacidade de atravessar o estado -las perder
o momento certo da operação militar, tomando
impossível selar as alianças necessárias no centro
do País, restando aos revoltosos o isolamento e a
derrota.
Em 1930, a Revolução contou com grande
apoio do Paraná. Forças militares federais sediadas
no estado deram significativo apoio ao movimento.
A participão e o envolvimento de importantes
gmpos de apoio no estado do Para, ao lado da
grande movimentação política nacional, cola
boraram na vitória do movimento revolucionário.
Pela primeira vez na história política nacional, um
regime político centrado no Rio de Janeiro foi
1 Este trab alho foi produzi do a pa rtir de dados
obtidos em pesquisas para a nossa Tese de Doutorado
em Ciências Sociais, O silên cio dos vencedores.
Estado e classe dominante no Paraná (1853-1930),
a ser defendida na Universida de E sta dua l de
Campinas.
derrotado pelas periferias rebeldes. O isolamento
e a falta de sustentação popular do Presidente
Washington Luís e as primeiras seqüelas da crise
de 1929 aprofundaram a insatisfação geral. A
cio e as diverncias entre diferentes frações
da classe dominante e a crise do regime potico
da República Velha foram as causas da Revolução
de 1930.
II. A PARTICIPAÇÃO MILITAR DO PARANÁ
NAREVOLUÇÃO DE 1930
No Para, a Revolução de 1930 começou com
uma articulação político-militar feita pelo Major
Plínio Alves Monteiro Tourinho. O major Plínio
Tourinho era paranaense, Oficial engenheiro do
Exército, professor de astronomia da Universidade
do Paraná e ligado por parentesco a famílias
tradicionais do estado (família Alves, por parte de
mãe).
Desde julho de 1929 se articulavam os prepara
tivos para montar um movimento que teria apoio
no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e na
Paraíba. Contatos foram feitos entre a oficialidade
das principais unidades da 5 a Região Militar (Paraná
e Santa Catarina). Havia simpatizantes no 15°
Batalhão de Caçadores, no 9o Regimento de
Artilharia Montada, no IV/5RCD Esquadrão de
Cavalaria e no 5o Grupo de Artilharia, todos
localizados em Curitiba (Sede do Comando da
47
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa

Pré-visualização parcial do texto

Baixe NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE NO PERÍODO ... e outras Notas de aula em PDF para Direito, somente na Docsity!

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE

NO PERÍODO DE 1930 A 19451

Ricardo Costa de Oliveira

Universidade Federal do Paraná

RESUMO

Procuramos fazer no presente artigo alguns apontamentos sobre a política paranaense no período 1930-

1945. Nossas investigações mostraram que: a) o Paraná foi um núcleo ativo e um destacado protagonista da Revolução de 1930; b) a maior parte das forças operacionais na frente de São Paulo eram unidades militares paranaenses da 5aRegião Militar e da Força Estadual Paranaense; c) o período de 1930- caracterizou-se por um padrão de continuidade dos grupos tradicionais da classe dominante no poder local; d) havia uma convergência entre esta elite política local e o processo de modernização do Estado e da sociedade que caracterizou a política varguista; e) no plano econômico, inicia-se uma nova orientação industrial e se estrutura o norte cafeeiro com elementos paulistas; e f há, a partir de então, uma maior influência de militares do Exército e de gaúchos na política paranaense.

PALAVRAS-CHAVE: política paranaense (1930-1945); Revolução de Trinta; Estado Novo (1937-1945).

I. INTRODUÇÃO

O movimento político de 1930 no Paraná apresentou diferenças com as rupturas políticas anteriores provenientes do Rio Grande do Sul. Em 1838, na revolta Farroupilha, e em 1894, durante a Revolução Federalista, as forças revolucionárias meridionais pararam no território paranaense. A incapacidade de atravessar o estado fê-las perder o momento certo da operação militar, tomando impossível selar as alianças necessárias no centro do País, restando aos revoltosos o isolamento e a derrota. Em 1930, a Revolução contou com grande apoio do Paraná. Forças militares federais sediadas no estado deram significativo apoio ao movimento. A participação e o envolvimento de importantes gmpos de apoio no estado do Paraná, ao lado da grande movimentação política nacional, cola boraram na vitória do movimento revolucionário. Pela primeira vez na história política nacional, um regime político centrado no Rio de Janeiro foi

1 Este trabalho foi produzido a partir de dados obtidos em pesquisas para a nossa Tese de Doutorado em Ciências Sociais, O silêncio dos vencedores. Estado e classe dominante no Paraná (1853-1930), a ser defendida na Universidade Estadual de Campinas.

derrotado pelas periferias rebeldes. O isolamento e a falta de sustentação popular do Presidente Washington Luís e as primeiras seqüelas da crise de 1929 aprofundaram a insatisfação geral. A cisão e as divergências entre diferentes frações da classe dominante e a crise do regime político da República Velha foram as causas da Revolução de 1930. II. A PARTICIPAÇÃO MILITAR DO PARANÁ NAREVOLUÇÃO DE 1930 No Paraná, a Revolução de 1930 começou com uma articulação político-militar feita pelo Major Plínio Alves Monteiro Tourinho. O major Plínio Tourinho era paranaense, Oficial engenheiro do Exército, professor de astronomia da Universidade do Paraná e ligado por parentesco a famílias tradicionais do estado (família Alves, por parte de mãe). Desde julho de 1929 se articulavam os prepara tivos para montar um movimento que teria apoio no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e na Paraíba. Contatos foram feitos entre a oficialidade das principais unidades da 5a Região Militar (Paraná e Santa Catarina). Havia simpatizantes no 15° Batalhão de Caçadores, no 9o Regimento de Artilharia Montada, no IV/5RCD Esquadrão de Cavalaria e no 5o Grupo de Artilharia, todos localizados em Curitiba (Sede do Comando da

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE DE 1930 A 1945

RM). O 13° Regimento de Infantaria de Ponta Grossa também contava com simpatizantes deste movimento. A unidade de Palmas, o 5o Batalhão de Engenharia e o 13° Batalhão de Caçadores, de Porto União, seguiram com o movimento revolu cionário. A Polícia Estadual do Paraná também aderiu. No dia 5 de outubro, os revolucionários já tinham ocupado o poder no estado. Dois generais estavam presos e o Presidente Affonso Camargo fugira para o litoral na direção de São Paulo (TOURINHO, 1990: 575-580). Com a vitória, Curitiba viveu uma intensa festa cívica nas ruas centrais. O apoio popular ao mo vimento foi grande. Velhos políticos dissidentes do Partido Republicano Paranaense, então apoiadores da Aliança Liberal, como o Coronel Joaquim Pereira de Macedo e o Coronel Ottoni Maciel, ao lado de estudantes, funcionários públi cos, profissionais liberais, comerciantes e membros das nascentes classes média e trabalhadora de Curitiba, promoveram grande agitação política e prepararam a formação de batalhões revolu cionários (PILOTO, 1982: 57-69).

O Paraná teve um papel estratégico muito grande na vitória da Revolução. A rota ferroviária para São Paulo estava aberta. As extensas pontes sobre os rios Iguaçu e Negro estavam incólumes. Se fossem destruídas, poderiam atrasar em meses o deslocamento logístico e militar das tropas gaúchas da 3a Região Militar, dando grande fôlego para a resistência no Catete. Os legalistas contavam apenas com o apoio do 5o Regimento de Cavalaria Divisionária de Castro, sem um esquadrão, que ficava em Curitiba e apoiava o movimento. Em Florianópolis, o General Nepomuceno Costa, enviado pelo Catete para comandar a RM, desem barcou tropas de Fuzileiros Navais que deveriam garantir a situação legal no litoral catarinense. A ordem de combate dos revolucionários era clara. Na frente de Santa Catarina, no dia 10 de outubro, as vanguardas revolucionárias do 13° BC ocupariam a cidade de Joinville. Com poucas escaramuças, os legalistas se renderam, inclusive os Fuzileiros Navais, enviados às pressas para a área. Muitos desejavam se integrar ao movimento em curso e foram destacados para o 5o BE que seguia para Ribeira. O prefeito Ulysses Costa foi deposto, assumindo o Dr. Plácido Olympio de Oliveira. No dia 18, o 14° BC, localizado em Biguaçu, aderiu à Revolução. O Comandante das Forças Revolucionárias, Plínio Tourinho, nomeara o Tenente-Coronel Arnoldo Mancebo como

Governador Provisório de Santa Catarina, no dia 14 de outubro. Os legalistas ficaram então encur ralados na Ilha de Florianópolis. Na frente de São Paulo, seguiram, a partir do dia 6 de outubro, o 13° RI, duas Companhias do 15° BC (uma das companhias estava em operações no norte de Santa Catarina, depois se reunindo na linha de Itararé com a sua unidade), o 9o RAM, o 5o GAM, o IV/5 RCD, o batalhão de infantaria e o esquadrão de cavalaria da Força Estadual do Paraná. O General Miguel Costa, que no dia 4 deste mês havia chegado com soldados pela ferrovia desobstruída entre Ponta Grossa e Santa Maria, assumiu o comando da coluna. No dia 16 de outubro estabeleceu-se a frente de combate entre as unidades paranaenses mais o 8o RI, vindo do Rio Grande do Sul, e os defensores do norte, o 4o BC, o 5o RCD, um grupo do 4o RAM, um batalhão da Força Paulista e um batalhão de legionários. A superioridade das forças da Revolução era de cerca de 4 200 homens contra 2 400 legalistas (TOU- RINHO, 1980: 63). As manobras de envolvimento começaram com a tomada da fazenda de Mo- rungava. Os defensores se apoiavam nas vantagens naturais das escarpas de Itararé. Duas outras colunas avançavam pela Capela do Ribeira e pelo Varadouro, na direção do litoral norte. A mobilização de tropas gaúchas enfrentava à distância as debilidades de comunicações e a falta de capacidade logística para a condução de uma campanha a centenas de quilômetros de suas sedes de unidade. Sua movimentação por União da Vitória foi descrita por Cleto da Silva (1933). Os poucos dias de duração da crise revolucionária foram um fator determinante para a organização da campanha militar da Revolução de 1930 no sul. As principais forças operacionais no ataque a São Paulo eram as unidades militares paranaenses da 5a Região Militar mais a Força Estadual Paranaense. A direção civil-militar gaúcha passa a dirigir as operações a partir do Paraná. No dia 16 de outubro Getúlio Vargas chegava ao Paraná. No dia 20 desembarcava apoteoticamente em Curitiba. A partir de 23 de outubro, o quartel-general da Revolução seria Ponta Grossa. A direção do movi mento contava com a Casa Civil do Presidente Getúlio Vargas, comum Estado-Maior Civil, outro militar, um Estado-Maior do Comando Geral, o Estado-Maior do general Flores da Cunha, aquele do Dr. João Neves da Fontoura e elementos de infra-estrutura compostos de dezenas de políticos e militares (TOURINHO, 1980: 334-335). No dia

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE DE 1930 A 1945

neto do Brigadeiro Manoel Ferreira Ribas, descendente dos fundadores de Pitangui-Ponta Grossa. O grupo de parentesco dos descendentes de Manoel Ribas e de sua irmã, Maria da Conceição Ribas Vauthier, casada com o engenheiro Gustavo Vauthier — que conseguiu o emprego de Manoel na Ferrovia São Paulo-Rio Grande — abrange o seguinte conjunto de nomes de tradição política no Paraná: Lupion, Fontana, Macedo, Oliveira Franco, Hauer, Erichsen, Maciel, Lacerda e Guimarães (ALBUQUERQUE, 1994: 20-23). A vinculação de Ribas com os grupos tradi cionais da classe dominante paranaense pode ser aferida de diversas maneiras. O seu Secretário de Fazenda e substituto no comando do Executivo estadual durante certo período foi João de Oliveira Franco (1939-1942). Igualmente, Rivadávia Fonseca de Macedo foi Interventor interino em 1932 e Secretário de Fazenda, sendo posterior mente Presidente do Banco do estado do Paraná.

Outro sinal da conservação de interesses tradicionais da classe dominante paranaense no período de 1930-1945, pode ser constatada através da presença de membros das famílias que detinham o poder no Paraná desde o século XVII em cargos importantes. Portanto, neste período não ocorreram rupturas significativas desse status quo. A análise dos ocupantes da Secretaria de Justiça revela que entre dez deles, oito pertenciam a famílias históricas paranaenses com ascendentes e redes de parentescos estabelecidas no poder desde o século XVIII (João Ribeiro de Macedo Filho, João David Pemetta, Clotário de Macedo Portugal, Catão Mena Barreto Monclaro, Francisco Martins Franco, Eurípedes Garcês do Nascimen to, Oscar Borges de Macedo, Manoel Lacerda Pinto, ficando de fora Ornar da Motta e o gaúcho Capitão Fernando Flores). O Procurador-Geral da Justiça era Brasil Pinheiro Machado e o Presidente do Tribunal de Justiça era Clotário de Macedo Portugal (que assumiu o poder com a queda de Manoel Ribas e do Estado Novo em 03/11/1945). O empresariado reunido na Associação Comercial do Paraná no período de 1931-1945 teve como Presidentes: Rivadávia Macedo (1931-1933 e 1939-1946), Arcésio Guimarães (1933-1937) e João Viana Seiler (1937-1939), todos com redes de parentesco enraizadas no poder paranaense desde o século XVIII. A Federação das Indústrias do Paraná (FIEP) teve como primeiro Presidente Heitor Stockler de França (1944-1958), com vínculos de parentesco que remetiam à fundação

de Curitiba no século XVII. Todos eram figuras representativas de tradicionais setores da classe dominante paranaense com raízes no séculos passados. O papel da Igreja também revela a perspectiva conservadora e a defesa da ordem. Ribas trouxe como Arcebispo Metropolitano de Curitiba Dom Ático Euzébio da Rocha. Era seu conhecido e de Vargas como Bispo de Santa Maria na década de vinte. A presença do religioso baiano no Paraná revela as preocupações políticas e as ligações de Ribas com a esfera religiosa tradicional. Dom Ático teria um papel ativo na campanha de nacionalização do clero estrangeiro no estado (BENEVIDES, 1991: 18). Durante a crise de julho de 1932, Manoel Ribas garante a posição paranaense pró-Vargas, cola borando no isolamento e derrota do Movimento Constitucionalista de 1932 em São Paulo. Houve algum apoio e simpatias do Paraná pela posição de São Paulo pró-constituição (cf. TOURINHO, 1991: 343 e KARAM, 1933), mas foram minoritários. V. A ELITE POLÍTICA PARANAENSE PÓS- 1930 Nas eleições de maio de 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte foram eleitos (cf. TOU- RINHO, 1991: 180): o General Raul Munhoz (PSD), que renunciou, assumindo Idálio Sar- denberg, militar de origem curitibana (NICOLAS, s/d: 99); Manoel Lacerda Pinto (PSD), nascido na Lapa em 1893 e Bacharel em Direito por São Paulo; Antonio Jorge Machado Lima (PSD), filho de Vicente Machado, Chefe do Executivo e um dos maiores nomes da política paranaense do começo da República. Antonio nasceu em Ponta Grossa em 1886, era Bacharel em Direito por São Paulo e estava na dissidência das forças hege mônicas do Partido Republicano Paranaense desde 1914, inclusive na Reação Republicana e na Aliança Liberal. Fundou o jornal A Tarde. Com a Revolução de 1930, foi Diretor Geral do Ensino. Membro fundador do Partido Social Democrático, do qual foi líder, foi Presidente da Comissão de Agricultura, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados e Senador, tendo sido também eleito em 2 de fevereiro de 1935 pela Assembléia Constituinte do estado do Paraná; Plínio Tourinho elegeu-se pelo Partido Liberal, apesar de não ter contado com o importante apoio da Igreja por defender o divórcio e a separação entre educação pública e educação

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997

religiosa.

Os Deputados Federais eleitos em outubro de 1934 foram: Francisco de Paula Soares Neto (PSD), nascido no Rio Grande do Sul em 1901, Médico pela Faculdade de Porto Alegre e Professor da Faculdade de Medicina do Paraná. Foi Presidente da Federação Paranaense de Desportos. Capitão, Médico do Exército e participante ativo da Revolução de 1930; Lauro Sodré Lopes (PSD), nascido em Curitiba em 1898, Bacharel em Direito pela Universidade do Paraná e Promotor Público em Curitiba. Foi Chefe da Polícia depois da Revolução de 1930; Otávio da Silveira (PSD), nascido no Rio Grande do Sul em 1895, era Médico pela Faculdade de Porto Alegre e Professor da Universidade do Paraná. Foi Diretor Geral do Ensino e de Saúde Pública e ativo membro do Diretório Central da Aliança Nacional Libertadora (BENEVIDES, 1991: 166-188); Airton Plaisant (suplente pelo PSD), nascido em 1890 em Curitiba, era Major do Exército e Comandante da Força Militar do Paraná e foi um dos oficiais do Exército que se desentendeu com os Tourinho na crise que os levou para a oposição ao varguismo (TOURINHO, 1991:145-165); Francisco Ferreira Pereira (suplente do PSD), nascido em Curitiba em 1899. Era Engenheiro formado no Rio de Janeiro e professor da Universidade do Paraná; assumiu em 1935 na vaga de Flávio Guimarães, que foi para o Senado; Plínio Alves Monteiro Torinho (PSN). Biografia já apresentada; Artur Ferreira dos Santos. Nasceu em Curitiba em 1894. Bacharel em Direito por São Paulo. Foi Oficial de Gabinete na primeira gestão de Affonso Camargo e na segunda foi Chefe de Polícia. Promotor Público em Curitiba. Foi Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados do Paraná. Pertencia a União Republicana Paranaense (URP). A Assembléia Constituinte Estadual, de 1935, era composta por deputados de três diferentes partidos, que representavam três tendências políticas dominantes no Paraná naquele momento. A primeira tendência, majoritária na Assembléia, era formada por vinte deputados do PSD — prova velmente os mesmos que elegeram o Interventor Manoel Ribas Governador constitucional. Essa tendência era favorável a Vargas, em contraste com a segunda tendência, formada por deputados do Partido Social Nacionalista (PSN), que reunia muitos revolucionários de 1930 contrários às atuais orientações de Vargas e de Ribas. A principal figura do PSN era o próprio Plínio Tourinho,

comandante das forças revolucionárias de outubro de 1930 no estado. Já a União Republicana Paranaense polarizava setores políticos do antigo regime e do velho Partido Republicano Paranaense. Formavam a bancada do PSD na Assembléia Constituinte do Paraná, os seguintes deputados: Antonio Augusto Carvalho Chaves, eleito pre sidente da Assembléia Constituinte, era Bacharel em Direito por São Paulo. Filho de um Juiz, o Dr. Joaquim Gonçalves Chaves, nasceu em Macaíba, na Paraíba. Ocupou duas Secretarias de estado: de 1896 a 1900, foi Secretário de Justiça e de Finanças no período de 1900 a 1904. Além disso, havia sido Deputado Estadual (1906-1907) e Deputado Federal (1903-1914), Presidente do Comitê Central Paranaense da Reação Republicana em 1922, Secretário da Fazenda no período revolucionário (1930-1931). Não ocupou apenas cargos públicos, pois também foi sócio de uma empresa de artigos elétricos com Gastão Chaves; Acir Guimarães, bisneto do Visconde de Nácar, nasceu em Curitiba em 7 de maio de 1896 e era filho do General Teodorico Gonçalves Guimarães. Em 1919 fundou com outros a Gazeta do Povo. Casado com Alcina Macedo, filha do Coronel Joaquim Pereira Macedo; Adalberto Scherer, industrial e comerciante; Agostinho Pereira Alves Filho, nasceu em Paranaguá em 1903, foi Tenente do Exército e participou dos levante de 1922 e de

  1. Tinha vínculos com a Aliança Nacional Libertadora (BENEVIDES, 1991: 170); Augusto Santos, nasceu na Bahia em 1874, era comerciante estabelecido em Tibagi; Brasil Pinheiro Machado, nasceu em Ponta Grossa em 1907, filho do Coronel Brasil Pinheiro Machado, Bacharel em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro; Caio Gracho Machado de Lima, nasceu em Ponta Grossa em 1885 e era filho de Vicente Machado, importante político e Chefe do Executivo paranaense no início da República. Caio estudou Ciência Política em Paris, foi Deputado Estadual (1908-1909 e 1929-1930) e ocupou vários cargos públicos no Brasil e no exterior. Era também jornalista e diretor de O Dia ; Camilo Stellfeld, farmacêutico; Djalma Rocha Al-Chueyr, nasceu em São Paulo em 1904, foi Major do Exército e Articulador revolucionário de 1930. Tinha vínculos com a Aliança Nacional Libertadora (BENEVIDES, 1991: 170); Erasto Gaertner, nasceu em Curitiba em 1900, era Médico pela Universidade do Rio de Janeiro, Professor da Universidade do Paraná, membro do Diretório do PSD; Frederico Faria de Oliveira, nasceu na Lapa em 1893, era jornalista e

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997

da República. Líder do partido na Assembléia2, havia sido Deputado Estadual Constituinte em 1892, além de ter participado de outras legislaturas na Assembléia Estadual, no Congresso e no Senado Federal. Os dados acima levantados permitem notar que a composição da Constituinte de 1935 reflete, aparentemente e em termos numéricos, uma predominância da tendência política favorável a Vargas e a Manoel Ribas. Porém, socialmente, todos os três partidos representavam setores da classe dominante paranaense. A maior prova disso é que havia, por exemplo, membros de famílias históricas em todas as agremiações. Um Macedo em cada partido. Um Guimarães no PSD e outro no PSN, por exemplo. As diferenças vinculavam- se mais à dinâmica dos interesses políticos que a determinações socioeconômicas. Apoiar ou não Vargas era o divisor de águas. No governo de Ribas, vários políticos que trabalhavam no regime deposto pela Revolução de 1930 voltaram a cargos de poder. Eram os chamados camarguistas , em homenagem ao último Presidente paranaense da República Velha, Affonso Alves de Camargo. Segundo o historiador Luiz Carlos Tourinho, “Manoel Ribas não discriminou os camarguistas. Nomeou para o Conselho de estado o Dr. Marins Camargo, irmão do Presidente Afonso, acusado pelos tenentes de possuir metade das terras do estado. Também [nomeou] o ex-governador Caetano Munhoz da Rocha. O Engenheiro Ângelo Lopes, servidor do governo do Presidente Afonso, foi seu Secretário de Viação, de Fazenda, Prefeito de Curitiba. Romário Martins, diretor do Diário da República , órgão do Partido Republicano empastelado no dia 5 de outubro, assumiu o Conselho do Patrimônio Cultural. Em 1940 trouxe para o Paraná o desconhecido capitão gaúcho Fernando Flores. Nomeou-o Chefe de Polícia. Depois Secretário do Interior e Justiça. Foi quem organizou o PSD após 1946 [...]” (TOURINHO, 1991: 164-165). VI. O PERÍODO DO ESTADO NOVO Na crise de 1937, novamente Manoel Ribas segue fielmente a orientação do Catete, mostrando que, tal como em 1932, e com um grau ainda maior de consenso, o Paraná apoiava o Estado

2 As referências biográficas foram extraídas da publicação ASSEMBLÉIA Constituinte do Estado do Paraná, 1935.

Novo3. As principais orientações das políticas públicas de Manoel Ribas à frente do governo do Paraná atendiam aos seguintes critérios, em linhas gerais: 1) racionalização e modernização buro crática: a) o controle e austeridade orçamentária era um dos principais itens de sua gestão, mani festa principalmente na demissão do funcionalismo contratado no regime anterior4; b) criação da Se cretaria da Agricultura (em 1944); c) criação do Instituto de Identificação da Polícia Civil, do Departamento Médico-Legal e do Laboratório do Estado; d) criação do Departamento Estadual de Estatística; 2) infra-estrutura : a) melhoria do sis tema de comunicações e estrutura viária com a construção de novas rodovias e benfeitorias nas estradas do estado, além de melhorias no Porto de Paranaguá. A principal novidade foi a cons trução da Estrada do Cerne, ligando Curitiba com o Norte do estado, até Jacarezinho e daí a Lon drina. Um dos empreiteiros foi Antonio Lacerda Braga, pai do futuro Governador Ney Braga (cf. ALBUQUERQUE, 1994: 40); 3) educação : construção e obras em várias escolas, como as instalações do Colégio Estadual, da Escola Agro nômica, da Escola de Aprendizes Artífices, da Casa do Jornaleiro entre outras; 4) fomento à industrialização : a) implantação da Indústria Klabin em Monte Alegre. Esta foi uma medida importante, pois significava o início de políticas públicas de implantação industrial de grande porte no Paraná. O local no qual se formou a Indústria Klabin do

3 A Aliança Libertadora Nacional e a Ação Integralista Brasileira tiveram pouca penetração e expressão na elite política parananese (cf. BENEVIDES, 1991: 168 e TOU RINHO, 1991: 311-316, respectivamente). A AIB teve certo apoio nas colônias alemã e italiana e realizou algumas manifestações de massa. A ALN contou com o apoio do Deputado Federal Octávio da Silveira, do quadro dirigente nacional da organização. Os deputados esta duais Agostinho Pereira Alves e Djalma Rocha Al- Chueyr, ambos militares, também participaram do pequeno grupo de apoio à ALN. 4 Deste episódio teria originado o apelido de Manoel Ribas como Maneco Facão , devido não somente às demissões, mas também à grosseria e franqueza no estilo “gauchesco” adotado pelo personagem em questão. O contraste entre o estilo mais sofisticado, político e polido dos últimos governadores da Repú blica Velha e o novo estilo de Ribas provocavam tal impressão. Afinal “Seu Ribas nem doutor era”, mas prestava contas apenas a Getúlio Vargas e utilizava desta prerrogativa para construir sua imagem no Paraná.

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE DE 1930 A 1945

Paraná de Celulose S/A era um antigo latifúndio no norte dos Campos Gerais, próximo de Tibagi — a Fazenda Monte Alegre. Em 1932 o Banco do estado do Paraná arrematou as terras que perten ciam a uma firma falida e a vendeu para o grupo Klabin. Importantes conexões entre Getúlio Var gas, Manoel Ribas e as famílias Klabin e Lafer fo ram centrais para o sucesso do empreendimento. Nos anos seguintes foi construído um impressio nante parque industrial na área, com usinas de energia, cidade para os trabalhadores e todo um conjunto de moderna infra-estrutura no local (cf. CUNHA, 1982: 30-53 e FERNANDES, 1974). Pode também ser citada a implantação da Companhia de Cimentos Portland em Pinhais, região de Curitiba, e a estatização da Ferrovia São Paulo-Paraná; 5) colonização : a) revisão e implan tação de uma nova política agrária e de colonização fundiária. Algumas concessões do período anterior foram revistas. A concessão à Companhia de Terras Norte do Paraná e ao Engenheiro Beltrão foram porém mantidas; 6) características gerais do regime : a) repressão política aos “inimigos do regime”, traço da política nacional do Estado Novo, que no Paraná se manifestou na perseguição aos esquerdistas e à classe trabalhadora e na vigilância e no controle sobre as comunidades de imi grantes5. Os principais desafios para a política para naense colocavam-se nas novas áreas de expansão econômica. No sudoeste, a criação do Território do Iguaçu representou um desmembramento territorial dos mais criticados pela oposição. A partir dos interesses de Getúlio Vargas e de alguns grupos colonizadores gaúchos, e com a anuência do Interventor Manoel Ribas, ele foi criado como unidade territorial separada do Paraná. O outro grande desafio foi a ocupação das terras cafeeiras do Norte do Paraná que abriu a perspectiva para a política do Paraná tradicional conviver e integrar as novas populações migrantes dentro da identidade e da política paranaense. Ao lado de grandes empreendimentos privados, como a Companhia de Terras Norte do Paraná, o governo organizou colonizações oficiais em Jataizinho, Içara, Paranavaí, Jaguapitã e Centenário. Além disso, o governo também procurou formar

5 O Paraná, inclusive Curitiba, foram alvos da campanha de nacionalização (BENEVIDES, 1991: 98- 188 e BOLETIM Informativo da Casa Romário Martins, 1995).

colônias nos rios Piquiri e Ivaí. Durante a ditadura estado-novista e com o fechamento do Poder Legislativo, novos órgãos auxiliariam o poder político do Executivo regional. Um deles era o Departamento Administrativo dos estados (posteriormente denominado Conselho Administrativo). O Departamento Administratiyo do estado do Paraná contava, no ano de 1941-, com Roberto Glaser, Antonio Augusto Carvalho Chaves, Epaminondas Santos e Caio Machado. Em 1942, seu Presidente era Roberto Glaser e Caio Machado foi substituído por Flávio Guimarães6. VII. CONCLUSÃO A partir do que vimos analisando, podemos afirmar que as elites políticas paranaenses do período de 1930-1945 não eram diferentes das que dominavam o estado durante a República Velha (1889-1930). As mesmas famílias históricas, das

6 Roberto Glaser nasceu em 1878 em Cambuçú (RS). Industrial e comerciante, além de grande proprietário dos Campos Gerais do Paraná, foi Deputado Estadual (1914-1915) e federalista na crise de 1893. Oficial da Guarda Nacional e coronel, participou ativamente das lutas da Aliança Liberal e da Revolução de 1930, a qual ofereceu — a preços tabelados — toda a sua boiada. Foi suplente de Deputado Federal pelo PSN nas eleições de outubro de 1934, sendo o candidato da oposição mais votado. Posteriormente apoiaria Manoel Ribas e o Estado Novo. Seria Senador na Constituinte de 1946. Antonio Augusto Carvalho Chaves foi o Presidente da Assembléia Constituinte do Paraná em 1935 e era filiado ao PSD (biografia detalhada já apresentada; vide supra). Epaminondas Santos nasceu em Curitiba em 1887. Comerciante e industrial, foi proprietário da Cerâmica de Campo Lar go. Fundou uma das primeiras rádios no Paraná, a PRB 2. Foi Presidente do Coritiba Futebol Clube. Du rante algum tempo acumulou a sua função no Con selho/Departamento Administrativo do estado do Pa raná com a Presidência da Junta Comercial. Seria Presi dente da Associação Comercial do Paraná de 1946 até 1958 (cf. CARNEIRO, 1981: 55 e 133-136). Caio Machado (biografia já apresentada como Deputado Estadual Constituinte de 1935; ver acima). Flávio Carvalho Guimarães nasceu em Ponta Grossa em 1891. Pertencia à tradicional família Guimarães, tendo se casado com Anita Miró, filha do Coronel José Miró. Bacharel em Direito por São Paulo, foi consultor jurídico do Banco Pelotense e da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Foi também Secretário da Fa zenda, Indústria e Obras Públicas depois da Revo lução de Trinta. Foi eleito Deputado Federal na eleição de outubro de 1934 pelo PSD.

NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE DE 1930 A 1945

PILOTO, Valfrido. (1982). Quando o Paraná se levantou como uma nação. Curitiba, IHGEP- Litero-Técnica.

SILVA, Cletoda. (1933). Apontamentos históricos de União da Vitória. Curitiba, Max Roesner & Filhos.

TOURINHO, Luiz Carlos. (1980). Cinqüentenário da Revolução de Trinta no Paraná. Curitiba,

Lítero-Técnica. TOURINHO, Luiz Carlos. (1990). Toiropassante. Vol. III: Tempo de República Velha. Curitiba, Editora Rocha. TOURINHO, Luiz Carlos. (1991). Toiropassante. Vol. IV: Tempo de República getuliana. Curitiba, Lítero-Técnica.