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Uma visão geral das implicações da organização do trabalho em indústrias de processo contínuo, com ênfase na química, petroquímica, siderurgia, papel e celulose, cimento e outros ramos industriais que adotam este tipo de produção. O texto aborda as principais características tecnológicas e econômicas dessas indústrias, como a indivisibilidade das matérias-primas, a interligação e interdependência do equipamento, e a maior possibilidade de centralizar o controle dos processos. Além disso, o documento discute as categorias básicas de trabalhadores encontrados em essas indústrias, como auxiliares de produção, operários de manutenção e operadores de equipamento.
Tipologia: Notas de aula
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Professores do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos. SP.
Partiremos de uma apresentação muito sumária dos principais determinantes tecnológicos e econômicos das chamadas indústrias de processo contínuo. I. Esta característica de continuidade na produção orienta, em maior ou menor grau, o trabalho fabril num grande número de ramos industriais: química, petroquí- mica, nuclear, siderurgia, papel e celulose, cimento etc. Por suas características, essa indústria representa o es- tágio mais avançado, a vanguarda mesmo, do proces- so de automação industrial. Além disso, à medida que os outros setores - que operam como sistemas de pro- dução intermitentes - passam por um processo de au- tomação.ê estes tendem a se comportar como processos de produção do tipo contínuo. Nosso objetivo é o de chamar a atenção para as im- plicações deste tipo de processo industrial, do ponto de vista da organização do trabalho nestas indústrias. Des- ta forma, ao estudarmos as formas particulares que as- sume a organização do trabalho neste tipo de indústria, estaremos apreendendo algumas das principais tendên- cias do trabalho industrial nos setores mais modernos, pois a automação em geral, e nos processos contínuos
em particular, acaba por reduzir a freqüência e a quan- tidade da ação humana requerida, ao mesmo tempo em que altera profundamente a qualidade dessa ação. Por outro lado, não é nosso objetivo endossar a tese de que a tecnologia marca os parâmetros fundamentais para a organização do trabalho. Mesmo assim, reconhece- mos que na discussão subseqüente, feita por este texto, ela acaba emergindo como o fator que maior destaque mereceu.
As principais características tecnológicas presentes em geral nas indústrias de processo contínuo são as seguin- tes:
A) Indivisibilidade das matérias-primas ao longo do processo: é muito comum que, após introduzidos no processo de fabricação, os insumos não sejam mais dis- tinguíveis entre si e em relação ao produto final. Isto de- corre da peculiaridade do processo de fabricação ser constituído por uma série de reações físico-químicas, e não, como no caso de uma indústria tradicional, por transformações mecânicas sofridas pelos materiais em- pregados.3 É evidente que tal circunstância conferirá uma relação homem-matéria-prima e produto nestas in- dústrias totalmente distintas de uma situação comum.
B- Alto nível de integração entre os equipamentos: em lugar de máquinas isoladas realizando cada um ••delas operações bem distintas, O equipamento tem a caracte- rística de ser todo interligado e interdependente, no sen- tido de não se poder intercambiar as transformações re- queridas pelo processo (baixa flexibilidade, restrições de simultaneidade e/ou sucessividade, etc). Esta carac- terística, que sem dúvida é quase uma decorrência da anterior, apontada pelo item A, é sugerida, por exem- plo, quando se prefere distinguir, neste tipo deindús- tria, fases no interior do processo de fabricacãõ ao in- vés dese referir a operações discretas.
C) Maior possibilidade de centralizar o controle dos processos: uma vez que a interação da mão-de-obra com os materiais é reduzida e quase toda ela submetida à in- termediação dos equipamentos, o controle do proces- so de fabricação não significa controle da mão-de-obra, mas sim do próprio equipamento, o que é realizado atra- vés do posicionamento de censores de parâmetros va- riados, localizados em pontos estratégicos das instala- ções (ex: topo de colunas de destilação, saída e entrada de reatores etc.) Por isso mesmo, a possibilidade de reu- nir essas informações captadas pelos instrumentos de controle num lugar central é relativamente menos com- plexa do que centralizar o controle de um processo in- termitente, cuja operação em geral depende de um pla- nejamento da produção e de uma intervenção da mão- de-obra mais decisivos. A lógica desta centralização está no fato de que através dela tornam-se maiores as possi- bilidades de diminuir o tempo necessário à correção de algum parâmetro desviante ou de alguma pane ocorri- da. Quanto.menores forem estes intervalos de anoma- lia, maior produtividade fornecerá a planta industrial em questão.
Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 26 (l)~ 103-105 jan. / mar. 1986
A) Não-dependência direta entre o ritmo de trablho e a produtividade: talvez seja esta a característica mais es- sencial à compreensão da lógica de operação de um pro- cesso contínuo. O ritmo de produção, ao invés de de- pender fundamentalmente do ritmo de trabalho da mão- de-obra, obedece muito mais à performance e ao ren- dimento das instalações como um todo. Se o equipa- mento "trabalha bem" (isto é, dentro dos parâmetros preestabelecidos e sem a ocorrência de panes) obtém-se alta produtividade, com o desempenho do equipamen- to tendendo à sua capacidade nominal.
B) Plantas industriais capital-intensivas e custos de mão-de-obra fixos: a maior parte das indústrias de pro- cesso contínuo dependem, para sua instalação, de mon- tante expressivo de investimentos em equipamentos em relação aos custos despendidos com a mão-de-obra. Es- tes últimos tendem a se comportar como fixos, pois o volume de mão-de-obra empregada não se altera em conformidade com o volume de produção.
4. IMPLlCAÇÔES PARA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Nossa suposição básica é que este conjunto de caracte- rísticas normalmente vigentes nas indústrias de processo contínuo podem ser suficientemente relevantes para de- finir parâmetros novos de inserção da mão-de-obra no processo de trabalho. Isto não se aplica necessariamente a todo o conjunto dos trabalhadores empregados nes- tas indústrias, mas sobretudo àquela parcela da mão- de-obra que poderíamos chamar de operadores de equi- pamento. De fato, na maior parte das indústrias de processo cont ínuo, iremos nos deparar com três categorias bási- cas de trabalhadores: a) os auxiliares de produção, que const it uem um conjunto pouco quali ficado, responsá- vel por serviços gerais de apoio ou tarefas mais brutas e pesadas que envolvam certo esforço físico ou ainda ta- refas absolutamente rotineiras não-passíveis de automa- tização; b) os operários de manutenção, sem dúvida fun- damentais à obtenção de performance e rendimentos adequados dos equipamentos; c) os operadores de equi- pamentos. É sobre o trabalho destes últimos que julgamos es- tar ocorrendo as transformações mais interessantes. O contcéúdo do trabalho destes operadores reduz-se na maior parte do tempo a tarefas de registro e observação dos instrumentos (relógios, ábacos, etc.), colocados em pontos do equipamento, que controlam o processo de fabricação. Se a leitura realizada conferir com as espe- cificações físico-químicas dentro das quais a fabricação deve ocorrer, o operador nada tem a fazer; no máximo, ele deve realizar o registro (intermitente) das informa- ções lidas. Caso o operador observe distorções em re- lação aos parâmetros prefixados, ele mesmo deverá acionar botões, válvulas ou chaves que operem a cor- reção, ou, ainda, poderá entrar em contato com seus co- legas, seu supervisor ou operários de manutenção para decidir o que fazer.:' Os desvios devem ser eliminados e as eventuais quebras de equipamento, ou panes sur-
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gidas, devem ser consertadas o mais rapidamente pos- sível, pois, como vimos, é isso que assegurará níveis de produtividade elevados. Em face desta situação, é pos- sível constatar algo aparentemente singular na jornada de trabalho destes operários: o trabalho em ritmo inten- so configura anormalidade na produção; o "não-tra- balho"5 é sinal de que tudo vai bem. Enquanto o prin- cípio de eficiência e produtividade nas indústrias inter- mitentes orienta no sentido de todos trabaiharem o má- ximo de tempo todo, nas indústrias de processo contí- nuo, a vigilância passiva e tediosa é sinal de que tudo corre dentro dos parâmetros preestabelecidos. Por outro lado, em momentos de crise, o trabalho, a dedicação e a tensão solicitados destes operadores é muito grande, porque do reparo rápido depende a pro- dutividade global extraída da fabricação, seja porque não é incomum que se configurem, nestas indústrias, si- tuações de ameaça e risco às capacidades e à prórpria saúde do trabalhador. A alternância entre momentos de monotonia (a maior parte do tempo) e de crise, e sobre- tudo tendo-se em conta a imprevisibilidade destes últi- mos, fornece-nos mais uma peculiaridade do trabalho a que estão submetidos estes operadores. Nestes termos, é razoável se super que estes operá- rios exerçam a função de absorvedores da variância que pode surgir ao longo do processo de fabricação. Deles não se exigirá perícia manual, força física ou qualquer outra habilidade que possa incrementar o ritmo de pro- dução. Suas qualidades essenciais serão o senso de res- ponsabilidade, a assiduidade e uma certa capacidade de iniciativa própria. Em algumas empresas, dependendo da política adotada de gestão do trabalho e do estágio de automação em que ela se encontra, estas discrepân- cias podem-se traduzir em um conhecimento polivalente e maior compreensão do processo global de fabricação, em maior mobilidade dos operadores em meio às plan- tas industriais, em trabalho de equipe cuja implemen- tação passa a ser facilitada com esquemas participati- vos, em menor grau de supervisão direta sobre o traba- lho, etc. Diante deste quadro, não faltam aqueles que em- penham nesta transformação uma considerável dose de otimismo. Autores como Blauner prognosticavam, já em 1961, que o tipo de desenvolvimento tecnológico exe- rimentado por este ramo industrial significaria uma re- versão na tendência da crescente alienação no trabalho. Outros autores menos afoitos, como Davis (1971), Sus- man (1970) e Coriat (1980) ponderam apenas que o que está ocorrendo nestas empresas é que a divisão do tra- balho por posto individualizado está cedendo lugar a um trabalho mais homogêneo e por equipe. Gallie (1978), estudando a organização do traba- lho nas unidades centrais das refinarias de petróleo, ob- servou que o operador responsável ou líder do grupo ti- nha maior liberdade e iniciativa, o operador da sala de controle deveria possuir grande experiência ao mesmo tempo em que não lhe era permitido nenhuma mobili- dade física, enquanto os outros membros do grupo exe- cutavam funções relativamente fáceis de aprender e de- sinteressantes. Com maior prudência, este autor argu- menta que é difícil discernir uma tendência conclusiva. As experiências de trabalho variam enormemente, de- pendendo do setor industrial e da seção particular on- de o trabalhador está inserido.
Revista de Administração de Empresas