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Guias e Dicas
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Estudo da Aquisição da Língua Brasileira de Sinais (LBS) por Crianças Surdas, Notas de aula de Linguística

Uma pesquisa sobre a aquisição da língua brasileira de sinais (lbs) por crianças surdas, filhas de pais surdos. O objetivo principal desta pesquisa foi identificar como os parâmetros de ponto de articulação e movimento, além da configuração de mãos, são simplificados no primeiro estágio de aprendizagem da lbs. O documento também discute a organização material de constituintes na língua de sinais e a importância do estudo linguístico dessas línguas.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Roseli
Roseli 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA
NANCI ARAÚJO BENTO
OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS:
CONFIGURAÇÃO DE MÃOS, PONTO DE ARTICULAÇÃO E
MOVIMENTO NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
– UM ESTUDO DE CASO
Salvador
2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA

NANCI ARAÚJO BENTO

OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS:

CONFIGURAÇÃO DE MÃOS, PONTO DE ARTICULAÇÃO E

MOVIMENTO NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

- UM ESTUDO DE CASO

Salvador

NANCI ARAÚJO BENTO

OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS:

CONFIGURAÇÃO DE MÃOS, PONTO DE ARTICULAÇÃO E

MOVIMENTO NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

- UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Letras e Linguística. Área de concentração: Descrição e Análise Linguísticas Linha de pesquisa: Aquisição e Ensino do Português Orientador(a): Profª. Drª. Elizabeth Reis Teixeira

Salvador

NANCI ARAÚJO BENTO

OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS:

CONFIGURAÇÃO DE MÃOS, PONTO DE ARTICULAÇÃO E MOVIMENTO NA

AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Letras e Linguística.

Data de Aprovação _____/_____/____ Nota___________________________ BANCA EXAMINADORA:


Profª. Drª. Elizabeth Reis Teixeira (Orientadora) Universidade Federal da Bahia – UFBA


Profª. Drª. Lodenir Becker Karnopp Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Profª. Drª. Carola Rapp Universidade Federal da Bahia – UFBA

A F ., em sinal do meu respeito e carinho.

língua de sinais, nas mãos de seus mestres, é uma língua extraordinariamente bela e expressiva, para a qual, na comunicação uns com os outros e como um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza nem a arte lhes concedeu um substituto à altura. Para aqueles que não a entendem, é impossível perceber suas potencialidades para os surdos, sua poderosa influência sobre o moral e a felicidade social dos que são privados da audição e seu admirável poder de levar o pensamento a intelectos que de outro modo estariam em perpétua escuridão. Tampouco são capazes de avaliar o poder que ela tem sobre os surdos. Enquanto houver duas pessoas surdas sobre a face da Terra e elas se encontrarem, serão usados sinais.”

J. Schuyler Long Diretor da Iowa School for the Deaf In: SACKS, Oliver (1998)

“A

RESUMO

A presente dissertação aborda aspectos aquisicionais da Língua Brasileira de Sinais de uma criança surda, filha de pais surdos, adquirindo a língua de sinais como língua materna. Trata- se de estudo de caso, realizado através da observação longitudinal do processo de aquisição da Língua Brasileira de Sinais de uma criança surda, exposta a um ambiente bilíngue (Língua Portuguesa/Língua Brasileira de Sinais) no período que vai de um ano e meio a dois anos e meio de idade. A criança foi observada em interação com seus pais, familiares e cuidadores em seu ambiente doméstico/familiar. Os registros foram feitos através de filmagens com câmera digital, em encontros mensais de duração em torno de trinta e quarenta minutos cada, respeitando-se a privacidade e a disposição da criança e dos pais nos momentos das filmagens. Partindo dos pressupostos da análise de processos fonológicos, as substituições dos parâmetros de configuração de mão, movimento e ponto de articulação são investigados. Os resultados indicam que a criança surda, filha de pais surdos, adquirindo a Língua Brasileira de Sinais como língua materna, apresenta substituição de traços fonológicos nos primeiros anos de vida, produzindo substituição fonológica de determinadas configurações de mãos da Língua Brasileira de Sinais por não apresentar o controle da motricidade da coordenação fina necessário para produzir a matriz de determinada configuração de mão, além de haver também substituições dos parâmetros Movimento e Ponto de Articulação.

Palavras-chave: Aquisição da linguagem. LIBRAS. Parâmetros fonológicos.

LISTA DE FIGURAS

  • Figura 1: Dedos da mão
  • Figura 2: Alfabeto Manual da LIBRAS
  • Figura 3: Sinal “Nunca” da LIBRAS
  • Figura 4: Parâmetros Básicos das Línguas de Sinais
  • Figura 5: Espaço de sinalização das Línguas de Sinais
  • Figura 6: Variedade Regional do Sinal “CULTURA” da LIBRAS
  • Figura 7: Variedade Regional do Sinal “FERIADO” da LIBRAS
  • Figura 8: Os Parâmetros Fonológicos da Língua de Sinais
  • Figura 9: Sinais da LIBRAS que se opõem ao Parâmetro de Movimento
  • Figura 10: Sinais da LIBRAS que se opõem ao Parâmetro de CM
  • Figura 11: Sinais da LIBRAS que se opõem ao Parâmetro de Ponto de Articulação
  • Figura 12: Sinais da LIBRAS que apresentam Alofonia.
  • Figura 13: Espaço de Realização dos sinais da LIBRAS/
  • Figura 14: Espaço de Realização dos Sinais da LIBRAS/
  • Figura 15: Sinais da LIBRAS que não possuem movimento.
  • Figura 16: Sinais da LIBRAS que possuem movimento.
  • Figura 17: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Retilíneo.
  • Figura 18: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Helicoidal.
  • Figura 19: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Circular.......................................
  • Figura 20: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Semicircular.
  • Figura 21: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Sinuoso
  • Figura 22: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Angular.......................................
  • Figura 23: Exemplo de Sinais da LIBRAS que se opõem em relação à Direcionalidade.
  • Figura 24: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Unidirecional.
  • Figura 25: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Bidirecional.
  • Figura 26: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Multidirecional.
  • Figura 27: Crianças Falantes e Crianças que Sinalizam.
  • Figura 28: Verbo de Negação NUNCA – Forma “integral”
  • Figura 29: Verbo de Negação NUNCA – Forma “reduzida”
  • Figura 30: Substituição Fonológica de CM – Sinal ÁGUA
  • Figura 31: Substituição Fonológica de CM, M e PA - Sinal OBRIGADO
  • Figura 32: Substituição Fonológica de CM – Sinal BANHEIRO
  • Figura 33: Substituição Fonológica de CM e PA – Sinal CACHORRO
  • Figura 34: Substituição Fonológica de CM – Sinal BOLA DE SOPRAR
  • Figura 35: Substituição Fonológica de M – Sinal QUENTE
  • Figura 36: Substituição Fonológica de CM, M - Sinal GOSTOSO/DELICIOSO
  • Figura 37: Substituição Fonológica de CM, M - Sinal LEITE...............................................
  • Figura 38: Substituição Fonológica de CM, M e PA - Sinal BEBÊ.......................................
  • Figura 39: Substituição Fonológica de M - Sinal SINALIZAR
  • Figura 40: Substituição Fonológica de CM - Sinal APANHAR
  • Figura 41: Substituição Fonológica de CM, M - Sinal LARANJA
  • Figura 42: Substituição Fonológica de CM - Sinal COELHO
  • Figura 43: Substituição Fonológica de CM, M - Sinal BORBOLETA
  • Figura 44: Substituição Fonológica de CM e M - Sinal TARTARUGA
  • Figura 45: Substituição Fonológica de PA - Sinal MACACO
  • Figura 46: Substituição Fonológica de CM, M - Sinal GIRAR (CL)
  • Figura 47: Substituição Fonológica de CM - Sinal NANCI...................................................
  • Gráfico 1: Produção do Dia 10/11/2008 LISTA DE GRÁFICOS
  • Gráfico 2: Produção do Dia 16/04/2009
  • Gráfico 3: Produção do Dia 20/06/2009
  • Gráfico 4: Produção do Dia 10/10/2009
  • Gráfico 5: Produção do Dia 24/10/2009
  • Gráfico 6: Total de Produções de Sinais Realizados
  • Gráfico 7: Produção de Sinais por Categoria – Conforme Padrão Adulto
  • Gráfico 8: Produção de Sinais por Categoria – Com Substituições Fonológicas
  • PA Gráfico 9: Produção de Sinais com Substituições Fonológicas – Pelos Parâmetros de CM, M e
  • M; CM, M e PA; CM e PA................................................................................... Gráfico 10: Produção de Sinais com Substituições Fonológicas – Pelos Parâmetros de CM e
  • Tabela 1: Relação dos Sinais Produzidos no dia 10/11/2008 LISTA DE TABELAS
  • Tabela 2: Relação dos Sinais Produzidos no dia 16/04/2009.
  • Tabela 3: Relação dos Sinais Produzidos no dia 20/06/2009.
  • Tabela 4: Relação dos Sinais Produzidos no dia 10/10/2009
  • Tabela 5: Relação dos Sinais Produzidos no dia 24/10/2009
  • Quadro 1: Quadro das Configurações de Mãos do Nível Fonético da LIBRAS / LISTA DE QUADROS
  • Quadro 2: Configurações de Mãos do Nível Fonético da LIBRAS /
  • Quadro 3: Categorias do Parâmetro Movimento na LIBRAS
  • Quadro 4: Grau de Intensidade na LIBRAS
  • Quadro 5: Grau de Tamanho na LIBRAS
  • Quadro 6: Níveis de estruturação linguística.
  • Quadro 7: Sinais com Substituições Fonológicas – Pelos Parâmetros de CM, M e PA
  • PA; CM e PA Quadro 8: Sinais com Substituições Fonológicas – Pelos Parâmetros de CM e M; CM, M e
  • 1 INTRODUÇÃO SUMÁRIO
  • 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
  • AQUISICIONAL DA LINGUAGEM............................................................................. 2.1 A LINGUAGEM E SUA DIMENSÃO HISTÓRICO-SOCIAL NO PROCESSO
  • 2.2 A COMUNICAÇÃO COM AS MÃOS
  • 2.3 A DATILOLOGIA
  • BRASILEIRA DE SINAIS 3.1 DISCUSSÃO SOBRE OS CINCO PARÂMETROS FONOLÓGICOS DA LÍNGUA
  • 3.1.1 Parâmetro 1 - Configuração de Mãos (CM)
  • 3.1.2 Parâmetro 2 – Ponto de Articulação (PA)
  • 3.1.3 Parâmetro 3 – Movimento (M)
  • 3.1.4 Parâmetro 4 – Orientação/ Direcionalidade
  • 3.1.5 Parâmetro 5 – Expressão Não-Manual........................................................................
  • 3.2 A PROPOSTA DE LIDDELL E JOHNSON
  • 4 ESTÁGIOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
  • 4.1 A CONSTITUIÇÃO DO LÉXICO INFANTIL
  • 4.2 O PROCESSO AQUISICIONAL DAS CRIANÇAS OUVINTES E SURDAS
  • 4.2.1 O período pré-linguístico
  • 4.2.2 Estágio de um sinal
  • 4.2.3 Estágio de dois sinais e estágio das primeiras combinações
  • 4.3 TEORIA DOS PROCESSOS FONOLÓGICOS
  • COORDENAÇÃO MOTORA FINA EM CRIANÇAS SURDAS 4.4 O DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO MOTORA GROSSA E
  • 5 ELICIAÇÃO DOS DADOS
  • 5.1 PERFIL DO SUJEITO
  • 5.2 A COLETA DE DADOS
  • 5.3 A TRANSCRIÇÃO DOS DADOS
  • 5.4 SESSÕES DE INTERAÇÃO
  • 6 ANÁLISE DOS DADOS
  • 7 CONCLUSÃO..............................................................................................................
  • REFERÊNCIAS
  • APÊNDICES
  • ANEXOS

1 INTRODUÇÃO

Os estudos culturais atuais sobre surdos nos proporcionam novas concepções acerca do Ser Surdo. O mesmo deixa de ser visto do ponto de vista audiológico, como um ser patológico, um modelo clínico, para ser encarado sob uma perspectiva antropológica, social, cultural, destituindo-se as representações clínicas da surdez, trazendo novas perspectivas epistemológicas. Assim, a discussão dentro de uma visão clínico-patológica não é o objetivo do nosso trabalho, assim como também não é esta perspectiva desejada pela maior parte da Comunidade Surda nem pela maioria dos pesquisadores da área da surdez na contemporaneidade.

Por séculos o homem tentou definir a palavra Cultura, tornando-se extremamente complexo escolher uma definição a ser seguida. Escolhemos para a nossa dissertação uma concepção antropológica, que reconhece a Cultura como a rede social de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo. Essa rede engloba um conjunto de diversos elementos, como valores, costumes, leis, crenças, língua, dentre outros.

Strobel (2008), autora surda, afirma que Cultura Surda

É o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná- lo acessível e habitável ajustando-os com suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. (STROBEL, 2008, p. 24)

Strobel (2008) afirma também que na Comunidade Surda Brasileira os sujeitos surdos não se diferenciam um do outro com grau de surdez. Para eles, o mais importante é o pertencimento ao grupo, usando a Língua Brasileira de Sinais, que ajuda a definir as suas identidades surdas.

É significativo dizer que a história dos surdos foi marcada por discursos provinciais e práticas excludentes. Na Antiguidade, as pessoas surdas eram consideradas como indivíduos primitivos, sendo tratados com piedade e compaixão. Segundo Goldfeld (2002, p. 28), “a crença de que o surdo era uma pessoa primitiva fez com que a ideia de que ele não poderia ser

surdo, pois enfatiza a língua na modalidade oral como a mais importante para a comunicação, posto que a língua de sinais deve ser respeitada em seu status linguístico.

Após a entrada das ideias da Comunicação Total no Brasil, na década de 80, linguistas brasileiros começaram a se interessar pelo estudo da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), considerada por educadores e pesquisadores como uma língua natural, importante para o envolvimento afetivo e cognitivo do surdo. A abordagem educacional com o Bilinguismo passou a ser, então, pesquisada. Somente a partir daí começaram a ser vistas pesquisas relacionadas à cultura surda.

Por causa da barreira lingüística, o povo surdo ficou à margem da sociedade por longos anos, deixou de ter acesso ao conhecimento e aos bens culturais, veiculados através da língua majoritária. Agora, configura-se uma nova vertente. Rosa (2009, p. 19), autora surda, afirma que falar dos surdos na contemporaneidade equivale a “desfraldar a bandeira da cultura surda, de mostrar-se, erguer-se e poder sinalizar em público sem ser apontados ou observar risos zombeteiros e olhares de piedade e curiosidade”. Assim, descortinam-se os universalismos culturais. As identidades surdas passam a ser vistas como múltiplas e não estão mais presas a modelos indivisíveis. Não mais modelamos os surdos a partir de representações hegemônicas provinciais. A partir do momento que conferimos à língua de sinais o estatuto de língua, o padrão de “normalidade” passa a ser visto como “diferente”. O surdo passa a ser visto como membro de uma comunidade inteligente que se identifica pelo uso de uma língua comum aos membros dessa comunidade.

Se as pessoas são diferentes, utilizam línguas diferentes para se comunicar e estão localizadas em diferentes ambientes que exigem delas, para a própria sobrevivência, o desenvolvimento de diversas capacidades, então o que se pode encontrar não são pessoas com mais ou menos capacidades de serem bem sucedidas, mas pessoas com menos ou mais capacidades de serem bem sucedidas em determinadas áreas de conhecimento, sejam elas pessoas surdas ou ouvintes.

A principal motivação para realização desta dissertação surgiu a partir de inquietações particulares acerca do processo aquisicional da Língua Brasileira de Sinais por crianças surdas, ao receber uma adolescente surda numa escola estadual pública do Subúrbio Ferroviário na cidade de Salvador, matriculada em classe inclusiva, na qual eu lecionava a disciplina Língua Portuguesa. Nas atividades pedagógicas desenvolvidas pude perceber que, na maioria dos casos, o discente surdo é sempre norteado pela obrigação de igualar-se à cultura ouvinte, seguindo os fundamentos linguísticos, históricos, políticos e pedagógicos

daquela cultura, sem levar em conta que, ao considerar o aluno surdo como um ouvinte, a escola nega-lhe a singularidade de indivíduo surdo. Assim, busquei no ensino da língua portuguesa como L2, ou seja, segunda língua para surdos, fornecer subsídios de ensino da escrita e da leitura da língua portuguesa para alunos usuários de uma língua gestual-visual, respeitando a sua singularidade do Ser Surdo. Acredito que a Escola é um espaço político, democrático, por excelência, onde todos têm o direito de participar, onde as pessoas se educam, crescem e participam efetivamente para o processo de construção da cidadania. Acredito, também, que a escola seja um espaço onde se deve aprender a conviver com a diversidade e a diferença cultural, buscando o respeito mútuo em seus processos aquisicionais. A efetiva realização do ensino de Língua Portuguesa como L2 para crianças surdas leva em consideração as multiformas de aprender, aprendendo-se junto, respeitando-se os ritmos e possibilidades de cada educando, assegurando-se que todos os alunos tenham interação em classe, tanto com os objetos a serem apreendidos, quanto com a aprendizagem pela interação com os professores e colegas, com o objetivo de alcançar aprendizagens cognitivas, psicomotoras, afetivas e socioculturais, além do direito de aprender a língua de sinais como primeira língua, instituindo-se assim como língua materna. Em decorrência dessas experiências na área da surdez e inquietações acerca do processo aquisicional de crianças surdas, ingressei no Curso de Mestrado de Letras e Linguística da Universidade Federal da Bahia, a fim de aprofundar conhecimentos, a partir da pesquisa sobre os aspectos teóricos e linguísticos da aquisição da Língua Brasileira de Sinais por uma criança surda. O convívio com crianças e adolescentes surdos despertou-me grande curiosidade e desejo de investigar o processo de aquisição da LIBRAS como primeira língua, i. e., sem a intervenção da instrução formal. A principal importância da investigação está na possibilidade de contribuir para os Estudos Linguísticos na área da surdez, e mais especificamente sobre a Língua Brasileira de Sinais.

Acredito que os dados a serem pesquisados servirão como referenciais para novas propostas psicolinguísticas na Língua Brasileira de Sinais, bem como novas propostas educativas relacionadas às crianças surdas. Sabemos que diversos são os estudos que têm focalizado a aquisição da linguagem em línguas orais, mas ainda há a necessidade da ampliação de estudos no que se refere à modalidade visuoespacial, a qual se configura como uma dimensão presente na Língua Brasileira de Sinais. A presente pesquisa pretende contribuir para descrições e análises fonológicas da LIBRAS a partir da análise fonológica de