Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Pureza, Perigo e Sociedade: Um Estudo sobre Rituals e Significados Simbólicos, Resumos de Cultura

Um artigo publicado na revista de educação, cultura e meio ambiente, onde a antropóloga mary douglas reflete sobre a relação entre pureza, poluição e perigo em sociedades primitivas. Ela argumenta que a pureza implica a experiência correlata da poluição e que o perigo se encontra na continuidade das estruturas sociais. Além disso, ela discute como os rituais reconhecem o poder da desordem e como eles funcionam para despertar, canalizar e domesticar poderosas emoções.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Botafogo
Botafogo 🇧🇷

4.5

(118)

218 documentos

1 / 8

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
REVISTA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE- Dez.-N°21, Vol. IV, 2000.
1
PUREZA E PERIGO: NA
PUREZA E PERIGO: NA PUREZA E PERIGO: NA
PUREZA E PERIGO: NA RELAÇÃO SOCIAL
RELAÇÃO SOCIAL RELAÇÃO SOCIAL
RELAÇÃO SOCIAL
DAS POPULAÇÕES TRADI
DAS POPULAÇÕES TRADIDAS POPULAÇÕES TRADI
DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS
CIONAISCIONAIS
CIONAIS
Regina Chelly Pinheiro da Silva
Regina Chelly Pinheiro da SilvaRegina Chelly Pinheiro da Silva
Regina Chelly Pinheiro da Silva1
11
1
RESUMO: A cultura ocidental sempre se apoiou na idéia
etnocêntrica de que os outros povos ignoram a verdadeira religião
espiritual. Muitas das antigas obras da antropologia têm em comum o
fato de considerar que, para os povos “primitivos”, os rituais
religiosos têm por finalidade uma intervenção mágica e imediata em
seus assuntos. Dessa forma, conclui-se que todas as formas de
religião baseiam-se na de seus membros e que, embora sejam
muito variadas, não se pode classificá-las como certas ou erradas e
mágicas ou espirituais, uma vez que todas elas oscilam entre esses
temas.
PALAVRAS CHAVES: Populações Tradicionais; Preconceito;
Religião.
ABSTRACT: The western culture always leaned on in the idea
etnocêntrica that the other people ignore the true spiritual religion.
Many of the old works of the anthropology have the fact in common of
considering that, for the primitive " people ", the religious rituals have
for purpose a magic and immediate intervention in your subjects. In
that way, it is ended that all the religion forms base on the faith of
your members and that, although they are very varied, she cannot
classify them as right or wrong and magics or spiritual, once all of
them oscillate among those themes.
KEYWORD: Traditional populations; Prejudice; Religion.
Introdução
Os antropólogos procuram mostrar como é nos povos tradicionais que se
preservam os costumes, a família, a moral, contra a dissolução da vida urbana.
1 Geógrafa, especialista em Geografia Humana e Meio Ambiente PUC/MG, Mestranda do Curso de
Desenvolvimento Regional – UNIR/RO.
pf3
pf4
pf5
pf8

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Pureza, Perigo e Sociedade: Um Estudo sobre Rituals e Significados Simbólicos e outras Resumos em PDF para Cultura, somente na Docsity!

PUREZA E PERIGO: NAPUREZA E PERIGO: NAPUREZA E PERIGO: NAPUREZA E PERIGO: NA RELAÇÃO SOCIALRELAÇÃO SOCIALRELAÇÃO SOCIALRELAÇÃO SOCIAL

DAS POPULAÇÕES TRADIDAS POPULAÇÕES TRADIDAS POPULAÇÕES TRADIDAS POPULAÇÕES TRADICIONAISCIONAISCIONAISCIONAIS

Regina Chelly Pinheiro da SilvaRegina Chelly Pinheiro da SilvaRegina Chelly Pinheiro da SilvaRegina Chelly Pinheiro da Silva^1111

RESUMO: A cultura ocidental sempre se apoiou na idéia etnocêntrica de que os outros povos ignoram a verdadeira religião espiritual. Muitas das antigas obras da antropologia têm em comum o fato de considerar que, para os povos “primitivos”, os rituais religiosos têm por finalidade uma intervenção mágica e imediata em seus assuntos. Dessa forma, conclui-se que todas as formas de religião baseiam-se na fé de seus membros e que, embora sejam muito variadas, não se pode classificá-las como certas ou erradas e mágicas ou espirituais, uma vez que todas elas oscilam entre esses temas. PALAVRAS CHAVES : Populações Tradicionais; Preconceito; Religião.

ABSTRACT : The western culture always leaned on in the idea etnocêntrica that the other people ignore the true spiritual religion. Many of the old works of the anthropology have the fact in common of considering that, for the primitive " people ", the religious rituals have for purpose a magic and immediate intervention in your subjects. In that way, it is ended that all the religion forms base on the faith of your members and that, although they are very varied, she cannot classify them as right or wrong and magics or spiritual, once all of them oscillate among those themes.

KEYWORD : Traditional populations; Prejudice; Religion.

Introdução

Os antropólogos procuram mostrar como é nos povos tradicionais que se preservam os costumes, a família, a moral, contra a dissolução da vida urbana.

(^1) Geógrafa, especialista em Geografia Humana e Meio Ambiente – PUC/MG, Mestranda do Curso de Desenvolvimento Regional – UNIR/RO.

Procurando, penetrar no esquema nativo respeitando a hierarquização que ele próprio estabelece entre suas categorias. Juntam-se aqui dois fatores primordiais para um antropólogo. A realidade social evidencia como a interação do "homem branco" ocidental com outras civilizações é sempre traumática. Marcada pela expropriação, pelo etnocentrismo, pela violência física e simbólica diante daquele que aparece como estranho, imponderável, aparentemente rudimentar e menos humano. A despeito de proteger o "selvagem", as civilizações tradicionais, tem uma mensagem pessimista, uma vez que defende o ponto de vista de que, ciente das diferenças alheias, o melhor é que cada qual fique no seu canto. Os diferentes seriam irredutíveis um ao outro. A propósito desta questão, a irredutibilidade de diferentes civilizações, proponho fazer uma rápida digressão sobre a evidência da precária redutibilidade do sujeito Seringueiro e Índio (populações tradicionais Amazônia) no meio social do Brasil. Douglas (1966, p. 106), afirma que:

...o universo primitivo e indiferenciado é um universo pessoal. Pensa- se que ele se comporta como uma pessoa inteligente, que reage aos signos, aos símbolos, aos gestos e às dádivas, que distingue até as diferentes relações sociais.

Por que não tematizar estes sujeitos neste meio social? Por acaso não há Seringueiros e Índios e intelectuais no Brasil? Claro que há. Por acaso o sujeito (população Tradicional) constitui uma realidade apartada, autônoma na academia e nos espaços de sociabilidade rural? É claro que não. Na antropologia, ao procurar compreender uma sociedade, ou parcela desta sociedade, o antropólogo deve considerar as formas com que ela se representa e como hierarquiza algumas formas de representação, em detrimento de outras. O problema é que ambos os meios sociais, no Brasil, ao mesmo tempo em que estão marcados por um discurso igualitário, universalista, humanista têm se mostrado refratários a afirmação da presença dos “povos da floresta”, estigmatizando-a, Banalizando-a, negando-lhe compensações historicamente devidas. No meio acadêmico, onde proliferam estudos sobre cultura e relações raciais, onde eminentes autores, em obras fundamentais, se reconhecem a

estranhar à importância do ritual. Douglas chega a fazer um paralelo entre o dinheiro e o ritual. Segundo ela, o ritual torna visível sinal dos estados interiores, medeia a experiência social, padroniza as situações, faz união entre o presente e o futuro. Douglas conclui dizendo que o dinheiro é um ritual extremamente especializado. Deste modo, o puro, o poluído e o perigoso são classificações simbólicas atribuídas a práticas sociais e situações que fazem sentido para o sistema social estabelecido e legitima a ordem hierárquica, o poder de arbítrio de instituições e dos sujeitos que as representam de fato e de direito e que por isso são hegemônicos. Para Mary Douglas, não há pureza ou impureza absoluta. Elas existem aos olhos de quem as vê, pode arbitrar e constituir verdade. A sujeira ofende a ordem de quem vê, arbitra e persegue a sujeira quando decora ou tinge um ambiente; persegue a doença, criando normas para se escapar do contato com a esta. Persegue os grupos marginais, excluindo-os, reprimindo-os ou mesmo exterminando-os. Por outro lado, para Mary Douglas, não há nada de amedrontador ou irracional em “nosso evitar a sujeira”: é um movimento criativo, um esforço para relacionar forma e função das coisas, idéias e sentimentos, fazer da experiência uma unidade uma vez que sexo, necessidades fisiológicas, impressões de objetos, sensações ou emoções, diferenciações entre sagrado ou profano, são realidades movediças que precisam ser coletivamente orientadas. É fácil imaginar também que se este sistema social excludente e racista não quer ver destruída sua solidariedade interna, não tolerará tal desarticulação de sua coesão e artificial simetria, expressa em práticas corporais e discursivas de um corpo que aparece sempre como "curioso", "selvagem", "misteriosamente potente", "sexualmente irrefreável", "sujo" e também "ameaçador" uma vez que retém o sujeito “Tradicional/Étnico” num campo discursivo, o da natureza. Douglas demonstra também que os rituais reconhecem o poder da desordem, justamente porque da mesma forma que a desordem estraga o padrão, ela também o alimenta com materiais para a construção desse mesmo padrão. E sendo que a ordem está diretamente ligada à restrição e sendo a desordem ilimitada, essa a desordem simboliza tanto o perigo quanto o poder. Um exemplo claro é a forma como antigos romanos viam o todo: dividia-se o todo em duas partes o mundus e o imundus , onde mundus era o limpo, ordenado, puro; e o imundus era a imundície, ou

seja, estava ligado às coisas impuras, porém com poderosas forças de criação. Daí a importância dos elementos ambíguos e impuros nos processos rituais. Douglas vê um jogo de duas faces nessas crenças: a) existe uma jornada pelas regiões perigosas da mente; b) há uma aventura para os limites da sociedade. A sujeira é relevante para esses rituais por colocarem à prova os iniciantes, pondo- os em contato com o poder da desordem. As coisas impuras são usadas para purificar. Vê-se que os limites do puro e do impuro são bastante tênues. Um enorme repertório referente à poluição e, consequentemente, à purificação, é usado para conferir poder ao ritual. É necessário salientar: no decorrer do rito os indivíduos não têm lugar na sociedade, e ter estado nas margens é ter contato com o perigo. Douglas diz que onde existe um sistema social bem articulado devem-se procurar poderes articulados, e onde o sistema social é mal articulado, deve-se procurar poderes inarticulados, investidos naqueles que são fonte de desordem. O ritual possui as mesmas qualidades positivas encontradas em Douglas: os ritos dizem coisas, fazem e, sobretudo, fabricam coisas. Assim, os ritos não são simplesmente um conjunto de classificações cognitivas para estabelecer ordem no universo, mas também dispositivos que funcionam para despertar, canalizar e domesticar poderosas emoções. A própria situação dos liminares evoca uma desordem: eles são destituídos de seus status, propriedades ou tudo que possa indicar sua condição social. Acatam punições e humilhações. Devemos lembrar a afirmação de Douglas, quando ela diz que é na relevância simbólica da sujeira que se pode entender como o ato de sujar, ou a utilização das coisas impuras. Enfim, é um perigo para o sistema social repartir o poder de simbolizar a vida com aqueles cujos caracteres e idéias projetadas são ambíguas e anômalas, ou seja, não se enquadram na ordem social vigente. E se lembrarmos, com Mary Douglas, que, por um lado, o corpo humano possui formas variadas, assimétricas, interior e exterior, orifícios de entrada e saída de fluidos, “excrementos e objetos”, mas também, por outro lado, margens físicas que são margens de idéias, de experiências físicas e emocionais, sociais e culturais chegam a ponto de afirmar que ignorantes. Mas, apesar desta oposição, o que se nota é que existe uma relação de unidade entre esses pólos. Tanto as forças do mal quanto à do bem são

forma ou outra, conforme o seu "estado afetivo", em busca de uma coesão moral, é evidente que haverá uma variação, uma transformação, uma transmutação nestas cristalizações, sempre que se alterar o ânimo da sociedade. Uma das dezenas de formas populares de se abreviar a palavra Demônio. Toda vez que citar Douglas, estarei referindo-me às suas obras O Processo Ritual (1974) e Pureza e Perigo (1976), respectivamente. Pode se pensar Deus e o Diabo contendo uma série de momentos decisivos, pontos de mudança. Note-se a presença da violência em todos eles. Pensando no Brasil, verifico como a violência passa a não ser vista sob o prisma moralizante e adquire dimensão própria, cultos esses que, são os únicos no Brasil a reconhecer como seus o caos e a violência. A existência de pares de oposição ( Deus e Diabo, Negro e Branco, Deus Negro e Diabo Branco ) possibilitaria uma análise estruturalista que enriqueceria bastante o meu trabalho. Nessa perspectiva, uma análise de gênero em Deus e o Diabo poderia ser frutífera.

Conclusão

Temos então uma intrínseca articulação entre raça, etnias e poder no meio social e no cotidiano, tendente a beneficiar o branco e agradar muito mais à política de expropriação e exclusão. Além disso, é ordenada por hábitos de consumo de bens materiais e simbólicos quase sempre não disponíveis àqueles que em virtude da posição de classe, raça, idade ou origem étnica que ocupam, não podem usufruir. Do mesmo modo, constatamos que na sociedade brasileira não existe um humanismo devidamente legítimo. Isto porque, o consenso humanista nestas comunidades, em torno do que é justo, correto e atraente, segue a orientação do pensamento de uma sociedade predominantemente de branco, por eles e para eles pensada. Este pensamento nega ou ignora a presença de raças e níveis sociais diferenciados, para assimilar o indivíduo "mestiço" protegido pelo sistema e, uma vez repositor de desigualdades e mediações que não estão nos genes, ao contrário, são inferências político- ideológicas, ali posto, propositalmente. Enfim, no meio rural especificamente às populações tradicionais brasileiras, não há, a rigor, um respeito. E, ao meu ver, isto é uma questão que o meio étnico precisa enfrentar com serenidade e senso de justiça. Numa sociedade como é a

brasileira, tão hierarquizadas, resistentes à multiplicação de vozes sociais, à distribuição de poder, as populações tradicionais é uma ponta importante para a crítica a exclusão social do capital e dos direitos humanos, e sobre o que é puro e impuro, de certezas que orientam a opressão não apenas de populações tradicionais, mas de outras categorias sociais como pobres mulheres e, é claro, os negros. O meio social brasileiro, por sua vez, se quiser realmente seguir uma orientação universalista, totalmente humanista, deve operar não no sentido de reproduzir tragédias e farsas da história nacional, mas no sentido de desmontá-las incorporando respeito às diferenças e a espaços sempre ocupados.

Bibliografia

DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. “Ensaio sobre as noções de Poluição e Tabu”. Lisboa, Edições 70 (col. Perspectivas do Homem, n.º 39), s.d. (trad. por Sônia Pereira da Silva, 1966). DURKHEIM, Émile. 1989. As Formas Elementares de Vida Religiosa. São Paulo: Ed. Paulinas. GEERTZ, Clifford. 1989. A interpretação das Culturas. Rio de janeiro: Editora Guanabara.