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Música Religiosa Inglesa do Século XVII: Orlando Gibbons, Peter Philips e Matthew Locke, Manuais, Projetos, Pesquisas de Música

Uma análise interessante sobre a música religiosa inglesa do século xvii, especificamente sobre os compositores orlando gibbons, peter philips e matthew locke. Os autores desta nota apontam que esses compositores foram desconhecidos entre nós, mas suas obras são de grande importância para a evolução da música inglesa. O texto oferece informações sobre as contribuições desses compositores para a música sacra e instrumental, além de suas influências italianas e flamengas. O documento também destaca a importância da música inglesa do século xvii, que foi um período de grande importância musical mundial, com nomes como blow e purcell sendo apenas alguns dos destaques.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

4.4

(399)

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MÚSICA RELIGIOSA I
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NGLÊSA
DO SÉCULO XVII.
Estas notas foram sugeridas por um disco, editado já há algum
tempo, mas que só Últimamente tivemos oportunidade de conhecer,
reunindo algumas composições de três autores inglêses dos séculos
XVI e XVII, •a saber: Peter Philips (1560-1633), Orlando Gibbons
(1583-1625) e Matthew Locke (1632-1677) (1) . Sem entrar
na apreciação do disco em si, nem na do conjunto que teve a seu
cargo •a execução dessas obras, queremos, contudo, ressaltar o in-
teresse dêsse programa de música religiosa inglêsa, sobretudo por
tratar-se de compositores ignorados entre nós e de cujo conheci-
mento nem os próprios discófilos podiam gabar-se, pois, a não ser
duas ou três pequenas páginas de Gibbons, nada mais havia, antes,
merecido as honras da gravação. O disco em apreço nos deu a co-
nhecer apenas uma pequena parcela do muito que escreveram. Par-
cela que permite, entretanto, avaliar o mérito de suas produções e
principalmente o papel que representaram na evolução da música
inglêsa
O que tem chegado ao nosso conhecimento da música inglêsa
do século XVII é deveras surpreendente. Bastariam os nomes de
Blow e de Purcell para que considerássemos a Inglaterra um dos
países mais importantes, sob o ponto de vista musical, do mundo
de então. Todavia
>
cumpre não esquecer os compositores menores
que atuaram como que preparando o terreno para a obra imensa
de Purcell. Éste trabalho precursor vem desde o século XVI, com
Henrique VIII, curioso monarca que tinha também suas veleidade-
sinhas de compositor. Não foi à-toa que já nessa época Erasmo de
Roterdão, o grande humanista da Renascença, escreveu que "os
inglêses podiam considerar-se, entre todos os povos, o de melhor
aparência, o
mais musical
e o de melhor mesa". (O grifo é nosso) .
A grande contribuição dos inglêses dessa época para a música
foi o madrigal. Embora originário da Itália, foi na Inglaterra que
essa delicada forma musical atingiu o máximo de sua perfeição.
Conhecem-se noventa e duas coleções de madrigais publicadas na
Inglaterra no meio século que vai de 1588 a 1638. Uma delas,
talvez a mais famosa — "The Triumphes of Oriana" —, foi editada
(1) . — Sacred Music of the 17th Century: Orlando Gibbons,
Peter
Philips, Matthew
Locke.
Purcell PerfoMng Society: John Reymes King, Conductor. Allegro 3038.
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MÚSICA RELIGIOSA I\NGLÊSA

DO SÉCULO XVII.

Estas notas foram sugeridas por um disco, editado já há algum tempo, mas que só Últimamente tivemos oportunidade de conhecer, reunindo algumas composições de três autores inglêses dos séculos XVI e XVII, •a saber: Peter Philips (1560-1633), Orlando Gibbons (1583-1625) e Matthew Locke (1632-1677) (1). Sem entrar na apreciação do disco em si, nem na do conjunto que teve a seu cargo •a execução dessas obras, queremos, contudo, ressaltar o in- teresse dêsse programa de música religiosa inglêsa, sobretudo por tratar-se de compositores ignorados entre nós e de cujo conheci- mento nem os próprios discófilos podiam gabar-se, pois, a não ser duas ou três pequenas páginas de Gibbons, nada mais havia, antes, merecido as honras da gravação. O disco em apreço nos deu a co- nhecer apenas uma pequena parcela do muito que escreveram. Par- cela que permite, entretanto, avaliar o mérito de suas produções e principalmente o papel que representaram na evolução da música inglêsa O que tem chegado ao nosso conhecimento da música inglêsa do século XVII é deveras surpreendente. Bastariam os nomes de Blow e de Purcell para que considerássemos a Inglaterra um dos países mais importantes, sob o ponto de vista musical, do mundo de então. Todavia > cumpre não esquecer os compositores menores que atuaram como que preparando o terreno para a obra imensa de Purcell. Éste trabalho precursor vem desde o século XVI, com Henrique VIII, curioso monarca que tinha também suas veleidade- sinhas de compositor. Não foi à-toa que já nessa época Erasmo de Roterdão, o grande humanista da Renascença, escreveu que "os inglêses podiam considerar-se, entre todos os povos, o de melhor

aparência, o mais musical e o de melhor mesa". (O grifo é nosso).

A grande contribuição dos inglêses dessa época para a música foi o madrigal. Embora originário da Itália, foi na Inglaterra que essa delicada forma musical atingiu o máximo de sua perfeição. Conhecem-se noventa e duas coleções de madrigais publicadas na Inglaterra no meio século que vai de 1588 a 1638. Uma delas, talvez a mais famosa — "The Triumphes of Oriana" —, foi editada (1). — Sacred Music of the 17th Century: Orlando Gibbons, Peter Philips, Matthew Locke. Purcell PerfoMng Society: John Reymes King, Conductor. Allegro 3038.

em 1601 por Thomas Morley, em honra da rainha Isabel (2). Um estrangeiro de nome Galliard, que residiu na Inglaterra, deixou as seguintes impressões sôbre a música daquele tempo: "Os madrigais estavam muito em moda no reinado da rainha Isabel e os inglêses da época deram provas de sua capacidade para essas composições, chegando a rivalizar com os melhores compositores italianos. Nin- guém podia considerar-se possuído de uma boa educação liberal, se não conhecesse bastante música para cantar o seu papel à primeira vista e, nas reuniões de senhoras e cavalheiros, era comum colocar- se livros de madrigais diante dos presentes, para que cada um can- tasse a sua parte... Mas, depois do glorioso reinado da rainha Isa- bel, a música (pela qual a Inglaterra era famosa no mundo inteiro, assim como pelas outras artes) foi tão abandonada, não só devido à falta de estímulo dos poderosos, como devido à guerra civil que, afinal, essa arte se perdeu completamente" (3). Realmente, os acontecimentos políticos que abalaram a Ingla- terra na primeira metade do século XVII exerceram profunda in- fluência sôbre a vida musical do país. Não só os políticos, mas tam- bém os religiosos. Assim, ao lado de reis que não tiveram o menor interêsse pelas artes (como os primeiros sucessores de Isabel, Jaime I e Carlos 1), encontramos o puritanismo rígido, exagerado e in- transigente que dominou a vida inglêsa dessa época, banindo a mú- sica da igreja, na sua preocupação de simplificar ao máximo o culto cristão (4). Éste estado de coisas durou pelo menos até à restau- ração, de maneira que assistimos, na segunda metade do século XVII, a um novo florescimento da música, com as já mencionadas figuras de Blow e Purcell. Convém não esquecer, entretanto, que mesmo durante êsse pe- ríodo de retraimento, que foi a primeira metade do século XVII, não cessaram as atividades musicais na Ilha. O que se verifica, porém, é mínimo comparado com os tempos de Isabel..Conhecem- se os nomes de diversos músicos que, por falta de serviço na sua especialidade, tiveram que procurar outros meios de vida (5). Sa- be-se, ainda, que o próprio Cromwell apreciava a música e chegou a ter em seu palácio um organista para distraí-lo com motetes reli- giosos e para ensinar a arte divina às suas filhas. Mas, — como observa De Candé —, os funcionários da república eram mais in-

. — Dessa interessante coleção de madrigais foi feita recentemente, sob a direção de David Randolph, uma gravação integral (32 peças) comemorativa da coroação de Elisabeth II, que é, também, grande entusiasta dessa forma musical. Sabe-se que a jovem rainha manteve por muito tempo (^) (e talvez ainda mantenha), sob sua própria direção, no Palácio de Buckinghan, um dos mais finos conjuntos (^) ma- drIgalescos da Inglaterra. . (^) Apud W. J. Turner, A música inglêsa, (^) p. 15. Trad. de Lyra Cavalcanti. Rio, José Olympic., s.d. . — Ver sôbre o assunto, entre outros, Roland De Candé, Petite histoire de /a mu- sique anâlaise, cap. IV e Eric Blom, (^) Music in Etulland, caps. III e IV. . Roland De Candé, op. cit., p. 71.

fluência que sôbre sua obra exerceu a música religiosa continental, quase tôda, nessa época, prêsa ainda ao espírito litúrgico católico- romano. As peças de Philips que figuram nesse valioso programa de música inglêsa antiga, que é o disco da Allegro, intitulam-se Ascendit Deus, Hodie Sanctus Bened'ictus e Surgens Jesus. A gravação dêsse disco veio trazer, pois, aos estudiosos da his- tória da música um excelente material de trabalho, uma vez que, conforme observamos, encerra composições de autores até agora pràticamente desconhecidos, mas de grande importância para a evo- lução da música inglêsa. O trabalho imenso que realizaram, às vê- zes em condições pouco ou nada favoráveis, permitiu que se man- tivesse vivo o interêsse dos inglêses pela música, preparando o país para a grande época de Purcell, na segunda metade do século XVII.

ODILON NOGUEIRA DE MATOS