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Microbiologia Apostila, Trabalhos de Imunologia

Aspectos microbiológicos da placa dental

Tipologia: Trabalhos

2020

Compartilhado em 26/09/2020

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Apostila 2
Disciplina: Pré-Clínica II (DP-201)
Aspectos microbiológicos da placa dental
Área de Microbiologia e Imunologia
FOP-UNICAMP
Profa. Dra. Renata O. Mattos Graner
Prof. Dr. Reginaldo B. Gonçalves
Prof. Dr. José Francisco Höfling
Leandro Moraes Furlan
Piracicaba 2005
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Apostila 2

Disciplina: Pré-Clínica II (DP-201)

Aspectos microbiológicos da placa dental

Área de Microbiologia e Imunologia FOP-UNICAMP Profa. Dra. Renata O. Mattos Graner Prof. Dr. Reginaldo B. Gonçalves Prof. Dr. José Francisco Höfling Leandro Moraes Furlan Piracicaba 2005

Placa dental bacteriana – aspectos microbiológicos

  1. Conceito de placa dental bacteriana ou biofilme dental. Definição de biofilme: Genericamente, biofilmes são definidos como comunidades microbianas sésseis aderidas a superfícies rígidas. Os microrganismos que compõem o biofilme formam uma comunidade extremamente organizada, sendo envolvidos por uma matriz extracelular, composta principalmente de polissacarídeos produzidos pelos próprios microrganismos, os quais interagem com componentes do fluído pelo qual são banhados. Os biofilmes são tipicamente banhados por fluídos que carregam microrganismos. O biofilme dentário é banhado pela saliva. Os microrganismos que colonizam os dentes formam a chamada placa dental bacteriana, de enorme interesse à odontologia e outras áreas de medicina. A placa dental bacteriana é um BIOFILME. Na natureza existem inúmeros biofilmes distintos. Por exemplo, biofilmes microbianos estão implicados na redução da vazão de tubulações das redes de água e esgoto e na contaminação e disseminação de infecções por microrganismos formadores dos biofilmes de catéteres e tubulações de equipamentos médicos e odontológicos (4,12). A placa dental é possivelmente o biofilme mais estudado, sendo importante no desenvolvimento das principais patologias bucais: a cárie dental e as doenças periodontais (3). A comunidade microbiana de um biofilme dental maduro envolve interações microbianas intra e inter espécies e gêneros, as quais são relativamente estáveis. A matriz extracelular do biofilme apresenta canais por onde atravessam fluídos contendo nutrientes, metabólitos secretados, enzimas, oxigênio, sais e compostos orgânicos. As bactérias que formam o biofilme apresentam mecanismos de comunicação através de sinais químicos. Estes sinais estimulam as bactérias a produzir proteínas e enzimas importantes para a adaptação fisiológica bacteriana às diferentes condições ambientais, às quais o biofilme está exposto. Assim, os biofilmes se comportam como um tecido organizado, sendo capazes de se adaptar mais facilmente a diferentes condições de estresse ambiental (3).
  2. Fases de formação de biofilmes dentários. Embora tenhamos discutido que a composição microbiana varia segundo as diferentes áreas dos dentes, principalmente quando se compara biofilme supragengival e biofilme subgengival, os mecanismos básicos de formação de biofilmes são academicamente divididos em três fases principais do desenvolvimento:
    1. Fase de aderência inicial: envolve mecanismos inespecíficos e específicos de adesão à película adquirida do esmalte e outras superfícies dentárias expostas (Ex. superfícies radiculares). Os microrganismos com maior capacidade de se aderir aos dentes nestas fases iniciais são definidos como colonizadores primários.
    2. Fase de acúmulo: envolvem mecanismos de interação bacteriana e a produção de uma matriz extracelular. Muitos microrganismos não se aderem inicialmente aos dentes, mas são capazes de se aderir (co-adesão) a microrganismos primários que se estabelecem na fase inicial. Estes são denominados de colonizadores secundários.

Esmalte dentário Esmalte dentário

Película adquirida Adesina Bactéria presente na saliva

A B

Os colonizadores primários da placa dental têm como característica, a presença de adesinas com maior afinidade a componentes da PA , quando comparados com colonizadores secundários. Além disto, estes microrganismos geralmente são produtores de proteases que quebram os anticorpos IgA1S. Estas proteases são portanto, denominadas de IgA1-proteases (vide Apostila 1). As IgA1-proteases são importantes, pois permitem que estes microrganismos ocupem sítios da PA bloqueados por anticorpos. Além disto, estes microrganismos são capazes de eliminar os anticorpos que se ligam a suas adesinas de superfície. Dentre as principais espécies classificadas como colonizadores primários dos dentes estão: Streptococcus sanguinis, Streptococcus gordonii, Streptococcus oralis e Streptococcus mitis (vide as principais características destas espécies bacterianas na Apostila 1). Figura 1. A) Esquema da organização da película adquirida do esmalte. A superfície do esmalte apresenta carga negativa decorrente dos grupos fosfatos que compõem a hidroxiapatita. Íons cálcio (Ca+) são então atraídos, formando uma camada de hidratação com carga positiva. Componentes salivares com partes eletronegativas se adsorvem a esta camada por interações não covalentes fracas. Estes componentes formam uma camada denominada de película adquirida do esmalte (PA). B) Proteínas de superfície bacteriana (adesinas) se ligam especificamente a componentes da película adquirida, permitindo ligações mais estáveis (“encaixe”). As ligações bacterianas inespecíficas, que ocorrem inicialmente por ligações eletrostáticas e/ou ligações de van der Waals não estão representadas nesta figura. Figura adaptada de B. Nyvad e O. Fejerskov, in: A. Thylstrup, O. Fejerskov. Tratado de Cariologia. Ed. Cultura Médica, RJ, 1a. edição, 1988.

Tabela 1. Exemplos de adesinas que interagem com componentes da película adquirida, identificadas em espécies de colonizadores primários. Tipo de adesinas Espécies microbianas que apresentam Receptor Família de Antígenos I/II S. gordonii, S. oralis, S. mutans, S. sobrinus Aglutinina da saliva da parótida, proteínas ricas em prolina, colágeno. Proteínas Ligantes de Amilase S. gordonii, S. mitis, S. salivarius, S. crista α-amilase salivar. Lectinas de superfície S. oralis, S. mitis Glicoproteínas salivares. Complexo antigênico G9B S. gordonii Proteína de 73 kDa da saliva submandibular. Proteína de superfície da família LraI S. parasanguis, S. sanguinis Diversos componentes da PA. Fonte: adaptado de Kolenbrander, P. E. and J. London. 1993. Adhere today, here tomorrow: oral bacterial adherence. J.Bacteriol. 175:3247-3252. (7) 2.2 Fase de acúmulo. A fase de acúmulo é a fase onde os microrganismos interagem entre si. Nesta fase, microrganismos não capazes de interagir com componentes da PA podem se aderir através da interação com as superfícies de microrganismos colonizadores primários (aderidos à PA). Diversos mecanismos estão envolvidos na fase de acúmulo microbiano no biofilme. Estes mecanismos podem ser divididos em: (a) Co-adesão e co-agregação: adesinas de novos microrganismos se ligam a receptores da superfície celular dos microrganismos que formam as primeiras camadas de biofilme (colonizadores primários). (b) Acúmulo microbiano através da divisão celular de microrganismos aderidos ao dente. (c) Acúmulo através da produção de uma matriz extracelular pegajosa de polissacarídeos extracelulares que “gruda” diversas bactérias em divisão no biofilme. (d) Interações metabólicas. Todos os processos de acúmulo ocorrem de forma associada e dinâmica, sofrendo influência de diversas condições ambientais, condições do hospedeiro e bacterianas. As interações bacterianas metabólicas incluem mecanismos de antagonismo^1 e mutualismo^2 entre as diversas espécies e gêneros microbianos. 2.2.1 Mecanismos de co-adesão e co-agregação (a). Estes mecanismos envolvem a interação específica entre adesinas da superfície bacteriana e receptores presentes nas superfícies de outros microrganismos. Estas interações entre células promovem agregação de bactérias de mesma espécie. O prefixo “co-” é utilizado para indicar interação entre bactérias de gêneros e/ou espécies distintos. Bactérias isoladas ou (^1) Antagonismo: relação entre dois organismos distintos no qual um inibe o outro. (^2) Mutualismo: relação entre dois organismos distintos, na qual ambos são beneficiados.

utilizada por um pesquisador sueco, Dr. Per Axelsson, como um indicador dos riscos dos indivíduos desenvolverem doenças bucais como a cárie, uma vez que esta patologia está associada a microrganismos altamente formadores de PEC e ao consumo freqüente de sacarose (10). Superfície dentária estaterina α - amilase Resto celular bacteriano Proteína rica^ em prolina Proteína rica^ em prolina Colonizadores secundários Colonizadores tardios PA Adesina Receptor Adaptado de PE Kolenbrander e J London. J Bacteriol 175:3247-3252, 1993 Figura 2. Diagrama de aderência bacteriana à superfície dentária. Os colonizadores primários consistem naqueles com adesinas de maior afinidade a componentes de película adquirida da esmalte. Após aderidos, estes microrganismos oferecem novos sítios de interação, visto que colonizadores secundários apresentam adesinas que se ligam a proteínas de superfície de alguns colonizadores primários, podendo co-aderir e co-agregar. Camadas sucessivas são formadas a partir destes processos de co-aderência/agregação, ocorrendo um aumento da diversidade microbiana da placa dental. Observe que a espécie Fusobacterium nucleatum corresponde a uma das espécies fusiformes que funcionam como uma ponte entre as diferentes camadas de bactérias.

Superfície dentária Bactérias em divisão (microcolônia) Co-agregado bacteriano Bactéria colonizadora primária Matriz de polissacarídeos extracelulares Agregado bacteriano 2.2.3 Dinâmica das sucessões microbianas (d). Conforme o biofilme vai se formando, diversas mudanças locais ocorrem. Com o aumento da quantidade de matriz extracelular, as camadas mais internas (mais próximas do esmalte) apresentam menor disponibilidade de alguns nutrientes e de oxigênio. Estas áreas mais internas passam a ser favoráveis aos microorganismos anaeróbios, os quais iniciam sua proliferação. Além disto, algumas espécies presentes na placa utilizam O 2 , para a produção de H 2 O 2 , também favorecendo microrganismos anaeróbios estritos. Outras modificações ocorrem devido a variações no pH local. Como grande parte dos colonizadores primários e secundários são bactérias sacarolíticas fermentativas, há a produção de ácido láctico e conseqüente queda do pH local. Embora existam diversos mecanismos de tolerância bacteriana a meios ácidos, a maior parte dos colonizadores comensais ( S. sanguinis , S. gordonii , S. oralis ) não são capazes de resistir a quedas muito drásticas e duradouras do pH. Em algumas placas dentárias, o pH pode cair rapidamente para valores por volta de 4,0! Algumas espécies bucais se desenvolvem bem em meios ácidos, como Lactobacillus spp. , Veillonela spp. e estreptococos do grupo mutans, sendo favorecidas nos ambientes altamente acidogênicos. Por outro lado, nas placas subgengivais, o pH torna-se alcalino em decorrência da resposta inflamatória, onde há degradação de proteínas, liberação de aminas e produção de amônia. Nestes casos, o pH local varia de 7,2 a 7,4, o que favorece o crescimento de algumas espécies patogênicas como a Porphyromonas gingivalis , cujo pH ótimo de crescimento está por volta de 7,5 (8,9). Com a maior competição por nutrientes, aqueles microrganismos com capacidade de transportar e metabolizar maior diversidade de açúcares ou de nutrientes disponíveis tenderão a aumentar em proporção na placa dental. A saliva funciona como uma fonte importante de Figura 3. Diagrama simplificado do acúmulo bacteriano durante a formação da placa dentária. Bactérias inicialmente aderidas aos dentes passam a se dividir, formando microcolônias, as quais vão crescer em tamanho e se unem a outras microcolônias. Algumas das bactérias em divisão produzem também uma matriz de PEC, a qual favorece o acúmulo, agregação e co-agregação de outros microrganismos na placa.

pesquisadores consideram questionável a classificação de espécies bucais dos gêneros Porphyromonas , Prevotella e Treponemas , como anaeróbios estritos (2). O estresse oxidativo é decorrente dos vários produtos tóxicos oxidantes derivados do O 2 , os quais são altamente reativos. A reatividade do O 2 aumenta com a aquisição de elétrons. Entre os produtos tóxicos gerados a partir do O 2 , temos o radical livre superóxido (O 2 - ), o peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ), o radical hidroxila (OH.) formado pela adição de um a três elétrons. Os produtos O 2 -^ ou H 2 O 2 podem ainda reagir com íons de ferro (Fe 3 +) ou cobre (Cu 2 +), gerando produtos também tóxicos às bactérias. A sobrevivência ao estresse oxidativo é dependente da capacidade de metabolizar O 2 sem gerar produtos tóxicos ou de remover/modificar os agentes tóxicos produzidos em produtos finais não tóxicos. Enquanto os microrganismos aeróbicos utilizam inúmeros sistemas enzimáticos que eliminam os agentes redutores originados do O 2 , as bactérias anaeróbicas estritas não produzem estas enzimas, sendo altamente sensíveis ao estresse oxidativo. Os anaeróbios facultativos também apresentam diversos sistemas para converter produtos tóxicos, embora não utilizem o O 2 para obter energia, como os aeróbicos. As bactérias bucais se utilizam de pelo menos 6 reações enzimáticas distintas para metabolizar o oxigênio e/ou seus produtos (2). Cada uma destas reações envolvem diferentes enzimas, cujas reações catalisadas estão a seguir:

  1. Superóxido dismutase : O 2 -^ + O 2 -^ + 2H+^ → H 2 O 2 + O 2
  2. Catalase : 2 H 2 O 2 → 2H 2 O + O 2
  3. Peróxido de hidrogênio NADH oxidase : NADH + H+^ + O 2 → 2NAD+^ + H 2 O 2
  4. Água-NADH oxidase: 2NADH + 2H+^ + 2O 2 → 2NAD+^ + 2H 2 O
  5. NADH peroxidase: NADH + H+^ + H 2 O 2 → NAD+^ + H 2 O
  6. Piruvato oxidase: Piruvato + Pi + O 2 → Acetyl-P + H 2 O 2 Streptococcus spp. (anaeróbios facultativos) apresentam NADH oxidases, NADH peroxidases, superoxido-dismutases, mas não catalases. Enzimas NADH oxidase e superóxido dismutase também foram detectadas em espécies de anaeróbios “estritos”, como Treponema denticola , Porphyromonas spp .e Prevotella spp. A Figura 4 ilustra as principais modificações ambientais ocorridas em diferentes áreas de placa dental bacteriana, da mais externa à mais interna. Variações nos mesmos fatores ambientais também existem quando se comparam as microbiotas da placa supragengival e subgengival (não representado na Figura 4). O conjunto de mecanismos de adaptação ao estresse ambiental é também influenciado pela composição microbiana de placa dental. Diversas interações entre microrganismos favorecem o estabelecimento de uma condição de equilíbrio. Um biofilme dentário maduro formado por uma comunidade complexa em equilíbrio dinâmico pode ser referido como uma comunidade clímax. As comunidades clímax podem existir apenas temporariamente, uma vez que alterações ambientais podem constantemente interferir neste equilíbrio ecológico. Portanto, é improvável que as comunidades clímax existam por muito tempo na cavidade bucal, exceto em áreas mais protegidas.

Placa dental Superfície dentária Produtos Nutrientes O 2 Eh^ pH metabólicos

  1. Interações metabólicas entre gêneros e/ou espécies da placa dental A sucessão microbiana não é casual, mas sim envolve inúmeros processos que ordenam a colonização e composição da microbiota bucal. Além dos mecanismos de interação mediados por adesinas, PEC e adaptação a condições de estresse ambiental, há também o efeito de interações metabólicas entre microrganismos distintos da comunidade da placa dental. Estas interações envolvem diversos mecanismos específicos de antagonismo (uma espécie/gênero inibe outra espécie ou gênero distinto) e de mutualismo/agonismo (uma espécie ou gênero favorece a outra espécie ou gênero distinto). Estes processos contribuem para o estabelecimento de uma comunidade microbiana em equilíbrio. Além disto, dentro de uma mesma espécie microbiana, cepas distintas competem entre si para se estabelecer dentro de uma comunidade específica. Vamos compreender isto melhor. Considere que os alunos do curso de graduação da FOP-UNICAMP pertencem à espécie Homo sapiens. Embora sendo da mesma espécie, muitos destes alunos poderão interagir de forma competitiva, ou para vencer um torneio esportivo, ou para obter as melhores notas, ou para adquirir o aproveitamento mais completo e/ou especializado do curso e com isto tornar-se mais competitivo em áreas específicas do mercado de trabalho. Cada indivíduo desta espécie apresenta, no entanto, habilidades distintas que os tornam mais ou menos competitivos, dentro da situação ou condição específica. Muitas destas habilidades são determinadas geneticamente. Entre as bactérias de uma mesma espécie, algo semelhante ocorre. Assim, por exemplo, cada indivíduo da espécie Streptococcus gordonii , embora semelhante em muitas características fundamentais, pode diferir bastante em características específicas. Cada indivíduo dentro de uma mesma espécie bacteriana é denominado de cepa. Cepas distintas de uma mesma espécie variam geneticamente, o que influencia na sua capacidade competitiva. A seguir, vamos explicar alguns exemplos de interações metabólicas entre microrganismos da placa dental e mecanismos competitivos dentro ou fora de um mesmo gênero e/ou espécie microbiana. Figura 4. Diagrama representativo das variações em diferentes condições ambientais que influenciam na composição microbiana das diversas camadas da placa dental (das porções externas às internas). As setas em preto voltadas para baixo indicam redução nas concentrações de nutrientes, tensão de oxigênio e pH nas regiões mais internas da placa dentária. A seta em preto voltada para cima indica maiores concentrações de produtos metabólicos nas áreas internas da placa. Observe que o Eh tende a ser negativo nas regiões de menor tensão de oxigênio. As barras pretas indicam variações nos valores de Eh e concentrações de íons potássio e sódio. Figura adaptada P.D. Marsh, Microbiologia Oral, 2005 (6).

(Exemplo 4) Comunicação: através de interações químicas entre bactérias de mesma espécie ou entre espécies distintas Como abordado superficialmente na Apostila 1, as bactérias que colonizam o mesmo ambiente são capazes de se comunicar através de sistemas de sinalização. Alguns destes sistemas são denominados de “ quorum-sensing ” (do Latim, quorum : número mínimo de indivíduos presentes exigidos para que um órgão coletivo funcione), através dos quais as bactérias “sentem” o aumento de sua densidade populacional. Isto ocorre porque as bactérias secretam pequenos peptídeos (também chamados de ferormônios), para o meio extracelular. Quando há um aumento na concentração destes ferormônios em decorrência do aumento do número de bactérias no local, estes se ligam a receptores das bactérias locais, ativando a transcrição de genes importantes para uma série de modificações fisiológicas (11,14). Estas modificações fisiológicas tornam as bactérias mais hábeis a se adaptar a condições de estresse decorrentes da “super-população”, como carência de nutrientes, estresse osmótico, quedas do pH e variações de Eh. Existem ferormônios que ativam apenas as cepas da mesma espécie à da cepa produtora (sinalização intra-espécie), enquanto outros ferormônios ativam bactérias de espécies distintas (sinalização inter-espécie) (11,11).

  1. Placa dental associada às doenças bucais A placa dental pode apresentar uma composição microbiana compatível com a saúde, quando há o bom funcionamento dos mecanismos de defesa do hospedeiro inatos e adaptativos, um controle físico-mecânico de placa periódico (através de escovação e fio dental) e uma dieta balanceada (rica em fibras e com baixa concentração e freqüência de consumo de sacarose). Nestas situações, podemos dizer que a placa dental encontra-se em condição homeostase (equilíbrio) com o hospedeiro. Entretanto, fatores que interfiram no sistema imune, no acúmulo de placa dental e ou que promovam uma dieta inadequada (pobre em fibras, com alta freqüência de consumo de açúcares fermentáveis), podem promover o desequilíbrio microbiano da placa dental e redução da proporção de microrganismos comensais. Esta condição de desequilíbrio está associadao ao aumento em proporção dos microrganismos patogênicos oportunistas envolvidos na patogenia da cárie dental ou em doenças periodontais. Assim condições que favoreçam microrganismos capazes de proliferar em baixos pHs (por exemplo: estreptococcus do grupo mutans e lactobacilos) estão associados à desmineralização progressiva dos dentes, e conseqüente desenvolvimento de lesões de cárie. Por outro lado, o acúmulo prolongado de placa nas margens gengivais causam inflamação gengival pela ação mais exacerbada do sistema imune local e favorece o crescimento de microrganismos anaeróbios estritos, incluindo bactérias proteolíticas (por exemplo: Porphyromonas spp ., Prevotella spp ., Treponema spp .) que promovem destruição dos tecidos periodontais e ativam mecanismos imunológicos que agridem o próprio tecido periodontal. Além das proteases produzidas por estes microrganismos, os produtos da própria reação inflamatória são responsáveis pelo dano do periodonto. Durante a inflamação, o pH da placa subgengival varia de neutro a pHs mais básicos, por volta de 7,5 (8). Estes pHs alcalinos favorecem o crescimento de bactérias periodontopatogênicas anaeróbias, Gram-negativas, como Prevotella intermedia e Porphyromonas gingivalis. Além disto, o fluído crevicular aumenta em volume em decorrência do processo inflamatório. Por ser rico em proteínas, este fluído passa ser uma fonte rica em nutrientes para as bactérias proteolíticas, favorecendo o crescimento das espécies periodontopatogênicas, os quais aumentam em proporção na placa dental bacteriana (9). A Figura 5 ilustra a evolução de uma placa dental associada à saúde para uma placa dental patogênica. Na próxima apostila, vamos estudar em detalhes os fatores associados ao estabelecimento de uma placa dental associada à cárie dentária.

superfície dentária superfície dentária Placa dental associada à saúde (maiores níveis de microrganismos comensais) Placa dental associada à doença (maiores níveis de microrganismos patogênicos) Pressões Ecológicas ambientais

Agradecimentos

A elaboração desta apostila contou com a colaboração do aluno do Curso de Graduação em Odontologia da FOP-UNICAMP, Leandro Moraes Furlan (RA 24277). Figura 5. Relação entre os níveis de patógenos da placa dental associada à saúde e à doença periodontal. Bactérias em cinza representam as espécies patogênicas. As bactérias comensais são representadas em branco. Observe que os níveis de microrganismos comensais é maior nas placas dentárias compatíveis com a saúde, embora microrganismos patogênicos possam existir em baixos níveis. Pressões ecológicas podem favorecer a proliferação de microrganismos patogênicos, o que promove o desenvolvimento de uma placa dental patogênica. Figura adaptada de P.D. Marsh. Microbiology 149: 279-294, 2003 (9).

Glossário Heme : subunidade da molécula de hemoglobina que consiste de uma parte orgânica e um átomo de ferro. A parte orgânica é formada por 4 anéis, os quais se ligam formando um tetra- estrutura. O átomo de ferro fica no centro da estrutura tetra e se liga ao oxigênio. Hemina: forma química de heme, na qual o átomo de ferro se torna férrico (reativo com cloro. Também chamado de cloreto de hemina, cloreto de hematina, cloro-hemina, fator X de Haemophilus. Mutualismo: Relação entre dois organismos distintos, na qual ambos são beneficiados.