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Este documento discute a teoria do darwinismo e as críticas de michael behe, um autor conhecido por questionar as ideias de darwin sobre a evolução. Behe defende a teoria do design inteligente, a partir de sua obra 'a caixa preta de darwin' e 'the edge of evolution'. O texto explora as implicações dessas ideias na ciência e na sociedade, além de discutir as reações dos defensores de cada teoria.
Tipologia: Notas de aula
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New York: Free Press, 2007. 331p.
A teoria da evolução a partir de um ancestral comum, através da seleção natural e da mutação aleatória, exposta por Charles Darwin n’A origem das espécies em 1859,^1 formou um dos conjuntos de idéias mais influentes na his- tória recente da ciência. O darwinismo atravessou as barreiras da academia e difundiu-se, bastante matizado, pela sociedade. Durante quase um século, o darwinismo dominou a explicação científica da origem da vida. Com as novas descobertas ocorridas a partir de meados do século passado, especialmente do DNA, o nível de complexidade por trás dos processos celula- res se mostrou maior do que o esperado pelos evolucionistas. Pôr o darwinismo à prova, à luz dessas descobertas, abre um enorme espaço para a refutação das idéias do naturalista inglês. Atualmente, o questionamento mais vigoroso a res- peito da validade dos fundamentos teóricos do darwinismo parte das críticas de Michael Behe. Michael J. Behe é um autor conhecido entre os estudiosos do darwinismo. Bioquímico e professor na Leigh University, na Pensilvânia, Estados Unidos, popularizou-se por defender o criacionismo — bastante camuflado — de forma bastante competente. Em 1996, com o lançamento de A caixa preta de Darwin, 2 o autor tentava provar que algumas estruturas bioquímicas presentes em certas células são tão complexas que não podem ser explicadas pelo argumento da mutação aleatória, contrariando um dos pilares do darwinismo. A análise de Michael Behe fez o autor figurar entre os principais cientistas a advogarem em prol da teoria do design inteligente. Essa teoria defende que o darwinismo, mes- mo sendo bastante coerente e verossímil, é insuficiente para a compreensão da vida e da evolução: a vida na Terra não alcançaria o estágio que alcançou ba-
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 28, nº 56, p. 593-596 - 2008
Gabriel da Costa ávila*
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seada apenas em processos aleatórios. É necessário que haja um caminho a se- guir, um projeto, um design funcional a ser alcançado. Um dos suportes teóricos fundamentais para o design inteligente é o con- ceito de complexidade irredutível, introduzido por Behe em A caixa preta de Darwin. Segundo o autor, os avanços da ciência nos permitiram questionar a proposta evolutiva de Charles Darwin, principalmente quando se dispõe de dados e informações a que o naturalista jamais teve acesso, notadamente no que diz respeito à genética e à bioquímica. Analisando algumas estruturas celulares especialmente ‘elegantes’, o autor afirma que estas possuem uma configuração tão sofisticada que se torna impossível concebê-las em estágios anteriores na evolução, isto é, essas estruturas não poderiam ter evoluído de nada mais simples sem ter suas funções irremediavelmente comprometidas. Isso as faz irredutivelmente complexas. O livro gerou polêmica não apenas por seu conteúdo, mas também pela forma convincente da exposição. Um longo debate teve início. Os darwinistas atacavam acusando os adep- tos do design inteligente de criacionistas e anticientificistas, uma vez que, pos- ta a questão do projeto que guia a evolução, é fácil questionar também a res- peito do projetista. Quem é o designer? E a pergunta transcende o reino da razão, no qual se estabeleceu a ciência moderna, e passa para o campo metafí- sico da crença e da religião. Mesmo que se prove a inconsistência do darwi- nismo para explicar o desenvolvimento bioquímico de alguns organismos, o que é bastante saudável no meio acadêmico — embora o darwinismo possua acólitos fervorosos —, a hipótese de uma inteligência por detrás das estrutu- ras da natureza lembra demais o criacionismo e outras idéias que não se sus- tentam se postas à prova pelos métodos desenvolvidos pela ciência para testar o conhecimento que ela produz. Os defensores do design inteligente, por sua vez, acusavam os evolucio- nistas darwinistas de dogmatismo e de censura ao desenvolvimento científico, sentiam-se perseguidos por cientistas que se recusavam a aceitar a possibili- dade de uma nova teoria para a evolução, julgavam estar enfrentando a “No- menklatura científica”.^3 Fica claro no debate a tentativa, de ambas as ‘facções’, de desqualificar os argumentos dos ‘adversários’ empurrando-os para o terreno da não-ciência, ou, ao menos, da ‘má ciência’. Mais de dez anos depois de publicado o livro que reacendeu a tensão entre darwinistas e adeptos do design inteligente, Michael Behe volta à carga com The edge of evolution: a search for the limits of darwinism, estudo, lança- do em 2007 e ainda sem tradução em português, que aprofunda as conclusões obtidas em A caixa preta de Darwin.
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variações e condicionantes sociais, culturais e históricos. A ciência está imersa em seu tempo. E o caso de Behe aponta para isso. O design inteligente, como formulado por esse autor, dá aos criacionistas uma excelente oportunidade de desafiar o darwinismo na interpretação da ori- gem da vida em igualdade de condições, especialmente em relação ao ensino dessas teorias nas escolas públicas dos Estados Unidos. Lá, a disputa pelo ensi- no do criacionismo em substituição, ou em paralelo, ao evolucionismo remon- ta ao início do século passado, e a matéria acabou na justiça em 1987, quando se decidiu suprimir o ensino do criacionismo, com base na noção de Estado laico. Com o advento do design inteligente, porém, a situação se altera. Graças ao esforço cientificista de Michael Behe e outros cientistas ligados a essa corrente, outra vez a peleja entre darwinistas e criacionistas, agora escu- dados pelo design inteligente, vem à baila. Em 2004, a tentativa, no Liceu de Dover, de introduzir o design inteligente como explicação alternativa à origem da vida resultou em novo processo judicial, no qual a instituição foi acusada de privilegiar interpretações religiosas, contrariando assim o laicismo que re- ge a educação nos Estados Unidos. Pode-se perceber um jogo político no qual a ciência é um cavalo de batalha. E a reconfiguração do alcance do darwinis- mo, seja nas suas lacunas bioquímicas, seja nas cartilhas escolares, não signi- fica um avanço das trevas sobre os territórios das luzes e da razão, mas uma demonstração da dinâmica da ciência tal qual se faz.
NOTAS
(^1) DARWIN, Charles. On the origin of species. Cambridge: Harvard University Press, 1975. 512p. (^2) Cf. BEHE, Michael. A caixa preta de Darwin: o desafio da bioquímica à teoria da evolu- ção. Trad. Ruy Jungmann. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 300p. (^3) A Nomenklatura era a classe dirigente soviética, composta pelo alto escalão do partido comunista e do Estado. Segundo alguns críticos do regime de Moscou era o próprio Estado e usava essa condição para se beneficiar. É usada por alguns autores que defendem o design inteligente, quando se referem aos darwinistas, que dispõem de prestígio nas instituições científicas e constituiriam uma classe privilegiada. (^4) WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. José Marcos Mariani Macedo. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 336p.
Resenha recebida em agosto de 2008. Aprovada em setembro de 2008.