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Linfonodos da cabeça e pescoço: drenagem, metástase e tratamento em neoplasias, Notas de aula de Patologia

Este documento aborda os linfonodos da cabeça e pescoço, sua drenagem linfática específica, a incidência e fatores de metástase de carcinomas espinocelulares, além dos métodos de tratamento do pescoço em pacientes com neoplasias de cabeça e pescoço. Também discute a dissecção seletiva do pescoço e a radioterapia pós-operatória.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Neilson89
Neilson89 🇧🇷

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METÁSTASES CERVICAIS
I. ANATOMIA
Os linfonodos da cabeça e pescoço são aproximadamente em número de 300 e compreendem
30% do total de linfonodos do corpo humano.
Os linfonodos cervicais dividem-se segundo uma referência topográfica. Desse modo são
classificados em cinco níveis anatômicos:
I. áreas correspondentes aos trígonos submandibular (IB) e submentonianol (IA).
II, III, IV. áreas contidas sobre a veia jugular interna, dividindo-se em superiores, médios e
inferiores.
V. linfonodos ao longo do nervo acessório, contidos no trígono cervical posterior.
VI. Linfonodos para-traqueais e pré-traqueais, peritireoidianos e pré-cricóides.
II. BIOLOGIA DAS METÁSTASES
O termo“metástase” foi cunhado em 1829 pelo médico francês Joseph Claude Recamier. Ele foi
o primeiro a descrever infiltração local, invasão vascular e desenvolvimento de metástases em pacientes
com câncer de mama.
A metástase não ocorre aleatoriamente, mas, sim, é um processo ativo que envolve células
cancerosas e normais.
Apenas 1 em 10.000 células cancerosas consegue sobreviver e formar uma metástase. Essa célula
deve ser capaz de se desprender das demais (o que é facilitado pela falta de adesão entre as células
tumorais), produzir enzimas proteolíticas que digiram a mambrana basal e alcançar vasos sanguíneos ou
linfáticos. Tradicionalmente, admite-se que os carcinomas emitem metástases por via linfática, enquanto
os sarcomas o fazem por via hematogênica. Também sabe-se que a neovascularização tumoral dá-se às
custas de vasos com parede mais frouxa, e portanto, mais permeáveis. Na circulação, essa célula tumoral
deve resistir a mecanismos de defesa celulares e humorais (células “natural killer”, macrófagos, TNF,
IFN), alcançando um órgão favorável ao seu crescimento, na dependência de receptores para essa célula,
da presença de hormônios ou de fatores de crescimento. A maior parte das células é destruída ainda na
corrente sanguínea, pela ação do sistema imune.
A invasão dos tecidos normais adjacentes pelo tumor é um processo semelhante ao que ocorre
fisiologicamente, por exemplo, na implantação da placenta no útero durante a gestação; a diferença é que,
em condições normais, as células param a invasão quando cessa o estímulo.
IV. PADRÕES DE DRENAGEM
Os grupos de linfonodos drenam regiões específicas da cabeça e pescoço:
occipitais: couro cabeludo e crânio
retroauriculares: porções posteriores do pavilhão auditivo, porção lateral da orelha e pele
adjacente da região temporal
parotídeos: base do nariz, pálpebras, pele fronto temporal, conduto auditivo externo, cavidade
timpânica
parotídeos profundos: parede lateral da faringe, nasofaringe e cavidade nasal posteriormente
faciais: pálpebras, conjuntiva, pele e mucosa do nariz
retrofaríngeos: cavidade nasal posterior e tuba auditiva, hipofaringe e parede da orofaringe
submandibulares: partes lateral e vestibular do lábio inferior, porção anterior da língua e porção
lateral do assoalho da boca, gengiva
cervicais profundos:
- jugulares profundos superiores: pálato mole, amígdala palatina, pilares amigdalianos, porção
oral posterior da língua, base da língua seio piriforme e laringe supraglótica. Recebem ainda os
linfonodos das cadeia: retrofaríngeas, espinal acessória, parótida, cervical superficial, submandibular
- cervicais profundos médios: supraglote, seio piriforme. área cricóide posterior. Recebe ainda:
linfonodos retrofaríngeos e jugulares superiores
paratraqueais: situados ao longo do laríngeo recorrente, drenam a traquéia e o esôfago
cervicais inferiores: ligados aos supraclaviculares drenam indiretamente à porção posterior do
couro cabeludo e pescoço, região peitoral superior, parte do braço e eventualmente a porção superior do
fígado.
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METÁSTASES CERVICAIS

I. ANATOMIA

Os linfonodos da cabeça e pescoço são aproximadamente em número de 300 e compreendem 30% do total de linfonodos do corpo humano. Os linfonodos cervicais dividem-se segundo uma referência topográfica. Desse modo são classificados em cinco níveis anatômicos: I. áreas correspondentes aos trígonos submandibular (IB) e submentonianol (IA). II, III, IV. áreas contidas sobre a veia jugular interna, dividindo-se em superiores, médios e inferiores. V. linfonodos ao longo do nervo acessório, contidos no trígono cervical posterior. VI. Linfonodos para-traqueais e pré-traqueais, peritireoidianos e pré-cricóides.

II. BIOLOGIA DAS METÁSTASES

O termo“metástase” foi cunhado em 1829 pelo médico francês Joseph Claude Recamier. Ele foi o primeiro a descrever infiltração local, invasão vascular e desenvolvimento de metástases em pacientes com câncer de mama. A metástase não ocorre aleatoriamente, mas, sim, é um processo ativo que envolve células cancerosas e normais. Apenas 1 em 10.000 células cancerosas consegue sobreviver e formar uma metástase. Essa célula deve ser capaz de se desprender das demais (o que é facilitado pela falta de adesão entre as células tumorais), produzir enzimas proteolíticas que digiram a mambrana basal e alcançar vasos sanguíneos ou linfáticos. Tradicionalmente, admite-se que os carcinomas emitem metástases por via linfática, enquanto os sarcomas o fazem por via hematogênica. Também sabe-se que a neovascularização tumoral dá-se às custas de vasos com parede mais frouxa, e portanto, mais permeáveis. Na circulação, essa célula tumoral deve resistir a mecanismos de defesa celulares e humorais (células “natural killer”, macrófagos, TNF, IFN), alcançando um órgão favorável ao seu crescimento, na dependência de receptores para essa célula, da presença de hormônios ou de fatores de crescimento. A maior parte das células é destruída ainda na

corrente sanguínea, pela ação do sistema imune.

A invasão dos tecidos normais adjacentes pelo tumor é um processo semelhante ao que ocorre fisiologicamente, por exemplo, na implantação da placenta no útero durante a gestação; a diferença é que,

em condições normais, as células param a invasão quando cessa o estímulo.

IV. PADRÕES DE DRENAGEM

Os grupos de linfonodos drenam regiões específicas da cabeça e pescoço: occipitais: couro cabeludo e crânio retroauriculares: porções posteriores do pavilhão auditivo, porção lateral da orelha e pele adjacente da região temporal parotídeos: base do nariz, pálpebras, pele fronto temporal, conduto auditivo externo, cavidade timpânica parotídeos profundos: parede lateral da faringe, nasofaringe e cavidade nasal posteriormente faciais: pálpebras, conjuntiva, pele e mucosa do nariz retrofaríngeos: cavidade nasal posterior e tuba auditiva, hipofaringe e parede da orofaringe submandibulares: partes lateral e vestibular do lábio inferior, porção anterior da língua e porção lateral do assoalho da boca, gengiva cervicais profundos:

- jugulares profundos superiores: pálato mole, amígdala palatina, pilares amigdalianos, porção oral posterior da língua, base da língua seio piriforme e laringe supraglótica. Recebem ainda os linfonodos das cadeia: retrofaríngeas, espinal acessória, parótida, cervical superficial, submandibular - cervicais profundos médios: supraglote, seio piriforme. área cricóide posterior. Recebe ainda: linfonodos retrofaríngeos e jugulares superiores paratraqueais: situados ao longo do laríngeo recorrente, drenam a traquéia e o esôfago cervicais inferiores: ligados aos supraclaviculares drenam indiretamente à porção posterior do couro cabeludo e pescoço, região peitoral superior, parte do braço e eventualmente a porção superior do fígado.

cadeia espinal acessória: regiões parietal e occipital do couro cabeludo, drena porções superiores da nasofaringe e seios paranasais supraclaviculares: tumores primários infraclaviculares, eventualmente esôfago cervical e tireóide.

III. AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Quando se tem uma massa cervical suspeita de metástase, deve-se encontrar o tumor primário A metástase linfática é o principal mecanismo de disseminação dos carcinomas espinocelulares de cabeça e pescoço. A incidência de metástases é um sinal de agressividade do tumor e é um importante fator prognóstico. Devemos avaliar não apenas a presença de metástases linfonodais mas também o número, o tamanho dos nódulos, os níveis linfonodais acometidos e a presença de disseminaçõa extranodal. Inicialmente é muito importante fazer um exame físico acurado e a avalição das cadeias linfonodais é realizado inicialmente pela palpação cuidadosa. A sensibilidade e a especificidade da palpação é em torno de 60 a 70%, dependendo do local do tumor estudado. Clinicamente, os linfonodos podem ser palpados a partir de 0.5 cm em planos superficiais e 1. cm em planos profundos. Regiões inacessíveis à palpação devem ser avaliadas com tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Kau (2000), comparando a tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética (RM), ultrasonografia (US), e palpação cervical na avaliação de presença de metástase cevical em câncer de laringe, encontrou uma acurácia de 84,9% para CT e 85% para RM, superior em relação a palpação clínica que foi positiva em 69,7% e o US em 72,7%. Se utilizado a CT mais a palpação a sensibilidade sobe para 92%. O estadiamento permite uma abordagem clínica sistemática da patologia do doente, assim como possibilita a comparação entre os diversos serviços. Segundo o American Joint Comittee - A.J.C. - (1997), classifica os graus de adenopatia: Nx - nódulos não podem ser avaliados N0 - nódulos sem sinal de metástases N1 - um único nódulo metastático ipsilateral menor ou igual a 3 cm N2a - um único nódulo metastático ipsilateral de 3 a 6 cm de diâmetro N2b - múltiplos nódulos ipsilaterais, nenhum maior que 6 cm N2c - nódulos positivos bilaterais ou contralaterais nenhum maior que 6 cm N3 – pelo menos um nódulo maior que 6cm.

O A.J.C. é um estadiamento clínico que se refere a uma avaliação pré-operatória. A acurácia depende de quanto a patologia está avançada. Por exemplo: T1N0 é mais provavelmente subavaliado que T3N3. A habilidade do médico em palpar a região pescoço é importante. Alguns fatores contribuem para avaliação inadequada, como a obesidade, pescoço curto e irradiação prévia. A tomografia computadorizada é utilizada na avaliação dos linfonodos podendo-se notar focos metastáticos em gânglios de dimensões normais e nódulos não palpados no exame físico. É útil ainda na avaliação de linfonodos retrofaríngeos e na visualização de ruptura capsular. Os achados a CT sugestivos de malignidade dos linfonodos são: a)Formato arredondado: o formato arredondado é mais sugestivo que o formato oval. Em linfonodos inflamatórios a razão entre o maior e o menor diâmetro é maior que 2 em 86% dos casos. b)Heterogeneidade com ausência de regiões não contratadas: a heterogeneidade é devida a presença de necrose, queratinização e áreas císticas no interior do turmor. A ressonância nuclear magnética tem a mesma acurácia da tomografia, entretanto tem menor valor na detecção de necrose central, pequenos focos metastáticos e extravasamento extracapsular.

IV HISTÓRIA NATURAL DA ADENOPATIA CERVICAL

A probabilidade de disseminação linfática depende de vários fatores tais como: sítio primário, dimensões, grau de diferenciação do tumor primário, invasão perineural ou perivascular, resposta inflamatória, conteúdo de DNA celular. A. Sítio Primário A disseminação é guiada principalmente pela anatomia local. Essa disseminação relaciona-se à quantidade de capilares linfáticos dessa região, quanto maior a rede capilar maior possibilidade de disseminação. Na cabeça e pescoço citamos como locais de maior abundância de capilares linfáticos:

sítio primário estiverem os gânglios metastáticos. O envolvimento do trígono posterior é o de pior prognóstico, assim como metástases não contíguas, por exemplo metástases contralaterais.

J. Contralateralidade das metástases A maioria das lesões tende a metastatizar para o lado ipsilateral (seio piriforme, assoalho lateral da boca), mas lesões em posições mais medianas (supraglote, base da língua, parede posteror da faringe) apresentam uma incidência de metástases bilaterais. Devemos lembrar que tumores primários lateralizados com múltiplas metástases ipsilaterais têm maior chance de metástases bilaterais. A base da língua apresenta uma drenagem linfática bilateral, por exemplo, através de ampla rede de canais linfáticos que drenam para ambos os lados do pescoço. Eventualmente pode-se ter metástases apenas contralaterais. Após radioterapia, há a possibilidade de aumentar a incidência de contralateralidade pois pode haver um shunt da drenagem linfática, assim como após dissecção (por isso deve-se incentivar o tratamento do pescoço contralateral sempre que o ipsi for positivo). O fator isolado mais importante na determinação da sobrevida é a presença de metástases em linfonodos.

VII ADENOPATIA CERVICAL AVANÇADA

A aderência de linfonodos a tecidos cervicais adjacentes é sinal de mau prognóstico para metástases cervicais. Atualmente, além da avaliação clinica pode-se dispor de tomografia computadorizada, ressonância magnética e arteriografia para avaliar a fixação das estruturas envolvidas. A ressecção dos gânglios cervicais neste caso é mais difícil. Quando o tumor envolve a carótida, o problema é mais grave, um tratamento mais agressivo como a ressecção da carótida tem resultados desapontadores. Quando há comprometimento da carótida, o prognóstico é reservado e há uma melhora da sobrevida com quimioterapia adjuvante. Petruzzelli (2000) relata sobrevida de 20 a 30% em 5 anos após o tratamento cervical e mesmo com dissecções agressivas, como ressecção e reconstrução de art. carótida, os pacientes apresentam alto risco de recidiva local e à distância.

DISSECÇÃO CERVICAL

O tratamento do pescoço em pacientes com neoplasias de cabeça e pescoço é um dos mais controversos na Oncologia. Alguns autores advogam a radioterapia como tratamento curativo ou profilático, outros, a cirurgia com exérese dos nódulos de variados tipos ou ainda a combinação de radioterapia (pré ou pós-operatória) e cirurgia. Há um grande número de técnicas para dissecção cervical, o que cria um problema de nomenclatura e confusão sobre cada um destes procedimentos. O esvaziamento cervical, independente da classificação da lesão, está indicado na presença de gânglios positivos. Ainda, em casos onde o tumor primário está controlado, mas o paciente desenvolve gânglios palpáveis no pós-operatório, é necessário o esvaziamento cervical terapêutico. O esvaziamento cervical bilateral deve ser evitado, a não ser que se preserve uma veia jugular interna de um lado (ligadura bilateral da veia jugular interna apresenta mortalidade no pós-operatório imediato de 15%).

I.TIPOS ANATÔMICOS DE DISSECÇÃO CERVICAL

Há 3 tipos anatômicos de dissecção cervical:

A. Compreensiva: A dissecção compreensiva consiste na remoção de todos os linfonodos de todas as regiões do pescoço das regiões cervicais de I a V. Pode ser radical ou radical modificada desenvolvida para diminuir a morbidade ou para ser mais conservadora. Na dissecção radical modificada temos os seguintes tipos:

tipo I: o nervo acessório é preservado;

tipo II: o n.acessório e a v.jugular interna são preservados;

tipo III: o n.acessório, a v.jugular interna e o m.esternocleidomastoideo são preservados.

Este último tipo é também denominado de dissecção funcional popularizada por Bocca.

B. Seletiva: Esta dissecção consiste na remoção somente dos grupos de linfonodos com alto risco de conter metástases, de acordo com o sítio primário do tumor, sendo preservados o n. acessório, v. jugular e m. esternocleidomastoideo. Temos também 3 tipos de dissecção seletiva:

lateral: remoção dos níveis II, III e IV;

supra-omohioideo: I, II e III; (na supra-omohioideo ampliada é incluida a região IV às outras

póstero-lateral: II, III, IV e V e linfonodos suboccipitais e retro-auriculares.

Anterior: VI podendo ou não associar outros níveis.

A última classificação proposta pela sociedade americana de de cirurgia de cabeça e pescoço os termos lateral, supra-omohioide, póstero lateral e anterior foram suprimidas. Deve-se apenas citar as cadeias acometidas entre parênteses após a abreviatura de dissecção cervical seletiva (DCS). Assim:

lateral: DCS (II-IV).

#supra-omohioide: DCS (I-III). #póstero-lateral: DCS (II-V). #anterior: DCS (VI). Se for acrescentada alguma outra estrutura ela deve ser citada. Por exemplo, DCS (VI, linfonodos mediastinais superiores.

C. Extendida: A dissecção extendida abrange outros grupos nodulares que não são rotineiramente removidos, como os retrofaríngeos ou paratraqueais ou estruturas como a a.carótida ou o m.elevador da escápula, com a remoção do m.esternocleidomastoideo, v.jugular interna e o n.acessório.

II. DISSECÇÃO RADICAL

Consiste na remoção de todos os grupos linfonodais ipsilaterais a lesão em bloco, desde a borda inferior da mandíbula até a clavícula, da borda lateral dos músculo esternohióide e do ventre anterior do digástrico contralateral medialmente e até a borda anterior do trapézio posteriormente. Sua indicação é bastante controversa. Está indicada em casos onde há metástases múltiplas, particularmente quando envolvem linfonodos do triângulo posterior do pescoço e estes são achados próximos ao n.acessório. Outras indicações seriam presença de metástase “grande” (depende do TNM) ou de múltiplos nódulos na porção superior do pescoço. Em tumores laríngeos supraglóticos o esvaziamento para pescoços N0 apresenta um benefício mínimo, com apenas 5% de falsos-negativos. Em tumores de orofaringe, o esvaziamento em pescoço N0, apresenta melhores resultados, com 44% de falsos-negativos. A remoção de m.esternocleidomastoideo é claramente necessária quando o músculo é envolvido por tumor, além disso sua remoção facilita o acesso à jugular.

Resultados: A taxa de recorrência em pescoço reportado em pacientes que sofreram dissecção radical que eram histologicamente livres de tumor varia de 3 a 7% (Cummings). A recorrência no sítio ipsilateral do pescoço após dissecção radical terapêutica (presença de nódulo positivo clínica e histologicamente) varia de 20 a 71%. Esta variabilidade é em parte porque em alguns trabalhos, o tumor primário não foi controlado. O prognóstico segundo estudos depende:

da invasão extra-capsular do nódulo: a presença de tumor que se extende através da cápsula do

nódulo é o fator prognóstico de maior importância para recorrência após dissecção radical em pacientes com CEC de trato aerodigestivo alto.

do número de nódulos comprometidos: o número de nódulos linfáticos envolvidos por tumor

tem sido ralacionado com a frequência de recorrência e sobrevida. Pacientes com 4 ou mais nódulos comprometidos têm uma sobrevida menor que pacientes com 1 nódulo envolvido. Snow e cols. demonstraram que pacientes com 4 ou mais nódulos positivos e com extensão extracapsular têm maior chance de desenvolver metástase distante (>60%) do que pacientes com 1 nódulo positivo e extensão extracapsular (<30%).

nódulos de alto risco de metástase é justificada anatomicamente; tem valor terapêutico e promove informação para cirurgia mais extensa ou radical e está associada com menor morbidade pós-operatória. Vários estudos têm demonstrado que a drenagem linfática da mucosa de cabeça e pescoço seguem determinadas rotas. Os linfonodos mais frequentemente envolvidos com CEC de cavidade oral são jugulodigástricos e jugulares médios. Os nódulos do triângulo submandibular são frequentemente envolvidos em pacientes com CEC de assoalho de boca, língua anterior e mucosa oral. Frequentemente estes tumores dão metástases para ambos os lados do pescoço e podem dar metástases inicialmente para nódulos jugulares médios. Estudos demonstram que tumores de cavidade oral e orofaringe raramente dão metástases para cadeia jugular baixa e nódulos posteriores. Shah (1990) encontrou em trabalho retrospectivo que tumores de cavidade oral metastatizam com mais frequência para níveis I, II e III e CEC de orofaringe, hipofaringe e laringe envolvem níveis II, III e IV. O conceito de estadiamento do pescoço é importante em pacientes com tumores primários tratados somente com cirurgia, mas com alta probabilidade de metástase cervical. Por exemplo, pacientes com T2N0 ou T3N0 de cavidade oral. Como a possibilidade de metástase é alta na maioria dos pacientes, a dissecção radical pode ser realizada. Se os nódulos são histologicamente negativos ou somente com focos microscópicos de metástase em 1 ou 2 nódulos da drenagem primária, o paciente é tratado somente com cirurgia. Entretanto em pacientes com lesão anterior de língua, seria necessário dissecção bilateral, provocando uma morbidade elevada. Se os nódulos são múltiplos ou tumor se extende além da cápsula do nódulo, a dissecção radical isolada está associada a altas taxas de recorrência, sendo indicada RDT pós- operatória. A disfunção do trapézio na dissecção seletiva é mínima e temporária. A DCS (I-III) ou supraomohioidea é indicada em pacientes com tumor de cavidade oral T2 a

T4 N0 ou TxN1, quando os nódulos palpáveis são <3cm, móveis e localizados em níveis I ou II. O

procedimento é realizado em ambos os lados do pescoço em pacientes com carcinoma anterior da língua e assoalho de boca. Este tipo de dissecção é realizada em pacientes com CEC de lábio ou pele da porção média da face e quando estas lesões são associadas com nódulo metastático único submental ou submandibular. A DCS (II-IV) ou lateral é indicada em pacientes com tumor de laringe, orofaringe ou hipofaringe estadio T2N0 a T4N0 ou T1N1 quando o nódulo palpável é localizado em níveis II ou III. Como a drenagem dessas regiões é frequentemente bilateral, a cirurgia deve ser bilateral. A DCS (II-V) ou póstero-lateral é indicada para tratamento de melanomas, carcinomas de células escamosas ou outros tumores de pele com potencial metastático, como carcinoma de células de Merkel que se originam na região posterior ou póstero-lateral do pescoço e região occipital. É raramente indicado no tratamento de CEC do trato aerodigestivo alto. A recorrência observada em dissecção seletiva do pescoço em 2 anos, com controle do tumor primário é de 3,4% quando os linfonodos removidos foram negativos histologicamente e 12,5% quando múltiplos nódulos positivos ou com invasão extra capsular foram encontradas.

V. DISSECÇÃO EXTENDIDA

Neste tipo de dissecção remove-se outros grupos linfonodais ou estruturas vasculares, neural ou muscular que não são removidos rotineiramente. A dissecção pode ser extendida para remover linfonodos retrofaríngeos em um ou mais sítios quando o tumor é originário do espaço parafaríngeo. Tumores de base da língua, amígdala, pálato mole e trígono retromolar podem dar metástase para estes linfonodos quando envolvem a parede posterior ou lateral da orofaringe. Da mesma forma, podem ser removidos nódulos paratraqueais e pré-traqueais em carcinomas glóticos e subglóticos, de esôfago cervical e traquéia e de tireóide. Algumas vezes o controle da patologia exige a remoção de outras estruturas, como nervo hipoglosso, m. elevador da escápula ou art. carótida.

MANEJO DO PESCOÇO N

A conduta a ser tomada em pescoços nos quais não há evidência clínica-radiológica de metástase linfonodal dependerá de diversos fatores que foram discutidos no tópico “história natural das adenopatias cervicais”. O esvaziamento eletivo é indicado toda a vez que o risco de haver uma metástase oculta é maior que 20%. Os casos que geralmente não são necessários o esvaziamento eletivo, temos: tumores de cavidade nasal e seios o paranasais, tumores de nasofaringe,

A) Cavidade oral: O procedimento de escolha é o DCS (I-III). Caso haja envolvimento da língua há envidências de risco de comprometimento de nível IV, portando deve-se proceder o DCS (I-IV). Caso haja envolvimento do assoalho da boca ou da face ventral da língua deve-se fazer DCS (I- III) bilateralmente.

B) Orofaringe, hipofaringe e laringe. O procedimento de escolha é o DCS (II-IV). Caso haja envolvimento da orofaringe ou da hipofaringe deve-se incluir os linfonodos retrofaringeos. O nível IIB pode ser polpado em casos de hipofaringe e laringe, pois a maior morbidade de sua ressecção compensa o menor risco de metástase. Se houver extensão subglótica deve-se incluir o nível VI.

C) Estruturas da linha média e região cervical ântero inferior. O procedimento de escolha é o DCS (VI). Se houver comprometimento da tireóide deve-se incluir os níveis II-V e, portanto devemos proceder o DCS (II-V, VI).

D) Tumores de pele. Região occipital e região cervical superior: DCS (II-V, pos-auricular, suboccipital).

Região pré-auricular, couro cabeludo anterior, região temporal: DCS (linfonodos faciais e

parotídeos, níveis II, III, VA e linfonodos jugular externa.

MANEJO DO PESCOÇO N+

No caso de pescoços clinicamente positivos, deve-se proceder ao esvaziamento clássico do pescoço com dissecção cervical radical ou radical modificada. Em alguns casos de pescoço N1 pode ser indicado a DCS como foi descrito anteriormente Dependendo das características histopatológicas do tumor primário e do esvaziamento cervical pode ser necessário tratamento complementar com radioterapia pós operatória.

TUMOR PRIMÁRIO OCULTO

Ocorre em cerca de 3 a 9% dos casos. Cerca de 50% dos tumores primários ocultos de encontram no anel linfático de Waldeyer, na tonsila palatina, base de língua e nasofaringe. A pesquisa do tumor primário deve compreender: palpação da base da língua e tonsilas palatinas, nasofibrolaringoscopia, EDA, Tc de seios paranasais. Caso não seja encontrado o tumor primário procede-se a biópsia dos locais mais comuns de metástase oculta: tonsilas palatinas, base de língua e nasofaringe. A avaliação do linfonodo pode ser realizado pelo PAAF ou por biópsia excisional seguida de congelação e tratamento cirúrgico imediato se necessário. Após a comprovação histopatológica, procede-se ao esvaziamento cervical radical ou radical modificado com radioterapia pós operatória nos locais mais comuns de tumores primários (naso-oro- hipofaringe). Se for adenocarcinoma os locais mais prováveis são pulmão, trato gastrointestinal e pâncreas. O aparecimento subsequente de tumor primário ocorre em 6 a 10% dos casos.

RADIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE METÁSTASES CERVICAIS

DE CARCINOMAS ESPINOCELULARES

a.Irradiação eletiva para linfonodos normais É indicada, pois há grande incidência de linfonodos positivos em pescoços cliniamente negativos para a maioria dos sítios primários (20%) e durante o seguimento muitos pacientes clinicamente sem metástases cervicais acabam por desenvolvê-las. A irradiação é mais efetiva quando se tem um menor número de células tumorais. O tratamento eletivo do linfonodo normal depende dos seguintes fatores:

novas metástases cervicais e manifestações do tumor primário. A dissecção, por sua vez, pode dispensar a RDT, contudo, pode associar-se à maior incidência de manifestações tardias do primário e de suas metástases contralaterais. Os defensores da radioterapia propõem a inclusão da maior parte possível de mucosa do trato aerodigestivo alto. Na prática, a terapia combinada é sempre indicada, porque os linfonodos não regridem completamente após RT ou porque a dissecção revela extravasamento extracapsular ou metástases em múltiplos linfonodos.