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Mercado de trabalho para o músico brasileiro, Manuais, Projetos, Pesquisas de História da Música

Mercado de trabalho para o músico brasileiro

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2021

Compartilhado em 04/05/2021

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Mercado de trabalho para o músico brasileiro
Job market for the Brazilian musician
ARTIGO CIENTÍFICO
Robson dos Anjos Ferraz
IBEC -Robsonjazzbebop@hotmail.com
Resumo: O tema desta pesquisa nasceu da observação das diferentes classes de músicos
aprendizes e profissionais e a semelhança de opiniões sobre como analisavam a sua vida social e
classe social dentro do mercado musical . Diante disso buscamos averiguar relatos sobre a classe
social e vida social do músico , no que se refere ao mercado de trabalho musical, evidenciado pelo
próprio ponto de vista do músico. Para esse fim, realizamos uma pesquisa exploratória consultando
bibliografia específica: livros ,revistas,relatos,relatos em redes sociais de músicos e sites.Vale a
pena ressaltar, que a habilitação profissional para os requisitos do mercado de trabalho, é decisivo
no combate contra o desemprego no mundo atualmente globalizado. Para que a formação tenha
vali da de é imprescindível estar relacionado ao regime de trabalho, e em decorrência,
preliminarmente a evolução da capacidade combinada ao próprio mercado de trabalho, e que
dentro do qual existem. Após a realização da pesquisa ficou evidente a necessidade de órgãos
representativos dos músicos,paralelo aos demais órgãos atuais , com autonomia de gestão
administrativa e recursos mais abrangentes para diferentes níveis, que lutem pelo interesse dos
mesmos com intuito de assegurar a esses profissionais melhores condições no mercado de
trabalho.
Palavras-chave: músico; mercado de trabalho;habilitação profissional
Abstract:The theme of this research was born from the observation of the different classes of
apprentices and professional musicians and the similarity of opinions about how they analyzed
their social life and social class within the musical market. In the light of this, we seek to ascertain
reports about the social class and social life of the musician, with regard to the musical work
market, evidenced by the musician's own point of view. To this end, we conducted an exploratory
research by consulting specific bibliography: books, magazines, reports, reports on social networks
of musicians and websites. It is worth noting that professional qualification for labor market
requirements is decisive in combating unemployment in today's globalized world. For training to
be valid, it is essential to be related to the work regime, and as a consequence, preliminarily the
evolution of the capacity combined with the labor market itself, and within which they exist. After
the research, it was evident the need for representative bodies of musicians, parallel to the other
current organs, with autonomy of administrative management and more extensive resources for
different levels, that fight for their interest in order to assure to these professionals better
conditions in the job market.
.Keywords: musician; job market; professional qualification
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Mercado de trabalho para o músico brasileiro

Job market for the Brazilian musician

ARTIGO CIENTÍFICO

Robson dos Anjos Ferraz

IBEC -Robsonjazzbebop@hotmail.com Resumo : O tema desta pesquisa nasceu da observação das diferentes classes de músicos aprendizes e profissionais e a semelhança de opiniões sobre como analisavam a sua vida social e classe social dentro do mercado musical. Diante disso buscamos averiguar relatos sobre a classe social e vida social do músico , no que se refere ao mercado de trabalho musical, evidenciado pelo próprio ponto de vista do músico. Para esse fim, realizamos uma pesquisa exploratória consultando bibliografia específica: livros ,revistas,relatos,relatos em redes sociais de músicos e sites.Vale a pena ressaltar, que a habilitação profissional para os requisitos do mercado de trabalho, é decisivo no combate contra o desemprego no mundo atualmente globalizado. Para que a formação tenha validade é imprescindível estar relacionado ao regime de trabalho, e em decorrência, preliminarmente a evolução da capacidade combinada ao próprio mercado de trabalho, e que dentro do qual existem. Após a realização da pesquisa ficou evidente a necessidade de órgãos representativos dos músicos,paralelo aos demais órgãos atuais , com autonomia de gestão administrativa e recursos mais abrangentes para diferentes níveis, que lutem pelo interesse dos mesmos com intuito de assegurar a esses profissionais melhores condições no mercado de trabalho. Palavras-chave: músico; mercado de trabalho;habilitação profissional Abstract : The theme of this research was born from the observation of the different classes of apprentices and professional musicians and the similarity of opinions about how they analyzed their social life and social class within the musical market. In the light of this, we seek to ascertain reports about the social class and social life of the musician, with regard to the musical work market, evidenced by the musician's own point of view. To this end, we conducted an exploratory research by consulting specific bibliography: books, magazines, reports, reports on social networks of musicians and websites. It is worth noting that professional qualification for labor market requirements is decisive in combating unemployment in today's globalized world. For training to be valid, it is essential to be related to the work regime, and as a consequence, preliminarily the evolution of the capacity combined with the labor market itself, and within which they exist. After the research, it was evident the need for representative bodies of musicians, parallel to the other current organs, with autonomy of administrative management and more extensive resources for different levels, that fight for their interest in order to assure to these professionals better conditions in the job market.

. Keywords : musician; job market; professional qualification

1. Introdução

O Interesse pelo tema da presente pesquisar surgiu após analisarmos o mercado

de trabalho do músico brasileiro que atualmente passa por diversas transformações. Sendo

assim teremos como objetivo averiguar os relatos sobre a classe e vida social do músico , no

que se refere ao mercado de trabalho musical, evidenciado pelo próprio ponto de vista do

músico. Para essa finalidade realizamos uma pesquisa exploratória em livros, revistas, sites e

redes sociais. Nesse sentido, algumas questões foram levantadas como ponto de partida para o

contato com a realidade selecionadas para esta pesquisa e para isso realizamos entrevistas

com vinte e cinco músicos. Dentre as perguntas feitas podemos citar: O que vocês podem

dizer em relação ao fator tempo investido de estudo x mercado de trabalho musical? Como

vocês podem descrever a sua realidade de mercado musical? Uma análise na bibliografia

relacionada ao assunto mostra que poucos trabalhos de pesquisa tem sido realizados no

Brasil. Com intuito de fundamentar a pesquisa e na busca de entender um pouco do

passado, foi investigado como os músicos tem sido tratados em sua classe social. Autores

como Dourado(1999) e Blanning (2008) nos ilustram com clareza a questão. E m u m

segundo momento procuramos fazer uma reflexão sobre o tempo investido em estudo, e o seu

mérito, afim de confrontar a classe social do músico e a sua valorização em relação ao

passado. Pesquisas como a de Smilde (2008) e Oliveira (2012) foram muito importantes

neste momento da coleta. E por fim , procuramos investigar os possíveis problemas que

rodeiam a profissão, visto do ponto de vista do músico e onde as pesquisas de grande

importância como Pichoneri (2007) e Segnini (2005) agregaram conteúdos a investigação.

Com este estudo teremos a oportunidade de ingressar em um ambiente do mercado musical

pouco explorado, que é a vida e classe social do músico e a relação com o mercado de

trabalho musical , no que se refere a pesquisas exibida sobre o ponto de vista do próprio

músico em relação ao mercado de trabalho musical.

3. Revisão de literatura

Mercado musical para o músico – Uma pequena síntese sobre o percurso

percorrido pelo músico

Há forte discrepância entre as grandes composições e o prestigio dos músicos.

Grandes nomes da música marcaram época por suas composições. Isso, no sentido da

apreciação musical ter um grande prestígio pela sociedade. Fato que se estende até os dias

atuais, levando em consideração as circunstâncias do círculo musical de cada classe social.

Seja em lugares festivos, cerimoniais e religiosos. Porém, pouco se fez a fim de valorizar o

papel do trabalhador de ofício músico. Circunstância certamente cultivada ao longo do

tempo, devido as diversas condições que o músico é exposto. Poucas pessoas, pelo que

compreendemos, visualizam na figura do artista um trabalhador em busca de sustento. Ao

assistirmos, por exemplo, um show de um solista muitas das vezes deixamos passar

despercebido, e até mesmo esquecemos, que aquele músico, dono daquela sonoridade

excepcional muito bem colocada no contexto musical, investiu uma boa parte do seu tempo

estudando para aprimorar-se cada vez mais.

Segundo Dourado “A imagem do compositor ou instrumentista sofredor, solitário,

anêmico, quase tísico, em preto e branco mesmo, povoa a imaginação dos que apreciam a

música.” (DOURADO,1999, p.63).

O autor prossegue em seu texto ,e mais adiante refere-se a uma imagem bastante

comum, onde uma parte significativa da sociedade reconhece no personagem do músico,

uma desconformidade entre o estudo e sua valorização.

Aliada a essa fama de doente, boêmio e marginal que frequentemente se empresta ao músico, existe uma outra das muitas facetas do carma que é carregado pelos que abraçam a carreira e que pouco aparece: a do profissional que passa inúmeras horas do dia sozinho, estudando e se dedica com afinco ao aperfeiçoamento, técnico, ensaiando exaustivamente para que a nota da partitura que extrair da partitura toque no fundo do coração de seus ouvintes. (DOURADO , 1999 :p.65)

O autor refere-se à falta de reconhecimento do tempo investido nos estudos e à

imaginação da maioria da sociedade que vêem no músico essas inúmeras horas de estudo e o

seu ambiente de trabalho como uma vadiagem. Nesse sentido, o músico se vê confrontado

com o dilema que contrapõe dedicação e reconhecimento financeiro. Ou seja, o

reconhecimento financeiro não condiz com o tempo de estudo e aprimoramento necessários

para um trabalho perfeito. Segundo Dourado (1999):

O músico é ,talvez ,um dos raros profissionais que adquirem e mantém seu próprio uniforme e ferramenta de trabalho (Gasta com o instrumento suas míseras economias,muitas vezes poupança de toda uma vida). Tudo isso, diga-se de passagem, por salários geralmente medíocres e raramente compensadores – ao contrário do que fazem pensar os raros artistas que cavaram um lugar ao sol dessa praia tão pequena e restrita chamada sucesso,aqueles que freqüentadores da ilha de Caras e da rotina dos programas de auditório e jabaculês das rádios. (DOURADO, 1999:p 66).

Blanning (2008) relata em seu livro O triunfo da música. Fa t o s sociais

acontecidos no passado, onde os músicos eram vistos com pouca importância para sociedade,

sendo equiparados até mesmo como mendigos. Desmerecendo todo seu estudo e habilidade.

Isso , devido a um conceito de comparação social. Causado pela própria falta valorização do

músico. Onde muita das vezes eram destacado sua obra, mas ignorado seu conceito de

trabalhador. A própria cartilha encomendada pela imperatriz Maria Tereza para educação do

seu filho Ferdinando nos demonstra algo a respeito disso:

A cartilha encomendada pela imperatriz Maria Tereza para educação do seu filho Ferdinando continha uma tabela representativa da hierarquia social. os músicos foram situados nos níveis mais baixos, junto com mendigos e atores.Em 1771 ela acrescentou seu próprio comentário quando Ferdinando consultou a possibilidade de contratar o músico de quinze anos Wolfgang Amadeus Mozart... (BLANNING, 200:p29).

N a c i t a ç ã o a c i m a o c o m e n t á r i o d a Imperatriz Consorte do

Sacro Império Romano-Germânico da Hungria. Maria Tereza , com reinado entre 1740 a

1780, relatado no livro de Blanning (2008), nos esclarece o conceito que a sociedade tinha

em relação aos músicos e a forma com que os músicos eram tratados em 1771.

pessoal e familiar, logo, percebe se uma diversificação do trabalho, incidindo diretamente sobre as sociabilidades musicais no decorrer do período imperial”. (SILVA, 2005,p.1).

Silva (2005) refere-se ao cidadão que procurava viver exclusivamente da música,

todavia enfrentava dificuldades para se manter financeiramente; ocorrendo, por vezes, atritos

relacionados às outras funções por eles desempenhadas. A título de exemplo, o comércio e as

indústrias, cujas atribuições requeridas para o desempenho da função impossibilitava o

música de dedicar-se exclusivamente à música; estando esse problema intrinsecamente

ligado a questões financeiras.

Percebe-se que Silva (2005), endossa a citação de Dourado(1999), que aponta

para um fato que é bastante comum para aqueles que não conquistaram um lugar ao sol: o

dever de se sustentar buscando outras profissões. A autora também diz que:

[...] A princípio tal informação nos apareceu irrelevante, porém verificamos que a partir da segunda metade do século XIX , sobre tudo os responsáveis pela vida musical na corte do Rio de janeiro, não se dedicavam exclusivamente ás funções da música. Mesmo constatando a incrementação que o ambiente musical e social da cidade passou durante o ocorrer do século, a atividade da música estava sendo dividida com outras ocupações. (SILVA, 2005,p.8).

Segundo Janaína (2005), a partir da segunda metade do século XIX, a atividade da

música dividiu-se entre outras funções, com outras ocupações, apesar do crescimento de casas

de eventos no decorrer do tempo.

Através das citações de Dourado (1999), e de Silva(2005), assim como outras

fontes que estão influenciando a redação da presente pesquisa, fica nítido que outrora o

músico desenvolvia paralelamente à música outras funções para poder manter-se

profissionalmente e, dessa forma, sobreviver. Atualmente não houve grandes transformações,

pelo que percebemos, pois os profissionais da área da música necessitam dividir-se entre

outros ofícios para que possam sobreviver e, mesmo, prosseguir na área da música.

Segundo Segnini (2009), e seus colaboradores no projeto intitulado: “Projeto

rumo Itaú musical” nas considerações finais define, em breves palavras, alguns objetivos

metodológicos de grande relevância:

O objetivo metodológico deste relatório foi procurar responder ás questões propostas por Norbert Elias, já explicitadas no início deste trabalho, analisando trajetórias de músicos que não mais se inscrevem na sociedade da corte, mas na sociedade organizada pelo estado e pelo mercado. O trabalho artístico se inscreve também (mas não só) na lógica de mercado e essa vinculação expressa configurações observáveis no presente momento histórico. (SEGNINI, 2009, p. 68).

Pelo que percebe-se , apesar das grandes evoluções no tempo para o músico.

Quase nada mudou em relação ao progresso voltado à política de emprego. Esse fato é

possível observar mediante o acréscimo de vagas de empregos de longo prazo ou vitalício

voltados para o profissional da música. Ou o crescimento de meios que incentivem a

propagação de empregos voltado aos músicos para que possam cumprir seu dever de se

sustentar. Isso, se comparado às demais profissões.

Esteves (1999), narra a história do sindicato dos músicos em território brasileiro,

mais precisamente no Rio de janeiro, entre 1907 e 1941. Ela relata, em seu livro, que o Centro

Musical do Rio de janeiro foi criado em 04 de maio de 1907, em épocas mais antigas do

sindicato. A autora diz ainda que, naquele tempo, pessoas influentes da sociedade musical

buscavam unir forças por seus direitos, mesmo sofrendo uma falta de entendimento. Uniam-se

em busca de seus ideais, mas encontravam o descaso e a falta de interesse por alguns

associados.

A nova administração promoveu, entre os meses de novembro e dezembro, a elaboração de novos estatutos e, para isso, teve que enfrentar o esvaziamento das assembleias. A primeira foi suspensa porque os componentes da mesa não acharam suficiente o número de 38 sócios para discutir assunto tão importante, embora tenha tido que prosseguir os trabalhos com número menor ainda de votantes [...] O sumiço dos associados não era manobra política, ou pelo menos, não há nada que indique grandes rivalidades neste período. Era mesmo sinal de desinteresse da maioria dos sócios [...] ( ESTEVES,1999,p.29 ).

Apesar de o músico ser tratado como mendigo segundo Blanning (2008), ele era

indispensável segundo Elias (1994), e continua sendo indispensável assim como qualquer

outro trabalhador. Esteja ele em qualquer atividade: nas aulas de música, nas gravações,

rádio, TVs, shows ao vivo e etc.

Aliás, como ficariam os veículos de comunicação sem música? Como ficariam os

entretenimentos, comércios, grandes lojas e os diversos tipos de cerimônias sem música?

Entendemos que a música está em diferentes lugares tal como na medicina, através da

musicoterapia, na construção do saber, na socialização, na formação do indivíduo, como

instrumento de resgate em comunidades, na descontração daqueles que após um dia cheio de

stress buscam um lugar para ouvir aquela boa música. A despeito disso, mesmo sendo

indispensável, em diversas ocasiões o artista deixa de ser reconhecido tendo que se dividir

entre inúmeras funções assim como no passado.

A pesquisa de Smilde (2008), descreve bem alguns fatos que vem endossar a

presente pesquisa. No artigo: A profissão musical e o músico profissional: uma reflexão.

Smilde (2008) comenta que:

Atualmente essa profissão não oferece muitas oportunidades de período integral, nem contratos de longo prazo. Na maioria das vezes são projetos, para os quais os músicos são chamados para contribuir esporadicamente ou executar atividades específicas. Muitos graduados trabalham como freelancers. Esse grupo é maior ainda nas orquestras (sinfônica) regulares. Há também um número crescente de músicos que administram suas próprias atuações, e igualmente, um aumento de produtores independentes. As pequenas empresas na Europa tendem a crescer, porém a geração de empregos, o salário e as condições de trabalho estão abaixo do padrão mínimo nos países em questão. Observamos vários tipos de carreiras emergentes ou em fase de mudanças.” (SMILDE, 2008, p113).

Em outra parte do texto, ela comenta que o músico dificilmente tem um emprego

vitalício, e sim uma carreira composta de empregos simultâneos, sendo o caso da combinação.

O mais comum é a questão de artista x professor.

Existe uma mudança grande e contínua nas carreiras de portifólio. O músico dificilmente possui um emprego vitalício, e sim, uma carreira composta de trabalhos simultâneos ou sucessivos e/ou de meio expediente nas diversas áreas da profissão musical. A combinação mais comum na carreira de portifólio não quer dizer que o

músico não possa ser um empregado: esta realidade reflete mudanças sociais, ao mesmo tempo em que gera desafios.'' (SMILDE, 2008, p.113)

Segundo Myers (apud Smilde 2008) , um dos convidados para o seminário

realizado em março de 2007, existem diferentes funções e meios no qual o músico está

inserido no sentido de contribuir para sociedade e a falta de reconhecimento do seu talento

além da subvalorização, acarretam questões complexas.

O papel da carreira de portfólio na sustentação da profissão musical e das energias dos músicos acarreta implicações importantes na educação musical e na aprendizagem permanente Além do mais, o fato de que pelo menos uma parcela desses músicos bem-sucedidos amadureceu no sentido de ver se contribuindo para sociedade, ao invés de esperar que a sociedade sustente seu talento musical excepcional isoladamente ou à parte, demonstra a necessidade de priorizar se desde cedo a questão do que significa ser músico na sociedade contemporânea. A presença de oportunidades estruturadas para os alunos analiticamente sobre esta questão é uma maneira positiva de considerar que as carreiras envolverão um complexo de iniciativas intencionais e complementares sustentadas pela aprendizagem contínua causada pela interseção entre conhecimento e habilidade. Esta mensagem é bem diferente do subtexto frequentemente não enunciado, em que, se alguém quiser sobreviver como músico, terá de assumir uma série de empregos potencialmente ao acaso, o que por conseguinte gera os efeitos cumulativos de comprometer ambições mais altas e perpetuar a visão de ser subvalorizado (MYERS apud SMILDE, 2008, p113)

Muitos músicos, para tentar sobreviver da música, procuram se dividir entre tocar e

lecionar. Outros, entre ofícios variados, em função do seu sustento pessoal e familiar. Muitos

aprendizes, que tentam viver exclusivamente da música, acabam desistindo, por não

conseguirem sobreviver nos caminhos encontrados, ou até mesmo se dividindo entre duas

funções fora a música. Indo em busca de um emprego que lhe dê a sensação de estabilidade.

Pichoneri (2007), Oliveira (2012) e muitos outros que vem a endossar essa pesquisa,

relatam sobre a existência dessas incertezas e o grande predomínio de músicos na

informalidade. Inclusive o aumento desses profissionais no mercado musical, já que não

existe estímulo para criação de orquestras e bandas e outros setores que ampliem lugares

ocupáveis de longo prazo para o músico. Segundo Castel, (1998, p.530) é o reflexo da

precarização do emprego e desemprego indicando a falta de lugares ocupáveis

relevante de músicos. Segundo Castel (1998) citado por Pichoneri (2007):

É legítimo e até mesmo necessário, do ponto de vista da democracia, atacar o problema das baixas qualificações [...] mas ilusório deduzir daí que os não empregados possam encontrar um emprego simplesmente pelo fato de uma elevação do nível de escolaridade [...] hoje nem todo mundo é qualificado e competente, e a elevação do nível de formação continua sendo um objetivo social. Mas esse imperativo democrático não deve dissimular um problema novo e grave: a possível não- empregabilidade dos qualificados. (Apud PICHONERI, 2007,p.4 )

Castel (1998), em texto citado por Pichoneri (2007), depreende-se que deveria

existir mais empregos.

Segundo Castel em texto citado por Pichoneri:

[...] Finalmente, o último ponto sinaliza para o fato de que a precarização dos empregos e o desemprego são indicativos de um deficit de lugares ocupáveis na estrutura sócia econômica, destinando uma parcela variável da população a permanecer na condição de supranumerários, “não integrados e sem dúvida não integráveis, pelo menos no sentido Durkheim fala da integração como o pertencimento a uma sociedade que forma um todo de elementos interdependentes” (CASTEL apud PICHONERI, 2007,p7 ).

Seja esse emprego de carreira ou vitalício, a falta de criação de lugares ocupáveis

ocasiona a falta de vagas formais aos músicos nos setores privado ou público, pelo que

percebemos.

O barateamento da mão de obra e a concorrência entre os que vivem

exclusivamente da música e os que não vivem contribuem para esse episódio de

desvalorização do trabalho. Além da falta de fiscalização da tabela do valor sugerido pela

instituição responsável dos profissionais da área. Além disso, percebe-se a existência de uma

carência ao incentivo para ampliação de vagas ocupacionais nas instituições governamentais

e instituições seculares como indústrias e empresas no intuito de criação de vagas de longo

prazo.

Pichoneri (2011) diz que menos da metade dos profissionais da orquestra sinfônica de

São Paulo estão sob regime de emprego efetivo e que a maioria desses profissionais se

encontram em contratos temporários vivendo de uma maneira bem instável e recebendo, até

mesmo, apenas onze salários por ano. Por isso o músico acaba se obrigando a se dividir entre

várias funções para compor seu salário.

Segundo Segnini (2005), em texto citado por Pichoneri (2007) :

[...] a partir de 1989, o Theatro municipal de São Paulo, assim como outras instituições públicas, passaram a serem geridas a partir do critério das dotações orçamentárias, que subdividem o orçamento do município, atribuindo a cada secretaria e às instituições que a elas se vinculam um valor determinado para compor o orçamento. diferentes rubricas o compõem, entre elas, “verbas de terceiros”, na qual se inscrevem os prestadores de serviço temporários, caracterizando o trabalho temporário. desde então, os músicos da orquestra são contratados neta condição, que os inscrevem em uma situação extremamente instável de trabalho. (apud PICHONERI , 2007: P11 ).

Segnini em seu trabalho intitulado “A procura do trabalho intermitente no campo

da música” cita vários fatores vividos por muitos de uma forma bem clara, o que vem a

incrementar outras pesquisas. Conforme o cita Segnini (2011):

Castel (2008) reconhece que na construção social do assalariamento algumas condições são observadas, entre elas, destaca que as políticas públicas garantiram o reconhecimento, por meio da institucionalização da estatística nacional de trabalho, das relações de trabalho e das legislações especificas regulamentando-as. (Apud SEGNINI,2011,p.181).

Outro ponto bastante importante e de grande relevância, são as leis de incentivo

que tem o objetivo de disseminar a cultura e gerar empregos para o artista, mas que segundo

alguns artistas, tem gerado grande polêmica. Uns não tem conhecimento a respeito da

legislação específica, outros veem como uma desleal concorrência e ainda existe um grupo

que vê como algo muito burocrático. Alegando ser difícil de compreender os meios de

acesso.

Percebemos que para muitos grupos que se utilizam desse caminho, essas leis são

perpassadas por uma certa desigualdade dentro da seleção dos beneficiários, problema

decorrente da competitividade. Entendemos também que essas leis poderiam incentivar a

criação de emprego para esses trabalhadores, mas que segundo alguns artistas colaboradores

Qualquer trabalho que esteja enquadrado na área. “A cada ano o governo do estado revela com antecedência o valor do montante de recursos que será investido nos projetos. Ano passado foi 2 milhões e neste ano estão previsto 4 milhões.”, informa. Crispiniano Neto conta que em Mossoró foram aprovados 12 projetos pela comissão, sendo que do total, nenhum recebeu os investimentos necessários para sua execução. “Há uma enorme diferença entre aprovação do projeto e a captação de recursos”, frisa Crispiniano neto. Ele acrescenta que para executar os projetos não há limite, pode ser barato ou custar caro, o seu valor cultural dependerá da caracterização na elaboração do projeto. Neto admite que os comerciantes estão tendo uma atitude refratária, rejeitando a lei de incentivo a cultura. (PEREIRA, 2001, p. 13-05)

E continua:

Quase ninguém tem contribuído. “o autor do projeto, seja pessoa física ou jurídica, vai buscar no mercado alguém disposto a patrocinar o trabalho. O problema é que Mossoró não tem quem patrocine. A lei deveria sofrer algumas adaptações exequíveis”, argumenta. Segundo o jornalista na área industrial – grande parte das indústrias não contribui para não perder vantagens da isenção do ICMS através do programa de incentivo ao desenvolvimento industrial (PROADI). […] Caso contribuam com a lei de incentivo a cultura perderão as vantagens, já no setor de combustíveis e medicamentos tem um sistema de arrecadação que envolve vários estados na repartição do ICMS, limitando muito espaço do artista e do produtor cultural local. (PEREIRA, 2001, p.13-05)

Segundo alguns artistas, os projetos e leis de incentivo contribuem nesse processo

de geração de emprego, mas não atingem de forma dinâmica e eficaz a problemática que afeta

os inúmeros artistas e os futuros artistas que desejam trilhar o caminho da música e viver

exclusivamente na profissão, o que segundo eles não atinge a eficácia necessária para o artista

local que está no mercado e tem o dever de se sustentar.

Segundo Wado (2009), cantor de Alagoas, citado por Segnini (2009) no projeto

intitulado: “Projetos rumo Itaú cultural música formação profissional e trabalho nas narrativas

de músicos premiados – edição 2009:

Atualmente, diz com certa ironia que, para se manter financeiramente como músico, é diagramador no jornal de alagoas. conta que os membros de sua banda vivem de música, mas fazendo várias outras coisas no meio artístico; tocando em outras bandas ,produzindo etc. ele revela a dificuldade para sobreviver de música no Brasil”. (SEGNINI, 2009, p 40).

O cantor comenta sobre os meios variados que os músicos de sua banda buscam

para tentar se manter mediante as incertezas da profissão além das dificuldade de se

sobreviver. Segundo Wado (2008), é que podemos até nos esforçar para sermos artistas, mas

com todos os esforços não podemos ser e não somos uma instituição filantrópica. Entendemos

que tudo existe um custo e a sobrevivência, obviamente, é algo que existe um custo.

É possível perceber essa reflexão na citação de Wado para o livro “Projetos rumo

Itaú cultura música formação profissional e trabalho nas narrativas de músicos premiados –

edição 2009”.

Este é o primeiro emprego onde tenho uma experiência como jornalista, pois parti primeiro para a música. E para mim é necessária esta experiência com jornalismo […] Para eu poder almoçar. Porque não adianta você ficar brincando de artista e […] passar fome. Acho que não é você que escolhe ser artista, você pode tentar ser artista, mas não é filantropia […] Quando faço um evento particular em Maceió, tiro uns 3.500 (Reais). Esse valor é dividido com banda. Por isso tenho que trabalhar com outra coisa, porque é muito ruim. E ainda sou um dos que melhor pagam em alagoas. Aqui a gente está recebendo 4.500 reais. O SESC me pagou 6 mil no dia 8 agora, mas os custos são muito grandes [...] Aqui vou perder 31% de imposto de 4.500! E vou pagar o quê!?Quinhentos reais para cada músico? Num trabalho que a gente faz uma vez ou duas vezes por mês!? […] Digo para os músicos: se o outro cara vai te pagar melhor o que posso fazer (Apud SEGNINI, 2009: p 41).

Segundo o livro do Projetos rumo Itaú cultura, a cantora, instrumentista, arranjadora

e compositora França (2009), nos relata que é muito importante ter uma produtora, alguém

que capte esse recurso para o profissional. A artista, em contrapartida, faz críticas a política

pública de incentivo a cultura no Brasil. A Artista relata:

Conseguir (viver de música) porque sempre aparecia coisa, era efervescente o Rio [...] tinha sempre projeto paralelo para os alternativos. Não era essa coisa: tem que pagar uma gravadora grande. O Rio era outro. Hoje em dia não, você abre o jornal do Brasil e são só as mesmas pessoas, não tem mais um circuito para quem está chegando (Apud SEGNINI , 2009: p46).

Segundo França (2009) não há um amparo real para os trabalhadores que

disseminam a diversidade cultural existente no país e nem suporte aos que estão iniciando.

Então, esse é um projeto superimportante para mais de 1 milhão de reais,

superlouvável, sensacional (Rogério Gulin .19/6/2008). (Apud SEGNINI, 2009:

p4).

Através da citação vemos que os artistas locais ficam prejudicados em

concorrência com os que já tem um nome no mercado devido a visibilidade que as empresas

buscam. Segundo Leão (2008) o número de interessados nas leis de incentivo vem crescendo

de uma forma bastante relevante. Com isso o campo fica cada vez mais competitivo. Há

também a burocracia, fator importante a se considerar. De acordo com o livro do Projeto

rumo Itaú cultura:

Comecei a ler tudo a respeito de incentivo e a escrever o projeto, escrevemos para o ministério [...] cantei no disco e fiz toda a produção! o que para mim foi ótimo, porque comecei a entender todo o processo do cisco, desde a elaboração até a prestação de contas. Então, fiz tudo! E aí fui assim, enchendo o saco da secretaria da fazenda para entender e fazer a prestação de contas, enchendo o saco do fundo de cultura para entender os trâmites burocráticos. E comecei a trabalhar com produção de forma mais empenhada, organizada,estruturada. Fui convidada para fazer assistência e produção de um espetáculo de dança de um grupo de Portugal, em recife [...] Rio de janeiro (de 2008) para cá, colaborei um curso básico de produção cultural para músicos [...] tanto para show e CD quanto para projetos de leis de incentivo que todo mundo agora quer fazer, o quê é muito bom. Nesse curso [...] sempre digo: não nivele o cachê por baixo jogue para cima ou mantenha na média. Se você nivela o cachê por baixo, você nivela o mercado todo. E em Pernambuco de um modo geral, tem uma produção cultural, produção da gestão, muito forte. Tem uma prefeitura que investe muito nisso, é muito bom que a cultura seja democratizada e seja na rua. Ma , quando ela é só oferecida assim, ninguém paga para consumir, então se cria uma dependência enorme do estado para trabalhar (Apud SEGNINI , 2009 : p43)

Leão (2009), alerta para a dependência do estado para se trabalhar. Já Wado (2009),

descreve que em um trabalho que será feito pouca vezes no mês e com descontos de impostos

fica complexo sustentar-se. E que por esse motivo músicos de sua banda se desdobram em

outras funções para sobreviver. Segundo Brasil (2009) em texto citado por Segnini (2011), há

uma grande de importância da interferência das instituições governamentais nesse sentido.

A autora cita:

No contexto de políticas que reforçam a importância política do mercado, cabe ao estado transferir recursos públicos para as grandes corporações que definem as diretrizes de relação entre arte, política, mercado. Empresas públicas estão entre as principais participantes do processo, como Petrobrás e Banco do Brasil, o que possibilita afirmar que mais do que uma decisão econômica, trata se de uma opção

política liberal de gestão das artes por meio das decisões corporativas. Desde 1997, as empresas podem deduzir 100% do valor investido em projetos culturais (inclusive música) do imposto de renda devido. […] O crescimento dos valores captados no campo da música em valores absoluto, passou de 20 milhões de reais, em 1996, para 78 milhões de reais, em 2006, considerando tão somente a lei Rouanet, legislação de Âmbito federal. Nos estados e municípios, a lei de incentivo á cultura por meio da isenção fiscal é reproduzida, tomando ainda mais significativo o volume das verbas já referidas (Apud , SEGNINI, 2009,p180-181)

Na matéria publicada por Pereira em 13 de maio de 2001 para o jornal online

Mossoroense, Pereira (2001) menciona que uma pequena porcentagem de projetos do estado

consegue o financiamento. Sua matéria, intitulada “Apenas 5% dos projetos em todo estado

conseguem financiamento ”, relata:

[…] Segundo Evane longo, foram recebido ano passado, 125 projetos pela secretaria. Do total, alguns foram retirado pelos produtores, 96 foram aprovados e 11 indeferidos. Através da lei Câmara cascudo, conseguiram financiamento 6 projetos de natal e Mossoró. Com os projetos foram financiados cerca de 840 mil de ICMS e aproximadamente 212 mil foi de recursos próprios da empresa. A lei Câmara Cascudo disponibilizou recursos para os seguintes projetos durante 2001/2001: anuário da cultura: Espaço cultural casa da ribeira: Oficina de música caça talentos: Festival de cinema televisão e vídeo: A cultura, a gente e a terra do Rio grande do Norte (Entrevista concedida por PEREIRA em 13/05/2001 para o jornal online Mossoroense).

Ainda na mesma publicação citado por Pereira (2001) do jornal Mossoroense.

Relata que segundo o diretor Jocelito Góis deveria haver modificações nas leis de incentivo.

Devido a grande dificuldade em chegar até o financiamento e concluir todo o projeto.

O diretor do teatro Lauro monte filho, Jocelito Góis, comenta que a lei começou a vigorar no ano passado, porém sem êxito para o artista local. “Todos os projetos foram aprovados, só que nenhum, conseguiu financiamento, inclusive o meu. Muitas empresas têm condições de financiar, porém colocam dificuldades, desabafa. [...] O projeto festival de humor, do diretor do Lauro monte filho, foi aprovado no dia 4 de setembro do ano passado. Até o momento não foi concretizado o trabalho devido a falta de patrocinadores. De acordo com Jocelito Góis, a lei deveria sofrer algumas modificações. A primeira deveria ser em relação ao seu percentual que deveria ser aumentado, já o valor o valor atual é considerado por ele inviável. Outra, é referente a falta de visão empresarial. Jocelito acredita que os empresários não tem interesse de patrocinar projetos culturais. Seria então necessária a conscientização da sua importância. “O valor referente a 2% é insignificante. A lei não está rendendo fruto para a cidade. É também necessário uma maior negociações com empresários ”. […] Jocelito explica que há uma enorme dificuldade de entrar em contato com os proprietários das empresas que tem condições de patrocinar, devido a sede da matriz funcionar na capital ou em outro estado. (entrevista concedida por Jocelito