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MEMORIAL ACADÊMICO DESCRITIVO, Notas de aula de Economia

Memorial Acadêmico Descritivo – Carlos Alves do Nascimento. Página 12 de 54. Um exemplo ilustrativo da minha percepção de pesquisador ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Memorial Acadêmico Descritivo Carlos Alves do Nascimento
Página 1 de 54
PROCESSO AVALIATIVO PARA PROMOÇÃO À CLASSE E, COM
DENOMINAÇÃO DE PROFESSOR TITULAR-DE DO MAGISTÉRIO SUPERIOR
MEMORIAL ACADÊMICO DESCRITIVO
Carlos Alves do Nascimento
05 de Agosto de 2021
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PROCESSO AVALIATIVO PARA PROMOÇÃO À CLASSE E, COM

DENOMINAÇÃO DE PROFESSOR TITULAR-DE DO MAGISTÉRIO SUPERIOR

MEMORIAL ACADÊMICO DESCRITIVO

Carlos Alves do Nascimento

05 de Agosto de 2021

À Soraia, minha amada, querida, cúmplice.

À Isabela, minha filhota amada, luz e alegria constantes na minha vida, a quem me esforço para que não seja apenas “mais uma na multidão”.

Aos meus pais amados, Adalberto ( in memoriam ) e Alzerira, minhas maiores referências.

À Inês ( in memoriam) , minha irmã querida, cuja alegria e alto-astral se mantêm vivos em mim, minha segunda mãe amada.

SUMÁRIO

  • INTRODUÇÃO..........................................................................................................
    1. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – Atividades de Pesquisa............................
    • 1.1. Período da Graduação em Ciências Econômicas..........................................
    • 1.2. Período da Pós-Graduação em Economia.....................................................
    • 1.3. Período do trabalho profissional acadêmico.................................................
      • 1.3.1. Uma sequência de pesquisas encadeadas...........................................
      • 1.3. 2 Outras pesquisas..........................................
        • 1.3.2.1. Trabalhos Aprovados para Publicação (no prelo)..................
      • 1.3. 3 Participações em eventos/atividades relacionados/as à pesquisa.......
        • 1.3.3.1. Comissões Científicas............................................................
        • 1.3.3.2. Avaliador ad hoc
        • 1.3.3.3. Participação em Mesa Redonda e Minicurso.........................
        • 1.3.3.4. Pareceres para Periódicos Científicos....................................
    1. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – Atividades de Ensino.................................
    • 2 .1. Breve relato...................................................................................................
      1. 2 Disciplinas ministradas no curso de Graduação do IERI/UFU....................
      1. 3 Disciplinas ministradas em outros cursos de Graduação da UFU................
      1. 4 Disciplinas ministradas no curso de Pós-Graduação do PPGE/IERI/UFU..
    • 2.5 Atividades de Orientação...............................................................................
      • 2.5.1. Orientações na Pós-graduação............................................................
      • 2.5.2. Orientações na Graduação (Iniciação Científica)...............................
      • 2.5.3. Orientações na Graduação (Monografias de Conclusão de Curso)....
    1. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – Atividades de Gestão................................
    • 3.1. Gestão na Pós-Graduação.............................................................................
    • 3.2. Gestão na Graduação....................................................................................
    • 3.3. Outras atividades de Gestão.........................................................................
  1. PONTUAÇÃO DAS MINHAS ATIVIDADES nas progressões e promoções..... 50
  2. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS............................. 51
  3. DOCUMENTAÇÃO COMPROVANTE............................................................... 53
  4. ANEXOS................................................................................................................ 54

INTRODUÇÃO

Este documento consiste em uma exigência institucional para se alcançar o último nível da carreira docente nas Universidades Federais do país – o nível de Professor Titular da carreira do Magistério Superior com dedicação exclusiva (DE). A despeito desse caráter ‘burocrático’, trata-se também de uma interessante, embora exigente (pelo esforço de “puxar pela memória”), oportunidade para se fazer uma reflexão (e o registro Memorial), mesmo que sinteticamente, da minha trajetória profissional voltada para o Magistério Superior, apontando os aspectos que a meu juízo são os mais significativos, à medida que, ao mesmo tempo que apresenta o movimento de memórias anteriores, relaciona-se com o tempo presente e aponta para o futuro. A tarefa de sistematizar as lembranças da minha trajetória acadêmica desde o período de estudante da Graduação, passando pela Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) até a fase de amadurecimento profissional, na UFU, revelou-se bastante exigente, porque envolveu escolhas de prioridades, sem demérito nenhum às citações que ficaram ausentes. Considerei mais relevante, portanto, enfatizar, imprimindo mais detalhes, à minha trajetória profissional na dimensão da Pesquisa, porque seria uma forma de pelo menos minimamente compensar não ter conseguido, por razões diversas, elaborar em tempo hábil uma Tese original para submetê-la à promoção para Professor Titular. Por essa razão, conduzi meu Memorial descritivo delineando com um pouco mais de detalhes algumas pesquisas (decorrentes de projetos que coordenei) que foram conduzindo minhas reflexões para a elaboração de uma base teórico-empírico- metodológica de uma questão específica que eu vislumbrava que a partir dessa base eu poderia erigir uma Tese original. Mas, ainda não foi possível levar adiante esse projeto,

Parte 7: Anexos (com todas as documentações de todas as minhas progressões e promoções)

Iniciarei, portanto, pela descrição, a seguir, da minha trajetória profissional acadêmica na dimensão da Pesquisa.

1. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – Atividades de Pesquisa

Ao longo desta seção esboçarei o percurso encadeado de algumas pesquisas acadêmicas minhas (ancoradas em projetos de pesquisa que coordenei) e, simultaneamente, mencionarei as referências teóricas que as balizaram/orientaram, assim como também farei menção a publicações derivadas dessas pesquisas.

1.1. Período da Graduação em Ciências Econômicas

Antes de cogitar, em meus planos de vida, uma trajetória profissional acadêmica, estudei, logo após finalizar o serviço militar obrigatório, na Escola Técnica Federal do Ceará na cidade de Fortaleza, durante quase dois anos, no curso de telecomunicações. Nesse período estudei bastante matemática e física que me deram uma boa base tanto para eu passar bem no vestibular para o curso de graduação em Ciências Econômicas como, posteriormente, também para alcançar um excelente resultado na prova de matemática da ANPEC para o mestrado em Economia (no IE/Unicamp), alcançando a 51ª posição no ranking nacional. Iniciei minha carreira acadêmica na Universidade Federal do Ceará – UFC, em

  1. No início, não nutri a intenção de assumir o magistério, porque ingressei, no ano seguinte, na Caixa Econômica Federal – CEF como concursado, com 21 anos de idade, e, naquele momento, pensei que a CEF seria o emprego no qual eu iria me aposentar. Porém, aos poucos, dois sentimentos foram se formando dentro de mim que me levaram a cogitar a possibilidade de me tornar professor universitário. Um dos sentimentos foi o descontentamento em relação ao trabalho repetitivo bancário. O

segundo, refere-se a um progressivo despertar do desejo de reproduzir na minha vida profissional uma atividade tão bonita e importante como passei a enxergar em alguns professores que tive na Graduação em Ciências Econômicas na UFC. O período em que trabalhei na CEF (final dos anos 1980 e década de 1990) coincidiu, entre outras transformações, com o da reestruturação produtiva mundial e com as diretrizes do “Consenso de Washington”, impactando o Brasil com a “construção interrompida”, nas palavras do grande economista brasileiro e paraibano Celso Furtado.^1 Esse contexto refletiu-se na CEF com a implementação, nesta instituição, do programa japonês 5S, o qual propunha uma melhor administração empresarial, que, no caso da CEF, repercutiria na organização e desempenho de suas unidades/agências bancárias.^2 Como eu estava trabalhando na CEF nesse período e, ao mesmo tempo, fazendo o curso de Ciências Econômicas na UFC, resolvi estudar na minha monografia de final de curso de Graduação o programa 5S como a forma de participação/adequação da CEF àquela conjuntura de reestruturação mundial do capital. A década de 1990 revelou-se também, nesse contexto de reestruturação mundial do capital – sem pretensão de me alongar nesse tema, que foge ao escopo deste memorial – , como uma década de renovação da inserção subordinada do país ao sistema internacional de divisão do trabalho.^3 O que me importa aqui destacar é que a “construção interrompida”, conforme mencionada antes, contextualizada nessa nova inserção subordinada, teve como reflexo uma segunda década perdida, em termos de crescimento do produto da economia, que, por conseguinte, redundou numa crise social de aprofundamento das desigualdades e do desemprego, que me levaram a preocupar- me com esse tema, em alguma medida, já na monografia da graduação, e especialmente a partir do meu interesse, no mestrado, por pensar esse fenômeno – preocupação que me acompanha até hoje, conforme procurarei exprimir melhor na sequência deste texto.

1.2. Período da Pós-graduação em Economia

(^1) FURTADO, C (1992). Brasil: a construção interrompida. São Paulo: Paz e Terra. (^2) Os ‘sensos’ do programa 5S são: Seito, senso de organização; Seiri, senso de utilização; Shitsuke, senso de disciplina; Seiso, senso de limpeza; Seiketsu, senso de padronização. (^3) Uma leitura interessante, entre outras, sobre esse tema é a de SAWAYA, R. R. (2006). Subordinação consentida: capital multinacional no processo de acumulação da América Latina e Brasil. São Paulo: Annablume.

assistir uma aula do professor Graziano da Silva sobre economia rural, na disciplina de Economia Brasileira,^7 senti-me bastante interessado na visão de rural transmitida pelo professor Graziano, assim como também pela articulação que ele fez com o tema intimamente ligado ao meu interesse inicial. Nessa aula, Graziano nos apresentou o Projeto Rurbano e algumas de suas descobertas sobre as dinâmicas de ocupação e geração de renda da população residente nas áreas rurais. Poucos dias depois procurei-o para saber se haveria alguma possibilidade de me inserir no grupo de pesquisadores do Rurbano. Antes de me responder, pediu-me para elaborar uma proposta de projeto de pesquisa, e me deu 15 dias para retornar com essa proposta. Enquanto isso, procurou obter informações a respeito de meu desempenho no mestrado. Depois que cumpri o combinado, entregando-lhe a proposta dentro dos 15 dias, e sua leitura do mesmo, comunicou-me que aceitava me orientar, o que para mim foi uma imensa alegria. Agora eu tinha um orientador. Mas, quanto à proposta que fiz, foi modificada para se adequar melhor ao escopo do projeto Rurbano. O resultado dessa modificação foi uma dissertação de mestrado aprovada com êxito no IE/Unicamp e que ganhou prêmio de honra ao mérito no Congresso da SOBER, em 2002.^8 Essa dissertação tratava de um tema bastante debatido na época – o tema da pluriatividade das famílias rurais – , mas dando ênfase a algo específico que nos chamava atenção – a destacada presença das ocupações dos residentes rurais em serviços domésticos remunerados. Menciono isso porque nesse episódio aprendi, do meu orientador, uma lição fundamental para um jovem pesquisador, a qual retransmito para todos os meus orientandos. Ao me propor estudar esse tema do serviço doméstico remunerado – dentro das discussões sobre as famílias pluriativas – Graziano deve ter imaginado (nunca procurei confirmar essa minha hipótese) que talvez eu não fosse me empolgar com esse tema, razão pela qual me repetiu algumas vezes que (foram mais ou menos essas as palavras dele) “por mais ‘simplório’ que possa parecer o tema pesquisado, se o fizermos com dedicação e com a máxima profundidade que pudermos alcançar, teremos ao final um ótimo resultado” – e, realmente, garantiu-me a honra ao mérito no Congresso da SOBER de 2002, conforme mencionado anteriormente.

(^7) Na ocasião, essa disciplina era ministrada pelo professor Davidoff Cruz, que convidou o professor Graziano para ministrar a referida aula. (^8) Título da dissertação: “Evolução das Famílias Rurais no Brasil e Grandes Regiões: Pluriatividade e Trabalho Doméstico, 1992-1999”.

Minha Tese de doutoramento,^9 por sua vez, foi aprovada com conceito máximo no IE/Unicamp, em 2005, e foi publicada em livro pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB),^10 em 2008. Nessa Tese trabalhei com uma hipótese de pesquisa que me acompanhou em várias pesquisas posteriores (algumas delas financiadas pelo CNPq, conforme voltarei a mencionar adiante). Uma hipótese que tinha como referência teórica a visão de Lênin^11 sobre a tendência de “decomposição do campesinato”, que utilizei para analisar as famílias rurais, do Nordeste e do Sul, que trabalham por conta-própria na agropecuária (agricultura familiar) – além dos demais tipos familiares que podem ser resultado de um processo de ‘decomposição’ dos contas-próprias. Uma segunda hipótese, que também acompanhou, desde a Tese de Doutorado, vários trabalhos posteriores, referenciada na obra de Karl Polanyi (“A grande transformação”), sustenta que em uma sociedade com insuficientes (e/ou inexistentes) políticas públicas para apoiar a agricultura familiar, a tendência é que a pluriatividade tenha dificuldade de cumprir o que a literatura espera dela,^12 e, por conseguinte, tendendo também a tornar- se apenas um momento no processo de decomposição – de proletarização parcial para proletarização total das famílias rurais.^13

(^9) Título da Tese: “Pluriatividade, Pobreza Rural e Políticas Públicas”. (^10) Título do Livro: “Pluriatividade, Pobreza Rural e Políticas Públicas: uma análise comparada entre Brasil e União Européia”. (^11) Em LÊNIN, V. I. (1982). O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural (Col. Os Economistas), especialmente o capítulo 2 (“A desintegração do campesinato”). Além desse trabalho de Lênin, tive também como referência desse processo de ‘decomposição’ (desintegração) o estudo do meu orientador: GRAZIANO DA SILVA, J. (2003). Tecnologia & Agricultura Familiar. Série Estudos Rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, especialmente os capítulos 6 (“Diferenciação camponesa e mudança tecnológica: um estudo de caso”) e 7 (“Resistir, resistir, resistir: considerações acerca do futuro do campesinato no Brasil”). (^12) As possíveis contribuições da pluriatividade podem ser resumidas nos seguintes pontos: elevar a renda familiar no meio rural; estabilizar a renda em face da sazonalidade dos ganhos na agricultura; estratégia de diversificação das fontes de renda; reduzir as migrações campo-cidade; estimular os mercados locais e desenvolver os territórios rurais; contribuir para estimular mudanças nas relações de poder e gênero; modificar o sentido da terra e do rural (Cf. Graziano da Silva, 1999; Sacco dos Anjos, 2003). GRAZIANO DA SILVA, J. (1999). O Novo Rural Brasileiro. Campinas, SP: IE/UNICAMP. (Coleção Pesquisas, 1). SACCO DOS ANJOS, F. (2003). Agricultura familiar, pluriatividade e desenvolvimento rural no Sul do Brasil. Pelotas: EGUFPEL. 374p. (^13) Essas hipóteses estão novamente implícitas em dois artigos recentes que aprovei: i) NASCIMENTO, C. A .; AQUINO, J. R; DELGROSSI, M. E. Tendências recentes da agricultura familiar no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural. A previsão de publicação é no número da revista de 03/2022; e ii) NASCIMENTO, C. A .; STADUTO, J. A. R.; MANTOVANI, G. G.; SOUZA, M. A lei da agricultura familiar e a transitoriedade da pluriatividade no sul rural do Brasil. In: Anais do 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Sociologia e Administração Rural – SOBER , 2021, Brasília, DF.

 NASCIMENTO, C. A. (2007). Pluriatividade e Políticas Públicas: o caso do Sul do Brasil. Revista de Economia Política , v. 27, p.452-471, 2007.  NASCIMENTO, C. A. (2004). Pluriatividade, Pobreza Rural e Serviço Doméstico Remunerado. Revista de Economia e Sociologia Rural , Brasília-DF, v. 42, n.2, p. 341-364.

1.3. Período do trabalho profissional acadêmico

1.3.1. Uma sequência de pesquisas encadeadas

Quando assumi o magistério na Universidade Federal de Uberlândia – UFU, em 2005, em pouco tempo ingressei no programa de pós-graduação do Instituto de Economia e Relações Internacionais – IERI como professor permanente, no qual me mantenho até hoje e, minha primeira orientação de doutorado,^14 deu continuidade à minha Tese, sustentada pelas hipóteses de pesquisa mencionadas acima e, acreditamos, confirmando-as ou, pelo menos, sustentando sua plausibilidade. Além disso, consegui aprovação sucessiva de dois projetos financiados pelo CNPq para pesquisa de campo com pequenos agricultores familiares em quatro municípios mineiros. Nessas duas pesquisas (que voltarei novamente a mencioná-las mais adiante), considero que pude continuar comprovando e sustentando as referidas hipóteses. Um terceiro projeto – também financiado pelo CNPq – surgiu em decorrência de algumas descobertas durante os dois projetos anteriores, e forneceu elementos para um quarto projeto (desenvolvido no período de pós-doutorado), conforme comentarei mais adiante, mostrando o encadeamento dessas pesquisas. Merece mencionar que as duas primeiras pesquisas foram importantes também para o envolvimento de vários estudantes de Graduação e de Pós-graduação do IERI, que colaboraram decisivamente para a realização das atividades de campo e que puderam, por outro lado, obter um valioso aprendizado, na prática, sobre como fazer

(^14) CARDOSO, J. G. (2013). Agricultura Familiar, Pluriatividade e Políticas Públicas na Região Nordeste e Sul do Brasil, nos Anos 1990 e 2000: Trajetórias e Desafios. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade Federal de Uberlândia.

pesquisa de campo, além do aprendizado com o contato direto com a realidade da vida rural. Esse foi o caminho que inicialmente trilhei para abordar a temática que desde o início me inquietava – o (des)emprego dos trabalhadores. Desde minha Dissertação de Mestrado e minha Tese de Doutorado, ocupei-me do estudo da evolução das condições da ocupação/trabalho (e geração de renda) da agricultura familiar brasileira (mas também das famílias de empregados rurais), a partir do qual passei a também realizar alguns estudos das condições de trabalho dos assalariados na agricultura brasileira, consoante descrevo a seguir.

Das pesquisas sobre a agricultura familiar às pesquisas sobre os trabalhadores assalariados na agricultura

Nas minhas pesquisas aconteceu um desdobramento (não substituição) da abordagem da agricultura familiar brasileira para o enfoque das condições de trabalho dos assalariados na agropecuária nacional. Desse desdobramento de pesquisa, derivado particularmente dos resultados obtidos nas três pesquisas, já mencionadas, coordenadas por mim – todas financiadas pelo CNPq – , desenvolvi uma quarta pesquisa realizada no meu estágio pós-doutoral na SOAS ( School of Oriental and African Studies ), ligada à Universidade de Londres. As duas pesquisas iniciais (estudos de campo), trataram das condições de produção, ocupação e renda de pequenos produtores familiares de quatro municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP). As pesquisas são:  Uma, refere-se ao Projeto “O impacto da modernização das estruturas produtivas no campo: a tendência de crescente proletarização da agricultura familiar nos municípios de Coromandel e Canápolis, MG” (Edital MCT/CNPq 15/2007 – Universal, Faixa A, Proc. 479430/2007-1)  com esse mesmo projeto obtive a aprovação do Projeto Pesquisador Mineiro – PPM (FAPEMIG – SHA – PPM-0388/08).  A outra pesquisa decorreu do Projeto “A modernização das estruturas produtivas no campo e seu impacto sobre a agricultura familiar nos municípios de Araguari e Indianópolis, MG” (Proc. 473705/2009-5, Edital MCT/CNPq 14/2009 Universal)

por Parte dos Grupos Ocupacionais Familiares em Minas Gerais, Brasil, nos Anos 2000. Anais do 51º Congresso da SOBER. Belém do Pará.  NASCIMENTO, C. A .; MENDES, S. R.; CARDOSO, J. G. (2011). Agricultura Familiar, Tecnificação, Envelhecimento e Políticas Públicas: um estudo de caso em Indianópolis, MG. Anais do 49° Congresso da SOBER. Belo Horizonte, MG.  NASCIMENTO, C. A .; MENDES, S. R.; CARDOSO, J. G.; SOUTO, I. J. G. (2010). Modernização, pluriatividade e agricultura familiar: um estudo de caso comparado em Canápolis e Coromandel, MG, Brasil. Livro de Actas IV CER – Congresso de Estudos Rurais: Mundos Rurais em Portugal: Múltiplos Olhares, Múltiplos Futuros. Aveiro, Portugal: Universidade de Aveiro, p. 778-793.  NASCIMENTO, C. A .; MENDES, S. R. (2009). Modernização agrícola, agricultura familiar e pluriatividade: um estudo de caso em Canápolis, MG. Economia & Tecnologia (UFPR), v. 19, p. 121-128.  NASCIMENTO, C. A .; MENDES, S. R.; CARDOSO, J. G.; SOUTO, I. J. G. (2009). Modernização, pluriatividade e agricultura familiar: um estudo de caso comparado em Canápolis e Coromandel, MG, Brasil. Agenda Social (UENF), v. 3, n.1, p. 45-68.

As hipóteses que mencionei acima, norteadoras da minha Tese de doutoramento, iluminadas pelas obras de Lênin e de Karl Polanyi, foram traduzidas nas duas pesquisas de campo nos seguintes termos: i) dado o grau de avanço da modernização porque passa a agricultura no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, região dos quatro municípios das pesquisas de campo, acredita-se que muitos pequenos produtores familiares estejam sendo pressionados a abandonar suas atividades agrícolas e substituí-las por outras fora da agricultura, ou a ficarem, por falta de opção, marginalizados nas suas atividades agrícolas, cada vez tornando-se mais onerosas do que rentáveis; e ii) por outro lado, Programas oficiais como o PRONAF, o PAA, etc., podem estar servindo como fatores atenuantes da (hipótese de existência de uma) tendência de abandono das atividades

agrícolas por parte, especialmente, dos pequenos e mais descapitalizados produtores familiares. Muito resumidamente, essas duas primeiras pesquisas demonstraram que, considerando o conjunto das observações registradas nessas pesquisas, referentes, sobretudo, ao tamanho da propriedade, indicador de nível tecnológico, envelhecimento populacional (êxodo rural dos jovens) e renda média familiar, e considerando as muitas observações realizadas in loco , foi possível sugerir a interpretação de que o grau de tecnificação observado numa fração considerável da amostra pesquisada não se refletia em um bem-estar mais elevado das famílias pesquisadas. Explicamos esse aparente paradoxo – de um lado, elevada tecnificação (e maior produtividade), e, de outro, baixo padrão de consumo (refletindo baixa capitalização) – pela conclusão a que chegamos de que o agricultor familiar não se apropria do valor excedente por ele produzido, uma vez que se encontra submetido aos capitais que orbitam em torno da sua produção (fornecedores de sementes, equipamentos, máquinas e insumos químicos, crédito), engendrando uma situação de recorrente endividamento. A partir desses resultados, o que me ocupou na terceira pesquisa foi uma investigação conexa a essa relação paradoxal. Passei a considerar, na terceira pesquisa, a agricultura nacional em sua totalidade. Ou seja, considerando o crescimento do produto agropecuário brasileiro dos anos 2000, e considerando que se observou, nas duas primeiras pesquisas, que a maior tecnificação dos pequenos produtores familiares não se traduziu em sua maior capitalização, coube-me perguntar, como novo problema de pesquisa: se a situação investigada nas duas primeiras pesquisas (localizadas em quatro municípios mineiros) refletia a realidade da agricultura familiar brasileira, então, qual teria sido o (ou os) grupo(s) ocupacional(is) na agricultura que teria(am) se apropriado dos ganhos de produtividade do avanço da modernização agropecuária do país? Um dos resultados mais gerais a que chegamos nessa terceira pesquisa – e que suscitou as questões que ajudaram a sustentar a proposta de uma quarta pesquisa, no meu estágio pós-doutoral – sintetizou-se no seguinte ponto: a comparação com a agricultura familiar revelou que na primeira década dos anos 2000 os trabalhadores assalariados agrícolas tiveram melhor desempenho na apropriação relativa da renda agrícola nacional.^16

(^16) Esse resultado confirmava o estudo realizado por VALDÉS et al. (2010), que revelou que o crescimento do produto agropecuário brasileiro na primeira década do século XXI foi capturado, em

metodologia até então utilizada por mim, originária de Balsadi (2000),^17 além de ser imprecisa para o que eu pretendia identificar, nessa nova pesquisa, como grupo de assalariados ‘superexplorados’ , também não permitia, por esta mesma razão de imprecisão,^18 realizar um estudo mais aprofundado das condições socioeconômicas específicas desse grupo (assim como do grupo dos ‘apenas’ explorados) separadamente, nem da evolução do grupo e de suas condições socioeconômicas. Essa quarta pesquisa se estruturou em duas dimensões que se objetivavam complementares: teórica (sobre o valor da força de trabalho) e empírico-metodológica (construção de uma tipologia de famílias de assalariados explorados e explorados excessivamente – ou ‘superexplorados’). Realizei essa quarta pesquisa no estágio pós- doutoral na SOAS (Universidade de Londres), sob a supervisão do Professor Alfredo Saad Filho, conforme descrevo a seguir.

Dos estudos sobre o desempenho e as condições de trabalho dos assalariados agrícolas

- e sobre a reprimarização da economia brasileira – ao estudo do trabalho excessivo dos assalariados na agricultura e em setores selecionados

Paralelamente às pesquisas mencionadas anteriormente, realizei um esforço adicional de pesquisa sobre o processo de reprimarização da economia brasileira, na esteira da ampliação da dimensão do agronegócio na economia nacional, assim como também passei a estudar o tema da exploração e da superexploração da força de trabalho no capitalismo. Ministrar as disciplinas de ‘Desenvolvimento Socioeconômico’, ‘Economia Agrária I’ e ‘Economia Marxista I’, na graduação, e a disciplina ‘Teorias do Desenvolvimento’, na pós-graduação (PPGE-IERIUFU)^19 , contribuiu para suscitar o interesse por articular esses temas. Este Memorial faz um breve esforço de apresentar o encadeamento desse histórico de pesquisas.

(^17) BALSADI, O. V. (2000). Características do emprego rural no estado de São Paulo nos anos 90. Dissertação (Mestrado). Campinas: IE-Unicamp. 18 O termo imprecisão está sendo usado do ponto de vista do que eu queria analisar no estágio pós- doutoral (diferenciação entre assalariados explorados e assalariados superexplorados). Nos trabalhos anteriormente citados, desenvolvidos ou orientados por mim, foi usado esse método “impreciso”, porém, não o era para o tipo de abordagem adotada, semelhante à que Balsadi (2000) também adotou, adequadamente para seu propósito. (^19) Programa de Pós-Graduação em Economia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (PPGE-IEUFU).

Esses estudos decorreram, por um lado, do meu envolvimento nas referidas disciplinas, e, por outro, da minha participação no Grupo de Pesquisa “Estudos do Desenvolvimento Dependente”, cadastrado no DGP-CNPq^20 e sediado no IERI/UFU sob liderança dos Professores Niemeyer Almeida Filho e Marisa Silva Amaral, ambos do IERIUFU. A primeira produção coletiva do grupo foi um livro sobre Superexploração e Capitalismo Dependente, publicado pelo IPEA, no qual participei com um capítulo:

NASCIMENTO, C. A .; DILLENBURG, F. F.; SOBRAL, F. M. (2013). Exploração e Superexploração da Força de Trabalho em Marx e Marini. In: ALMEIDA FILHO, N. [Org.] (2013). Desenvolvimento e Dependência: cátedra Ruy Mauro Marini. Brasília: IPEA, p. 99-123. Link de acesso: o https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/l ivro_desenvolvimento_dependencia.pdf Cabe aqui abrir um necessário parêntese para deixar o registro da minha gratidão ao meu amigo e colega de trabalho, Professor Niemeyer, por ter também, desde a minha chegada à UFU, convidado-me a compartilhar^21 com ele a disciplina de Teorias do Desenvolvimento (TD) que ele ministrava (e ainda ministra) na Pós-graduação, abrindo- me a possibilidade, e o desafio, de ampliar meus horizontes de leituras, orientações e pesquisa, além das parcerias que tivemos em publicações de artigos, capítulo de livro e bancas de defesas. Ao mesmo tempo, faço questão de registrar também que esse meu envolvimento no mencionado Grupo de Pesquisa e na disciplina TD, aguçou-me o desejo de fazer leituras sobre Estado, assim como também conhecer mais a obra de John Maynard Keynes, razão pela qual organizei-me para encontrar alguma ‘janela’ em meus

(^20) O grupo foi constituído a partir do Programa Cátedras do Desenvolvimento do IPEA. A ideia chave é recuperar e atualizar a tradição da Teoria Marxista da Dependência brasileira. A partir da sua criação, o grupo vem se ampliando tanto no âmbito do Instituto de Economia da UFU, quanto no âmbito nacional. O grupo aderiu ao GTSEP-TMD criado pela Sociedade Brasileira de Economia Política, estabelecendo relações significativas de pesquisas com outros grupos semelhantes brasileiros. Finalmente, o grupo faz parte de um GT sobre Capitalismo Dependente criado no âmbito da IIPPE (International Iniciative for Politica Economy). O registro desse Grupo de Pesquisa no CNPq pode ser conferido em: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/ (^21) Prefiro dizer que Niemeyer convidou-me a ‘compartilhar’ a disciplina e não apenas ‘dividi-la’, porque ele sempre procurou estimular-me a me envolver na disciplina, não apenas numa mera divisão de trabalho, mas procurando torna-la uma certa “plataforma” para, a partir dela, tentarmos de alguma forma mantermos discussões, orientações e trabalhos/publicações em comum.