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Efeitos da Castração em Animais de Companhia: Metabolismo, Fisiologia e Nutrição, Notas de aula de Energia

Este documento discute os efeitos da castração em animais de companhia, incluindo alterações metabólicas, fisiológicas e nutricionais. O texto aborda a relação entre castração e ganho de peso, obesidade e diabetes mellitus, além de recomendações para manter o peso ideal e fornecer alimentação adequada. Os estudos citados mostram que a castração pode resultar em aumento da ingestão de alimentos e diminuição do gasto energético, levando a necessidade de correção no manejo nutricional.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Gisele
Gisele 🇧🇷

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Edição II/2020
Manejo Nutricional
do cão e gato castrado
Dr. Thiago H. A. Vendramini | Prof. Dr. Marcio A. Brunetto
Centro de Pesquisa em Nutrologia de Cães e
Gatos (CEPEN pet) – FMVZ/USP
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Edição II/

Manejo Nutricional

do cão e gato castrado

Dr. Thiago H. A. Vendramini | Prof. Dr. Marcio A. Brunetto

Centro de Pesquisa em Nutrologia de Cães e Gatos (CEPEN pet) – FMVZ/USP

INTRODUÇÃO

Cadelas e gatas são animais pluríparos de gestação curta, com grande potencial de pro- dução de gerações numerosas que podem atingir a maturidade sexual a partir de seis meses de idade (1)^. Esses fatores associa- dos à falta de responsabilida- de dos proprietários de animais contribuem para o abandono e crescimento populacional des- controlado de cães e gatos. A castração torna-se, assim, uma das soluções viáveis que pode- ria amenizar este problema e evitar que estes animais conti- nuem a se reproduzir, gerando mais abandono.

O método humanitário con- siste em um amplo programa de castração dos animais errantes e de animais de tutores que não desejam ou não possam abrigar mais crias ou que queiram evitar que seus animais procriem. Sen- do assim, a realização de campa- nhas de educação para a guarda responsável é extremamente importante (2)^.

A castração é uma recomen- dação prática muito comum, porém veterinários que tentam preconizar o procedimento em cães e gatos são, muitas vezes, confrontados com achados em- píricos e conflitantes, bem como diferenças de conceitos quanto à prática e ao adequado manejo nutricional após o procedimento; entre estas discussões, a asso- ciação entre castração e ganho de peso ou obesidade posterior

ao procedimento é um tema de grande destaque.

RISCOS DE GANHO

DE PESO OU OBESIDADE

APÓS A CASTRAÇÃO

Em uma revisão recente dos efeitos da dieta e dos esteroides gonadais na regulação do ape- tite e na ingestão de alimentos para animais de companhia (3,4)^ , foi possível verificar que, de maneira geral, a gonadectomia resulta em aumento da ingestão de alimen- tos e do peso corporal, acompa- nhados por alterações de fatores fisiológicos e comportamentais. Os artigos listados na revisão mostraram que os hormônios sexuais influenciavam a alimen- tação de maneira diferente. An- drógenos (ou seja, testosterona) são hormônios anabólicos, que resultam em aumento da inges- tão de alimentos e massa magra (músculos), enquanto os estró- genos são catabólicos, diminuin- do a ingestão de alimentos e o peso corporal. Alguns estudos também mostraram associação entre gonadectomia e alterações nos hormônios relacionados ao apetite (por exemplo grelina, lep- tina, adiponectina e peptídeo se- melhante ao glucagon-1).

Os aumentos de ingestão de energia, deposição de tecido adi- poso e consequente aumento do peso corporal de machos e fê- meas castrados quando compa- rados com animais não castrados são relatados na literatura (5 - 7)^. O ganho de peso após a castração é verificado como resultado do

aumento da ingestão de energia ad libitum e diminuição do gasto energético (8)^. A insulina e a leptina são consideradas sinais de adi- posidade do sistema periférico que indicam o status das reservas de energia do corpo para o siste- ma nervoso central; a secreção e o efeito biológico desses hormô- nios são modificados pelos me- diadores gonadais (9)^. Portanto, a castração pode resultar em di- minuição de gasto e aumento no consumo de energia. O aumento na ingestão de alimentos ocor- re rapidamente, começando 3 dias após a gonadectomia. Esse efeito agudo é resultado da não ação dos hormônios gonadais, embora não esteja claro como as concentrações plasmáticas desses hormônios antagonizem esses efeitos.

Em outro estudo (10)^ , os pes- quisadores tiveram como obje- tivo determinar a necessidade total de energia em gatos jo- vens, investigando o impacto da castração e idade na ingestão e peso corporal. Os animais fo- ram castrados quando tinham 19 ou 31 semanas de idade e os resultados sugerem que a esterilização nos estágios ini- ciais do desenvolvimento sexual pode reduzir a probabilidade de mudanças agudas no compor- tamento alimentar. Do ponto de vista do controle de peso e bem-estar, a esterilização antes ou às 26 semanas de vida pode ser benéfica(10)^.

Ainda em relação ao tópico da saciedade após a castração, um

estudo recente (11)^ teve como ob- jetivo avaliar o efeito da castra- ção na ingestão de alimentos e, especialmente, concentrações sanguíneas de hormônios rela- cionados à saciedade (grelina, colecistocinina, peptídeo total YY e insulina) e atividade de cães. A castração não apresentou as- sociação ao controle ineficiente da ingestão de alimentos ou à variação dos hormônios da sa- ciedade liberados no intestino, mas foi associada à diminuição da atividade em comparação aos cães inteiros.

Desta maneira, com base na literatura científica atual, po- de-se supor que o aumento do risco de obesidade após a cas- tração não seja motivado ape- nas pelo aumento da ingestão de energia, mas principalmen- te pela diminuição da demanda energética e de atividade físi- ca (11)^. A obesidade está relacio- nada, principalmente, ao balan- ço energético positivo, no qual o consumo de energia é supe- rior ao gasto energético, levan- do ao seu acúmulo na forma de tecido adiposo.

Para o melhor entendimento, esses efeitos estão ilustrados na Figura 1 (12)^. Como exemplo prático, um gato que consome apenas 10 kcal acima de suas ne- cessidades energéticas diárias, acumulará, ao final de 1 ano, cer- ca de 450 gramas de tecido adi- poso. Dependendo do tamanho e raça deste felino, esse ganho de peso (450 g) pode ser equiva- lente a 10% do seu peso corporal

(4,5 kg), o que representa um au- mento significativo do peso.

Assim, gatos castrados têm risco maior de se tornarem obe- sos e, portanto, risco duas a nove vezes maior de desenvolverem diabetes mellitus do que gatos inteiros (12-15)^. A probabilidade au- mentada de gatos desenvolve- rem obesidade e diabetes melli- tus após a castração pode ser devido à diminuição da sensibi- lidade à insulina promovida pela liberação de mediadores pro- duzidos no tecido adiposo (16,17)^. Nas cadelas inteiras, o metabo- lismo da glicose pode ser altera- do durante a gestação por ação da progesterona (metaestro) ou após a administração des-

te hormônio, motivo pelo qual a castração é recomendada em cadelas diabéticas.

A taxa metabólica basal (prin- cipal componente do gasto energético) também está direta- mente relacionada ao ganho de peso após a castração (18)^. Alguns autores observaram que cade- las alimentadas com quantidade pré-determinada e controlada de alimento comercial completo, após a castração apresentaram diminuição na taxa metabólica basal e tendência à redução do gasto energético. Assim, para assegurar a manutenção do peso corporal ideal, são necessários exercícios, fornecimento de quantidade adequada de alimen- tos e monitoramento constante do escore de condição corporal (ECC) para o manejo adequado dos animais castrados.

MANEJO

NUTRICIONAL

ADEQUADO APÓS

A CASTRAÇÃO

O status hormonal e a redu- ção da atividade física são dois fatores importantes que afetam o gasto energético e levam à di- minuição da demanda de energia que, por consequência, implicam na necessidade de correção do manejo nutricional após a castra- ção (19, 20)^. A alimentação ad libitum deve ser evitada para animais castrados e a quantidade de ali- mento fornecida ao animal deve ter por base o cálculo da estima- tiva da necessidade energética através de equações.

Diariamente

Excesso de consumo de 10 kcal / dia

Em 1 ano

Acúmulo de 450 g de tecido adiposo

Consequência

Excesso de peso (10% acima do peso corporal ideal)

Figura 1 - Desequilíbrio energético de animais castrados [adaptado de Michel (12)].

avaliados antes e 26 semanas após a castração. Os resultados demonstraram que o emprego de uma dieta com 94,0 g de pro- teína/1000 kcal parece ser uma estratégia nutricional benéfica para manutenção da musculatu- ra e da composição corporal dos cães após a castração. Com base nas informações descritas na lite- ratura até o presente momento, um resumo sobre as alterações metabólicas e fisiológicas rela- cionadas à castração e a condu- ta nutricional recomendada para cães e gatos está apresentado no Quadro 1.

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

A castração tem benefícios tangíveis, como a prevenção de reprodução indesejada, dimi- nuição da incidência de alguns tumores e aumento da expec- tativa de vida em cães e gatos. Em contraste, a predisposição à obesidade após o procedimento surge como questionamento e preocupação para realizá-la. En- tretanto, a maior propensão ao ganho de peso pode ser preveni- da com a implementação de ade- quado manejo nutricional na fase pós-castração, com foco princi- palmente no correto cálculo da necessidade energética e utiliza- ção de um alimento próprio para animais castrados.

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

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