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Uma análise detalhada do salmo 82, que se refere ao concílio dos deuses e a posição de yahweh em relação a eles. O autor analisa a participação de elohim/yahweh no concílio, sua relação com el e a importância do salmo 82 na transição religiosa da judeia. O documento também discute a influência da literatura ugarítica no salmo 82.
Tipologia: Resumos
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por Rogério Lima de Moura Orientador: Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira
Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.
Presidente: _______________________________________ Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (UMESP)
1º Examinador: _______________________________________ Prof. Dr. José Ademar Kaefer (UMESP)
2º Examinador: _______________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Franklin de Sousa (Mackenzie)
Esta pesquisa foi financiada com o apoio da CAPES.
“Aprendi a duvidar do que se sabe para saber o que se crê”
( Joseph Moingt )
MOURA, Rogério Lima de. “O Concílio dos Deuses no Salmo 82 e na Literatura Ugarítica”. São Bernardo do Campo: Umesp 2012. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) — Faculdade de Humanidades e Direito, Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).
O salmo 82, desde o início de seus versos, mostra o ambiente no qual se situa seu cântico: o concílio dos deuses. Nessa reunião celestial, um deus se levanta e acusa os outros deuses de negligenciar os mais fracos. Os deuses são condenados à morte e o deus que preside a assembleia dos deuses nomeia outro deus para governar todas as nações da terra. A cena do concílio dos deuses e os decretos promulgados nesses encontros no mundo celestial são recorrentes em outras literaturas do Antigo Oriente Próximo. Na literatura religiosa de Ugarit, antiga cidade cananeia, El , Baal , Asherah e outras deidades se reúnem para discutir assuntos pertinentes à ordem do cosmos. Nesse sentido, o Salmo 82 compartilha elementos da religiosidade e da cultura dos cananeus.
Palavras- chave : Salmo 82; Literatura Ugarítica; Concílio dos Deuses.
MOURA, Rogério Lima de. “The Council of Gods in Psalm 82 and the Ugaritic Literature”. São Bernardo do Campo: Umesp, 2012. Thesis (Master Degree in Sciences of Religion) — São Paulo - Methodist University (UMESP).
Psalm 82, in the beginning of its verses, shows the environment in which its song is established: the council of the gods. In this celestial meeting, one god rises up and accuses the other gods of neglecting the weaker. The gods are condemned to death and the gods who presides the gods’ assembly nominates another god to govern all nations of the world. The council of gods scene and the decrees promulgated in these meetings in the celestial world are recurrent in other Ancient Near East literature. In the religious literature found in Ugarit, ancient Canaanite city, El , Baal , Asherah and other deities joined to discuss issues related to the order of cosmos. In this sense, Psalm 82 share elements of the Canaanite religiosity and culture.
Keywords : Psalm 82; Ugaritic Literature, Council of Gods.
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Introdução
O Salmo 82 apresenta uma cena recorrente na literatura do Antigo Oriente Próximo: o concílio dos deuses. O salmo 82 é motivo de amplas discussões acerca de sua interpretação. Um exemplo disso são os versos 1-2 do salmo que diz:
1 “Elohim se levanta no concílio de El, No meio dos Elohim ele julga: 2 Até quando vocês julgarão injustamente, E as faces dos malvados erguerão?”
Muitos estudiosos concordaram que o Elohim do verso 1a é Yahweh , pois esse salmo faz parte da coleção dos denominados Salmos Eloístas (42-83) que prefere o epíteto Elohim em vez de Yahweh. Já o verso 1b é motivo de discordância entre os acadêmicos. As três principais posições interpretativas são:
A- Que os Elohim do verso 1b são governantes e juízes de Israel;
B- Os Elohim do verso 1b são governantes e juízes de outras nações;
C- Que os Elohim são membros do concílio dos deuses.
Ao analisarmos minuciosamente a Bíblia Hebraica, podemos encontrar referências a um concílio em que seres celestiais se encontram, rodeando um deus que preside essa reunião. Um exemplo é 1Reis 22,19, relato que narra o profeta Miqueias Bem Imla em uma visão da corte celestial:
“Eu vi Yahweh assentado sobre o seu trono; Todo o exército do céu estava diante dele à sua direita e à sua esquerda”.
Essa imagem em que deuses se encontram para uma assembleia divina não é uma ideia que surgiu originalmente em Israel. Essas cenas de um concílio dos deuses são encontradas nas religiões da Mesopotâmia e na religião cananeia.
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3- Investigar os motivos da acusação e sentença à morte desses Elohim que aparecem no salmo e definir quem são os empobrecidos e os mais fracos que Elohim/Yahweh está defendendo.
Assim, no capítulo 1, far-se-á uma exegese do Salmo 82, destacando sua composição, linguagem e datação a partir dos pressupostos da crítica das formas, seguindo a estruturação proposta nesta análise. Nesse capítulo, pretende-se mostrar a situação histórica do lugar em que o salmo foi escrito, estudar cada verso em particular, palavras de destaque e o concílio dos deuses no Salmo 82, para, então, poder responder a alguns questionamentos da pesquisa. No capítulo 2, far-se-á um estudo histórico de Ugarit, sua descoberta, características culturais e econômicas. O enfoque será posto na religião ugarítica, suas divindades e o concílio dos deuses em Ugarit. As principais divindades, suas funções e a finalidade da assembleia dos deuses na literatura ugarítica serão alvo da pesquisa nesse capítulo, cujas fontes serão os manuscritos de Ugarit encontrados em Ras Shamra. No capítulo final, o objetivo é mostrar, a partir das pesquisas realizadas nos capítulos anteriores, as convergências e as divergências que o concílio dos deuses no Salmo 82 tem em relação à religião cananeia. Enfatizará os diálogos culturais entre a religião israelita e a religião cananeia e os “filtros” que aparecem como forma de identidade religiosa no Salmo 82.
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1.1 — Texto Hebraico
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1.3 — Estrutura Literária
Relato de acusação e julgamento dos deuses (v. 1–8)
I. Palavra de Elohim (v. 2–5)
A. Cabeçalho/Introdução do salmista (v. 1) B. Citação da acusação de Elohim (v. 2–5)
II. Julgamento dos deuses (v. 6–8)
A. Sentença (v. 6–7) B. Decreto (v. 8)
1.4– Observações sobre a estrutura
O Salmo 82 é delimitado pelos versos 1–8. O verso 1a tem um cabeçalho e 1b contém a palavra do salmista que introduz o cântico. É a única passagem em que o narrador do salmo aparece. Nos versos 2–5, temos palavras de acusação contra os deuses feita por Elohim , e estes são acusados de negligenciar ajuda aos pobres e miseráveis da terra. Nos versos 6–8, temos as palavras de El sentenciando os deuses e decretando todas as nações como herança de Elohim. A pergunta “até quando?” no verso 2 insere a acusação de Elohim contra os outros deuses, e os versos 3–4 evidenciam quem são os alvos da defesa de Elohim. O concílio reúne–se para discutir a sorte do cosmos e, para isso, os deuses se encontram no concílio dos deuses, literalmente “concílio de El ”, e um deus que preside essa assembleia nomeia e exalta um Elohim para governar todas as nações da terra e condena os outros deuses, por causa do caos e da injustiça — que culminam na desgraça —, a morrerem como humanos (v. 6–7).
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1.5 – Observações sobre a composição e a linguagem do texto
O Salmo 82 demonstra, em seu cabeçalho, pertencer à coleção de salmos para Asaf. Essa coleção pertence ao livro III do saltério que abrange os salmos 73–89. Os salmos asafitas são delimitados pelos salmos 73–83, embora o Salmo 50, também dedicado a Asaf, esteja deslocado e ligando outras duas coleções: a koraíta (42–49) e a segunda parte da davídica (51–57). Os salmos para Asaf têm características próprias de linguagem, que podemos também verificar no Salmo 82. Como bem observado por Tércio Machado Siqueira^20 , o Salmo 82 apresenta uma linguagem próxima das acusações proféticas encontrada na Bíblia Hebraica. Mas antes de prosseguirmos a discussão da característica linguística da coleção dos Salmos para Asaf na qual o salmo 82 faz parte, vamos atentar agora a composição.
1.5.1 — A composição dos Salmos de Asaf
A raiz ’sp , Asaf , aparece 209 vezes em toda a Bíblia Hebraica e basicamente tem o significado de reunir, juntar, colher^21. Asaf aparece no livro de Crônicas como músico e cantor nos tempos de Davi (1Cr 15,16–19; 16,4s.7.37; 25,1ss.) e os filhos de Asaf aparecem em funções relacionadas ao templo e à música em tempos tardios (2Cr 5,12; 20,14; 29,13; 35,15; Esd 2,41; 3,10; Ne 7,44; 11,22)^22. Provavelmente Asaf foi apontado pela tradição como um epônimo que era encarregado da música de Davi^23. Os Salmos de Asaf, além de figurar na terceira parte do saltério, está dentro também de uma composição bem caracterizada a qual os pesquisadores chamam de “Salmos Eloístas”, pelo fato de preferirem, geralmente, o nome divino Elohim em vez de Yahweh. Os Salmos eloístas são delimitados pelos salmos 42–83. Além de muitos salmos dessa coleção modificarem o tetragrama Yhwh por Elohim , nos salmos asafitas
(^20) SIQUEIRA, Tércio Machado. Psalm 82. In: Reading the Hebrew Bible for a New Millenium. Volume 2 (Edited by W. Kim, D.Ellens, M. Floyd, M.A. Sweeney), Harrisburg: Trinity Press International, 2000, p. 243–252. 21 Sawyer, J. F. A In: Diccionario Teologico Manual Del Antiguo Testamento. Tomo 2 (editado por Ernst Jenni e Claus Westermann), Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, p. 734-738. 22 Todas as citações de textos bíblicos serão extraídas da Bíblia de Jerusalém e seguirão seu padrão de abreviaturas. Somente os epítetos divinos nós manteremos como aparece no original hebraico em itálico, para dar uma maior clareza de sentido. 23 MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1983, p.79.
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B — Alguns desses salmos estão preocupados em lembrar as ações de Yahweh no passado como motivação no seu agir presente ou mesmo uma forma de exortar o povo à fé: o êxodo (Salmos 77,11–20; 78,11–53; 80,8–11; 81,4–7); a conquista e o assentamento em Canaã (Salmo 78,53ss); eventos do período dos juízes (Salmos 78,56– 66; 83,9–12;); e a vitória de Yahweh sobre o caos, estabelecendo a ordem do mundo no tempo da criação (Salmo 74,12–17).
C — Há uma série de alusões a Israel como um rebanho de ovelhas tendo Yahweh como seu pastor (Salmos 74,1; 77,20; 78,52; 79,13; 80,1) mais que em todo o saltério.
D — As tribos do norte de Israel são diversas vezes citadas, especialmente sob o nome de José (Salmos 77,15; 78,9; 67; 80,1–3; 81,5) e em todo o saltério, havendo apenas uma referência a José fora dos Salmos de Asaf (Salmo 105,17), porém como indivíduo e não como um nome tribal.
E — Aparece também um considerado número de oráculos (Salmos 50; 75,2– 5; 81,6–16) além do Salmo 82,2–7.
F — O foco do saltério asafita é a comunidade como um todo. O Salmo 73 é exceção. Esse saltério diferencia–se, por exemplo, do saltério davídico, em que o lamento individual é característico.
1.5.3 — Salmo 82 e a relação com o saltério III (Salmos 73–89)
Quando o Salmo 82 é lido em conjunto com outros salmos do saltério III, aparece uma série de ideias em comum no qual o compilador dessa coleção asafita procurava intencionalmente demonstrar^27. O concílio é um tema que aparece no Salmo 74,2 e o julgamento de Elohim/Yahweh no Salmo 82,1 lembra o Salmo 81,5. A construção interrogativa “até quando?” aparece diversas vezes (Salmo 74,9–10; 79,5; 80,5). O tema da falta de assistência ao pobre e ao necessitado é recorrente também
(^27) Ver COLE, Robert L. The Shape and Message of Book III ( Psalms 73- 89). Sheffield: Sheffield Academic Press, 2000, p. 102-109. Embora Cole defenda que o Salmo 82 trata de acusações contra os juízes de Israel, é interessante notar os temas correlacionados dentro dos Salmos para Asaf.
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(Salmos 72,1s.4.12–13). Entre os salmos 82 e 72 há diversos paralelos semânticos em
O Salmo 73 descreve o sucesso e prosperidade dos malvados e sua consequente queda (v. 18). No Salmo 74, 19–22, há um apelo ao pobre e necessitado. No final desse mesmo Salmo, é pedido para Elohim se levantar, ( "& ) e defender a causa
dos pobres e necessitados, da mesma forma que aparece no salmo 82,8. No Salmo 72, 11,17, aparece o mesmo universalismo que lemos no Salmo 82,8, em que o salmista apela para o governo de Elohim/Yahweh sobre todas as nações.
1.5.4 — Considerações finais sobre a composição e linguagem do Salmo 82 e dos Salmos de Asaf
Todas essas considerações levantadas acima em relação a uma leitura canônica do Salmo 82, assim como de sua linguagem, levam–nos a crer que esse salmo assim como o conjunto de Salmos para Asaf compartilham ideias, teologia, propósitos e influências de uma mesma visão de mundo e religião. Com toda a probabilidade, essa coleção serviu para provocar a lembrança na comunidade pós–exílica das ações e julgamentos de Yahweh na história de Israel. No período pós–exílico, provável data da compilação desses salmos asafitas, Yahweh foi considerado o único deus da comunidade da Judeia e, assim, a leitura canônica desses salmos é de grande valor teológico, assim como o descredenciamento dos antigos deuses cananeus e estrangeiros como El ou Elohim que são transformados em meros epítetos para Yahweh. A prioridade de nossa pesquisa é investigar o Salmo 82 isoladamente, embora também achássemos importante, como demonstrado acima, entendê–lo canonicamente e trabalharmos como a coleção de Asaf foi interpretada na comunidade pós–exílica, embora essa ferramenta não seja a única em nossa pesquisa, pois entendemos, também, que limitaria a nossa investigação. Nosso trabalho é mostrar como esse cântico foi entendido no provável período em que foi composto, e como reflete tradições do período pré–exílico de Israel. Devido aos dados obtidos até aqui em nossa análise canônica dos Salmos de Asaf, é muito difícil não situar esses salmos na região norte de Israel, pelo fato de, como demonstrado, termos diversas referências às tribos do norte. Embora tenhamos o Salmo