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A ideia de coisa decadente, de aberração, andou tanto tempo associada à noção de arte barroca, que, ainda hoje, muita gente só ad- mira tais obras por ...
Tipologia: Notas de estudo
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127 Fig. 1: Púlpito da igreja jesuítica de Embú, no Estado de São Paulo.
palavras-chave: arquitetura no Brasil; Companhia de Jesus; barroco no Brasil; arte no Brasil dos sécu- los XVI – XVIII; igrejas; traçados urbanísticos
keywords: brazilian architecture; Society of Jesus; Baro- que in Brazil; brazilian art of the sixteenth to the eighteenth centu- ries; churches; urban design
Lúcio Costa aborda neste artigo as singularidades das construções jesuíticas no contexto brasileiro, defendendo que essas obras constituíram verdadeiramente nossa “antiguidade”. O autor afirma que enquanto na Europa a Companhia se associava à exuberância das construções barrocas, aqui, suas intervenções eram marcadas por uma profunda sobriedade, não obstante deixando entrever um “sabor popular”, que desfigurava desde sempre os padrões eruditos, configurando-se como experiências legítimas de recriações. O autor não deixa de atentar para o fato de que no Brasil as características arquitetônicas empreendidas nas obras dos jesuítas extrapolavam a esfera das edificações religiosas, repetindo-se nas demais construções do traçado urbano.
Lúcio Costa approaches, in this article, the singularities of the Jesuitical buildings in the Brazilian context, stating that such works constituted our true “antiquity”. The author argues that, if in Europe the religious order was associated with the exuberance of Baroque, here its interventions were marked by a deep sobriety, nonetheless revealing a “popular flavor” that has been, since the beginning, transfiguring the classical canons, and, thus, becoming legitimate experiences of reinvention. The author pays attention to the fact that, in Brazil, the architectural features in the Jesuitical works surpasses the religious sphere, appearing in other urban buildings.
129 Lúcio Costa A arquitetura dos jesuítas no Brasil
Se isto é verdade com relação à obra internacional dos jesuítas em seu conjunto, para nós brasileiros, porém, a expressão “estilo jesuí- tico” tem um sentido mais limitado e preciso. Com efeito, enquanto para os europeus, saturados de “renascimen- to”, o falar-se em estilo jesuítico traz logo à lembrança, além das formas com- passadas iniciais, as manifestações mais desenvoltas do barroco; enquanto para os hispano-americanos, onde a ação da Companhia prosseguiu ininter- ruptamente durante todo o século XVIII, a ideia da arte jesuítica abrange o ciclo barroco completo; para nós, no Brasil, onde a atividade dos padres, já atenuada na primeira metade do século, foi definitivamente interrompida em 1759, as obras dos jesuítas, ou pelo menos grande parte delas, representam o que temos de mais “antigo”. Consequentemente, quando se fala aqui em “estilo jesuítico”, o que se quer significar, de preferência, são as composições mais renascentistas, mais moderadas, regulares e frias, ainda imbuídas do es- pírito severo da Contra-Reforma. A ideia de coisa decadente, de aberração, andou tanto tempo associada à noção de arte barroca, que, ainda hoje, muita gente só ad- mira tais obras por condescendência, quase por favor. Se algumas vezes os monumentos barrocos merecem realmente essa pecha de anomalias artísticas, a grande maioria deles – inclusive daqueles em que o arrojo da concepção ou o delírio ornamental atingem o clímax – é constituída por autênticas obras de arte, que não resulta- ram de nenhum processo de degenerescência, mas, pelo contrário, de um processo legítimo de renovação. Com efeito, desde que os vários elementos de que se compõe cada uma das ordens gregas – as colunas, o entablamento, os frontões – perderam as suas características funcionais primitivas, isto é, deixaram de constituir a própria estrutura do edifício, passando a representar, para os romanos, simplesmente elementos construtivos complementares e, para os artistas do Renascimento, apenas elementos de modenatura, in- dependentes das necessidades construtivas reais, nenhuma razão mais justificava o apego intransigente às fórmulas convencionais e vazias de sentido então em vigor. Se o frontão já não era mais tão somente uma empena, a coluna um apoio, a arquitrave uma viga, mas simples formas plásticas de que os arquitetos se serviam para dar expressão e caráter às construções – por que não encarar de frente a questão e tratar cada um desses elementos como formas plásticas autônomas, criando-se assim novo alento de vida ao velho receituário greco-romano à bout de forces? Não se trata, por conseguinte, de uma arte bastarda, como pre- tendem alguns, mas de uma nova concepção plástica, liberta dos pre- conceitos anteriores e fundada em princípios lógicos e sãos.
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Passando-se por alto sobre as interessantes teorias mais recentes que atribuem ao fenômeno barroco maior amplitude, definindo-o como ati- tude anticlássica permanente – interpretação que, a par da vantagem de acentuar o que há de fundamental na maneira barroca de ver e sentir, apre- senta o grave inconveniente de estender desnecessariamente o campo de estudo, tornando-o difuso e complexo demais –, deve-se aqui entender por barrocas, dentro do critério histórico habitual, a maior parte das manifesta- ções de arte compreendidas entre a última fase do Renascimento e o novo surto classicista de fins do século XVIII e, no Brasil, princípios do XIX. A expressão “arte barroca” não significa, assim, apenas um es- tilo. Ela abrange todo um sistema, verdadeira confederação de estilos
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truções tão precárias como se tem dado a entender. Anchieta, por exemplo, referindo-se à área cultivada do primitivo Colégio de Olinda, diz o seguinte: “ainda que grande está toda cercada de parede de tijolo...”; e tem “duas ruas de pilares de tijolo com parreira”, acrescenta Fernão Cardim. Por onde também se conclui, fato este importante, que o emprego do tijolo em Pernambuco, ao contrário do que se tem afirmado, é anterior, de muito, ao domínio holandês. As instruções de Roma com referência a construções eram, porém, no sentido de se atender à “perpetuidade – porque ainda que custe mais, sai mais barato”. Aquelas estruturas provisórias foram, pois, substituídas, logo que as circunstâncias o permitiram e muitas vezes ainda no primeiro século, por construções já de caráter definitivo, de taipa de pilão ou de pedra e cal, dependendo a preferência dos recursos e das conveniências locais. As duas técnicas eram empregadas contemporaneamente. Onde houvesse bom bar- ro e pedra e cal fossem difíceis de obter, recorria-se à taipa de pilão. Em São Paulo, por exemplo, fora do litoral. Essas estruturas, em que as paredes são formadas por camadas su- cessivas de barro apiloado, distinguem-se das de alvenaria de pedra pelos contornos menos definidos e precisos e pelo aspecto acachapado, conforme se pode observar no oitão da preciosa capelinha paulista de Santo Antônio, no Município de São Roque (fig. Ia). O espesso pranchão, fazendo de verga sobre a janela, é solução peculiar às construções de terra socada, embora também empregada nas de alvenaria de pedra, quando o enquadramento dos vãos não pudesse ser de cantaria, como ocorre, por exemplo, na porta travessa da igreja de Reritiba, hoje cidade de Anchieta, no Espírito Santo. Na capela tão simpática de São Miguel, daquela mesma região de São Paulo (fig. 17), o aspecto mais leve e gracioso resulta do altea- mento da nave com paredes de adobe, material muito empregado nas reformas e acréscimos do século XVIII, e escoramento interno de ma- deira. O feitio primitivo desta velha capela de 1622 – contemporâneo do portal e da peça valiosa que é a grade de separação do presbitério (fig.
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certo modo, um compromisso entre essa técnica e a de pedra e cal. Ao contrário do que se tem categoricamente afirmado, as edifica- ções em alvenaria de pedra – tanto religiosas como civis – já eram bastante comuns na segunda metade do primeiro século. Foram várias as constru- ções jesuíticas, igrejas e colégios, então feitas com essa técnica. Tomé de Sousa, em sua carta de 1º de junho de 1553, descreve São Vicente com “hua igreja muito honrrada e honrradas casas de pedra e call com um collegio dos Irmãos de Jhesus”, o que faz presumir fosse a igreja, ela também, de pedra e cal. Ora, essa igreja não podia ser outra senão a do próprio colégio, concluída no ano anterior e tão boa que, no dizer do padre Nóbrega, “até em Portugal não possuíam ainda então os Jesuítas outra melhor”, porquanto a construção da nova matriz, edificada em substituição da primitiva, que o mar destruiu em 1542, só foi iniciada em 1559. E como, ainda hoje, a igreja do colégio – atual matriz – conser- va, tanto externa como internamente, as proporções e o aspecto geral das igrejas mais antigas (fig. Ib), embora os vãos e o frontão datem do século XVIII, e o revestimento, a cobertura, o coro etc. tenham sido recentemen- te desfigurados – é bem possível que o seu arcabouço ainda seja o mesmo daquela primeira igreja referida pelo governador geral e assim descrita em carta do dia 20 de junho de 1552, pelo padre Nunes: “a igreja é a mais devota que há agora nesta costa. A capela é mui bem forrada e formosa, e um terço da igreja, por causa dos altares, é também forrado”. Mormente se levarmos em conta que muito antes do coup de grâce do aventureiro Cavendish, já São Vicente se estava despovoando e a decair e que ainda agora se conservam na igreja, conforme teremos ocasião de referir depois, quatro colunas e um sacrário, trabalhados no estilo característico dos al- tares jesuíticos do primeiro período. A igreja de pedra e cal mandada construir por Mem de Sá, em Salvador, para o “mosteiro de Jesus”, com capela-mor forrada “de pai- néis para se poder pintar de figuras com óleo avendo bom pintor que o saiba fazer”, já estava concluída havia cinco anos quando ali chegou, em 1577, o irmão arquiteto Francisco Dias, com a incumbência de projetar e dirigir a construção do novo colégio, o mesmo descrito por Cardim, nove anos depois, “todo de pedra e cal de ostra, que é tão boa como a de pedra de Portugal. Os cubículos são grandes, os portais de pedra, as portas d’angelim forradas de cedro”. Era também construção do primeiro século e de pedra e cal a igreja destruída com o arrasamento do morro do Castelo, nesta cidade, igreja inaugurada em 1588, em substituição da primitiva, e que ainda conservava, quando demolida – demolição feita com desamor e sem os cuidados que no caso se impunham – o aspecto original (fig. 2).
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Fig. 3: Sacrário e porme- nores do retábulo do altar- mor da antiga igreja do Colégio do Rio de Janeiro
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Fig. 4: Retábulo de um dos altares colaterais da antiga igreja do Colégio do Rio de Janeiro.
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Finalmente, a nova igreja de N. Sra. da Graça, do Colégio de Olinda, cuja construção foi iniciada, em pedra e cal, logo após a inspeção do visitador, já em 1592 “estava coberta e pronta só faltava caiar”, obedecendo o seu estilo, segundo informa o padre Pero Rodrigues, em 1597, “à traça de S. Roque”. Essa igreja quinhentista tem sido dada como “reduzida a cinzas” pelos holandeses, considerando-se o edifício atual uma reconstrução de fins do século XVII, destituída de maior interesse. Os estudos efetuados pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mostram, entretanto, de forma inequívoca, que essa igreja é, de fato, a primitiva. Com efeito: 1º) os altares colaterais são contemporâneos da construção de fins do século XVI, conforme se poderá constatar adiante, quando tratarmos com mais vagar da arquitetura interna das igrejas jesuíticas; 2º) o risco da igreja, tanto pelo seu interior como pela fachada, baseia-se, efetivamente, na “traça” da igreja de São Roque, da Casa Professa dos Jesuítas, em Lisboa, cujo fron- tispício – a única parte do prédio que sofreu com o terremoto – foi, ao que parece, reconstruído com aproveitamento do material primitivo (fig. Ic); 3º) no panorama de Olinda, de Franz Post, aqui reproduzido (fig. 5), observa-se muito claramente que os danos causados pelo incêndio – da mesma forma que em Lisboa com o terremoto – não foram de molde a desmantelar o edifício. O fogo, ateado, é de presumir-se, no altar-mor, que, este sim, desa- pareceu, teria passado ao forro e ao madeiramento da cobertura; daí ao coro e às janelas da fachada principal, janelas cujos vãos foram recompostos já em desacordo com o estilo da construção quinhentista. A preservação dos altares colaterais explica-se muito naturalmente, porquanto, pela disposição da planta, ficam isolados do altar-mor e resguardados ao fundo de dois arcos de alvenaria de pedra com pés-direitos e arquivoltas de cantaria (fig. 5). Esta igreja de Olinda, projetada pelo arquiteto jesuíta Francisco Dias, um dos colaboradores de Filipe Tersi – o arquiteto levado de Roma para Lisboa pelos jesuítas, especialmente para construir a igreja de São Roque – é, pois, a única igreja jesuítica quinhentista, com pedigree , ainda existente no Brasil, uma vez que a autenticidade do arcabouço da de São Vicente, que de qualquer forma não terá filiação tão definida, ainda não está, apesar dos indícios, comprovada^1. Passemos agora a considerar, tanto no conjunto dos monumentos como nos seus pormenores, o partido, ou melhor, os partidos de preferência adotados – quando não, criados – pelos arquitetos jesuítas, ou arquitetos leigos a serviço da Companhia de Jesus. O partido arquitetônico tradicionalmente empregado pelas ordens religiosas nos seus mosteiros e conventos, ou seja, o de dispor os vários cor- pos da construção em “quadra”, como então se dizia, formando-se assim um ou mais pátios, foi mantido também pelos jesuítas. Convém, entretanto,
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desde logo notar que, em consequência talvez da vida ativa dos padres, ati- vidade esta decorrente do “espírito” mesmo da Companhia e da sua Regra, faltam quase sempre nesses pátios – nos colégios brasileiros, pelo menos – aquela atmosfera de sossego e de recolhimento, peculiar aos claustros dos conventos das demais ordens religiosas. Além do antigo Colégio da Bahia, de que já tratamos, e do de Be- lém do Pará, descrito por Bettendorf, são também dispostos em quadra, entre outros, o Colégio de Olinda, os do Espírito Santo e do Estado do Rio, o de Embu – este com pátio bem modesto – e, ainda, diferente de todos os demais pelo seu aspecto sombrio e pesado de praça-forte, o de Paranaguá. Um dos “quartos” da quadra era sempre ocupado pela igreja, cujo frontispício, mantido no alinhamento do quarto contíguo, formava com este, em elevação, um plano só, correspondendo ao colégio uma linha horizontal contínua e ao corpo da igreja um frontão de empena, com a torre servindo de remate à composição (fig. Id). Essa disposição, clara e coerente, era geral- mente adotada quando, de início, não fazia parte do programa a construção de uma segunda torre. O bem composto conjunto de Reis Magos (fig. 18) é uma das poucas exceções a esta norma. Quando os planos previam a possibilidade de se vir a construir, fu- turamente, uma segunda torre, aquela que primeiro se fazia era a de ligação entre a ala do colégio correspondente ao terreiro e a igreja, como nos colégios do Castelo, no Rio de Janeiro e de São Paulo. Torres que, na maior parte das vezes, não foram concluídas ou nem mesmo sequer iniciadas, ou que só se fizeram depois da expulsão, muito mais tarde, sem se atender então, de qual- quer forma, às características da construção primitiva; já não diremos quanto ao estilo – o que, aliás, nunca sucedia – mas quanto ao equilíbrio plástico da composição, como, por exemplo, na igreja já demolida do Colégio de Vitória (fig. Ie). No que se refere à planta baixa das igrejas, o partido aqui adotado pelos jesuítas foi, quase exclusivamente, o de uma só nave. Apenas em dois casos, a documentação até agora coligida mostra solução diferente. Na igre- ja de São Pedro d’Aldeia (fig. 32), construção muito “pura”, tanto do ponto de vista técnico como plástico, onde se vê, na sua forma mais rudimentar, o partido de três naves tão apropriado às igrejas missioneiras (os esteios centrais, aliviando o peso da cobertura, permitem maior amplitude e daí a possibilida de de abrigar um maior número de fiéis) (fig. If) – e na da antiga Reritiba. Nesta, a sustentação do madeiramento da cobertura e consequen- te separação do corpo da igreja em três naves – ou pseudonaves – é feita por duas ordens de arcadas, disposição que parece ser a original; não só porque as colunas apresentam características de trabalho muito antigo, como tam- bém porque, considerando-se a largura desusada do corpo da igreja, a pouca
admirável descrição da igreja de São Roque, de Lisboa, contida no tomo 2º da Cronica da Companhia de Jesus, de Baltazar Teles. Verifica-se, por esse valioso documento, que na igreja de Lisboa havia nichos laterais destinados aos confessionários e encimados por janelas ou tribunas, semelhantes, portanto, aos existentes na igreja de Olinda, nichos que foram mais tarde (Baltazar Teles escreve antes de 1642) desman- chados, embora “alguns a julgassem d’antes por mais engraçada” para se abrirem no lugar deles mais quatro capelas profundas, naturalmente já por influência da igreja de São Vicente de Fora, então em construção. Consequentemente, a igreja da Graça correspon- de ainda à feição original da nova igreja de São Ro- que – o que mais acentua a importância histórica desse monumento –, ao passo que a do Salvador já corresponde à versão ampliada seiscentista.
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Fig. 6: Retábulo do altar-mor da igreja de São Lourenço dos Índios, em Niterói.
Fig. 7: Castiçais da primiti- va banqueta do altar-mor da igreja de São Lourenço dos Índios.
Fig. 8: Sacrário e uma das colunas do retábulo do altar-mor da igreja do antigo Colégio de São Vicente.
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espessura das paredes dos oitões parece indicar não terem sido feitas para resistirem, sozinhas, aos esforços laterais resultantes do sistema de armação adotado na cobertura (fig. Ig). O que, aliás, não seria de estranhar – tratan- do-se, ao que parece, de uma igreja seiscentista – porquanto as três naves da velha Matriz de São Sebastião, no antigo morro do Castelo, aqui no Rio, embora já estivessem reformadas por ocasião da demolição, correspondiam, ainda à descrição da igreja quinhentista de Mem de Sá: “Fiz a Sé de três naves , também telhada e bem consertada”. O partido geral de uma só nave inclui, no caso das igrejas jesu- íticas brasileiras, plantas de quatro tipos diferentes. Primeiro o tipo mais singelo, que teria sido o das capelas rudi- mentares dos primeiros tempos e no qual a capela-mor e a nave consti- tuem um mesmo corpo de construção dividido convencionalmente em duas partes por um arco “cruzeiro” (fig. IIa). Essa forma primária, hoje muito rara, é a que vamos encontrar na já referida capela de Santo An- tônio, do segundo século, que, apesar da invocação e do fato de ser uma capela particular, não deixa contudo de ser, também, uma capela de inspiração e de gosto jesuíticos, conforme teremos ocasião de verificar depois. E ainda, possivelmente, na de Voturuna, de que só resta a parte correspondente à capela-mor, cujo retábulo – uma versão de sabor po- pular dos nobilíssimos retábulos jesuíticos do primeiro período – é, por essa mesma razão, uma peça de valor excepcional (fig. 13). Depois o partido tão generalizado, próprio das igrejas mais an- tigas e daquelas que, embora relativamente recentes, obedeceram a um programa mais modesto de construção: igrejas onde aparecem perfeita- mente diferenciadas a nave e a capela-mor propriamente dita, de largu- ra e pé-direito menores (fig. IIb), partido claro e franco de composição, que depois se desenvolve em Minas Gerais. O terceiro grupo reúne as igrejas cujo traçado corresponde a uma acomodação entre essa forma singela mais geral e o partido já o seu tanto complexo das igrejas maiores do século XVII. Nessas igrejas, mantêm-se ain- da os três altares usuais do modelo anterior, com a particularidade, porém, de se criarem, também para os colaterais, pequenas capelas apropriadas, de maior ou menor profundidade, como no caso da igreja de Olinda, onde tais capelas formam conjunto com a capela-mor (fig. IIc). Nesta igreja, os dois nichos localizados acima dos arcos dessas capelas (fig. IId) parecem acrés- cimos ao traçado primitivo, contemporâneos da reforma do segundo século e, possivelmente, criados com o objetivo de nele se colocarem as imagens de Santo Inácio e São Francisco Xavier, já então canonizados, porquanto esse mesmo tema ocorre por várias vezes em igrejas jesuíticas desse período. Va- mos, por exemplo, encontrá-lo na importante igreja do Seminário de Belém
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Fig. 9: Retábulo da capela dos Santos Mártires e das Virgens Mártires, na igreja do antigo Colégio da Bahia.
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