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Resenha: De amor e amizade: crônicas de Clarice Lispector para jovens, Provas de Literatura

Uma resenha da coletânea de crônicas de clarice lispector intitulada 'de amor e amizade: crônicas para jovens'. A resenha, escrita por aline de mello sanfelici, destaca o interesse continuado em obras de clarice lispector, especialmente entre novas gerações. A coletânea, organizada por pedro karp vasquez, contém crônicas selecionadas especificamente para atrair e aproximar jovens leitores de clarice lispector. As crônicas abordam temas de sentimentos e relações com intimidade e graça, e demonstram a habilidade de clarice lispector em comunicar-se sem mistérios, com elegância e criatividade.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Marcela_Ba 🇧🇷

4.6

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Resenha
LISPECTOR, Clarice. De amor e amizade: crônicas para jovens. VASQUEZ, Pedro Karp
(org.). Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010.
CLARICE LISPECTOR E SUAS CRÔNICAS PARA JOVENS DE ESPÍRITO
Aline de Mello Sanfelici
(Doutoranda em Letras/Inglês e Literatura Correspondente, UFSC)
É indiscutível que Clarice Lispector trata-se de um dos mais importantes expoentes
da literatura de língua portuguesa, sendo respeitada pela crítica e pela academia e adorada
pelo público leitor. Como coloca Pedro Karp Vasquez na apresentação da coletânea De
amor e amizade: crônicas para jovens, por ele organizada, mais de três décadas se
passaram desde a morte de Clarice, em 1977, e o interesse por sua obra não resiste em
aumentarespecialmente entre as novas gerações (LISPECTOR, 2010, p. 9).
À luz desse fato, a Rocco Jovens Leitores lançou dois volumes (De amor e amizade e
De escrita e vida), ambos organizados por Vasquez, contendo crônicas de Clarice
selecionadas especialmente para atrair e aproximar esse público juvenil dessa autora tão
icônica. A proposta justifica-se, conforme coloca Vasquez, no interesse em proporcionar
“uma experiência inspiradora para os jovens leitores que estão começando a descobrir os
mistérios e os prazeres do amor e da amizade” (id., ibid., pp. 11-2). Contudo, a obra
também pode atrair o público mais maduro e familiarizado (e até mesmo saudoso) com a
obra de Clarice segundo Vasquez, a coletânea em questão pode trazer, para esses leitores
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Resenha

LISPECTOR, Clarice. De amor e amizade: crônicas para jovens. VASQUEZ, Pedro Karp (org.). Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010.

CLARICE LISPECTOR E SUAS CRÔNICAS PARA JOVENS DE ESPÍRITO Aline de Mello Sanfelici (Doutoranda em Letras/Inglês e Literatura Correspondente, UFSC)

É indiscutível que Clarice Lispector trata-se de um dos mais importantes expoentes da literatura de língua portuguesa, sendo respeitada pela crítica e pela academia e adorada pelo público leitor. Como coloca Pedro Karp Vasquez na apresentação da coletânea De amor e amizade: crônicas para jovens , por ele organizada, mais de três décadas se passaram desde a morte de Clarice, em 1977, e o interesse por sua obra não resiste em aumentar – especialmente entre as novas gerações (LISPECTOR, 2010, p. 9). À luz desse fato, a Rocco Jovens Leitores lançou dois volumes ( De amor e amizade e De escrita e vida ), ambos organizados por Vasquez, contendo crônicas de Clarice selecionadas especialmente para atrair e aproximar esse público juvenil dessa autora tão icônica. A proposta justifica-se, conforme coloca Vasquez, no interesse em proporcionar “uma experiência inspiradora para os jovens leitores que estão começando a descobrir os mistérios e os prazeres do amor e da amizade” (id., ibid., pp. 11-2). Contudo, a obra também pode atrair o público mais maduro e familiarizado (e até mesmo saudoso) com a obra de Clarice – segundo Vasquez, a coletânea em questão pode trazer, para esses leitores

mais antigos, “um sopro de renovação e reflexão” (id., ibid., p. 12) quanto aos temas tratados nas crônicas selecionadas. Assim, De amor e amizade destina-se não somente aos jovens de idade, mas também aos jovens de espírito. O livro apresenta 43 textos curtos, ágeis e que abordam seus temas de sentimentos e relações com intimidade e graça, por meio do talento inestimável de Clarice em comunicar- se sem mistérios, com elegância e criatividade. A título de exemplo da qualidade da escrita da autora (e, portanto, da qualidade da seleção de crônicas feitas para a coletânea em debate), eis o que Clarice escreve em “Saudade”:

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida (id., ibid., p. 141).

O trecho citado mostra claramente o linguajar acessível da autora, o seu conteúdo exposto de forma direta e clara e a sua habilidosa suavidade de aproximar sentimentos de elementos corriqueiros (no caso, ao fazer saudade ser comparada a fome). Além disso, o trecho mostra uma mensagem que carrega consigo um certo grau de intimidade, ao dizer respeito a qualquer leitor – afinal, o público jovem, alvo dessa obra, deve estar começando a ter experiências de sentir saudade e suas urgências, especialmente em se tratando de relações de amor e amizade. Desse modo, a crônica citada tem potencial para comunicar-se efetivamente com seu público jovem e assim ela certamente testemunha a favor de uma bela seleção feita por Pedro Karp Vasquez.

O livro também traz desabafos, como em “Um pedido,” que na verdade é uma súplica desesperada para que ninguém destrua sua vida por conta de bebidas alcoólicas – talvez didaticamente escolhido para integrar uma obra destinada a leitores jovens e supostamente facilmente influenciáveis –, ou em “O grito”, que discute o cansaço e amargura de quem escreve. Além disso, podem-se encontrar crônicas que fazem declarações a amigos queridos da autora, como por exemplo no belíssimo texto “As dores da sobrevivência: Sérgio Porto”, no qual Clarice lamenta o falecimento de seu amigo Sérgio, dizendo, logo nas primeiras frases do texto: “Não, não quero mais gostar de ninguém porque dói. Não suporto mais nenhuma morte de ninguém que me é caro. Meu mundo é feito de pessoas que são as minhas – e eu não posso perdê-las sem me perder” (id., ibid., p. 93). Com esses textos diversificados, De amor e amizade trata-se de uma coletânea fácil de ler, que toca em assuntos cotidianos de relacionamentos e sentimentos comuns, às vezes em narrativas sensacionais e outras vezes em descrições detalhadas de uma ocorrência extremamente banal e fácil de passar despercebida. Além disso, a coletânea foi bem elaborada, pois a seleção das mais de quatro dezenas de crônicas consegue garantir ao leitor

  • seja ele um velho visitante da obra clariceana ou alguém que está tendo contato com ela pela primeira vez – uma bela aproximação com a inteligência e o talento da autora, cujos escritos são tão admiráveis, criativos e suavemente acessíveis, por vezes divertidos e por outras emocionantes. Que mistério tem Clarice?, perguntou uma vez Caetano Veloso. Creio que seu mistério reside, pelo menos parcialmente, em sua habilidade de ser unanimidade entre críticos, acadêmicos e leitores, em sua época e ainda nos dias de hoje, e em escrever de forma não apenas bela mas também íntima, paradoxalmente fazendo o público, lendo

Clarice, ler e explorar a si mesmo. Posto isso, acredito que uma obra como De amor e amizade , que almeja aproximar leitores jovens, ainda não familiarizados com Clarice Lispector, de parte de sua obra, é uma iniciativa absolutamente louvável. Por fim, a partir das crônicas especificamente incluídas na coletânea, pode-se também dizer que a iniciativa, além de louvável, é também muito bem conduzida e seu resultado, agradável e relevante.