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Etnobiologia Kaingang: Classificação e Uso de Plantas Medicinais, Notas de estudo de Botânica

Esta pesquisa investiga o uso e sistemas de nomenclatura e classificação de plantas pelos kaingang, especialmente as consideradas medicinais, na área indígena xapecó, no oeste de santa catarina. O estudo detalha os princípios e critérios que orientam a classificação kaingang das plantas, o registro da nomenclatura e categorias de classificação, e o levantamento, identificação e catalogação das plantas usadas como medicinais. Além disso, analisa possíveis relações entre a categorização das plantas e as categorias kam® e kanhru, referentes às duas metades clânicas kaingang.

O que você vai aprender

  • Qual é a relação entre a categorização de plantas e as categorias kam® e kanhru entre os Kaingang?
  • Quais são os critérios e princípios que orientam a classificação Kaingang das plantas?
  • Quais são as implicações culturais e sociais do conhecimento etnobiológico Kaingang?
  • Como as plantas são coletadas e catalogadas para este estudo?
  • Como os Kaingang classificam e nomeiam as plantas medicinais?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
KAINGANG
UM ESTUDO ETNOBOTÂNICO
O Uso e a Classificação das Plantas na Área Indígena Xapecó
(oeste de SC)
Moacir H
Moacir HMoacir H
Moacir Haverroth
averrothaverroth
averroth
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Antropologia Social da
Universidade Federal de Santa Catarina como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Antropologia, sob orientação da Profª. Drª. Esther
Jean Langdon.
Florianópolis, junho de 1997
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

KAINGANG

UM ESTUDO ETNOBOTÂNICO

O Uso e a Classificação das Plantas na Área Indígena Xapecó

(oeste de SC)

Moacir HMoacir HMoacir HMoacir Haverrothaverrothaverrothaverroth

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Antropologia Social da

Universidade Federal de Santa Catarina como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Antropologia, sob orientação da Profª. Drª. Esther

Jean Langdon.

Florianópolis, junho de 1997

ii

Dedico este trabalho

aos Kaingang

ao meu pai José (in memorian) e

a minha mãe Maria

iv

SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

RESUMO______________________________________________________________RESUMO______________________________________________________________RESUMO______________________________________________________________RESUMO______________________________________________________________viviviviiiii Mapa das áreas indígenas habitadas pelos Kaingang _________________________ 10a Mapa da área indígena Xapecó __________________________________________ 10b Mapa do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina _______________________ 10c III.3.3 - Kujà, curandeiras, curandores, remedieiras, parteiras: categorias de

  • IIII ---- IntroduçãoIntroduçãoIntrodução________________________________Introdução________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________viiviiviiiviiiii
    • I.1 - A trajetória do autor_________________________________________________
    • I.2 - Os Kaingang em geral _______________________________________________
    • I.3 - A AI Xapecó: localização, área, relevo, vegetação _________________________
    • I.4 - O tema pesquisado__________________________________________________
    • I.5 – Objetivos_________________________________________________________
    • I.6 - Metodologia_______________________________________________________
  • PRIMEIRO CAPÍTULOPRIMEIRO CAPÍTULOPRIMEIRO CAPÍTULOPRIMEIRO CAPÍTULO ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Mapa da Vegetação do Estado de Santa Catarina____________________________ 10d
  • IIIIIIII ---- Sobre o tema específico da pesquisa: contextualizando o assuntoSobre o tema específico da pesquisa: contextualizando o assuntoSobre o tema específico da pesquisa: contextualizando o assuntoSobre o tema específico da pesquisa: contextualizando o assunto________________________________________________ 11________________
  • SEGUNDO CAPÍSEGUNDO CAPÍSEGUNDO CAPÍSEGUNDO CAPÍTULOTULOTULOTULO ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
  • IIIIIIIIIIII ---- Dados etnográficosDados etnográficosDados etnográficos ________________________________Dados etnográficos________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
    • III.1- Economia _______________________________________________________ - III.1.1- Agricultura___________________________________________________ - III.1.2- Artesanato ___________________________________________________ - III.1.3- caça, pesca, coleta _____________________________________________ - III.1.4- Comércio Interno______________________________________________ - III.1.5- A exploração de barro e de pedra _________________________________
    • III.2 - Aldeias ________________________________________________________ - III.2.1 - Distribuição _________________________________________________ - III.2.2 - Tipos de Construções __________________________________________ - III.2.3 - Disposição Espacial ___________________________________________ - III.2.4 - Movimentação Inter-aldeias _____________________________________
    • III.3 - Saúde na AI Xapecó ______________________________________________ - III.3.1 - Os problemas de saúde na AI Xapecó e a enfermaria da aldeia Sede:_____ - III.3.2 - Alguns conceitos básicos relacionados a questão da saúde _____________ - na AI Xapecó _________________________________________________ especialistas em cura
    • III.4 - As plantas no contexto da AI Xapecó e as mudanças ambientais ___________
  • TERCEIRO CAPÍTULOTERCEIRO CAPÍTULOTERCEIRO CAPÍTULOTERCEIRO CAPÍTULO________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
  • IVIVIVIV ---- A CLASSIFICAÇA CLASSIFICAÇA CLASSIFICAÇA CLASSIFICAÇÃO KAINGANG DAS PLANTASÃO KAINGANG DAS PLANTASÃO KAINGANG DAS PLANTAS _______________________ÃO KAINGANG DAS PLANTAS _____________________________________________________________________
    • IV.1 - O meio ambiente e suas especificidades: ______________________________
    • IV.2 - Observações sobre a terminologia morfológica Kaingang_________________
    • IV.3 - Aspectos teóricos e comparativos preliminares _________________________
    • IV.4 - Classificação morfoecológica_______________________________________
    • IV.5 - Classificação utilitária ___________________________________________
    • IV.6 - Classificação simbólica __________________________________________
      • manejo ambientalmanejo ambientalmanejo ambientalmanejo ambiental ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ VVVV ---- Considerações sobre o conhecimento etnobConsiderações sobre o conhecimento etnobConsiderações sobre o conhecimento etnobConsiderações sobre o conhecimento etnobiológico eiológico eiológico eiológico e

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V.1 - aspectos teóricos e etnográficos acerca do manejo ambiental ______________ 133 V.2 - o conhecimento etnobiológico Kaingang e o manejo ambiental ____________ 135 V.3 - aplicabilidade dos conhecimentos etnobiológicos (a agroecologia e/ou agrofloresta; etnoconhecimento Kaingang e agroecologia/agrofloresta) ______ 137 V.4 - Algumas notas sobre a exploração de informações etnobotânicas (especialmente etnofarmacológicas): de “remédio do mato” a fármaco/fitoterápico, a rota da expropriação ____________________________________________________ 144 V.5 - Etnoconhecimento (ou cultura) Kaingang e educação____________________ 149 VIVIVIVI ---- ConclusãoConclusãoConclusãoConclusão ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1________________________ 11148484848 BIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIA


_________________________________151_151_151_ ANEXO I (MANEXO I (MANEXO I (MANEXO I (Mito da origem Kaingang)ito da origem Kaingang)ito da origem Kaingang)ito da origem Kaingang) __________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1______ 11160606060 ANEXO II (Mito da origemANEXO II (Mito da origemANEXO II (Mito da origemANEXO II (Mito da origem do milho, feijão e morangas)do milho, feijão e morangas)do milho, feijão e morangas)do milho, feijão e morangas) _____________________________________________________________________ 162_______________________ 162162162 ANEXO III (Anotações da enfermariaANEXO III (Anotações da enfermariaANEXO III (Anotações da enfermariaANEXO III (Anotações da enfermaria da aldeia Sede da Al Xapecó)da aldeia Sede da Al Xapecó)da aldeia Sede da Al Xapecó) omitido nestada aldeia Sede da Al Xapecó) versão______________________________________________________163 163163163 ANEXO IV (Listagem das plantANEXO IV (Listagem das plantANEXO IV (Listagem das plantANEXO IV (Listagem das plantas com identificação cientas com identificação cientas com identificação cientas com identificação científica aproximada)ífica aproximada)ífica aproximada)ífica aproximada)____________________________________ 169 169169169 ANEXO V (Regras Gramaticais Kaingang adotadas no trabalho)ANEXO V (Regras Gramaticais Kaingang adotadas no trabalho)ANEXO V (Regras Gramaticais Kaingang adotadas no trabalho)ANEXO V (Regras Gramaticais Kaingang adotadas no trabalho) ____________________________________________________________________ 1 11183838383

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ABSTRACTABSTRACT^ ABSTRACTABSTRACT

It’s a research made in the Xapecó Indian Area (IA), located in the west of Santa Catarina State, to investigate the use, denomination and classification systems of plants used by the Kaingang Indians, specially plants considered medicinals (v®nhv®nhv®nhv®nh----kagtakagtakagtakagta). As objectives, we can emphasize the investigation of the principles that guide the Kaingang plants classification and the followed criterion for this classification, the register of the denomination and the classification, survey, identification and cataloging categories of plants that are used as medicinals, the possible analysis of relationships between the plants categorization and the kam®kam®kam®kam® and kanhrukanhrukanhrukanhru categories, concerning to the two Kaingang clanicals parts. There are three particular classification systems according to different criterions: morpho-ecological, profitable and symbolical. The field research was consisted in the systematic and regular attendance of the work of many Kaingang cure specialists and other people of the IA. The Kaingang and the usual denominations of almost two hundred plants and informations about their use and properties were registered. The denomination indicates morphological and ecological caracteristics of the plants and cultural aspects of the group related to the plants use for many kinds of purposes, besides the symbolical meanings of some species. The morpho-ecological classification scheme presents three more embracing categories, about 130 medium level categories and about 80 more specific categories. The analysis, systematization and quantification of these categories are based on the type of lexemes that label the plants. The profitable system obeys two basic principles: the purpose or objective to be reached and according to the beneficiary, each of these principles creating many categories of plants-medicin. The symbolical system categorizes plants according to the dual cosmology of the group. From a view of the IA’s general situation, some questions are dicussed in order to make a reflection and to get proposals aiming to improve life conditions in the IA.

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I - IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

Esta dissertação tem como tema a etnobotânica. Trata-se de um estudo realizado na Área Indígena (AI) Xapecó, localizada nos municípios de Marema e Ipuaçu, oeste do Estado de Santa Catarina. Esse AI é habitada pelos Kaingang, em sua maioria, e algumas famílias de Guarani. A pesquisa de campo foi realizada com a população Kaingang. O trabalho trata basicamente da classificação do domínio vegetal pelos Kaingang da AI Xapecó. Dentro disso, encontramos três formas de classificação, as quais estamos chamando de classificação morfoecológica, utilitária e simbólica. A análise parte do uso das plantas como remédio (“remédio do mato”^1 ; v®nhv®nhv®nhv®nh---kagta-kagtakagtakagta^2 ), principalmente através das várias categorias de especialistas em cura, além de outros usos e generalidades da relação dos Kaingang com a natureza, especialmente no campo vegetal. Partimos de um levantamento e análise de bibliografia sobre o tema da etnobotânica, com ênfase naqueles trabalhos que analisam a nomenclatura e etnoclassificação de objetos naturais, organização de princípios gerais da etnotaxonomia e as diversas categorias de classificação dos domínios naturais por diferentes sociedades. Além disso, buscamos relacionar alguns trabalhos e iniciativas importantes na área da etnobiologia e agroecologia mais recentes na América Latina e, mais especificamente, no Brasil. No segundo capítulo, apresentamos dados etnográficos da AI Xapecó, partindo de questões mais gerais (aspectos econômicos da AI e implicações na realidade da população, características gerais da AI quanto a tipos de moradias, sua distribuição e disposição espacial) em direção aos pontos mais específicos deste trabalho (saúde, suas concepções, especialistas em cura e uma visão da importância geral das plantas na vida dos Kaingang), a fim de contextualizar a realidade sócio-cultural do grupo. O terceiro capítulo entra nas questões específicas da etnoclassificação das plantas pelos Kaingang, onde são analisados os dados sobre meio ambiente, as terminologias morfológicas e nomenclatura das plantas no idioma Kaingang, para então chegar nos três sistemas de classificação que consideramos e suas respectivas categorias. Essa análise reflete a relação existente entre o conhecimento etnobiológico Kaingang e outros aspectos da sua cultura de forma geral, como, por exemplo, a organização social. A última parte da dissertação procura fazer uma ponte entre o conhecimento etnobiológico, o manejo ambiental dentro de uma visão sustentável (por exemplo,

(^1) “Remédio do mato” é a expressão que os Kaingang em geral usam para se referir às plantas que são conhecidas e/ou usadas com fins medicinais quando falam no idioma português, principalmente quando se trata daquelas que só são encontradas em outro local que não ao redor de casa. 2 Adotarei a grafia de acordo com as regras gramaticais para a língua Kaingang do Summer Institute of Linguistics, conforme consta em Wiesemann (1971). Ver anexo V.

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Além disso, durante uma disciplina (botânica econômica), organizei e apresentei um seminário sobre a agricultura kayapo, manejo da floresta, campos e cerrados, classificação das camadas da floresta e outros detalhes da relação dessa sociedade com a natureza. Essas passagens contribuíram muito na elaboração das idéias que me levaram a optar por um trabalho botânico com perspectivas antropológicas. O encontro das idéias e dos interesses tornar-se-iam possíveis num mesmo trabalho e num projeto onde a possibilidade de continuidade se coloca claramente. Já no mestrado em Antropologia, me integrei a um grupo de pessoas das áreas antropológica, médica e farmacêutica. A partir desse grupo, formou-se o NESI (Núcleo de Estudos da Saúde Indígena). Assim, as idéias e os objetivos convergem no meu projeto de pesquisa de mestrado, denominado “Kaingang, um estudo etnobotânico”. Trabalhar em uma Área Indígena de Santa Catarina, pesquisando as plantas utilizadas por essa população, com ênfase nas medicinais. No decorrer das leituras, a temática foi sendo delimitada de acordo com alguns interesses específicos dentro desse assunto. Assim, os sistemas de classificação das plantas próprios do grupo pesquisado (etnoclassificação; classificação de folk) tornar-se-iam a questão mais central da pesquisa. A definição de qual das Áreas Indígenas do Estado seria escolhida ocorreu mais devido a aspectos práticos e de contexto do momento. Como já havia uma pesquisa sendo realizada com os Kaingang da AI Xapecó por uma mestranda^5 membra do NESI, fiz minha primeira visita a essa Área acompanhando-a juntamente com mais outra pessoa do grupo^6. Essas pesquisas teriam características complementares e, pesquisando numa mesma Área Indígena, o trabalho de todos seria facilitado, além de possibilitar uma análise mais ampla dentro de um mesmo contexto cultural. A ausência de qualquer trabalho de etnobiologia ou etnobotânica, dentro dos moldes desse projeto, no sul do Brasil, aumentava a importância e necessidade de efetivar a pesquisa, apesar desse aspecto também aumentar o desafio.

I.2 - Os Kaingang em geralOs Kaingang em geralOs Kaingang em geralOs Kaingang em geral A denominação Kaingang (Kaingangue, Caingang) foi introduzida na bibliografia em 1882 por Telêmaco Borba, como denominação genérica de um grande número de grupos

(^5) Maria Conceição de Oliveira, médica, que desenvolveu pesquisa na AI Xapecó sobre os sistemas de cura Kaingang. Concluiu o mestrado em Antropologia Social (PPGAS/UFSC) em dezembro de 1996, com a dissertação “Os Curadores Kaingáng e a Recriação de suas Práticas: Estudo de caso na Aldeia Xapecó (oeste de SC)”. 6 Eliana Diehl, “etnofarmacóloga”, professora do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFSC. Está iniciando o curso de doutorado na Fiocruz, Rio de Janeiro.

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indígenas falantes de dialetos de uma mesma língua, filiados ao tronco Jê, localizados nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, bem como na província de Misiones, Argentina (Veiga, 1992:09). Hoje, eles habitam a região sul do Brasil, desde o Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul, distribuídos atualmente em vinte e seis Áreas Indígenas, sendo duas em São Paulo, onze no Paraná e quatro em Santa Catarina^7 , além de alguns acampamentos fora de Área Indígena^8. A língua Kaingang pertence à família lingüística Jê, tronco Macro Jê, sendo que se distinguem cinco dialetos de acordo com a variação regional^9. Constituem um dos maiores grupos de língua Jê do país, com cerca de vinte mil pessoas distribuídas nos quatro estados meridionais do Brasil (Tommasino, 1996:1). Os Kaingang se organizam e se reconhecem, ainda hoje, através das metades exógamas (Kam®Kam®Kam®Kam® e KanhruKanhruKanhruKanhru) e de outras subcategorias, estas últimas variadas em termos de número e funções, conforme a bibliografia a respeito. Tais divisões e subdivisões baseiam- se na origem mitológica dessa sociedade, hoje conhecida e auto-identificada pela denominação de “Kaingang”.

I.3 - A AIA AIA AIA AI XapecóXapecóXapecóXapecó: localização, área, relevo,: localização, área, relevo,: localização, área, relevo,: localização, área, relevo, vegetaçãovegetaçãovegetaçãovegetação A Área Indígena (AI) Xapecó localiza-se nos atuais municípios de Ipuaçu e Marema, próximo a Xanxerê, oeste do Estado de Santa Catarina. Encontra-se entre os paralelos 26°30’ e 27° de latitude sul e os meridianos 52° e 52°30’ de longitude oeste. É habitada por pessoas do grupo Kaingang, na sua maioria, e, no extremo oeste da AI, por algumas famílias Guarani. Atualmente, sua área corresponde a 15.286 ha, embora no início de sua “criação” era de aproximadamente 50.000 ha. Com o tempo, perderam grande parte de suas terras em função de invasões, grilagem e decretos governamentais. Dois trechos estão em processo de reapropriação já há vários anos (Canhadão e Imbu).^10 O relevo da AI Xapecó segue o padrão geral da região, apresentando-se plano, suave ondulado e forte ondulado. A altitude gira em torno de 1.100m. O clima é mesotérmico, com temperatura média anual de 16,3°C, sendo comum a ocorrência de geadas no inverno.

(^7) ver mapa.

(^8) No município de Chapecó, por exemplo, há um acampamento de várias famílias Kaingang num terreno privado praticamente no centro da cidade, oriundas principalmente de Áreas Indígenas do Rio Grande do Sul. 9 Dialeto de São Paulo: falado ao norte do rio Paranapanema, no Estado de São Paulo; dialeto do Paraná: falado na área entre os rios Paranapanema e Iguaçu; dialeto Central: entre os rios Iguaçu e Uruguai; dialeto Sudoeste: falado ao sul do rio Uruguai e oeste do rio Passo Fundo; e dialeto Sudoeste: ao sul do rio Uruguai e leste do rio Passo Fundo (Wiesemann, 1971: prefácio). 10 Sobre o histórico da AI Xapecó e o seu gerenciamento pelos órgãos tutelares (SPI e FUNAI), desde o seu início até os dias atuais, conferir COELHO DOS SANTOS (1970), NACKE (1983) e VEIGA (1994).

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I.4 - O tema pesquisadoO tema pesquisadoO tema pesquisadoO tema pesquisado Etnobiologia é um termo relativamente recente, apesar de estudos mais antigos já possuírem um caráter semelhante aos estudos etnobiológicos dos últimos anos. Essa terminologia surgiu com a linha de pesquisa conhecida como etnociência que ganhou impulso a partir dos anos cinqüenta com alguns autores norte-americanos que começaram a desenvolver pesquisas, principalmente, junto a populações autóctones da América Latina. Inicialmente, os estudos da etnociência voltaram-se para análises de aspectos lexicográficos das classificações de folk ou etnoclassificações e sobre categorias de cores, plantas e parentesco próprias de diferentes sociedades. A etnociência parte da lingüística para estudar o conhecimento de diferentes sociedades sobre os processos naturais, buscando entender a lógica subjacente ao conhecimento humano sobre a natureza, as taxonomias e classificações totais (Diegues, 1996:78). No Brasil, pesquisas etnobiológicas começam a ser mais freqüentes nos anos oitenta, embora muitos trabalhos anteriores, desde o século passado, possam ser considerados etnobiológicos. Entretanto, mesmo sendo realizadas no Brasil, a maioria dos trabalhos nessa área são de autoria de estrangeiros. Uma definição de etnobiologia é feita por Posey (1987:15): a etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo.

Dentro da etnobiologia, vários campos podem ser definidos, partindo da visão compartimentada da ciência sobre o mundo natural, tais como a etnozoologia, etnobotânica, etnoecologia, etnoentomologia e assim por diante, da mesma forma como podemos estudar diferentes sociedades a partir de uma abordagem da etnomedicina, etnofarmacologia, etc. Entretanto, há vários tipos de estudo que são denominados de “etnobiológicos” ou suas variáveis, conforme colocado no parágrafo anterior. Por exemplo, trabalhos de levantamento botânico realizados em Áreas Indígenas são chamados de “etnobotânicos” pelo fato de serem efetivados em local habitado por uma população étnica e culturalmente diferenciada, mesmo que os contatos com essa população sejam insignificantes para a pesquisa. Por outro lado, trabalhos de levantamento botânico em locais com essas mesmas características, com coleta de informações junto à população nativa a respeito da

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nomenclatura das plantas na língua daquele grupo, usos que fazem e significados culturais dessas plantas, também são chamados de etnobotânicos. Quanto ao termo “etnobotânica”, há informações de que foi empregado pela primeira vez em 1895 por Harshberger (Amorozo, 1996:48). A etnobotânica pode ser entendida da mesma forma como Posey define etnobiologia, apenas voltando-se ao domínio vegetal.

Como escreve Martin (1995:xx), ethno- é um prefixo popular hoje em dia, devido ao

fato de ser uma maneira curta e fácil de se dizer: o modo de outras sociedades olharem o mundo. Quando usado após o nome de uma disciplina acadêmica, tais como botânica ou farmacologia, ele implica que pesquisadores desses campos estão buscando as percepções de sociedades locais dentro desse recorte acadêmico.

I.4 - ObjetivosObjetivosObjetivosObjetivos Alguns objetivos traçados para esta dissertação estão diretamente relacionados aos objetivos do projeto de pesquisa inicial. Outros foram sendo incorporados ao longo do trabalho de pesquisa, análise dos dados e redação final do texto da dissertação, na medida em que passaram a ser considerados importantes através do processo constante de reavaliação, novas leituras e em conseqüência da trajetória que segui ao longo do período. Os objetivos deste trabalho são realizar um estudo etnobotânico dos Kaingang da AI Xapecó. Esse estudo compreende a etnoclassificação das plantas e as relações da etnoclassificação vegetal com a organização social Kaingang. O estudo do uso das plantas medicinais, além de ser também um dos objetivos, foi um aspecto que se tornou eficiente como meio de se obter dados. Como objetivos mais específicos dentro da temática da etnobotânica, procurei investigar o(s) princípio(s) que orientam a classificação Kaingang das plantas e os critérios seguidos para isso, registrar a nomenclatura Kaingang das plantas, suas categorias de classificação e analisar possíveis relações entre a categorização das plantas e as categorias KamKamKamKam®®®® e KanhruKanhruKanhru, explicitando significações simbólicas. Para tanto, segui através de umKanhru levantamento, identificação (nos sistemas Kaingang e científicos) e catalogação de plantas usadas e/ou reconhecidas como “úteis”, principalmente as medicinais. Como conseqüência do estudo etnobotânico e da constatação das condições sócio- econômicas dos Kaingang da AI Xapecó, busco analisar o conhecimento etnobiológico Kaingang e sua relação com o manejo ambiental. A partir dessa análise, procuro desenvolver algumas idéias que abram perspectivas para o futuro da população Kaingang.

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consideradas curandeiras e remedieiras, mais algumas outras pessoas que “entendem” de remédio, mas que não são categorizadas como especialistas^15. O acompanhamento das atividades das pessoas envolvidas consistiu de caminhadas para os locais das atividades, participação nas atividades, gravação de diálogos, cantos, rezas, trabalhos de cura e fotografias. Durante os contatos realizados, seja em visitas as casas, seja acompanhando as atividades cotidianas, as informações ou dados obtidos eram anotados imediatamente num “caderno de dados”. Ao final de cada dia, ou nos intervalos entre uma saída e outra, todas as informações eram registradas em “diário de campo”. Nesse diário, estão anotadas todas as atividades realizadas durante a pesquisa, incluindo pequenos detalhes do cotidiano, impressões do momento, estado emocional, etc., constando dia, hora e local do acontecido. Acompanhei e participei também de outros momentos do cotidiano, ou não, da AI. Por exemplo, festas religiosas ou não religiosas e passeios com características de lazer. As pessoas mais importantes no fornecimento de informações, bem como no auxílio de coleta, eram mais idosas, em geral acima de 50 anos. Entretanto, as curandeiras são, na maioria, mulheres de “meia idade”, entre 30 e 50 anos aproximadamente e com uma história de vida com episódios marcantes. Quanto aos dados relativos às plantas, além das anotações no “caderno de dados” e no “diário de campo”, foram realizadas coletas e preparação de excicatas. A coleta de plantas era realizada quando acompanhando alguém numa caminhada (na roça, no mato ou de uma aldeia a outra) ou em saídas isoladas pela Área. No primeiro caso, coletava as plantas indicadas ou procuradas pela pessoa que acompanhava. No segundo caso, eu coletava certas plantas cujas características eram peculiares ou que eu presumia serem algumas das citadas em diálogos com as pessoas. Outra forma de obter amostras de plantas era pedindo para as curandeiras com quem eu trabalhava para que as trouxessem quando fossem buscar para usarem em suas atividades de cura. Entretanto, essa forma nem sempre dava resultados significantes do ponto de vista botânico, por motivos diversos (tempo decorrido entre a coleta e a entrega do material; qualidade do material para fins de identificação; ausência de flores ou outras partes importantes para identificação, etc), embora alguns problemas eram comuns em qualquer situação de coleta (por exemplo, ausência de flores na época da coleta). Além disso, praticamente todas as coletas de amostras de plantas dependiam do auxílio de uma pessoa Kaingang ou, especificamente, da pessoa que citava uma determinada espécie, pois, caso

(^15) Sobre os especialistas em cura da AI Xapecó e a categorização que adotei, ver SEGUNDO CAPÍTULO.

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contrário, a espécie coletada poderia não corresponder exatamente àquela citada. Esses fatores limitaram uma coleta mais integral das plantas citadas durante a pesquisa. A identificação científica parcial das espécies coletadas foi realizada com o auxílio da professora Ana Maria Zanin, do Horto Botânico da UFSC. As espécies sem amostra coletada foram identificadas parcialmente e de maneira aproximada com auxílio de bibliografia. A cada intervalo entre uma viagem e outra, os dados eram organizados avaliados. Esse procedimento permitia planejar melhor a viagem seguinte e estabelecer as questões mais relevantes a serem buscadas, de acordo com os objetivos propostos.

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pelos viajantes, missionários e pesquisadores. Critica os vícios de pronúncia e escrita da linguagem por parte de estrangeiros, levando a distorções da língua original. Pois para achar a etimologia própria dos termos, é necessário conhecer o verdadeiro som do alfabeto, a inflexão

da voz e o objeto a que ela se refere (:24). Faz um quadro comparativo mostrando a queda do u

para b e g numa relação de 23 palavras e suas variações na escrita segundo 15 estudiosos entre

alemães, franceses, castelhanos, espanhóis, portugueses e brasileiros, desde o século XVI até o século XIX. BARBOSA RODRIGUES (1905:09), ao tratar da classificação botânica dos indígenas, considera que os

selvagens, pelo fructo de suas observações, seguiam e seguem um methodo synthetico na classificação das plantas. Designam as espécies por nomes tirados dos caracteres das folhas, das flores, dos fructos, ou de propriedades como o cheiro, o sabor, a dureza, a duração, a cor, o emprego, etc., etc. Reúnem em gêneros, cujo nome é o da planta mais típica. Formam seções ou famílias. Dessa divisão formam grupos que dividem em ybáybáybáybá (madeiras de lei), ibiráibiráibirá ou muyráibirá muyrámuyrá (paus),muyrá kaakaakaakaa (ervas) e icipósicipósicipós ou cipósicipós cipóscipóscipós (trepadeiras). BARBOSA RODRIGUES (1905:43 e ss) se refere aos termos de emprego coletivo e individuais que compõem a glossologia vegetal. Quanto aos adjetivos empregados para as suas espécies, apresenta uma listagem de termos adjetivos na língua indígena, comparando ao grego e latim, a fim de demonstrar a suavidade da língua e o seu bom emprego. Segue de acordo com o critério: pela forma (10 termos), pela cor (10), consistência e contextura (13), gosto (5), tamanho (3), direção (3), cheiro (4) e propriedade (2). Para exprimir um coletivo de plantas, empregam o sufixo tyuatyuatyuatyua, tybatybatyba, adulterado emtyba tibatibatibatiba, tubatubatubatuba e teuateuateuateua, pelo que, ocupando-se de vegetais, adicionam ao gênero principal da planta, correspondendo ao al no português (:46). Apresenta também 27 termos associados aos elementos e produtos de uma planta, como, por exemplo, raiz (çapóçapóçapóçapó), tronco (upiupiupiupi), folha (obobob),ob flor (ibotyibotyiboty), galho (takangiboty takangtakangtakang), fruto (uuuuáááá, iuáiuáiuá, ybáiuáybáybáybá), semente (ayinayinayinayin), espinho (yuyuyuyu), etc. (47-8). Quanto ao emprego das plantas, cita-se o uso de florestas virgens (kaá etékaá etékaá etékaá eté), das matas (kaakaakaakaa), dos campos (nhumnhumnhum) e das matas de nova aparição (kaapoernhum kaapoerkaapoer), para roças (kókaapoer kókókó) e plantações (korupauakorupauakorupauakorupaua) (:48).

KaáKaá, uáKaáKaá uáuá, yuáuá yuáyuáyuá ou ybáybáybáybá e myramyramyramyra servem de gêneros incertae sedis, em que há dúvida no

grupo a que se ligam, já que em todos os grupos formados pelos índios acham-se tais gêneros,

assim como a posposição ranaranarana (semelhante arana oides, affinis ou similis dos botânicos) (:49).

Assim segue com uma série de exemplos de plantas cujo caráter é tirado do fruto ( ybáybáybáybá, yuáyuáyuáyuá ou uáuáuáuá), do grupo caracterizado por madeira, pau (ybiráybiráybiráybirá, mbyrámbyrámbyrá, myrambyrá myramyramyra ou muirámuirámuirámuirá), por árvore de tronco ereto (yuayuayuayua, ybaybayba, ubayba ubaubauba), do grupo kaákaákaákaá (erva, folha, planta) e do grupo dos ycipóycipóycipóycipó ou cipócipócipócipó

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(trepadeiras, lianas). Exemplos: UáuaçuUáuaçuUáuaçuUáuaçu (fruta grande); Myrá kuatiarMyrá kuatiarMyrá kuatiarMyrá kuatiar (pau manchado) =

Centrolobium paraense Tul.; UkuybaUkuybaUkuybaUkuyba (árvore de sebo) = Myristica surinamensis Roll.; KaáKaáKaáKaá

peuapeuapeuapeua (folha chata) = Cissampelos pereira Vell.; Cypó taiaCypó taiaCypó taiaCypó taia (cipó que queima) = Capparis urens

Barb. Rodr.; Tarumá ranaTarumá ranaTarumá ranaTarumá rana = Vitex sp. var.; respectivamente, só para uma noção (:50-5).

BARBOSA RODRIGUES (1905:55 e ss) apresenta também exemplos de gêneros reunidos em grupos, correspondentes aos científicos. Nesta relação constam o nome do grupo botânico indígena (36 grupos), da família científica, os gêneros e as espécies que encerram (indígenas e o correspondente científico) e as respectivas traduções dos nomes indígenas. Segue aqui um exemplo: Grupo AratikuAratikuAratikuAratiku = Anonaceae ( AraAraAraAra, arara, tikutikutikutiku, massa, comida de arara)

Gênero Aratiku ponhéAratiku ponhéAratiku ponhéAratiku ponhé (rasteiro) = Anona marcgravii Mart.

Gênero Aratiku pauáAratiku pauáAratiku pauá (de rio) =Aratiku pauá Anona palustris L.

... outros... Como se pode perceber, o nome do grupo é o nome do gênero principal do grupo de plantas que ele reúne. Pode haver só um gênero no grupo ou mais de um. O que BARBOSA RODRIGUES faz é um verdadeiro registro da nomenclatura e das categorias de classificação dos indígenas, cuja língua ele chama de AbanheengaAbanheengaAbanheengaAbanheenga, que, possivelmente, equivale a Tupi- Guarani. Na última parte do trabalho, BARBOSA RODRIGUES (1905:69) inicia colocando o seguinte:

Não sendo meu fim dar a nomenclatura indígena da flora brasileira, e apenas mostrar quanto o indio é observador, perspicaz e intelligente e quanto a sua classificação botanica está, mais ou menos, de accordo com a taxonomia e a glossologia scientificas, segundo as regras de Linneo, não apresentei sinão exemplos que comprovem minhas asserções. Estes exemplos poder-se-iam alongar, mas para que? Os que apresento são mais que sufficientes. Segue com mais comparações com o sistema científico e com a nomenclatura popular ou vulgar da população e a discussão das etimologias de ambas, dando ênfase à etimologia própria dos termos indígenas, sua precisão, eufonia e harmonia. Questiona a expressividade e significados etimológicos dos nomes vulgares das plantas, principalmente devido a serem empregados a diferentes plantas um mesmo nome.

O autor ainda faz passagem pelas plantas medicinais dos indígenas: “ No exame e na

discriminação das plantas (...) formam ainda um grande grupo, que é o das AcykaáAcykaáAcykaáAcykaá, plantas

medicinais, para doentes, para os que sentem alguma dor (AcyAcyAcyAcy)” (B.R.,1905:78). Portanto, um

agrupamento paralelo aos agrupamentos da classificação em "famílias" e "gêneros" citados anteriormente ocorre baseado na utilização dos vegetais para fins terapêuticos.