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Este documento analisa o papel do roteirista glória perez na construção do campo da telenovela brasileira, explorando suas estratégias de utilização da temática cultural e sua trajetória de consagração no campo. O texto aborda a importância da autoria compartilhada e o lugar do roteirista como agente definidor de escolhas estratégicas.
O que você vai aprender
Tipologia: Provas
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Salvador 2013
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação. Orientadora: Maria Carmem Jacob de Souza
Salvador 2013
Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação.
Profª Dra. Maria Carmem Jacob de Souza (POSCOM/UFBA) Orientadora
Prof. Dr. Fábio Sadal Profº Examinador
Profª. Drª Lígia Guimarães Telles Profº Examinador
Salvador___ de ___________________ de 2013
À minha avó Juliêta que me ensinou a ver vida através das novelas.
apresentar o universo das telenovelas, nunca imaginei que fosse tão complexo e fantástico! Obrigada por respeitar as minhas hipóteses e por ser tão doce e objetiva em suas colocações. Fiz a escolha certa ao optar pelo mestrado no PosCom, o retorno ao universo das Letras será mais consciente e produtivo, tanto para mim quanto para o Instituto.
O presente estudo analisou as representações das identidades nacionais e individuais presentes na abordagem dos temas que tratam dos contatos interculturais promovidos pela migração e pelas viagens na telenovela Caminho das Indias, escrita por Glória Perez, produzida e exibida pela TV Globo em 2009. A dimensão autoral da roteirista de telenovelas foi examinada, tendo em conta o contexto de produção deste produto cultural massivo que tem ampla visibilidade no Brasil e representatividade internacional, sendo realizado pela empresa de comunicação líder nessa área. Para tanto, utilizamos o conceito de campo da telenovela para compreender as relações entre as marcas de autoria de Perez observada no tratamento dado à temática cultural em suas novelas e em sua própria trajetória de consagração no campo. Apontamos que a autora elege os movimentos migratórios para situar as discussões sobre o contato cultural em suas telenovelas. Especificamente em Caminho das Índias, a roteirista amplia a perspectiva desses contatos, buscando ilustrar diversas experiências desse tipo, tais como o tratamento do Outro como exótico, a absorção cultural, o conflito e a incompreensão da cultura alheia.
Palavras-Chave: Telenovelas, Glória Perez, autoria, narrativas de viagem, narrativas de migração.
1.1.1 Melodrama Clássico ou 1ª. Fase (1800-1823) 1.1.2 Segunda fase corresponde ao melodrama romântico (1823-1848) 1.1.3 Terceira fase ou melodrama diversificado (1848-1914)
1.2 A SERIALIDADE DA TELENOVELA: O FOLHETIM E A RADIONOVELA 1.2.1 Do romance-folhetim à telenovela 1.2.2 Da radionovela à telenovela 1.2.3 O formato padrão de telenovela brasileira
1.3 AUTORIA E ESTILO DO ROTEIRISTA NA TELENOVELA BRASILEIRA 1.3.1. Autoria e estilo: Premissas 1.3.2 O campo da telenovela no Brasil e a construção do autor roteirista de telenovelas 1.3.3 Autoria de telenovelas: O caso da rede globo 1.3.4 Estratégias de consagração autoral de roteiristas
2.3.1 Temáticas 2.3.2 Campanhas sócio-educativas 2.3.3 Equipe de criação e produção: recorrências 2.3.4 Estratégias de utilização de música e dança 2.3.5 A representação do Brasil 2.3.6 Utilização de bordões
3.1.1 Narrativas de viagens
3.2 O BRASIL NO IMAGINÁRIO EUROPEU 3.2.1Narrativas de viagens e de migrantes: as representações do Outro em Caminho das Índias
3.3 PERSPECTIVAS DE ANÁLISE 3.3.1 A migração em foco 3.3.1.1 Família Ananda 3.3.1.2 Chanti 3.3.1.3Romance Raj e Duda: separação em favor dos valores da família 3.3.1.4Romance Ravi e Camila 3.3.1.5Indra
3.3.2 Narrativas de viagens em Caminho das Índias 3.3.2.1 Viagens de Ravi e Opash ao Brasil
O Brasil é, atualmente, grande exportador de ficção televisiva seriada através das produções da Rede Globo de Comunicação, ao ponto de a telenovela ser o nosso produto cultural mais exportado^1. Diante do cenário de produção de telenovelas, observamos que o lugar do roteirista na concepção do produto é distinto quando comparado com a produção de outros produtos audiovisuais, por exemplo, nos quais a autoria da obra é associada ao diretor, em detrimento do roteirista. Essa discussão instaura um novo tipo de perspectiva autoral que se impõe mesmo tendo o roteirista referências padronizadas de criação, visto que seus esquemas estilísticos denotam uma poética que se afirma como um estilo pessoal de contar estórias. Ao escolhermos analisar a telenovela nacional a partir da perspectiva autoral, interessou-nos compreender um fenômeno que se distingue quando comparado com outros países produtores de ficção televisiva seriada. Qual seja: o posicionamento do roteirista-autor de telenovelas que se insere no seio de uma criação coletiva audiovisual regida pela lógica industrial de entretenimento. Ao fazê-lo, ele consegue ser reconhecido e consagrado como autor pelo modo como cria seu universo ficcional a partir das temáticas sociais e culturais. A autoria de telenovelas passa a ser dimensionada, pois através da análise das obras do próprio roteirista, sua trajetória e recorrências, como é o caso de Glória Peres, objeto de nossa atenção nessa pesquisa. A partir desta observação foi possível examinar as telenovelas de Perez, as disposições, as estratégias recorrentes de construção de personagens a partir de certas temáticas. Enfim, buscamos delimitar os contornos de seu estilo enquanto contadora de estória. Vale ressaltar que, no campo da telenovela brasileira, a figura do diretor está seguindo também a tendência de conformar um estilo pessoal de encenação do roteiro, Por esse motivo, é conveniente pensar a função que ele exerce a partir do conceito de autoria compartilhada (SOUZA, 2004), principalmente quando há uma recorrência na parceria entre roteirista-autor e diretor.
(^1) HAMBURGER, 2005. p 30.
Neste sentido foi preciso conhecer como em um campo tão disputado como o da telenovela brasileira, no qual existem exigências das mais diversas, como o entretenimento, concorrência por melhor posicionamento e consagração, retorno financeiro, boa audiência além do cumprimento das demandas criadas pelas emissoras de tv e seus padrões de qualidade - existem roteiristas que associados à responsabilidade de atender a todas essas exigências, produzem telenovelas que atendem à demanda da empresa de comunicação (a Rede Globo) e denotam em suas narrativas traços que os identificam como os contadores da estória.
O interesse pela compreensão do posicionamento e motivação de realizadores, dramaturgos, literatos e poetas que através de suas obras constituem artísticamente retratos sobre o Brasil e os brasileiros, motivou essa dissertação. Interpretações do Brasil que tendem a deixar em suas obras traços de autoria. A roteirista de telenovelas das 21hs da rede Globo, Glória Perez, apresentou-se assim como um desafio, pois ela tratava essa temática como traço autoral há mais de uma década nas estórias que escreveu. Elegemos, portanto, a roteirista, em virtude da freqüente apresentação de culturas exóticas em suas telenovelas das 21 da Rede Globo, abordagem que marcou um posicionamento distinto no campo, uma espécie de roteiro com o olhar antropológico. Escolhemos para análise a telenovela Caminho das Índias, exibida no ano de 2009 pela Rede Globo de Comunicação, no horário das 21hs. Ela se destaca por ter sido a primeira telenovela brasileira^2 a ganhar o 37º Prêmio Emmy International Awards, concedido pela Academia Internacional de Artes e Ciências Televisivas como melhor telenovela no ano de 2009. É, também, dentre as produções da autora, a primeira em que foi anunciado explicitamente o interesse por abordar duas culturas distintas, a brasileira e a indiana, com enfoque em suas diferenças^3. Soma-se o fato de ter sido a obra mais recente da
(^2) Dissponível no endereço eletrônico http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0.27723,GYN0-5273-276073,00.html acesso 22.02.2012. (^3) De acordo com a citação do Memória Globo ―Retratar peculiaridades da cultura indiana em contraponto aos hábitos e costumes do Brasil foi uma das premissas da autora Gloria Perez ao escrever ― Caminho das Índias .‖
vida dos migrantes fizeram parte da telenovela, de modo que ficou evidente sua utilização como estratégia de abordagem das diferenças culturais. Assim, conduzimos a análise do corpus de modo a identificar, na geografia das tramas, onde havia o tratamento da problemática da migração e das viagens. Neste sentido, observamos que a temática da migração é central figurando, inclusive, no triângulo amoroso dos protagonitas. Fez-se necessário, ainda, compreender as bases de produção e concepção do produto em questão. Esta reconstituição foi fundamental para a compreensão sobre o papel do roteirista na produção de uma telenovela e seu posicionamento no sistema de produção. Neste sentido, contamos com os resultados das investigações realizadas no Grupo de Pesquisa A-tevê (PosCom UFBA), que a partir dos estudos do sociólogo francês Pierre Bourdieu buscaram compreender a questão da autoria de produtos midiáticos, em especial, as telenovelas. As proposições de Bourdieu salientam que o produto deve ser examinado segundo o campo de relações de força específico no qual se situam, se posicionam e se relacionam agentes, grupos e instituições que trabalham direta ou indiretamente na concepção, na produção, na distribuição e na crítica (dos jornalistas aos fãs) do produto em questão (BOURDIEU, 1996). Neste campo efetivam-se lógicas de definições e disputas para melhores posições no mesmo. A noção de campo nos ajuda ainda a historicizar o surgimento do produto, suas fases, evolução, além de proporcionar uma melhor compreensão sobre as especificidades da questão da autoria do roteirista. Neste caso, associada à noção de campo, Bourdieu sugere um estudo da trajetória de realização do agente reconhecido como autor, no nosso caso, o roteirista. Por este motivo, tratamos no primeiro capítulo, ―Matrizes Narrativas da telenovela brasileira‖, da reconstituição do campo da telenovela, buscando, inicialmente, suas inspirações mais longínquas, como o melodrama, a radionovela e o folhetim, para apontar suas contribuições mais significativas para o formato atual de telenovela das 21hs da Rede Globo. Nessa abordagem, destacamos a permanência do melodrama, principalmente, nas telenovelas de Glória Perez. Acreditamos que a forte influência do melodrama na obra de Perez deve-se não apenas à própria contribuição do gênero à telenovela, mas
principalmente a sua iniciação como colaboradora da novelista Janete Clair, conhecida no Brasil como a ―Senhora das oito‖ e adepta de estilo de telenovela muito próxima ao melodrama. Após o resgate destas influências e uma breve reconstituição do campo da telenovela, o estudo se debruça sobre os questionamentos da problemática da autoria em telenovelas, enfocando a perspectiva dos roteiristas, os contadores de histórias contemporâneos. No segundo capítulo ―Autoria e estilo do roteirista na telenovela brasileira‖, abordamos a questão de estilo do roteirista-autor no campo da telenovela, mostrando o caso específico de Glória Perez. Analisamos a trajetória da autora de acordo com as indicações apontadas por Bourdieu sobre posicioná-la no campo da telenovela a partir das relações com outros agentes, de modo a localizar aspectos que interferiram e contribuíram no processo dela de criação das telenovelas e de mostrar o percurso trilhado pela autora que redundou em sua consagração no campo em questão. Após a explicitação de sua trajetória e de posse do conhecimento sobre quem é essa roteirista de telenovela das 21hs da Rede Globo, observamos as recorrências temáticas de modo a delimitar um possível ―estilo Glória Perez‖ de narrar. No terceiro capítulo, ―Caminho das Índias: relatos de viagens e migrantes‖, apresentamos os percursos da análise e da reflexão sobre migração cultural, identidades e representações que ofereceram os subsídios para explorar as narrativas de migrantes e viagens criadas por Perez. Percebemos que as estratégias de Glória Perez de utilização da temática cultural correspondem ao seu posicionamento no campo da telenovela brasileira e refletem uma disposição da autora enquanto roteirista que não se limita a abordagem melodramática no formato consagrado de telenovela nacional. Encerramos a dissertação com a expectativa que o presente estudo incite um aprofundamento de pesquisas na área da comunicação e em áreas afins, como a da literatura, sobre a autoria de roteiristas de telenovelas e os modos específicos de representarem temas tão caros a sociedade brasileira, como o sentido de si e do Outro.
1 MATRIZES NARRATIVAS DA TELENOVELA BRASILEIRA
A telenovela brasileira exibida, atualmente, na faixa das 21hs pela emissora Globo, líder no segmento da teledramaturgia, é um produto cultural que foi, ao longo da
essas narrativas e garantir sua permanência chegando à telenovela brasileira, principalmente por que ela trata do império dos sentimentos (SARLO, 1985). As contribuições vão desde a estrutura da narrativa, a temática, a construção de personagens, até o acompanhamento da recepção, gerando um determinado modelo melodramático que instaura uma das primeiras bases da telenovela nacional. Neste sentido, julgamos necessário esclarecer o surgimento do gênero telenovela e suas características, visto que o mesmo é, por vezes, negligenciado, sendo associado ao formato do melodrama latino-americano, que é um resultado da utilização das características do gênero teatral, conforme iremos demonstrar. Acreditamos que a base do melodrama permaneceu nos diversos formatos de apresentação de narrativas ficcionais e chegaram até as telenovelas, constituindo o gênero televisivo que arrebata multidões no Brasil e em outros países do mundo há pelo menos 50 anos.
1.1 As marcas do melodrama nas telenovelas: as matrizes do gênero
O melodrama surgiu no século XVIII, no período da Revolução francesa, quando aumentou o acesso de público das classes populares nos teatros. Segundo Jean Marie Thomasseau (2005. p 13), este público ―sensibilizado pelos anos de peripécias movimentadas e sangrentas, conduz à eclosão (...) da estética melodramática‖. Para o autor, o melodrama foi muito bem recebido na França por que:
(...) ele tempera e ordena as tentativas mais ousadas do teatro da Revolução põe em prática o culto da virtude e da família, remete à honra, ao senso de propriedade e dos valores tradicionais, e propõe, em definitivo, uma criação estética formalizada segundo padrões bastante precisos. (THOMASSEAU,
As principais características do gênero, apontadas pelo crítico, são a tipificação simplificadora dos personagens e a mise en scene movimentada e com regras bem estabelecidas.
A história do melodrama francês nos remete à três fases: a primeira é conhecida como melodrama clássico, as seguintes como melodrama romântico ou segunda fase e a terceira chamada de melodrama diversificado.
1.1.1 Melodrama Clássico ou 1ª. Fase (1800-1823)
O autor aponta que a narrativa clássica é dividida em três atos: perseguição, justiça e reconhecimento. Suas temáticas principais são a perseguição, o reconhecimento e o amor, seus personagens são divididos entre bons e maus e há uma busca pela moralidade. Para o autor, ―os ideais didáticos e sociais deste teatro que, sob vários aspectos, pode parecer como um resultado da filosofia roussoniana pois ensinam que o sentimento purifica o homem e que a plateia se acha melhor à saída de um melodrama (p 48).‖ Thomasseau cita um trecho do Tratado do Melodrama, de 1817 que sintetiza com um tom paródico as características do melodrama clássico.
Para fazer um bom melodrama, é necessário primeiro escolher um título. Em seguida é preciso adaptar a esse título um assunto qualquer, seja histórico, seja de ficção; depois, coloca-se como principais personagens um bobo, um tirano, uma mulher inocente e perseguida, um cavaleiro e, sempre que se possa, um animal aprisionado, seja cachorro, gato, corvo, passarinho ou cavalo. Haverá um balé e um quadro geral no primeiro ato, uma prisão, um romance e correntes no segundo; lutas, canções, incêndio etc..., no terceiro. O tirano será morto no fim da peça, quando a virtude triunfará e o cavaleiro desposará a jovem inocente infeliz etc. Tudo se encerrará com uma exortação ao povo, para estimulá-lo a conservar a moralidade, a detestar o crime e os tiranos, sobretudo lhe será recomendado desposar as mulheres virtuosas (THOMASSEAU, 2005. p 27).
1.1.2 Segunda fase corresponde ao melodrama romântico (1823-1848)
A segunda fase do melodrama está associada à queda do império e à mudança no pensamento coletivo (afrouxamento dos valores tradicionais, cívicos e guerreiros), o que instaura mudanças na composição e recepção do melodrama. Foi nesse período que o melodrama adquiriu o tom pejorativo por conta de sua mudança: maior expressão da sensibilidade, tédio de viver, presença da morte para outros personagens e não apenas