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Guias e Dicas
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Estudo da Arte Contemporânea na Sala de Aula: Beatriz Milhazes e a Caixa Criativa, Notas de aula de Materiais

Uma atividade desenvolvida em uma escola que partiu da obra de beatriz milhazes para abordar características importantes da arte contemporânea, como a co-participação pública, a utilização de materiais diversificados e a linguagem da instalação. O texto também explora a importância da arte contemporânea na educação e na escola citada, enfatizando a aproximação dos alunos com conceitos como a liberdade do artista, a interação do espectador e a ocupação de espaços não convencionais. Além disso, o documento discute a importância de cursos para formação e aperfeiçoamento de professores para abordar o conteúdo artístico em sala de aula de maneira contextualizada.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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JOSIANE PAIVA
ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA
Uma experiência na Rede Municipal de Juiz de Fora
Especialização em Ensino de Artes Visuais
Belo Horizonte
Escola de Belas Artes da UFMG
2015
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Baixe Estudo da Arte Contemporânea na Sala de Aula: Beatriz Milhazes e a Caixa Criativa e outras Notas de aula em PDF para Materiais, somente na Docsity!

JOSIANE PAIVA

ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

Uma experiência na Rede Municipal de Juiz de Fora

Especialização em Ensino de Artes Visuais

Belo Horizonte Escola de Belas Artes da UFMG 2015

JOSIANE PAIVA

ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA

Uma experiência na Rede Municipal de Juiz de Fora

Especialização em Ensino de Artes Visuais Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais do Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ensino de Artes Visuais. Orientador(a): Melissa Etelvina Oliveira Rocha

Belo Horizonte Escola de Belas Artes da UFMG 2015

Monografia intitulada ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA – Uma experiência na Rede Municipal de Juiz de Fora , de autoria de Josiane Paiva, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:


Melissa Etelvina de Oliveira Rocha - Orientador


Juliana Mafra (Membro da Banca)


Prof. Dr. Evandro José Lemos da Cunha Coordenador do CEEAV PPGA – EBA – UFMG

Belo Horizonte, 2015

Av. Antônio Carlos, 6627 – Belo Horizonte, MG – CEP 31270-

Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Belas Artes Programa de Pós-Graduação em Artes Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais

AGRADECIMENTOS

Á Deus por me guiar na perseverança para alcançar mais esse objetivo. À minha família, pelo apoio e compreensão em todos os momentos do

curso.

À minha orientadora Melissa Etelvina de Oliveira Rocha, pela atenção e apoio nas sugestões, correções e comentários na realização desse trabalho. Às tutoras, sempre pacientes, nos auxiliando com sugestões, conhecimentos e orientações em cada etapa do curso. Aos colegas do curso, por compartilharem suas ideias e experiências, pelo apoio nas dificuldades enfrentadas, pelo convívio durante as aulas presenciais. À comunidade da Escola Doutor Paulo Japyassu: às diretoras pelo apoio, aos professores pelo incentivo e aos alunos da turma do 9º ano, com sua criatividade e colaboração A todos que de alguma forma participaram dessa conquista.

ABSTRACT

Contemporary art was here identified as a very important for teaching and learning in art content in context to the triangular approach of Ana Mae Barbosa. Students met some contemporary artists and had the opportunity to produce, starting from works presented in class. They explored the concept of the box as everyday object, taken from their usual function and used as an object of art.

Keywords: Education; Contemporary art; Cashier.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa se desenvolveu a partir de uma atividade realizada no início do segundo semestre de 2015, com uma turma de 9º ano do ensino fundamental, da Escola Doutor Paulo Japyassu, pertencente à rede municipal de Juiz de Fora. O conteúdo enfocado foi arte contemporânea, com suas características principais enfatizadas, sendo apresentadas, analisadas e praticadas pelos alunos. A relação com o cotidiano, a co-participação do público nas obras, a inserção da obra de arte em espaços não convencionais, a utilização de materiais diversificados, os conceitos de instalação e intervenção, foram as características destacadas. O objetivo foi verificar e analisar o processo de ensino-aprendizagem, enfatizando sempre os processos do ver, fazer e contextualizar, bem como o desenvolvimento dos alunos frente aos conceitos artísticos apresentados. No primeiro capítulo foi feita uma explanação sobre os principais momentos da arte na educação até os dias atuais, enfocando a proposta triangular da educadora Ana Mae Barbosa, além de ter abordado a distribuição de conteúdos de arte nas turmas da escola acima citada. Também foi destacado o papel atual da arte contemporânea nas escolas, enfoque que não é observado em sua maioria, não sendo um conteúdo recorrente; e a apropriação da caixa como obra de arte na sala de aula, contextualizando-a ao processo artístico contemporâneo. No segundo capítulo, foi feita uma abordagem sobre a arte contemporânea, sua instauração, suas características e a linguagem da instalação citando artistas e obras que as exploram. A apropriação da caixa em realidades diferenciadas desenvolvidas por alguns artistas como Marcel Duchamp, Hélio Oiticica e Joseph Cornell, foi também enfocada. No terceiro capítulo foi apresentada a atividade com os alunos, partindo de conceitos da arte contemporânea e instalação, previamente explorados em sala de aula, com atividades diversas. Para o trabalho foco da pesquisa, os alunos conheceram artistas e obras que utilizaram o conceito da caixa, além de outras linguagens que também exploram tal conceito. Após essa etapa, os alunos construíram sua caixa, revestindo-a de um significado específico e temas diversificados. A finalização do trabalho realizou-se através de uma

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exposição no corredor da escola, sendo publicadas fotos sobre cada etapa desenvolvida.

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livre expressão e o enfoque à sensibilidade em produções de trabalhos artísticos. Foi nessa época, que começou a surgir no país muitas escolinhas de arte para crianças. A Pedagogia Tecnicista adotada no Brasil entre 1960 e 1970, voltou-se para a formação de indivíduos para o mercado de trabalho, o desenho técnico e os trabalhos manuais eram enfocados. A Pedagogia Realista-Progressista voltou-se para o objetivo de redimensionar o papel da escola, favorecendo uma formação conscientizadora e crítica, através de algumas vertentes como a libertadora ou a crítico-social com características específicas. O que é possível perceber é que, o ensino de Arte se encontra ainda defasado em relação ao conteúdo artístico que é oferecido aos alunos nas escolas, como afirma Maria F. de Rezende e Fusari e Maria Heloísa C. de T. Ferraz: Dentre os problemas apresentados no ensino artístico, após a Lei 5692/ 71, encontram-se aqueles referentes aos conhecimentos básicos de arte, métodos para apreendê- los durante as aulas, sobretudo nas escolas públicas. O que se tem constatado é uma prática diluída, pouco ou nada fundamentada, na qual métodos e conteúdos de tendência tradicional e novista se misturam sem grandes preocupações, com o que seria melhor para o ensino de Arte. (FUSARI E FERRAZ, 2001, p. 43) A partir da década de 1980, Ana Mae Barbosa começou a desenvolver a abordagem triangular em escolas de arte e museus de arte contemporânea, que estabelece que o ensino de Arte deve alicerçar-se nas habilidades “ver”, “ler” e “fazer”. Ao ter contato com determinado conteúdo artístico, (seja sobre um artista, técnica, ou período artístico) os alunos devem visualizar imagens a ele relacionadas, desenvolvendo a percepção na análise dos elementos presentes; situá-las no tempo e no espaço, relacionando-as com a história da arte, em que contexto ela foi construída ou mesmo analisar possíveis relações com a realidade; em sua produção pessoal o aluno terá capacidade de estabelecer um diálogo com o conteúdo apreendido, porém favorecendo sua autonomia nessa produção. Esses três eixos devem ser explorados de forma concomitante para permitir o conhecimento em Arte:

A Proposta Triangular não indica um procedimento dominante ou hierárquico na combinação das várias ações e seus conteúdos. Ao contrário, aponta para o

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conceito de pertinência na escolha de determinada ação e conteúdos enfatizando, sempre, a coerência entre os objetivos e os métodos. (RIZZI, 2008, P. 69) Em minha prática, ao planejar as atividades a serem propostas, busco o desenvolvimento da abordagem triangular, crendo que ela favorece a apreensão do conteúdo artístico contextualizado e facilita a produção dos alunos. Na rede municipal de ensino de Juiz de fora, onde atuo, temos uma proposta curricular para ser aplicada em sala de aula referente a cada disciplina, inclusive Arte, tal proposta oferece possibilidades de conceitos e conteúdos para o ensino fundamental, mas a definição para cada período escolar, fica à cargo do professor. Na escola em que leciono, a disciplina de Arte está presente do sexto ao nono ano, estabeleço a divisão do conteúdo de modo a tentar contemplar alguns dos conceitos principais: no sexto ano, os alunos têm contato com os elementos que constituem as obras de arte, como o ponto, as formas ou as cores; no sétimo ano são apresentadas aos alunos as diversas técnicas desenvolvidas pelos artistas em diferentes períodos da história da arte, como a pintura, a escultura ou o grafite; no oitavo ano, os alunos exploram o conteúdo sobre história da arte até o período moderno, incluindo a arte brasileira; no nono ano os alunos já têm uma diversidade de conceitos adquiridos e uma maturidade considerável, o que favorece uma maior autonomia em suas produções, passam a ter contato com a arte contemporânea e o processo de sua instauração. O período da arte contemporânea talvez não seja de fácil abordagem na sala de aula, bem como não seja facilmente compreendido pelos alunos, se caracterizando pela abertura em relação a técnicas e materiais não convencionais, por não apresentar características delimitadas que permitam o seu enquadramento em determinada modalidade, as obras nem sempre são construídas com uma técnica definida, entre outros aspectos. Apesar disso, me interesso em explorá-la, porque os alunos conseguem realizar propostas que favorecem o seu desenvolvimento crítico e a capacidade de representar um conceito ou uma ideia através de sua produção, frente a um tema que lhe é apresentado, de forma autônoma, além de ser um conteúdo pertinente ao universo artístico, portando deve também ser enfocado.

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galerias de arte, levando as obras ao encontro com o público, permitindo suas reflexões e críticas; os alunos estão construindo uma proposta de trabalho que enfoca tais características. Buscando eleger um elemento, uma técnica, uma linguagem, um conceito ou um artista, optei por realizar um trabalho que envolvesse a ideia de “refuncionalizar” um objeto do cotidiano, representando um conceito que não lhe é próprio; e que explorasse a ideia da instalação, que permitisse a interação com o espaço escolar e onde pudéssemos, eu e os alunos da turma, observarmos possíveis reações dos demais e dos professores ao terem contato com a obra, no momento de sua exposição. Após algumas pesquisas sobre obras e artistas contemporâneos que enfocam a linguagem da instalação e a exploração de objetos nas obras de arte, optei por utilizar a caixa, dando- lhe um significado poético e subjetivo, retirando a sua função de guardar elementos concretos do dia a dia. Ao propor a atividade para os alunos apresentei imagens e recursos que evidenciam o uso ou o conceito da caixa, como obras de Marcel Duchamp e Hélio Oiticica, a história “A caixa de Pandora” e o poema “Caixinha mágica” de Roseana Murray. Essas referências nortearam o início da produção dos alunos, que realizaram escolhas sobre conceitos subjetivos e elementos que pudessem representá-los e serem guardados dentro de uma caixa.

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CAPÍTULO 2 2.1- A ARTE CONTEMPORÂNEA E A LINGUAGEM DA INSTALAÇÃO O período artístico contemporâneo teve início por volta de 1950, com resquícios da arte moderna que buscou a simplificação das formas, levantou e explorou questionamentos referentes aos padrões e regras das escolas de arte, desbancando a representação ilusória dos elementos, pregada pelos acadêmicos. A abertura ainda maior que a arte contemporânea ofereceu aos artistas na apresentação de suas obras e conceitos, favoreceu o desenvolvimento de múltiplas linguagens, onde a ideia do artista passou a ser tão importante quanto a obra em sua concretude. Um novo campo no processo de criação se instaurou, com características inovadoras como a utilização de materiais diversificados, incomuns para obras de arte, como objetos do cotidiano retirados de sua função habitual; novos suportes passaram a servir ao trabalho artístico, como o corpo ou elementos da natureza; além de permitir a exploração de espaços não convencionais, como os museus e as galerias de arte, se apropriando da possibilidade de levar a arte até os espectadores, em espaços por eles frequentados como as ruas, os calçadões, lojas, instituições, entre outros, explorando performances, instalações, intervenções urbanas e demais linguagens. Dessa forma os artistas contemporâneos, utilizam novas formas de apresentar as obras, seja com o uso de materiais alternativos, seja explorando novos espaços, ou ainda trabalhando com suportes diferenciados, para servir à sua ideia, como afirma Kátia Canton:

A arte ensina justamente a desaprender os princípios das obviedades que são atribuídas aos objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento dos processos da vida, desafiando-os, criando para novas possibilidades. A arte pede um olhar curioso, “livre de pré-conceitos”, mas repleto de atenção. (CANTON, 2008, P.12) Ainda, segundo Canton (2008), a arte contemporânea, apesar desses aspectos subjetivos explorados, tem seu lugar na história da arte, conceituada pelo desenvolvimento da objetividade na construção do conhecimento e da reflexão. A linguagem da instalação artística, abrange vários aspectos da arte contemporânea, com destaque para a exploração de espaços diferenciados,

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artista, portanto a forma e o conceito da caixa podem ser apropriados como suporte ou como o próprio elemento significativo de uma obra. Foi Duchamp o primeiro artista a considerar a caixa em uma obra de arte, como objeto que reúne ou armazena outros elementos que a constituem. Utilizou-a em três obras: Caixa de 1914, Caixa Verde de 1934 e Boîte em valise de 1941. O artista se apropriou da caixa para guardar suas criações e informações sobre as mesmas e também sobre outras obras construídas por ele, onde o significado da obra está tanto nos elementos em seu interior, quanto na parte externa. Essas caixas obedeceram a uma determinada ordem de construção, formando uma cadeia de influências entre elas. O artista se apropriou da caixa como um meio para expor suas obras, mas também para guardá-las.

Imagem 1: Caixa 1914. Fonte: > Acesso em 25/10/2015. <https://multiplosdearte.wordpress.com/category/precursores-dos-multiplos/duchamp-multiplos- de-arte/

Imagem 2: Boîte-en-valise. Fonte: <https://www.pinterest.com/pin/524387950332579730/ > Acesso em 25/10/2015. O artista Joseph Cornell, a partir de 1930, também se apropriou da caixa explorando sua função de guardar objetos coletados (inicialmente banais) que

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são eleitos pelo artista e acumulados em caixas com tampas de vidro, que em alguns casos tinham o objetivo de serem manipuladas. A disposição dos objetos nas caixas obedeciam a critérios determinados pelo artista, que explorou a subjetividade e o caráter pessoal em sua obra. Já o brasileiro Hélio Oiticica, a partir de 1963, se apropriou da caixa com a criação da série “Bólides” , em que utilizou caixas coloridas de madeira ou vidro contendo substâncias ou materiais como pigmentos, tecido, terra e até mesmo líquidos, para serem manipulados pelo espectador, que proporcionava sensações pelas cores ou texturas dos elementos explorados. Essas séries de caixas eram criadas e/ ou organizadas com características específicas em relação à materiais, cores e proporções, mas apresentando em comum o fato de materializar a experiência artística, incorporar a ideia do artista e conter elementos que permitam a experiência sensorial do espectador. À princípio, os Bólides possuíam dimensões menores que possibilitaram o manuseio dos elementos, mas Hélio Oiticica também passou a criar Bólides com dimensões ainda maiores, que favoreciam o envolvimento de todo o corpo do espectador. Essa série de Bólides apresentou setenta peças e foi o ponto de partida para o projeto “Manifestações Ambientais” de Hélio Oiticica, que foi um conjunto de obras de grande importância e que solicitou ainda mais a participação ativa do público.

Imagem 3: B 13 Bólide Caixa 10. Fonte: http://www.heliooiticica.org.br/obras/obras.php Acesso em 25/10/2015.