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Este documento propõe uma viagem à história do futebol no brasil, analisando o processo de elitização encabeçada pelas novas arenas para a copa do mundo de 2014. Através de reflexão teórica, contextualização histórica e análise do momento atual, o texto questiona os meios e consequências desta elitização, além de abordar a popularização do futebol no brasil no início do século xx e sua transformação em uma representação simbólica da nossa cultura.
O que você vai aprender
Tipologia: Provas
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Centro Universitário de Brasília Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento - ICPD
Brasília 2014
Trabalho apresentado ao Centro Universitário de Brasília (UniCEUB/ICPD) como pré- requisito para obtenção de Certificado de Conclusão de Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Jornalismo Esportivo.
Orientador: Prof. MSc. Frederico Tomé
Brasília 2014
O futebol brasileiro sofre hoje com um processo de elitização. Se no início do século passado a sua popularização foi responsável pelo crescimento do esporte, hoje a espetacularização promovida pelos responsáveis por organizar os grandes eventos traz mudanças ao futuro do jogo no país. Com a vinda da Copa do Mundo, este processo torna-se ainda mais evidente e abre uma discussão sobre os prós e contras em elitizarmos nosso esporte mais popular. O estudo propõe uma viagem à história do futebol no Brasil e promove uma reflexão acerca do caminho percorrido para chegarmos ao estágio atual, além de desenvolver prognóstico sobre o legado que os megaeventos irão nos deixar.
Palavras-chave : Elitização. Copa do Mundo. Modernização. Espetáculo. Legado. Megaeventos.
The Brazilian football has suffering a process of elitization. If at the beginning of the last century its popularity was responsible for the growth of the sport, today’s spectacle is promoted by those in charge for the organization of major events and brings changes to the future of the game in the country. With the coming of the World Cup, this process becomes even more evident and opens a discussion on the pros and cons on the elitization of our most popular sport. This study proposes a trip in the history of football in Brazil and promotes reflection on the path that was taken to reach the current stage, and develop prognosis about the legacy that will be leave with this mega events.
Key words : Elitization. World Cup. Modernization. Spectacle. Legacy. Mega events.
Os interesses comerciais transformaram o futebol em espetáculo e a plateia deste show é hoje determinada por quem “manda nas regras do jogo” (no caso da Copa do Mundo, a FIFA).
Com a vinda dos megaeventos para o Brasil, o vocábulo “legado” entrou no cotidiano dos brasileiros. Com gastos extravagantes e pouco resultado prático visualizado, o brasileiro questionou o real valor da vinda destes eventos e começou a fazer contas, para decidir se o preço pago – em sentido literal e figurado – não era alto demais. No cálculo, itens objetivos como os bilhões de reais gastos em estádios, e uma análise profunda do impacto sociocultural a partir da elitização do futebol brasileiro.
Para estudar o comportamento da sociedade em relação à questão apresentada, uma reflexão teórica será proposta. Theodor Adorno, Max Horkheimer e Hebert Marcuse eram pensadores da famosíssima Escola de Frankfurt, e críticos do capitalismo que determinava como a sociedade se portava. Segundo eles, o desenvolvimento humano e tecnológico, afinado com o percurso capitalista, trazia opressão e pobreza intelectual. Durante a Segunda Grande Guerra, criaram o termo “Indústria Cultural” para definir o processo de “criação” artística adaptado ao consumo da massa, e que servia como manipulação de uma sociedade acomodada.
Em oposição, na Inglaterra, os pensadores dos Estudos Culturais, centrados nos nomes de Raymond Williams, E. P. Thompson e Richard Hoggart, defendiam a mediação entre os “donos da indústria” e os consumidores de seus produtos. Assim, o público não apenas consumia o que lhe era passado, mas ajudava na formação da cultura da sociedade. “...a cultura popular alcança legitimidade, transformando-se num lugar de atividade crítica e de intervenção.” (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2001, p.157).
E no caso do futebol atual, qual escola predomina? Em que estudo é possível fundamentar a elitização do futebol brasileiro? Segundo a teoria crítica, somos manipulados e aceitamos o que a grande mídia nos diz sobre o valor agregado da
construção de estádios, do consequente fortalecimento do futebol brasileiro e de nossos clubes. Por outro lado, os estudos culturais acreditam na mediação, o que seria plausível no cenário das manifestações, no questionamento aos gastos da Copa e mesmo dentro dos estádios, como no fatídico episódio das vaias ao presidente da FIFA Joseph Blatter e à presidente Dilma Rousseff, na abertura da Copa das Confederações.
Ainda que tomemos um pouco de cada escola em nossa análise, é possível traçar um caminho em comum: queremos mostrar a força do Brasil nesta era globalizada. Um evento como a Copa do Mundo é determinante para nos afirmarmos como potência mundial ou nos rebaixarmos ao posto de “país de terceiro mundo”, incapazes de promover a organização de eventos desse porte. “Se hoje o Brasil, a partir dos grandes eventos esportivos busca se afirmar internacionalmente como uma potência, mais uma vez o faz privilegiando um perfil muito específico de torcedor que é o desejado para apresentar o progresso do Brasil ao mundo.” (SENA,
Importante também é ressaltar a diferença conceitual entre elitização e modernização. A primeira refere-se à segregação social de maneira forçada, a partir da alta dos ingressos ou da exclusão do pobre dos pontos-chaves da cidade. Já a modernização refere-se a importante aspecto estrutural, indispensável para a sobrevivência do esporte, como os itens de segurança, conforto e lazer, que as novas arenas nos trazem.
Assim, é evidente que na posição atual, o investimento nos estádios parece plausível. O que é questionável (e muito) é a forma como se deu o processo, com evidentes desvios de verbas, submissão às regras impostas pela FIFA e, enfim, a elitização do futebol brasileiro, como aspecto negativo de nossa cultura.
Além do vício insanável no fator principal desta elitização – afinal foi a Copa que nos trouxe as arenas e os altos preços – ainda há a contradição provocada pelos números que insistem em provar que é possível sim ter uma saúde financeira extremamente positiva sem que expulsemos do estádio o público de baixa renda. Prova disso é o caso recente do São Paulo Futebol Clube, que, em crise, baixou o ingresso a “míseros” 10 reais no setor da arquibancada. O resultado foi um público
elucidar o caminho percorrido para atingir o status de esporte mais popular do país. Serão apresentados dados, estatísticas, comparativos e análises de conceituados nomes do Jornalismo Esportivo para expor as consequências positivas e negativas da elitização. Também se pretende conceituar os termos “elitização” e “modernização”, expondo suas diferenças e delineando até que ponto um consegue caminhar sem o outro. Além disso, trata-se de um trabalho em comunicação, o que faz indispensável a análise do esporte a partir de modelos comunicacionais, assim como a repercussão deste processo de segregação social nos campos sociais, políticos e culturais.
Metodologia
O objeto central desta monografia é entender o caminho que levou o futebol brasileiro ao cenário atual, de elitização. Para isso, a metodologia utilizada é composta de: reflexão teórica; contextualização histórica e análise do momento atual do futebol brasileiro. Toda essa jornada será feita a partir de revisão bibliográfica extensa, composta por especialistas em diversas áreas.
O trabalho se inicia na área fim do projeto: comunicação. Antes de compreender o processo histórico que nos levou à elitização do futebol, é de grande valia a reflexão teórica a partir de Teorias da Comunicação. O caminho proposto objetiva despertar o interesse no leitor, abordando pontos de vista opostos e que nos permitem análises críticas diferenciadas do mesmo texto, apenas a partir de ângulos diferentes.
Em seguida, um apanhado histórico é essencial para que se tenha conhecimento amplo dos detalhes que alçaram o futebol ao posto máximo na preferência esportiva brasileira, e que modificou não somente o campo esportivo, mas a história do nosso país. Nesta caminhada, o jornalismo esportivo se confunde com a sociologia e os campos se entrelaçam, promovendo interação entre diversos autores que debatem a influência do futebol na cultura do Brasil.
Situado este processo, a investigação dispõe de importantes dados que corroboram a tese de que o Brasil ficou para trás no âmbito econômico, e que este
atraso provocou um imenso prejuízo ao esporte no país. Para complementar os dados, comparação com os países europeus que passaram a dominar o planeta do esporte e atrair nossos jogadores, em busca de sucesso na carreira.
Ao longo de toda monografia e impossível de se desvencilhar um instante sequer da política. Presente no jogo, ela é ponto central no debate. Em todo o século XX e nestes quatorze anos de século XXI, o Governo se aproveita do esporte para alcançar seus objetivos e satisfazer o interesse dos seus chefes.
Por fim, um prognóstico sobre o legado da Copa do Mundo conclui os pontos positivos e negativos da elitização.
A subdivisão em quatro capítulos busca facilitar o entendimento do leitor a cada tema exposto, de modo a promover a compreensão necessária para prosseguir com o debate em diversos campos do saber.
Justificativa
Os megaeventos esportivos estão em grande evidência na mídia e tudo que os cercam vem sendo motivos de análises por diversos autores. Porém, ao questionar os meios e as consequências de uma elitização do futebol brasileiro, têm- se um documento único. Ainda que já se discuta o que pode acontecer com as novas arenas e o afastamento da classe mais pobre, não há quem proponha um prognóstico futuro. Este trabalho de monografia quer, a partir da fundamentação em diversos teóricos e jornalistas da área, trazer pontos de vistas diferentes e permitir uma discussão mais fundamentada no campo acadêmico e profissional.
Além disso, visa explicar fator subjetivo e de grande importância para o brasileiro: a questão cultural. Imagine afastar o garoto pobre da favela da pelada do fim de semana. Ou que o pai deste mesmo menino tente explicar ao filho a emoção de se estar na “geral do maracanã”, gritando que o “maraca é nosso”(será?) sem ter o prazer de levar o seu filho a um jogo do seu time de coração. As novas arenas promoveram uma segregação de público que impossibilitam as classes mais baixas de acompanharem, como antigamente, os jogos dos seus times. Afastaram o futebol do povo. Tiraram um pouco da paixão. A televisão, ainda que permita ângulos
1.1 Expressão cultural x manipulação da elite
O futebol tem um caso de amor à parte com as cores verde e amarela. Ainda que outros países creditem o esporte como o seu principal, é a seleção brasileira que detém a hegemonia¹ nas quatro linhas. Porém, esse namoro com o Brasil teve várias idas e vindas, que transformou o país não só dentro, mas fora de campo também. O início dessa história data de 1894, quando o brasileiro-inglês Charles Miller retornou às terras brasileiras, após passar um período estudando na Inglaterra. O esporte praticado pela elite inglesa havia-o encantado, o que fez com que sua bagagem de volta contivesse duas bolas de futebol, dois uniformes completos, uma bomba de ar e uma agulha (RUIZ, NETTO, apud MOSCA, 2006, p. 55). Mesmo apaixonado pelo esporte, Charles não poderia prever o sucesso que ele faria no país tupiniquim. E se hoje se estuda a “elitização do futebol brasileiro”, foi através da sua popularização no início do século XX que ele ganhou o carinho, o coração e uma nova identidade, jamais pensada ou executada pelos europeus. Durante as primeiras décadas do século passado, o futebol possuía um seleto grupo de praticantes, já que os campos que hoje encontramos do condomínio luxuoso às terras indígenas eram raros. Assim, não existia a tradicional “pelada” de rua e a prática era restrita aos clubes esportivos de elite, com sócios da alta sociedade.
A inserção das camadas populares no jogo, porém, mudou o caminho do esporte no Brasil. A partir do fim da década de 20, com a gradual abertura para a prática do futebol pelos negros, houve um significativo processo de popularização e modernização do esporte, que abre precedente para uma reflexão teórica sobre a razão de o futebol ter se transformado em uma representação simbólica dos anseios do povo e expressão cultural de nosso país.
¹ Hegemonia: Única pentacampeã da Copa do Mundo da Fifa Única tetracampeã da Copa das Confederações
A revolução industrial do fim do século XIX intensificou o processo produtivo nos grandes centros. O esporte que antes tinha cunho apenas educativo e social ganhou força em outros setores, como na política, na economia e na comunicação.
Neste contexto, o mundo começava a viver novo momento em que, a comunicação em especial, passava a entender o poder que tinha sobre o povo. Não havia, até então, qualquer análise aprofundada na área. No início do século XX, estudiosos começaram a formular teorias e conceitos que mudariam a forma da sociedade enxergar o modelo comunicacional.
O Mass Communication Research (ou Pesquisa de Comunicação de Massa norte-americana) ofereceu uma série de teorias – tais como a Hipodérmica ou a dos Efeitos Limitados – que “abriram os olhos” para que o resto do mundo também dedicasse esforços para construir modelos que acreditavam refletir o que acontecia à sociedade.
Mas se foi nos Estados Unidos que conhecemos os pioneiros na formulação de Teorias de Comunicação, a Europa expandiu consideravelmente o leque de abordagens. Assim, viajemos até ela. O continente que nos trouxe o futebol, também versou sobre cultura, nosso tema de debate.
O país é a Alemanha, a cidade, Frankfurt. Lá, importantes pensadores se uniram para formar a chamada “Escola de Frankfurt” – não era um local físico – , que se propunha a entender e transmitir à sociedade as mudanças geradas pelo capitalismo no século XX. Tendo como expoentes Theodor Adorno, Max Horheimer e Herbert Marcuse, a escola baseou-se especialmente em Marx, Freud e Nietzsche. Críticos fervorosos do capitalismo, eles propuseram a famosa Teoria Crítica, que carregava o conceito de Indústria Cultural como seu principal legado. Este conceito surge em substituição ao de cultura de massas, que até então defendia a ideia de que a cultura seria o resultado das aspirações da população. Para os alemães, porém, a cultura nada mais era do que a manipulação de uma indústria burguesa, que determinava o que a população devia consumir. Ou seja, o povo não era nada além de uma massa amórfica, que acreditava ser agente participante e formador da sociedade, mas, de fato, só refletia os interesses da elite, esta sim, dona do poder de comandar e manipular o restante da população.
Thompson e Raymond Williams – questionam a Teoria Crítica e a sua forma de enxergar o processo comunicacional.
Diferente do que afirmavam os alemães, defendem a tese de que limitar a construção da cultura a aspectos apenas econômicos e crer que toda uma população não passa de “fantoche” é uma hipótese equivocada. Para eles, o que existe é uma negociação entre todos os agentes que constroem a sociedade. Assim, se a mídia é capaz de influenciar o esporte, a recíproca também é verdadeira. O critério comunicativo passa a ter uma via de mão dupla, e não apenas uma transmissão de informação de acordo com os interesses do emissor.
Hall criou um modelo de codificação-decodificação, em que a mensagem transmitida pode ser interpretada de várias maneiras: (1) em posição dominante: neste caso, o receptor concorda com o que lhe foi passado pelo emissor; (2) em posição negociada: quando o receptor compreende o conteúdo, mas realiza uma mediação, de forma a incorporar o que lhe foi passado em um conhecimento prévio do assunto; (3) em posição de oposição: quando apesar de compreender a mensagem, ela é interpretada de maneira diferente da que o emissor gostaria. O ídolo do seu time sendo criticado por um jornalista, por exemplo.
Com esta visão, os britânicos concentraram seus esforços no estudo de subculturas, focando as atenções para as classes sociais mais baixas, a fim de compreender esta “negociação” entre produto e consumidor. Em suas análises, relatam a “mutabilidade” da cultura e como esta não pode ser entendida de maneira passiva. A singularidade de cada expressão popular deve ser compreendida para que, a partir daí, se possa traçar algum perfil cultural existente naquela sociedade. Como não há ciência exata, não é possível aplicá-la como indústria manipuladora, que detém o poder de escolha, reforçando a diferença de visão entre ingleses e alemães.
No momento em que os Estudos Culturais prestam atenção a formas de expressão culturais não tradicionais se descentra a legitimidade cultural. Em consequência, a cultura popular alcança legitimidade, transformando-se num lugar de atividade crítica e de intervenção... Logo, os Estudos Culturais construíram uma tendência importante da crítica cultural que questiona o estabelecimento de hierarquias entre formas e práticas culturais, estabelecidas a partir de oposições como cultura alta/baixa, superior/inferior, entre outras binariedades. (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011, p. 157)
Assim, se os frankfurtianos carregam o legado da Indústria Cultural, os ingleses são responsáveis pelo conceito de Cultura Popular. No Brasil, o conflito existente entre as duas teorias citadas pode ser aplicado no ambiente do futebol. Ainda sem contar com o prestígio de todos na década de 30, caminhava para tornar- se o mais popular dos esportes, a maior manifestação cultural esportiva do país. Ou seria apenas criação da elite, interessada em “vender o espetáculo”?
Poderíamos nos questionar o quanto essas interpretações subestimam o papel da auto-organização popular em detrimento dos mecanismos de controle entabulados pelas classes dirigentes. Em outras palavras, poderíamos nos perguntar se a popularização do futebol foi de fato uma conquista ou uma mera concessão? (DIAS, 2008, p. 4)
1.2 A diferença entre modernizar e elitizar
Fosse o futebol o ópio do povo ou a expressão cultural genuinamente brasileira, a década de 70 trouxe uma certeza: era preciso modernizá-lo. O mundo entrou na chamada “era da informação”, a globalização mudou a economia mundial, e o esporte acompanhou o ritmo.
Leis se faziam necessárias. Em qualquer âmbito da sociedade, regulamentar a atuação dos profissionais é essencial. No Brasil, uma dificuldade ímpar em aprová- las atrasou o processo de modernização do futebol e resultou, junto a outros fatos, em uma queda vertiginosa na qualidade do esporte. O fato é demonstrado não só pelo potencial de nossos clubes em relação aos europeus, mas pelo jejum incômodo de 24 anos sem título mundial (de 1970 a 1994) que a seleção brasileira amargou.
Com legislação em dia, era de se esperar um maior profissionalismo no esporte. Porém, se os jogadores precisavam se dedicar exclusivamente à carreira, o mesmo não acontecia com os dirigentes. O amadorismo de quem comanda até hoje o esporte é herança do lento processo de modernização no país. A corrupção presente no meio esportivo e a péssima distribuição de verbas dos clubes resultaram em grandes endividamentos e na exportação maciça de nossos craques para a Europa.
Na condição de mais significativa e esfuziante manifestação brasileira, o futebol parece ter o poder de tornar superlativos todos os traços de velhacaria presentes na alma do país. Rouba-se na iniciativa privada? Rouba-se mais
investidores, recebem mais verbas publicitárias e têm mais dinheiro em caixa para conseguir os melhores jogadores, montar os melhores centros de treinamento, etc.
Os maiores clubes europeus, por exemplo, fazem – anualmente – de suas pré-temporadas, verdadeiras excursões aos países do Oriente em busca não apenas de novos torcedores, mas principalmente e acima de tudo em busca de um grande e rentável mercado consumidor de produtos relacionados às suas marcas. Busca-se não mais apenas torcedores, mas principalmente consumidores dos produtos relacionados às equipes de futebol.. (CASTELLARI, 2010, p.24) A partir de então, os clubes passaram a ser vistos como negócio. E como tal, o resultado final esperado é o lucro. Mas para alcançar este objetivo, outro processo teve início: o de elitização.
O primeiro deles é a modernização de seus estádios, transformando o local da partida em uma verdadeira arena de entretenimento. Lojas, alimentação, e tudo o que puder ser explorado comercialmente antes, durante e depois dos jogos.
Neste novo cenário, todo espaço deve ser aproveitado. As placas de publicidade no campo, a exclusividade de determinada marca na venda de bebidas, e mesmo o nome do estádio – o chamado naming rights – tornaram-se ambientes de muita disputa entre patrocinadores.
Só que neste novo campo de jogo, quem perdeu espaço foi o torcedor de baixa renda. Reconhecidos mundialmente por seu apoio fervoroso, a classe social desfavorecida foi praticamente “banida” em alguns estádios europeus. Um espetáculo que movimenta quantias exorbitantes precisa de um público a altura do seu investimento. Não era mais possível conceber xingamentos, brigas ou superlotação. A elitização trouxe pontos positivos, como o aperfeiçoamento da segurança ou a comodidade, mas custou caro ao torcedor apaixonado e fiel, que ia ao estádio apoiar seu time sem violência, e sem muito dinheiro também. Este torcedor, personagem marcante nas grandes histórias do futebol, perdeu seu espaço. O alto preço dos ingressos segregou o público e determinou quem estava apto a ir ou não ao espetáculo que é uma partida de futebol.
As novas exigências transformaram a economia do esporte. Para financiar a reconstrução de seus estádios, os antigos proprietários, na maioria pequenos empresários que se fizeram por conta própria, importaram montanhas de capital novo. Grande parte dele veio de espertos investidores urbanos que percebiam que o futebol tinha um mercado cativo gigante e sólidas fontes de lucro inexploradas. As novas instalações incluíam luxuosas suítes executivas
alugadas a grandes empresas. Os clubes lançaram ações na bolsa de valores, aumentaram o preço dos ingressos e venderam os direitos de transmissão dos jogos da Liga ao serviço de TV por satélite de Rupert Murdoch. O plano funcionou perfeitamente. Um novo tipo de torcedor, mais abastado, começou a frequentar os jogos em estádios mais seguros e confortáveis. Pela primeira vez, viam-se muitas mulheres nas arquibancadas. (FOER, 2005, p. 88) Mas qual a linha que separa a modernização, da elitização? Como possuir finanças equilibradas sem excluir a camada social mais baixa? É possível fazer algo sustentável, moderno e com espaço para os diversos públicos? Pode-se ganhar dinheiro sem transformar o futebol em um simples negócio? O que tirar da experiência inglesa, em que as camadas populares foram quase que “excluídas” do estádio? Ou em uma só pergunta: é possível modernizar o futebol, sem elitizá-lo?