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INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA AULA 2 Prof. Andre Francisco Matsuno Frota Prof2 Franciele Marilies Estevam PROF3 Larissa Warnavin Profa Maria Eneida Fantin Prof2 Renata Adriana Garbossa Silva Prof Theodoro Lutemberg PROF2 Vera Cristina Scheller dos Santos Rocha CONVERSA INICIAL A aula a ser desenvolvida a seguir tem por objetivo apresentar a você uma introdução ao campo de estudos da geografia política. Vamos iniciar com um conjunto de definições básicas do vocabulário técnico desse campo de estudos, em seguida vamos procurar apresentar um conjunto de autores clássicos da geopolítica, bem como o estabelecimento desse campo entre a comunidade científica. Por fim, apresentaremos a produção internacional contemporânea da área, expondo as principais revistas científicas, os principais autores e as tendências de estudo atuais. Esperamos que essa introdução à geografia política instigue a curiosidade dos alunos integrantes dessa disciplina. TEMA 1 — DEFININDO A GEOGRAFIA POLÍTICA A geografia política é um ramo do conhecimento geográfico que procura estudar a relação entre espaço e poder. Essas duas dimensões estão presentes na história de formação e desenvolvimento dessa disciplina, por isso servem como os dois fundamentos pelos quais podemos compreender a produção histórica e contemporânea dessa ciência. A gênese autoral dessa disciplina é comumente relacionada a dois autores europeus: Friedrich Ratzel e Rudolf Kjellén. Como procura demonstrar Costa (2016, p. 58) “O surgimento da geografia política e sobretudo da geopolítica são um produto do contexto europeu na virada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, respectivamente”. A trajetória profissional de ambos os autores e o contexto histórico no qual estiveram inseridos são duas dimensões ativas na produção escrita desses, que são considerados os fundadores da disciplina. Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um zoólogo de formação e professor de Geografia da Universidade de Leipzig. Como acadêmico, elaborou estudos teóricos como: “Studien uber Polilische Raume (Estudo sobre os Espaços Políticos), em 1895; Der Staat und sein Boden (Estado e Solo), em 1896; e, sobretudo, Politische Geographie [Geografia Política -uma geografia dos estados, do comércio e da guerra], em 1897” (Defarges, 2003, citado por Arcassa, 2017, p. 101). O contexto intelectual da época é decisivo para apresentarmos a gênese das ideias de Ratzel. O intervalo histórico vivido pelo autor coincide com o germanófolo sueco e professor nas universidades de Gotemburgo e Upsala: Rudolf Kjéllen. O cientista político Rudolf Kjéllen é conhecido por ter cunhado o termo geopolítica como forma de estabelecer as relações entre o Estado e o território. De certa forma, após o lançamento das obras As grandes potências e O Estado como forma de vida, estabelece as bases da sua compreensão e das vertentes, que surgiriam em seguida, dos estudos geopolíticos (Costa, 2016, p. 56). Ao contrário de Ratzel, que era um geógrafo, Kjéllen era um cientista político sueco e entendia “a geopolítica como ramo autônomo da ciência política, distinguindo-a da geografia política, para ele um sub-ramo da geografia” (Costa, 2016, p. 56). Kjéllen direciona os estudos de Ratzel para um objetivo mais aplicado às metas e finalidades da política externa dos Estados europeus, em especial do Estado germânico recém-unificado. De certa maneira, Kjéllen adapta a ciência formulada dentro do contexto da Geografia política para um conhecimento instrumental e voltado para as “raison d'État”. Como afirma Costa (2016, p. 58), Kjéllen teria “operacionalizado com genialidade aqueles fundamentos elaborados por Ratzel e de ter extraído daí uma nova ciência, antes de tudo aplicada à dinâmica (assim contraposta à natureza estática da geografia política) mais adequada aos homens de governo.” Em linhas gerais, esses dois autores representam o início da geografia política e da geopolítica como campos de estudo. A seguir, vamos avançar para a sequência de autores clássicos dessas disciplinas, de forma coincidente ao contexto histórico-militar do século XX. Os próximos autores tiveram significativas contribuições para esses eventos, e sua história se mistura com a história contemporânea. TEMA 2 — A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA Após termos contato com dois autores que representam o início da geografia política, a formulação teórica da geopolítica clássica recebe a contribuição estruturante de Halford Mackinder (1861-1947). Em uma conferência na Real Sociedade Geográfica de Londres, o fundador da Oxford School of Geography e diretor da London School of Economics, nos primeiros anos do século XX, apresenta a Teoria do Heartland. As principais teses desenvolvidas por Mackinder foram publicadas no artigo The Geographical pivot of history (1904)? e atualizadas em dois trabalhos posteriores ao fim da | e da Il Guerra Mundiais, Ideais democráticos e realidade (1942) e O mundo redondo e a conquista da paz (1948). Em certa medida, para o autor, o desenho geográfico do mundo possui uma área de alto valor estratégico, chamada de área Pivot, ou Heartland. Esse espaço representaria o centro da Eurásia e garantiria ao estado que o domina uma vantagem operacional e militar estruturante em relação aos demais países que compõem o resto do continente. A figura a seguir, extraída do artigo de 1904 do autor, apresenta a tese continentalista defendida por ele. Figura 1 — O mundo segundo Mackinder THE NATURAL SEATS OF POWER. PIVOT AREA: WHOLLY CONTINENTAL; OUTER CRESCENT: WOHOLLY OCEANIC; INNER CRESCENT: PARTLY CONTINENTAL, PARTLY OCEANIC. Fonte: elaborado com base em Mackinder, 1942, p. 190. Crédito: Andrei Minsk/Shutterstock. O mapa apresentado por Mackinder representou para os ingleses uma projeção de força da futura União Soviética, assim como a centralidade continental que os russos tinham em relação à Europa ocidental, à época pouco compreendida pelos seus pares, um círculo militar muito influenciado pela força dos controles oceânicos possuídos pelos ingleses, assim como pela potência marítima que a ilha exerceu ao longo de todo o século XIX. 2Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2021. TEMA 3 — A CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO DA GEOGRAFIA POLÍTICA Após o fim da Il Guerra Mundial e a derrota dos alemães, a geopolítica passa por um período de baixa exposição entre as principais economias de guerra e vai diminuir sua aparição entre os centros universitários do primeiro mundo (Costa, 2016). O perfil de estudo militar típico da perspectiva clássica vai encontrar espaço no pós-guerra entre os círculos da elite militar latino-americana. Como afirma Costa (2016, p. 222), “a geopolítica desaparece dos meios acadêmicos [..] torna-se instrumento para formulações de políticas de poder autoritárias em países do terceiro mundo como Brasil e Argentina, praticamente restrita aos círculos militares”. A geografia política que passa a ser reestruturada pelos norte-americanos recebe as contribuições de autores que vão modernizar a disciplina no pós- guerra, em especial Hartshorne e Stephen B. Jones. Os artigos Recent developments in Political Geography (1935) e The functional approuch in political geography (1950), escritos por Hartshomne, são representativos de uma contribuição autoral para disciplina, voltada para formar uma tradição de maior sistematização e rigor científico. Como o próprio Hartshome afirma, a geografia política foi marcada em sua história, pela sombra do seu uso militar e estratégico, mas ela pertence ao grupo mais amplo da geografia humana e, por isso, deve estar submetida aos mesmos procedimentos de análise desta área da ciência (Costa, 2016). De forma complementar a Hartshorne, Stephen B. Jones, em 4 Unified Field Theory of Political geography, de 1954, propõe uma sintese de ideias que estavam sendo formuladas pelos autores dessa disciplina no pós-guerra em direção a uma formulação teórica combinada entre geografia e ciência política. Jones “propõe que haja um continuum da ciência política para a geografia política, uma interdisciplinariedade, mantendo cada uma a sua especificidade, mas num campo teórico crescentemente unificado” (Costa, 2016, p. 225). Para o autor, o campo da geografia política pode ser expresso por uma cadeia com o seguinte trajeto: ideias políticas — tomada de decisão — movimento — campo — área política (Jones, 1954). ºHARTSHORNE, R. Recent developments in political Geography, |. American Political Science Review, v. 29, n. 5, p. 785-804, 1935. À busca pela cientificidade em Hartshome e pela interdisciplinaridade em Jones vai representar duas linhas de evolução e progressiva sistematização da geografia política norte-americana no pós-guerra. O caminho de desenvolvimento da geografia política norte-americana foi acompanhando, a partir da década de 1970, por um movimento de renovação francês, mas que possuiu um viés marcadamente crítico. Para além das preocupações já citadas pelos americanos, os franceses inauguraram uma perspectiva crítica de estudos para a geografia política. Duas são as referências que redirecionaram essa disciplina: a primeira, mediante a criação da revista Hérodote, uma iniciativa de um pequeno grupo de geógrafos da Universidade de Vincennes que tinham como foco explorar criticamente o fundo histórico e ideológico da disciplina (Costa, 2016). A segunda contribuição, esta de grande impacto internacional, foi a publicação do livro-manifesto escrito por Yves Lacoste La géographie, ça sert dábord à fair ela guerre, um livro com duras críticas também dirigidas à própria comunidade de geógrafos. Segundo Lacoste, a geografia foi um discurso de guerra, e seu uso, prioritariamente voltado para interesses político-militares. As críticas de Lacoste e a publicação sequencial da revista Hérodote, que, ainda hoje, publica textos sobre geografia política”, formaram uma tradição epistemológica crítica de origem francesa na história de modernização da disciplina. Em resumo, a modernização da geografia política teve nas tradições norte-americana e francesa duas linhas de evolução complementares. A primeira, derivada do ciclo de aproximação às fórmulas mais científicas de desenvolvimento, e a segunda, com a critica ao componente marcadamente ideológico, que originou o campo. TEMA 4 — A GEOGRAFIA POLÍTICA E A PRODUÇÃO INTERNACIONAL O campo de produção da geografia política a partir do crescimento dos indexadores de artigos científicos, como é o caso da Web of Science e da º Disponível em: . 10 Figura 3 — Produção por país United States United Kingdom Canada Germany Australia Netherlands France Finland ltaly Switzerland o 200 8 8 a 8 8 800 1000 1200 1400 1600 1800 Documents Fonte: Scopus, [S.d.]. A Figura 3, extraída da busca realizada pela Scopus, evidencia o volume e a localização da produção internacional em geografia política. Como a própria imagem aponta, as produções norte-americana e britânica são substantivamente maiores do que o restante da produção indexada. Juntos, EUA e Reino Unido são responsáveis por quase 2,7 mil produções, de um total de 5.424 textos. Figura 4 — Autores mais produtivos Taylor, Johnston, R.J. EN OLougátin JE Sidavay 0. Sanguiro 4... Flint, €. Kaus, Me. Mamadouh, V. Agnev, ). ER Koch, o 5 10 15 20 25 30 35 40 Documents Fonte: Scopus, [S.d.]. A Figura 4 mostra os autores que têm a maior produção internacional sobre o termo Political Geography, são os dez com maior volume de trabalhos, 11 o que é muito interessante para os estudantes que estão buscando conhecer o campo da geografia política, caso queiram pesquisar sobre cada um desses professores em suas respectivas páginas e currículos. No próximo tema, vamos explorar esse seleto grupo de acadêmicos. TEMA 5 - OS AUTORES DE MAIOR PRODUÇÃO INTERNACIONAL NA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA O autor que aparece como a referência com maior número de trabalhos publicados é Peter J. Taylor, um geógrafo britânico, professor na Universidade de Northumbria. Cofundador da revista de maior produção indexada, Political Geography, pesquisa os temas: globalização, cidades globais, cidades e geografia política. Dois trabalhos aparecem como os mais citados pelo Google acadêmico: a. TAYLOR, P.; DERUDDER, B. World City Network: A global urban analysis (2nd ed.). Routledge, 2015; b. FLINT, C.; TAYLOR, P. J. Political Geography: World-Economy, Nation-State and Locality (7th ed.). Routledge, 2018.º O segundo geógrafo que aparece na Figura 3 é Ron Johnston, professor na Universidade de Bristol que pesquisa sobre geografia humana, ciência política e eleições. Três trabalhos têm destaque entre a sua vasta produção intelectual: a. JOHNSTON, R. J. The dictionary of human geography. In The dictionary of human geography. Basil Blackwell, 1981; b. JOHNSTON, R. J. Geography and geographers: Anglo-American human geography since 1945. (4th ed.). Edward Arnold, 1991; c. JOHNSTON, R., SHELLEY, F. M.; TAYLOR, P.J. (Eds.). Developments in Electoral Geography (1st ed.). Routledge, 1990.1º O terceiro autor, John O'Loughlin!!, é professor de Geografia na Universidade do Colorado e pesquisa a geografia política pós-soviética, incluindo geopolítica russa, geografia das mudanças globais, sociedades pós-conflito. Um dos artigos de destaque do autor, publicado na revista Nature'?, explora as 9 Acesse: ; . 10 Acesse: . 1 Conheça seu perfil, disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2021. 12 Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2021. 13 termos compostos, por exemplo international relations, empregados pelos autores nos resumos dos artigos publicados. Em linhas gerais, quando observamos as imagens, pela própria composição gráfica delas, já identificamos pela visualização como certos termos estão no centro da agenda de estudos e das preocupações desses autores. Os termos geopolítica, nacionalismo, fronteira, relações internacionais, geografia eleitoral, rede de cidades, política externa, estado, ciência política, instituições, economia global e geopolítica crítica aparecem com grande destaque. Figura 6 — Termos mais usados nos resumos dos autores mais produtivos tm geepção 1OTOÍSE PORCO a ieoams Arúcie examine electoral EOITABHY pri contest sacial crase ram = gritical geopolitics = political science gengragiica! scale eo venia POlitical GE09raphers aasusromes political geo geographic Cily network world economy E ER: emo political geogranhies "2" severntomt regimes memstacs aucmeas pe o rien Fonte: Andre Francisco Matsuno da Frota. Em vias de síntese, essas são as revistas, os autores e as tendências de estudo da geografia política contemporânea. Como procuramos demonstrar, para além da sua feição clássica, a área possui uma vasta contribuição internacional, que pode ser acessada por qualquer pessoa. A sistematização aqui organizada teve por objetivo demonstrar a você como esse campo acadêmico está formado em sua dimensão internacional. Esperamos que essas duas seções sirvam para inspirar a sua curiosidade sobre as contribuições dos autores e das revistas científicas. NA PRÁTICA 14 Você já ouviu falar no conceito de risco geopolítico. Um dos produtos que são vendidos pelas consultorias nacionais e internacionais é o Geopolitical Outlook, ou risco político, em sua versão nacional. Trata-se de um documento elaborado para as consultorias financeiras como forma de auxiliar a entender o risco de se investir em determinado país ou mesmo em uma região. Algumas empresas são especializadas em prestar esse tipo de serviço para o mercado. Vale a pena conferir os estudos produzidos pela Grupo Eurásia ?º. Fundado por lan Bremmer em 1998, a multinacional foi a primeira firma a se dedicar exclusively to helping investors and business decision-makers understand the impact of politics on the risks and opportunities in foreign markets. lan's idea—to bring political science to the investment community and to corporate decision-makers—launched an industry and positioned Eurasia Group to become the world leader in political risk analysis and consulting. (Eurasia Group, 2021) Pesquise os tipos de estudos produzidos pela companhia e procure identificar como a Geografia Política representa a base desse tipo de inserção profissional. Figura 7 — Top Risks — os maiores riscos políticos de 2021 TOP NE 2021 Fonte: Grupo Eurásia, [S.d.]. 13 Disponível em: . Acesso em: 21 dez. 2021. 16 REFERÊNCIAS ARCASSA, W. de S. Friedrich Ratzel: a importância de um clássico. Geographia Opportuno Tempore, Londrina, v. 3,n. 1. p. 98-115, 2017. COSTA, W. M. Geografia política e geopolítica: discursos sobre o território e o poder. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2016 EURASIA GROUP. Top risks 2021. Disponível em: . Acesso em: 222 dez. 2021. - Our story. Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2021. JONES, S. B. A Unified Field Theory of Political Geography. Annals of the Association of American Geographers, v. 44, n. 2, p. 111-123, jun. 1954.