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Guias e Dicas
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Institutas da Religião Cristã, Exercícios de Religião

As Institutas da Religião Cristã III. CAPÍTULO I AS COISAS QUE FORAM. DITAS ACERCA DE CRISTO NOS SÃO. PROVEITOSAS EM VIRTUDE DA OPERAÇÃO.

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

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Baixe Institutas da Religião Cristã e outras Exercícios em PDF para Religião, somente na Docsity!

As Institutas são a referência primária para o sistema de doutrinas

adotado pelas Igrejas Reformadas, influenciando também outras

surgidas na Reforma ou em período próximo. As ideias de Calvino

são as bases para o conjunto de doutrinas usualmente chamado de

Calvinismo.

Índice

As Institutas da Religião Cristã I

Prefácio da 1 Edição

Prefácio da 2 Edição

Carta ao Rei Francisco I

Prefácio à Edição de 1559

CAPÍTULO I O CONHECIMENTO DE DEUS

E O CONHECIMENTO DE NÓS MESMOS SÃO

COISAS CORRELATAS E SE INTER-

RELACIONAM

CAPÍTULO II - EM QUE CONSISTE

CONHECER A DEUS E A QUE FIM LHE TENDE

O CONHECIMENTO

CAPÍTULO III O CONHECIMENTO DE

DEUS FOI POR NATUREZA INSTILADO NA

MENTE HUMANATER-RELACIONAM

CAPÍTULO IV ESTE MESMO

CONHECIMENTO É SUFOCADO OU

CORROMPIDO, EM PARTE PELA

IGNORÂNCIA, E EM PARTE PELA

DEPRAVAÇÃO

CAPÍTULO V O CONHECIMENTO DE DEUS

FULGE NA OBRA DA CRIAÇÃO DO MUNDO E

EM SEU CONTÍNUO GOVERNO

CAPÍTULO VI PARA QUE ALGUÉM

CHEGUE A DEUS O CRIADOR É NECESSÁRIO

QUE A ESCRITURA SEJA SEU GUIA E

MESTRA

CAPÍTULO VII POR QUE É NECESSÁRIO

QUE SE ESTABELEÇA O TESTEMUNHO EM

PROL DA ESCRITURA PARA QUE SUA

AUTORIDADE SEJA INDUBITÁVEL:

EVIDENTEMENTE, DO ESPÍRITO. DAÍ SER

ÍMPIA FALSIDADE SUSTENTAR QUE SUA

CREDIBILIDADE DEPENDE DO ARBÍTRIO DA

IGREJA

CAPÍTULO VIII ATÉ ONDE LEVA A RAZÃO

HUMANA, HÁ PROVAS SUFICIENTEMENTE

SÓLIDAS PARA ESTABELECER A

CREDIBILIDADE DA ESCRITURA

CAPÍTULO IX OS FANÁTICOS QUE, POSTA

DE PARTE A ESCRITURA, ULTRAPASSAM A

REVELAÇÃO E SUBVERTEM A TODOS OS

PRINCÍPIOS DA PIEDADE

CAPÍTULO X PARA CORRIGIR TODA

SUPERSTIÇÃO, A ESCRITURA CONTRAPÕE

TODOS OS DEUSES DOS PAGÃOS

EXCLUSIVAMENTE O DEUS VERDADEIRO

CAPÍTULO XI É UMA ABOMINAÇÃO

ATRIBUIR FORMA VISÍVEL A DEUS, E

GERALMENTE SE APARTAM DO DEUS

VERDADEIRO QUANTOS ESTABELECEM

ÍDOLOS PARA SI

CAPÍTULO XII IMPORTA QUE DEUS SEJA

DISTINGÜIDO DOS ÍDOLOS, PARA QUE SE

CULTUE INTEGRALMENTE SOMENTE ELE

CAPÍTULO XIII NAS ESCRITURAS, DESDE

A PRÓPRIA CRIAÇÃO, SE ENSINA UMA

ESSÊNCIA ÚNICA DE DEUS, QUE EM SI

CONTÉM TRÊS PESSOAS

CAPÍTULO XIV ATÉ MESMO NA PRÓPRIA

CRIAÇÃO DO MUNDO E DE TODAS AS

COISAS, COM INCONFUNDÍVEIS MARCAS A

CAPÍTULO IV COMO DEUS OPERA NO

CORAÇÃO DOS HOMENS

CAPÍTULO V REFUTAÇÃO DAS OBJEÇÕES

QUE SE COSTUMAM INTERPOR EM DEFESA

DO LIVRE-ARBÍTRIO

CAPÍTULO VI IMPÕE-SE AO HOMEM

PERDIDO BUSCAR EM CRISTO A REDENÇÃO

CAPÍTULO VII A LEI FOI DADA NÃO PARA

QUE EM SI RETIVESSE O POVO ANTIGO,

MAS, AO CONTRÁRIO, PARA QUE

FOMENTASSE A ESPERANÇA DA SALVAÇÃO

EM CRISTO ATÉ SUA VINDA

CAPÍTULO VIII EXPOSIÇÃO DA LEI

MORAL

CAPÍTULO IX EMBORA FOSSE

CONHECIDO AOS JUDEUS SOB A LEI,

CRISTO, CONTUDO, SE EXIBIU PLENAMENTE

NO EVANGELHO

CAPÍTULO X DA SIMILARIDADE DE

ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS

CAPÍTULO XI DA DIFERENÇA DOS

TESTAMENTOS ENTRE SI

CAPÍTULO XII PARA QUE

DESEMPENHASSE A FUNÇÃO DE MEDIADOR,

NECESSÁRIO FOI QUE CRISTO SE FIZESSE

HOMEM

CAPÍTULO XIII CRISTO SE REVESTIU DA

VERDADEIRA SUBSTÂNCIA DA CARNE

HUMANA

CAPÍTULO XIV COMO AS DUAS

NATUREZAS DO MEDIADOR FORMAM UMA

PESSOA ÚNICA

CAPÍTULO XV PARA QUE SAIBAMOS A

QUE PROPÓSITO CRISTO FOI ENVIADO PELO

PAI, E QUE ELE NOS FOI CONFERIDO, TRÊS

COISAS SE DEVEM NELE TER EM

CONSIDERAÇÃO ACIMA DE TUDO: O OFÍCIO

PROFÉTICO, A REALEZA E O SACERDÓCIO

CAPÍTULO XVI COMO CRISTO CUMPRIU

AS FUNÇOES DE REDENTOR PARA QUE NOS

ADQUIRISSE A SALVAÇÃO, ONDE SE TRATA

DE SUA MORTE E RESSURREIÇÃO, BEM

COMO DE SUA ASCENSÃO AO CÉU

CAPÍTULO XVII CORRETA E

APROPRIADAMENTE SE DIZ HAVER CRISTO

MERECIDO POR NÓS A GRAÇA DE DEUS E A

SALVAÇÃO

As Institutas da Religião Cristã III

CAPÍTULO I AS COISAS QUE FORAM

DITAS ACERCA DE CRISTO NOS SÃO

PROVEITOSAS EM VIRTUDE DA OPERAÇÃO

SECRETA DO ESPIRITO

CAPÍTULO II DA FÉ – DEFINIÇÃO E

EXPOSIÇÃO DE SUAS PROPRIEDADES

CAPÍTULO III SOMOS REGENERADOS

MEDIANTE A FÉ. ONDE SE TRATA TAMBÉM

DO ARREPENDIMENTO

CAPÍTULO IV QUÃO DISTANTE DA

PUREZA DO EVANGELHO ESTÁ TUDO

QUANTO OS SOFISTAS ENSINAM EM SUAS

ESCOLAS A RESPEITO DO

ARREPENDIMENTO. ONDE SE TRATA DE

CONFISSÃO E SATISFAÇÃO

CAPÍTULO V DOS SUPLEMENTOS QUE

CONFERIR A JUSTIÇA QUANTO A CERTEZA

DA SALVAÇÃO

CAPÍTULO XVI REFUTAÇÃO DAS FALSAS

ACUSAÇÕESCOM QUE OS PAPISTAS TENTAM

GRAVAR DE ÓDIO A ESTA DOUTRINA DA

JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ SOMENTE

CAPÍTULO XVII A CONSONÂNCIA DAS

PROMESSAS DA LEI E DO EVANGELHO

CAPÍTULO XVIII DO GALARDÃO

PROMETIDO DEDUZ-SE IMPROPRIAMENTE A

JUSTIÇA DAS OBRAS

CAPÍTULO XIX DA LIBERDADE CRISTA

CAPÍTULO XX DA ORAÇÃO, QUE É O

PRINCIPAL EXERCÍCIO DA FÉ E MEDIANTE A

QUAL RECEBEMOS DIARIAMENTE OS

BENEFÍCIOS DE DEUS

CAPITULO XXI DA ETERNA ELEIÇÃO,

PELA QUAL DEUS A UNS PREDESTINOU

PARA A SALVAÇÃO, A OUTROS PARA A

PERDIÇÃO

CAPÍTULO XXII CONFIRMAÇÃO DESTA

DOUTRINA DA ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO

AUFERIDA DOS TESTEMUNHOS DA

ESCRITURA

CAPÍTULO XXIII REFUTAÇÃO DAS

CALÚNIAS COM AS QUAIS ESTA DOUTRINA

TEM SIDO SEMPRE INIQUAMENTE

IMPUGNADA

CAPÍTULO XXIV A ELEIÇÃO É

CONFIRMADA PELA VOCAÇÃO DIVINA, MAS

OS RÉPROBOS ENGENDRAM PARA SI A

JUSTA PERDIÇÃOÀ QUAL FORAM

DESTINADOS

CAPÍTULO XXV DA RESSURREIÇÃO

FINAL

As Institutas da Religião Cristã IV

CAPÍTULO I DA VERDADEIRA IGREJA,

COM A QUAL SE NOS IMPÕE CULTIVAR A

UNIDADE, PORQUANTO É MÃE DE TODOS OS

PIEDOSOS

CAPÍTULO II COMPARAÇÃO DA FALSA

IGREJA COM A VERDADEIRA

CAPÍTULO III DOS MESTRES E MINISTROS

DA IGREJA SUA ELEIÇÃO E OFÍCIO

CAPÍTULO IV DO ESTADO DA IGREJA

ANTIGA E DA FORMA DE GOVERNO QUE

ESTEVE EM USO ANTES DO PAPADO

CAPÍTULO V A FORMA ANTIGA DE

GOVERNO DA IGREJA FOI TOTALMENTE

SUBVERTIDA PELA TIRANIA DO PAPADO

CAPÍTULO VI DO PRIMADO DA SÉ

ROMANA

CAPÍTULO VII DO SURTO E

INCREMENTOS DO PAPADO ROMANO, ATÉ

QUE A ESTA ALTURA SE TRANSPORTOU,

PELA QUAL NÃO SÓ A LIBERDADE DA

IGREJA FOI OPRIMIDA, MAS TAMBÉM

SUBVERTIDA TODA MODERAÇÃO

CAPÍTULO VIII DO PODER DA IGREJA NO

QUE DIZ RESPEITO AOS DOGMAS DA FÉ E

COM QUÃO DESENFREADA LICENÇA TEM

SIDO ARRASTADA NO PAPADO A VICIAR

TODA A PUREZA DA DOUTRINA

CAPÍTULO IX DOS CONCÍLIOS E SUA

CAPÍTULO XX DA ADMINISTRAÇÃO

POLÍTICA

As Institutas

ou

Tratado da Religião Cristã

Volume 1

que tem de ser lida de forma pausada, refletida, cuidadosa, sem sofreguidão nem açodamento, a atenção voltada para com o contexto e a tônica da matéria enfocada. Afigurou-se proveitoso cotejar a tradução presente com outras de fácil acesso. Destarte, fiz uso da Edição Francesa, texto atualizado de Pierre Marcel e Jean Cadier, de 1955 (abreviatura: EF), da valiosa tradução para o inglês de Ford Lewis Battles, edição de 1961 (abreviatura: B), da tradicional tradução de John Allen, 7a. edição americana, de 1936 (abreviatura: A), da versão alemã de Karl Muller, edição de 1928 (abreviatura: KM) e da espanhola de Cipriano de Valera, na forma da revisão de 1967 (abreviatura: CR). Até onde possível, verifiquei as referências feitas aos acervos da Patrologia Latina de Magne (PLM) e sua congênere, a Patrologia Grega (PGM), bem como à Loeb Classical Library (LCL) e ao Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum (CSEL), de outra sorte citados conforme se mencionam nas versões cotejadas. Ponto que merece esclarecimento é o referente às citações de textos bíblicos. Mantive a forma adoptada pelo próprio Calvino. Não é o texto da Vulgata, pelo menos na Versão Clementina, dela divergindo, por vezes, sensivelmente. É matéria para interessante consideração da Crítica Textual. Ademais, parece Calvino modifica-los, alterá-los, adapta-los, fundindo passagens ou fracionando-as, conforme o a que visava, proceder longe de estranhável em uma época em que a moderna divisão capitular e versicular ainda não era generalizada, muito menos estereotipada, nem os cânones critico-textuais fixados e reconhecidos como hoje. Este é, portanto, um aspecto em que se há de atualizar ou revisar o texto ao aplica-lo em moldes correntes. A fidelidade histórica, entretanto, não permitiria referi-los em termos das traduções modernas ou do texto agora vigente.

PREFÁCIOCARTA ÀAO 1ª EDIÇÃOE Muito e a muitos teria de registrar meu profundo agradecimento para que pudesse levar a cabo esta para mim venturosa empreitada. Primeiramente, a Deus, Pai Amantíssimo, que me conservou com vida e conferiu a capacidade para esta delicada e morosa tarefa; à Christian Reformed Church o propiciar-me período de estudos que me facultaram o contacto primeiro com o esforço de tradução, bem como o interesse na presente edição, objetivando em valioso subsídio financeiro; ao Dr. Peter de Klerk, bibliotecário do Calvin College, Grand Rapids, Michigan, a valiosa colaboração prestada no uso de obras de seu acervo e informações fornecidas posteriormente; assim, ao Rev. Júlio Andrade Ferreira que, generosamente, tanto me assistiu com livros de que tive necessidade ao longo de todo o demorado labor da tradução; à Unicamp o sólido apoio à iniciativa, expresso na aceitação deste trabalho como parte dos encargos exigidos dos docentes; ao professor Rodolfo Ilari, colega de docência, a inestimável ajuda na consecução desse apoio; ao Rev. Celsino da Cunha Gama, Diretor Executivo de Luz Para o Caminho, o empenho em fazer com que a obra viesse a lume, assumindo de começo a dura tarefa de publicação; ao presbítero Glaycon Andrade Ferreira, que se desdobrou na revisão primeira da composição; ao presbítero Dr. Paulo Breda Filho, Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, ao presbítero Antonio Ribeiro Soares, Diretor Superintendente da Casa Editora Presbiteriana, e ao Rev. Sabatini Lalli, o interesse em ter a obra publicada sob o patrocínio da Igreja Presbiteriana do Brasil, como sempre desejamos. Ao Rev. Sabatini, ademais, o penoso trabalho de revisão final e as oportunas sugestões feitas na parte redacional. À minha nobre esposa, Amélia Stephan Luz, a dedicação e ajuda prestadas de mil e uma formas, sem o que não teria eu tido condições de levar a cabo a árdua empreitada. Aos estudantes do Seminário Presbiteriano de Campinas e a muitos colegas o generoso estímulo, demonstrado vezes tantas e de tantas maneiras. De reconhecimento especial, finalmente, é credora a Comissão Calvino, constituída de ilustres irmãos do Norte, centralizados no Recife, que me respaldaram o esforço com sugestões preciosas, certa ajuda financeira até que assumi a docência com tempo integral na Universidade, leal incentivo e muita oração. Que lhes recompense a todos a nobreza de alma o grande Senhor Nosso. E que seja este esforço, fruto de intenso labor e especial carinho, ricamente abençoado por Deus de sorte que dele possam muitos auferir grande proveito espiritual e muito estímulo para testemunhar eficazmente de Cristo e seu Evangelho. Campinas, junho de 1984 Waldyr Carvalho Luz 20 LIVRO I

C A R T A A O R E I F R A N C I S C O I

Ao Mui Poderoso e Ilustre Monarca, FRANCISCO, Cristianíssimo Rei dos Franceses, seu Príncipe, JOÃO CALVINO Roga Paz e Salvação em Cristo

1. CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE A OBRA FOI INICIALMENTE ESCRITA

Quando, de início, tomei da pena para redigir esta obra, de nada menos cogitava, ó mui

preclaro Rei, que escrever algo que, depois, houvesse de ser apresentado perante tua majestade. O intento era apenas ensinar certos rudimentos, mercê dos quais fossem instruídos em relação à verdadeira piedade quantos são tangidos de algum zelo de religião. E este labor eu o empreendia principalmente por amor a nossos compatrícios franceses, dos quais a muitíssimos percebia famintos e sedentos de Cristo, pouquíssimos, porém, via que fossem devidamente imbuídos pelo menos de modesto conhecimento. Que esta me foi a intenção proposta, no-lo diz o próprio livro, composto que é em uma forma de ensinar simples e, por assim dizer, superficial. Como, porém, me apercebesse de até que ponto tem prevalecido em teu reino a fúria de certos degenerados, de sorte que não há neles lugar nenhum à sã doutrina, dei-me conta da importância da obra que estaria para fazer, se, mediante um mesmo tratado, não só lhes desse um compêndio de instrução, mas ainda pusesse diante de ti uma confissão de fé , mercê da qual possas aprender de que natureza é a doutrina que, com fúria tão desmedida, se inflamam esses tresloucados que, a ferro e fogo, conturbam hoje teu reino. Pois nem me envergonharei de confessar que compendiei aqui quase que toda a súmula dessa mesma doutrina que aqueles vociferam deveria ser punida com o cárcere, o exílio, o confisco, a fogueira, que deveria ser exterminada por terra e mar.

1. DEFESA DOS FIÉIS PERSEGUIDOS

Sei perfeitamente de quão atrozes denúncias teriam eles enchido teus ouvidos e mente, no afã de tornar nossa causa diante de ti a mais odiosa possível. Mas, em função de tua clemência, isto deve ser-te cuidadosamente ponderado, se é suficiente

haver acusado, que nenhuma inocência haverá de subsistir, nem nas palavras, nem nas ações. Se no interesse de suscitar ódio, porventura alguém alegue que esta doutrina, da qual estou tentando dar-te a razão, já por muitos tem sido condenada pelo veredicto de todos os Estados, solapada por muitas sentenças peremptivas dos tribunais, outra coisa não estará a dizer senão que, em parte, ela tem sido violentamente pisoteada pela facciosidade e prepotência dos adversários; em parte, insidiosa e fraudulentamente oprimida por suas falsidades, invencionices e calúnias. Constitui arbitrariedade o fato de que, não facultada oportunidade de defesa a uma causa, contra ela se passem sanguinárias sentenças; é dolo que, à parte de qualquer delito, ela seja acusada de fomentar sedições e promover malefícios. Para que não pense alguém que estamos a queixar-nos dessas coisas injustamente, tu mesmo, ó Rei nobilíssimo, podes ser-nos testemunha de com que mentirosas calúnias ela é diariamente trazida diante de ti, como se a outro fim não disponha senão arrebatar das mãos dos reis os cetros, pôr por terra todos os tribunais e normas judiciárias, subverter a todas as instituições e estruturas político-administrativas, perturbar a paz e a tranqüilidade públicas, anular todas as leis, desmantelar domínios e posses, enfim, promover total ruína de tudo. E, no entanto, o que ouves é apenas uma parcela mínima. Pois que certas coisas horrendas se espalham entre o povo, coisas que, se fossem verdadeiras, deveria o mundo inteiro, com merecida razão, julgá-la digna, juntamente com seus autores, de mil fogueiras e cruzes. Quem a esta altura haveria de surpreender-se de que, onde se dá crédito a essas civilizações profundamente iníquas, contra ela se tem inflamado o ódio público? Eis por que todas as suas classes, de comum acordo , concordam e cooperam em nossa condenação, bem como de nossa doutrina, arrebatados por esta paixão, quantos se assentam nos tribunais para exercer o juízo, em lugar de sentenças reais , pronunciam os preconceitos que trouxeram de casa. E julgam haver-se criteriosamente desincumbido de suas funções, se a ninguém ordenam que seja levado ao suplício, a não ser que seja incriminado por confissão direta ou por sólidos testemunhos. Mas, de que crime? Dessa doutrina condenada, dizem- no. Mas, em bases de que direito foi ela condenada? Ora, isto deveria ser a essência da defesa, a saber , não repudiar a própria doutrina, ao contrário, havê -la por verdadeira. Aqui, no entanto , nos é vedado até mesmo o direito de falar em surdina!

3. APELO EM FAVOR DOS FIÉIS OPRIMIDOS E assim, não sem justa razão, ó Rei invictíssimo, rogo-te que empreendas cabal investigação desta causa, causa que até agora tem sido tratada desordenadamente, quando não de todo tumultuada, e sem nenhuma sistemática de direito, e mais sob a agitação do impulso de seriedade condigna do judiciário. Nem julgues que estou aqui arquitetando minha defesa pessoal, mercê da qual me resulte seguro regresso à pátria, da qual, embora a ame tanto quanto é próprio do sentimento humano, no pé em que estão as coisas atualmente não deploro profundamente estar dela distanciado. Antes, estou a abraçar a causa comum de todos os piedosos, que outra não é senão a própria causa de Cristo que, de todos os modos, jaz hoje em teu reino lacerada e espezinhada, dir-se-ia reduzida a desesperada condição, isto, por certo, mais em decorrência da tirania de certos fariseus do que de teu querer. Aqui, porém, a nada leva denunciar como isso acontece. O certo é que esta causa está sofrendo dura opressão. Isto, pois, os ímpios têm conseguido: que a verdade de Cristo, se não é