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Busca entender o processo de inovação tecnológica dentro de um sistema economico
Tipologia: Notas de estudo
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Inovações
tecnológIcas e a
complexIdade do
sIstema econômIco
© 2010 Editora UNESP Cultura Acadêmica Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (0xx11) 3242- Fax: (0xx11) 3242- www.editoraunesp.com.br feu@editora.unesp.br
CIP– Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
B469i Bezerra, Carolina Marchiori Inovações tecnológicas e a complexidade do sistema econômico / Carolina Marchiori Bezerra. – São Paulo : Cultura Acadêmica, 2010. 122p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7983-089-
Este livro é publicado pelo Programa de Publicações Digitais da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
Introdução
O interesse pelo tema proposto busca entender o processo de inovação tecnológica dentro de um sistema econômico que é enten‑ dido como complexo. A opção por essa perspectiva tem como obje‑ tivo compreender o processo inovativo a partir de uma matriz teórica distinta daquela desenvolvida pela microeconomia tradi‑ cional, que, em virtude do seu caráter de construção estática, não é capaz de incorporar propriedades da inovação tecnológica e mu‑ danças estruturais. Ao avaliar as principais premissas da teoria microeconômica tra‑ dicional, verifica‑se que esta contém atributos que, de certa forma, comprometem o poder explicativo dos seus modelos, sobretudo aqueles que remetem à noção de equilíbrio geral. Grosso modo , esses modelos apresentam tanto um distanciamento da realidade por in‑ corporar características imaginárias dos atores sociais e dos mer‑ cados enquanto instituições, como um modo mecânico de apreender as interações sociais. Em particular, não são capazes de levar em consideração a dinâmica de fenômenos econômicos e a comple‑ xidade das interações e relações que se travam nessa esfera entre os agentes e entre estes e o ambiente. É em função desses aspectos que alguns críticos classificam a teoria neoclássica como reducionista e, dessa perspectiva, o todo consiste na mera composição das suas
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arcabouço e, ainda, como essa análise pode contribuir para o avan‑ ço da economia. Para atingir o objetivo acima, o trabalho foi dividido em três ca‑ pítulos além desta introdução e da parte conclusiva. No primeiro capítulo são feitas algumas considerações críticas às peculiaridades da microeconomia tradicional. Essa avaliação inicial visa identi‑ ficar suas limitações com o objetivo de verificar sob quais con‑ dições se dá a introdução de uma nova perspectiva de análise cujas principais características podem ser creditadas à abordagem evolu‑ cionária. Diante disso, torna‑se importante realizar um estudo do que se considera a origem dessas ideias. Com isso pretende‑se con‑ trapor essas duas visões a partir do tratamento de ambas no plano dos indivíduos e no plano agregado, e também do modo como tratam as inovações tecnológicas diante desse contexto. O segundo capítulo tem por objetivo identificar as principais características dos sistemas complexos. Mais especificamente, pre‑ tende‑se discutir as origens e os instrumentos teóricos dessa abor‑ dagem para finalmente, no terceiro capítulo, tratar o processo de inovação tecnológica dentro desse contexto a partir da avaliação e descrição de alguns modelos realizados nessa área, os quais são em grande parte baseados no modelo de concorrência schumpeteriana desenvolvido por Nelson & Winter ([1982]/2005). O pensamento e a obra desses autores passaram a ser vistos como referência para a abordagem evolucionária, oferecendo importantes contribuições, especialmente na esfera da mudança tecnológica. O capítulo discute ainda, de maneira mais detalhada, as hipó‑ teses do modelo de concorrência schumpeteriana de Nelson & Winter ([1982]/2005), e também como os argumentos e obser‑ vações desenvolvidos por essa literatura podem ser aproximados do método de modelagem baseado no agente dos sistemas complexos. O quarto e último capítulo será composto pelas considerações fi‑ nais do trabalho.
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exigirem simplificações e abstrações, permitem a utilização de mo‑ delos formalizados matematicamente. A microeconomia neoclássica ou reducionista baseia‑se na teoria do equilíbrio geral. Proposta originalmente por Leon Walras ([1874]/1996) – e elaborada com maior rigor e sofisticação formal por Gerard Debreu (1959), Kenneth Arrow & Frank Hahn (1971) –, ela está calcada nos pressupostos de mercados concorrenciais e de moeda neutra. Os agentes, ofertantes e demandantes de bens e ser‑ viços, são tomadores de preços (estabelecidos em um processo de tatonnement )^1 que maximizam suas utilidades, considerando os preços de todas as alternativas possíveis. Esses preços, por sua vez, se ajustam em função da demanda (determinada no ponto em que a relação utilidade marginal/preço é equivalente para todas as mercadorias). A oferta e a procura, vistas como mera agregação, respectivamente, dos ofertantes e demandantes individuais, se igualam em todos os mercados. Segundo Prado (2006), é possível enxergar a microeconomia re‑ ducionista ou neoclássica atuando em dois níveis de análise: uma no plano dos indivíduos e outra no plano agregado. Partindo‑se da análise no plano dos indivíduos, como visto anteriormente, a mi‑ croeconomia reducionista adere ao individualismo metodológico, situação em que as explicações dos fatos econômicos ou sociais são construídas com base em suposições relativas ao indivíduo, isto é, são construídas em relação aos indivíduos constituintes, ou, ainda, são reduzidas ao plano dos indivíduos.
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Nessa construção teórica entendida como reducionista, a socie‑ dade não exerce nenhuma influência sobre os indivíduos, que são independentes entre si e definidos exclusivamente a partir das suas propriedades intrínsecas. Para estabelecer conexões entre os indi‑ víduos e o todo, a abordagem reducionista considera que as proprie‑ dades globais são o resultado da mera agregação dos componentes individuais, isto é, elas são extraídas das ações dos indivíduos, o que significa dizer que a estrutura, ou o todo, são sempre explicados em termos de suas partes constituintes, e são entendidos como “resul‑ tados gerados por meio de interações que se somam, ou seja, como agregações” (Prado, 2006, p.305). Nessa estrutura, qualquer pro‑ priedade econômica ou social aparece sempre como algo resultante das propriedades desses indivíduos, que são atômicos^2 e agem com racionalidade substantiva. 3 De acordo com o segundo axioma da teoria neoclássica – o ins‑ trumentalismo metodológico –, as decisões tomadas nesse am‑ biente composto por agentes autodeterminados, que possuem racionalidade perfeita e agem para obter o melhor resultado pri‑ vado possível, são maximizadoras. Não existem problemas de informação crônica. Todas as defi‑ ciências de informação que aí aparecem podem ser superadas a partir do uso do conceito de risco probabilístico, segundo o qual os resultados são conhecidos, tanto através do cálculo a priori , como através das estatísticas da experiência passada. Assim sendo, o risco denota uma condição na qual os resultados e as suas respectivas probabilidades de ocorrência são sempre estabelecidos com antece‑ dência. Os agentes aqui são capazes de avaliar qualquer tipo de in‑ certeza probabilisticamente, ou seja, são capazes de prever todos os resultados futuros e incertos, uma vez que seus objetivos e res‑ trições são conhecidos e dados. Para atingir esse objetivo, os agentes
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bação que ocorra nesses mercados é incapaz de tirar a economia do equilíbrio. Ingrao & Israel (1990) apontam que a teoria do equilíbrio geral, ao longo do século XX, ancorada no individualismo metodológico e no método axiomático, manteve o núcleo paradigmático constante e empreendeu um significativo esforço de formalização matemá‑ tica, com o objetivo de corroborar os seguintes resultados: i) a exis‑ tência de equilíbrio; ii) a unicidade desse equilíbrio; e iii) a estabilidade global do equilíbrio. Essa construção teórica tem sido objeto de diversas críticas, isso porque, apesar de certos autores considerarem ter identificado al‑ gumas soluções satisfatórias para os problemas relacionados à exis‑ tência de equilíbrio, a unicidade e a estabilidade ainda carecem de uma resposta mais consistente. Ingrao & Israel (1990) ressaltam que os trabalhos de Arrow e Debreu, baseados nas hipóteses walrasianas, foram capazes de demonstrar a existência de equilíbrio geral, mas, no que tange à questão da unicidade do equilíbrio, os autores consideram as so‑ luções existentes bastante divergentes, sendo algumas delas sem nenhum sentido econômico. Vale destacar que a unicidade do equi‑ líbrio só poderia ser demonstrada pela adoção de restrições ad hoc , como a suposição de que a sociedade se comporta como se fosse um único indivíduo. Quanto à questão relativa à estabilidade global, os resultados alcançados também são bastante insatisfatórios, estando relacio‑ nados com a amplitude dos afastamentos do equilíbrio e com a ocorrência ou não de processos cumulativos que promovam a di‑ vergência ou a convergência ao equilíbrio. Disso segue que os equilíbrios podem ser indeterminados e também instáveis. Outra importante consideração a ser feita se refere às críticas di‑ rigidas ao mercado de reivindicação contingente de Arrow‑Debreu. Este considera que todas as escolhas de mercado são feitas de uma única vez, colapsando o futuro no presente. Aqui, o problema de escolha dinâmica é reduzido a um problema estático, e isso é devido à hipótese de racionalidade dos agentes, dado que, segundo essa
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abordagem, os agentes são capazes de prever os preços futuros (Kreps, 1990). Hahn (1981) aponta para algumas deficiências dessa análise, dentre elas: i) a não existência de mercados futuros para todos os mercados; ii) a assimetria de informações; iii) a possibi‑ lidade de trocas custosas. Hahn considera ainda que a teoria do equilíbrio geral, formu‑ lada com base em pressupostos bastante restritivos 5 e fortes simpli‑ ficações e abstrações, só poderia ser aplicada em economias atomizadas, ou seja, em uma sociedade cujos agentes (demandantes e ofertantes) sejam tão numerosos e pequenos em relação ao mer‑ cado que não teriam nenhum poder sobre ele. Qualquer situação distinta dessa implicaria uma teoria inconsistente e incompleta. 6 Somadas a isso, a hipótese de individualismo metodológico e as explicações dos fenômenos econômicos a partir dos indivíduos re‑ sultam em grande simplificação e abstrações, uma vez que as partes devem ser consideradas como dadas. Para Hodgson (1999), apesar de o recurso da redução ser, algumas vezes, inevitável, ne‑ cessário e desejável, o completo reducionismo é impossível, uma vez que as partes se constituem e se condicionam.
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Nesse sentido, Arnsperger & Varoufakis (2006) consideram que a abordagem neoclássica vem sofrendo importantes e consi‑ deráveis modificações naqueles que foram considerados os seus meta ‑axiomas. Tais modificações foram empreendidas com o obje‑ tivo de lidar com hipóteses mais realistas, e “cobrir” certas lacunas oriundas de suas hipóteses, que, como já fora dito anteriormente, são consideradas simplificadoras, reducionistas e distantes da rea‑ lidade. Assim, enquanto para os axiomas do individualismo e do instrumentalismo metodológico foram verificadas modificações importantes, a hipótese de equilíbrio metodológico permaneceu intacta. Alguns modelos neoclássicos mais atuais passaram a lidar com a existência de diversidade entre os indivíduos, abrindo mão da hi‑ pótese de indivíduos quase idênticos suposto pela abordagem neo‑ clássica tradicional. Além disso, nesses novos modelos, a estrutura, ou o todo, passou a ser entendida dentro do seu contexto social, com esses modelos considerando que o indivíduo atua sobre a so‑ ciedade, e que a sociedade também tem influência sobre o indi‑ víduo. Em função disso e em concordância com Arnsperger & Varou‑ fakis (2006), é possível afirmar que não é mais correto identificar a economia neoclássica, a partir da hipótese de existência de agentes perfeitamente racionais, uma vez que se verifica o surgimento de diversos modelos neoclássicos que passaram a lidar com as hipó‑ teses de informação imperfeita e racionalidade limitada, que, por sua vez, se baseiam na premissa de que os indivíduos não são ca‑ pazes de captar e processar toda a informação disponível. Entre‑ tanto, vale notar que, apesar desses avanços, os quais buscaram “cobrir” diversas lacunas oriundas de suas hipóteses simplifica‑ doras e reducionistas, os autores observam que essa teoria ainda continua sustentada pelo e com fortes raízes no individualismo me‑ todológico. Em alguns casos, a hipótese de maximização de utilidade também sofreu afrouxamento, tendo em vista o fato de que a supo‑
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sição de que os indivíduos maximizam alguma função de utilidade o tempo todo é bastante restritiva. Consequentemente, os in‑ divíduos passaram a ser modelados “como se” (“ as if ”) 8 maximi‑ zassem suas utilidades. Arnsperger & Varoufakis (2006) apontam, ainda, para o distanciamento das hipóteses de preferências fixas e exógenas até então consideradas e a aproximação, por parte de al‑ guns economistas neoclássicos, de uma literatura das preferências endógenas. Por fim, vale realçar o papel que a teoria dos jogos passou a de‑ sempenhar na teoria econômica, dado que tais recursos permitiram algum avanço em relação à abordagem neoclássica tradicional. Isso porque, de maneira diferente da abordagem neoclássica tradicional, em que as preferências são separadas da estrutura de interação na qual os agentes estão envolvidos e estão ligadas apenas aos resul‑ tados, para a teoria dos jogos, os agentes formam convicções sobre as expectativas dos outros, e estas dependem da estrutura social e histórica na qual está embutida (Arnsperger & Varoufakis, 2006). Uma vez feita essa breve apresentação dos principais pontos críticos da teoria neoclássica, busca‑se, na próxima seção, dar con‑ tinuidade a este trabalho, mais especificamente no que tange ao tratamento oferecido por essa teoria acerca do processo inovativo.