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Gestão de Resíduos de Embalagens de Vidro em Portugal: Análise de Cenários, Notas de estudo de Desenho

Uma dissertação prática sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos, especificamente em relação à categoria de embalagens de vidro, no contexto de portugal continental. O texto aborda a importância da produção de vidro estrangeiro, a opção descentralizada e otimizada de processamento, e as variáveis que mais impactam no valor de retorno dos cenários estudados. Além disso, são discutidos os custos de aterro interno e externo, e a importância de garantir que o projeto seja englobado sob a alçada de uma tmb ou entidade semelhante.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Desenho e Planeamento do Sistema Logístico de uma
Unidade de Recuperação de Vidro de Embalagem
Inês de Castel-branco e Almeida Bernardo
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia e Gestão Industrial
Orientadora: Professora Doutora Tânia Rodrigues Pereira Ramos
Júri
Presidente: Professora Doutora Ana Paula Ferreira Dias Barbosa Póvoa
Orientadora: Professora Doutora Tânia Rodrigues Pereira Ramos
Vogal: Professor Doutor Nelson Fernando Chibeles Pereira Martins
Novembro, 2019
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Desenho e Planeamento do Sistema Logístico de uma

Unidade de Recuperação de Vidro de Embalagem

Inês de Castel-branco e Almeida Bernardo

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia e Gestão Industrial

Orientadora: Professora Doutora Tânia Rodrigues Pereira Ramos

Júri

Presidente: Professora Doutora Ana Paula Ferreira Dias Barbosa Póvoa

Orientadora: Professora Doutora Tânia Rodrigues Pereira Ramos

Vogal: Professor Doutor Nelson Fernando Chibeles Pereira Martins

Novembro, 2019

i

Resumo Com as crescentes preocupações ambientais e imposição de ambiciosas metas no que toca à reciclagem na União Europeia, cada país é obrigado a investir em novas formas de recuperar materiais recicláveis. Com os valores da reciclagem de vidro a ficarem sistematicamente aquém dos objetivos estabelecidos, a Sociedade Ponto Verde avançou com o investimento num projeto inovador de uma unidade de recuperação de vidro de embalagem, que será a responsável por resgatar de aterro mais de 150.000 toneladas de vidro por ano. Foi neste contexto que surgiu esta dissertação, que visa fazer o planeamento logístico de todo o sistema associado a essa mesma unidade, explorando diferentes sistemas logísticos com vista a alavancar a sua viabilidade financeira: um sistema móvel e um sistema fixo, onde podemos ter um cenário puramente descentralizado ou um otimizado. Para dar resposta a este desafio, efetuou-se um estudo profundo sobre a gestão de resíduos em Portugal e contexto do problema. Posto isto, elaborou-se uma revisão da literatura com o objetivo de identificar abordagens relevantes a ser consideradas na resolução do problema, onde se estudou diferentes sistemas logísticos e modelos de localização e de definição de rotas. Após este capítulo, apresenta-se uma descrição dos dados essenciais e seguidamente, apresenta-se o modelo de localização e dimensionamento elaborado. No capítulo subsequente, são apresentados e comentados os resultados obtidos em cada cenário. Por fim, explicitam-se as conclusões principais, tecem-se as recomendações para os futuros passos e apresentam-se os pontos de estudo futuro que possam contribuir para a resolução do problema de recuperação de vidro. Palavras-Chave: Logística Inversa, Network Design, Localização de Infraestruturas, Sistemas Logísticos.

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Agradecimentos Depois de uma longa caminhada na realização da presente dissertação, não poderia de forma alguma, prosseguir sem aproveitar a oportunidade para agradecer a todos aqueles que de algum modo contribuíram para a sua concretização. À minha orientadora, a Professora Tânia Ramos, por toda a disponibilidade, dedicação e orientação ao longo da elaboração desta dissertação. Obrigada também pela paciência, e pelos inúmeros e valiosos conselhos, sugestões e críticas, em particular na reta final. A todos os envolvidos no projeto Mobile-Pro-U, em particular à Professora Teresa Carvalho e Professora Ana Póvoa, por se mostrarem sempre disponíveis para ajudar, para discutir acerca de questões de sustentabilidade e por terem contribuído com o seu conhecimento para tornar esta dissertação o mais completa possível. À Carolina e à Raquel, pela ajuda neste projeto, pela amizade e por serem uma fonte inesgotável de boa disposição, mesmo nas situações mais desmotivantes e insólitas. A todos os amigos que tive a sorte de conhecer durante a minha formação, em particular ao Miguel, Ricardo, Pedro, Filipa e Inês, por me motivarem nas alturas mais críticas e por sempre terem estado do meu lado. Sem vocês nada no meu percurso académico teria sido o mesmo. E ao Pedrosa, Emanuel e Rocha, pela companhia ao longo do mestrado e por me ensinarem a encarar as coisas com uma perspetiva diferente. À Bárbara e ao José, que me acompanham e aconselham há 15 anos e que são parte intrínseca da pessoa que sou. A toda a minha família, em particular à minha avó, por me terem proporcionado todas as oportunidades para a concretização desta dissertação e pelo apoio incondicional em todos os momentos. Ao Bruno, pela sua presença na minha vida, com tudo o que isso significa.

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Índice Resumo ........................................................................................................................................ i Abstract ....................................................................................................................................... ii Agradecimentos......................................................................................................................... iii Índice de Figuras ....................................................................................................................... vi Índice de Tabelas ...................................................................................................................... vii

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Índice de Figuras Figura 1: Hierarquia Europeia na gestão de resíduos (fonte: adaptado de (Comissão Europeia, 2017)) ........................................................................................................................................... 1 Figura 2: Panorama Português em relação ao cumprimento de metas de reciclagem de vidro (fonte: (APA, 2019)) ................................................................................................................................. 3 Figura 3: Etapas do desenvolvimento da dissertação (fonte: autor) ............................................... 5 Figura 4: Principais agentes envolvidos na gestão de resíduos em Portugal (fonte: (Máximo, 2013)) ................................................................................................................................................... 11 Figura 5: Destino dos Resíduos de Embalagem em Portugal (fonte: (Dias, 2015))....................... 12 Figura 6: Ciclo das embalagens em Portugal (fonte: (Novo Verde, 2019)) ................................... 13 Figura 7: Processos nas TMB (fonte: autor) ................................................................................ 15 Figura 8: Ciclo de vida das embalagens de vidro (fonte: autor) .................................................... 16 Figura 9: RecGlass, esquema em A e foto do protótipo em B (fonte: (Dias, 2015)) ...................... 19 Figura 10: Diagrama associado ao equipamento RecGlass (fonte: (Dias, 2015)) ......................... 20 Figura 11: Sistema Centralizado (à esquerda) e Descentralizado (à direita) (fonte: (Truong, 2016)) ................................................................................................................................................... 25 Figura 12: Representação esquemática de tipos de problemas comuns na área da logística (fonte: autor) .......................................................................................................................................... 32 Figura 13: Organização das tarefas no Projeto Mobile Pro-U (fonte: projeto Mobile Pro-U) .......... 38 Figura 14: Localização das TMBs em Portugal Continental (fonte: autor) .................................... 42 Figura 15: Esquema da representação da unidade móvel Mobile Pro-U (fonte: projeto Mobile Pro- U) ............................................................................................................................................... 43 Figura 16: Esquema da Unidade Móvel Mobile-Pro-U (fonte: projeto Mobile Pro-U)..................... 44 Figura 17: Representação visual dos cenários a estudar ao longo da dissertação ....................... 44 Figura 18: Árvore de cenários a estudar no Sistema Fixo ............................................................ 56 Figura 19: Árvore de cenários estudados no Sistema Fixo, com representação visual dos cenários com prejuízo ou lucro .................................................................................................................. 61 Figura 20: Descrição detalhada do cenário 1.1.m ........................................................................ 63 Figura 21: Descrição detalhada do cenário 2.1.t .......................................................................... 65 Figura 22: Árvore de cenários fazendo variar valores no cenário otimizado 2.1.t, assumindo os mesmos valores que nos cenários descentralizados ................................................................... 66 Figura 23: Representação visual dos fluxos de TMBr nos cenários A, à esquerda, e B, à direita. 67 Figura 24: Representação visual dos fluxos de TMBr nos cenários C, à esquerda, e D, à direita. 68 Figura 25: Variação do VAL em função do valor de retorno do vidro, cenário C ........................... 70 Figura 26: Variação do VAL em função do valor de retorno do vidro, cenário D ........................... 71 Figura 27: Variação do VAL em função do custo de aterro externo, cenário C ............................. 72 Figura 28: Variação do VAL em função do custo de aterro externo, cenário D ............................. 73 Figura 29: Variação do VAL em função do custo de aterro interno, cenário C .............................. 74 Figura 30: Variação do VAL em função do custo de aterro interno, cenário D .............................. 74 Figura 31: Variação do VAL em função da eficácia do RecGlass, cenário C ................................ 75 Figura 32: Variação do VAL em função da eficácia do RecGlass, cenário D ................................ 75

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Tabela 4: Comparação de sistemas logísticos (fonte: autor, baseado em (Simchi-Levi et al., 2007))

    1. Introdução Lista de Acrónimos.................................................................................................................. viii
    • 1.1. Enquadramento e Motivação
    • 1.2. Objetivos............................................................................................................................
    • 1.3. Metodologia da Dissertação
    • 1.4. Estrutura da Dissertação
    1. Definição do Problema
    • 2.1. Gestão de Resíduos Urbanos em Portugal
      • 2.1.1. História da gestão dos resíduos urbanos em Portugal
      • 2.1.2. Entidades gestoras dos resíduos urbanos em Portugal
    • 2.2. Gestão de resíduos de embalagem em Portugal
      • 2.2.1. Recolha Seletiva
      • 2.2.2. Recolha Indiferenciada
    • 2.3. Caso do Vidro de Embalagem
      • 2.3.1. Recicladores de vidro de embalagem em Portugal
      • 2.3.2. Potencial de recolha de vidro de embalagem em Portugal.....................................
    • 2.4. RecGlass
    • 2.5. Conclusões do capítulo
    1. Revisão de Literatura............................................................................................................
    • 3.1. Logística e Logística Inversa
    • 3.2. Desenho do Sistema Logístico
      • 3.2.1. Sistemas Descentralizados e Centralizados
      • 3.2.2. Sistemas Móveis
        • 3.2.2.1. Modelos de Vehicle Routing Problem
        • 3.2.2.2. Scheduling
    • 3.3. Conclusões do capítulo
    1. Recolha de dados no âmbito do Projeto Mobile-Pro-U
    • 4.1 Breve descrição do Projeto Mobile-Pro-U
    • 4.2. Resultados da Tarefa 1 – Caracterização do Rejeitado Pesado........................................
    • 4.3. Resultados da Tarefa 2 – Projeto Mecânico
    • 4.4. Tarefa 3 – Planeamento Logístico
    1. Desenvolvimento do Modelo de Localização e Dimensionamento para Sistema Fixo......
    • 5.1. Formulação Matemática
    1. Resultados para o Sistema Fixo v
    • 6.1. Apresentação dos cenários do Sistema Fixo
    • 6.2. Dados utilizados...............................................................................................................
    • 6.3. Resultados globais Cenário 1 vs Cenário
    • 6.4. Resultados Cenário 1 - Rede Descentralizada
    • 6.5. Resultados Cenário 2 - Rede Otimizada
    • 6.6. Análises de Sensibilidade.................................................................................................
    • 6.7. Conclusões do Capítulo
    1. Conclusões e Trabalho Futuro
  • Referências
  • Anexos
  • Tabela 1: Lista de SGRUs em Portugal Continental (fonte: APA)................................................. Índice de Tabelas
  • 2014)) Tabela 2: Importações e Exportações de casco de vidro em Portugal, em toneladas (fonte: (INE,
  • Tabela 3: Retomadores de vidro em Portugal (fonte: autor)
  • Tabela 5: Resultados das TMBs estudadas na Tarefa 1 do projeto Mobile-Pro-U
  • Tabela 6: Lista das restantes TMBs a serem consideradas no projeto Mobile Pro-U....................
  • Tabela 7: Custo do Investimento Inicial no diagrama
  • Tabela 8: Resultados da análise preliminar ao sistema móvel
  • longo dos próximos 10 anos........................................................................................................ Tabela 9: Estimativa de percentagem de vidro presente nos Resíduos Urbanos Indiferenciados ao
  • Tabela 10: Sumário dos valores dos parâmetros utilizados no modelo
  • Tabela 10: Matriz de distâncias TMBs/Instalações, em km
  • Tabela 12: Comparação entre a base do modelo para cenários descentralizado e otimizado
  • Tabela 13: Análise do cenário de rede descentralizada
  • Tabela 14: Análise do cenário de rede otimizada
  • rede descentralizada. Tabela 15: Análise do cenário de rede otimizada, nas mesmas condições de modelo de negócio da
  • Tabela 16: Comparação entre os cenários C e D
  • Tabela 17: Resumo dos valores a variar na análise de sensibilidade e seu valor original
  • Tabela 18: Análise de sensibilidade ao valor de retorno do vidro recuperado, no cenário C
  • Tabela 19: Análise de sensibilidade ao valor de retorno do vidro recuperado, no cenário D
  • Tabela 20: Análise de sensibilidade ao custo de aterro externo, no cenário C
  • Tabela 21: Análise de sensibilidade ao custo de aterro externo, no cenário D
  • Tabela 22: Análise de sensibilidade ao custo de aterro interno, no cenário C
  • Tabela 23: Análise de sensibilidade ao custo de aterro interno, no cenário D
  • Tabela 24: Análise de sensibilidade à eficácia do equipamento RecGlass, no cenário C
  • Tabela 25: Análise de sensibilidade à eficácia do equipamento RecGlass, no cenário D

1. Introdução Este capítulo inicial tem como objetivo dar a conhecer, de forma geral, o problema a resolver. Assim, na secção 1.1 contextualiza-se o problema a ser abordado nesta dissertação, bem como as motivações por detrás da escolha do tema. Na secção 1.2 descrevem-se os diferentes objetivos para a dissertação, na secção 1.3 esclarece-se a metodologia seguida na execução deste documento e, por último, na secção 1.4 apresenta-se a estrutura deste documento, para que o leitor se sinta guiado na leitura. No fim deste capítulo, o leitor terá uma visão global, ainda que não aprofundada, sobre a temática que se irá abordar ao longo desta dissertação de conclusão de mestrado. 1.1. Enquadramento e Motivação O aumento constante da população humana, as migrações para os centros urbanos, os hábitos de consumo potenciados por indústrias em expansão e a falta de investimento no planeamento de eliminação de resíduos urbanos são alguns dos principais problemas que levam à existência da avultada quantidade de resíduos mal geridos, causando problemas por todo o mundo (Vergara e Tchobanoglous, 2012). Considera-se que todas as casas e estabelecimentos comerciais ou de serviços são produtores de resíduos domésticos (Comissão Europeia, 2014). Assim, devido ao elevado número de produtores e à diversidade deste tipo de resíduos, a gestão dos resíduos urbanos torna-se um dos problemas mais complexos do século XXI. Decorre daí a necessidade de investir em soluções, pois a falta de capacidade para gerir a situação atual terá consequências avassaladoras. De acordo com a legislação europeia, mais concretamente a diretiva 2008/98/CE (European Council, 2008), a hierarquia de passos a considerar na gestão de resíduos (representada na figura 1) começa pela prevenção e redução dos resíduos, seguida de reutilização dos mesmos, reciclagem e valorização orgânica, recuperação ou valorização energética e, por fim, a eliminação que, regra geral, se traduz na solução de aterro sanitário (confinamento técnico) ou incineração. Figura 1 : Hierarquia Europeia na gestão de resíduos (fonte: adaptado de (Comissão Europeia, 2017)) mais desejável menos desejável

Devido à baixa lucratividade, a reciclagem e recuperação de materiais nem sempre são as opções eleitas, pelo que milhões de toneladas acabam em aterro todos os anos (Renou et al. , 2008; APA, 2017c), ignorando-se frequentemente os impactos dos aterros a longo prazo. Tomando como exemplo os restantes países na União Europeia, Portugal tem custos de aterro relativamente baixos (CEWEP, 2017), uma vez que a densidade populacional não é muito alta (Index Mundi, 2019), o que explica parcialmente porque se investe nos aterros, enquanto países como a Dinamarca investem em incineração (Janus et al ., 2014). No entanto, reverter todos os impactos negativos causados por aterros sanitários comportará custos muito elevados, frequentemente desprezados. Ações como a requalificação desses terrenos e tratamento das águas lixiviadas são obrigatórias, embora não revertam o impacto negativo dos milhões de toneladas de materiais não biodegradáveis a poluir o planeta (Danthurebandara et al. , 2013). Para além das problemáticas relacionadas com poluição, existe também uma falsa ideia de abundância de recursos, que tem vindo a ser desmascarada em variadas publicações (European Comission, 2010). No caso da Europa e, em particular, de países pequenos como Portugal, torna-se imprescindível dar primazia à preservação de recursos primários naturais. Investir na recuperação de resíduos em aterro contribui para a redução de desperdício de matérias primas, minorando também a poluição que se infiltra até na cadeia alimentar, seja através de águas, solo ou atmosfera contaminada (El-salam e Ismail, 2015). Sendo a questão da gestão de resíduos urbanos uma temática prioritária a nível mundial, a União Europeia propõe metas ambiciosas para os países que dela fazem parte (APA, 2017c), e diretivas bastante claras em relação à definição de resíduos e suas categorias. Para o consumidor comum, a categoria de resíduos domésticos urbanos será a que mais diretamente lhe dirá respeito e, em particular, a categoria dos resíduos de embalagens, que tem visto um aumento considerável devido à cultura da conveniência acima de tudo. Relativamente aos resíduos de embalagens, existe uma diretiva sobre a “ Extended Producer Responsibility” (Diário da República, 2017) para que se garanta que esses resíduos são encaminhados devidamente, para evitar a sua deposição em aterros_._ Assim, o produtor que coloca os produtos no mercado tem de garantir a recolha desse produto. Uma vez que não é viável manter o controlo sobre o destino de cada embalagem, os produtores delegam esta responsabilidade numa entidade gestora como a Sociedade Ponto Verde, que fará a ponte para os municípios e consumidores finais. A Sociedade Ponto Verde (SPV) tem sido, em Portugal (desde 1996), um dos grandes responsáveis pela evolução positiva que se tem verificado no cumprimento destas metas a nível da reciclagem de embalagens. Através das suas atividades de sensibilização junto do público e da sua relação com as câmaras municipais por todo o país, reduziu-se consideravelmente as toneladas de resíduos em aterro, através do aumento das quantidades de resíduos reciclados (APA, 2018b). A SPV tem também investido em projetos inovadores que auxiliem na missão de aumentar a reciclagem no país e na evolução para uma “Economia Circular”, uma das prioridades atuais da União Europeia, muito interligada a uma filosofia de Zero Waste (European Comission, 2010) que só poderá ser atingida com a recuperação de materiais em todas as fontes possíveis.

alavancar a viabilidade financeira do RecGlass, através do estudo de diferentes sistemas logísticos associados à implementação do equipamento: dois cenários de sistema fixo, sendo estes o cenário descentralizado e o cenário otimizado, e um cenário de sistema móvel. No final, pretende-se apresentar uma proposta de sistema logístico que reduza os custos associados ao sistema e que permita que se processe o máximo de toneladas de resíduos possível, atingindo um maior potencial absoluto de recuperação de vidro de embalagem. A resolução do desafio tem início com a definição dos três grandes cenários logísticos a analisar e comparar: a descentralização do equipamento, centralização e o cenário da criação de uma unidade móvel, denominada Mobile-Pro-U. No corpo da dissertação de mestrado, pretende-se avaliar estas 3 alternativas do ponto de vista de exequibilidade logística e económica. A opção descentralizada consiste na instalação do diagrama de recuperação de vidro nas várias TMBs do país, ou pelo menos, nas que tenham dimensão relevante e se encontrem em estado estacionário. O sistema otimizado visa determinar qual o número de diagramas ótimo a instalar e as respetivas localizações, de forma a potenciar a viabilidade económica. Este cenário otimizado significará, provavelmente, uma centralização dos equipamentos num reduzido número de localizações, para onde se redirecionará o rejeitado pesado do resto do país. Os cenários descentralizado e otimizado implicam que o equipamento esteja fixo nas localizações. O sistema móvel é mais inovador, e implica inserir o diagrama num camião e ter a unidade móvel (Mobile Pro-U) a deslocar-se periodicamente às várias TMBs. Espera-se desenvolver modelos matemáticos que permitam auxiliar a procura da melhor configuração possível para o sistema logístico, cuja viabilidade financeira será estudada. Visto que a implementação deste diagrama de processos, que inclui o equipamento RecGlass, se trata de um investimento, os modelos considerarão que o objetivo é a maximização do Valor Atualizado Líquido (VAL), denominado Net Present Value (NPV) na língua inglesa, e terão em conta as condicionantes já existentes, como a localização atual das várias TMBs e as quantidades de resíduos indiferenciados que processam. 1.3. Metodologia da Dissertação Nesta secção apresenta-se a metodologia a ser adotada nesta dissertação, com vista a atingir os objetivos já definidos. A fase inicial da caracterização do problema é crucial, até do ponto de vista da definição dos objetivos deste trabalho, que só podem ser definidos através de profunda compreensão de toda a problemática. Entender o estado atual da gestão de resíduos de embalagens em Portugal, incluindo políticas nacionais e entidades envolvidas, e como se chegou ao panorama atual é a chave para que se possa atingir os objetivos e propor soluções viáveis. Nesta fase foi essencial o contacto regular com várias entidades, como a Sociedade Ponto Verde, na qualidade de entidade gestora de resíduos de embalagem, a Maltha, na qualidade de retomadora de vidro de embalagem, e nove estações de tratamento mecânico-biológico. Nas TMBs houve a oportunidade de visitar as instalações e recolher informações de caráter logístico sobre o funcionamento das mesmas e possíveis condicionantes

relevantes para este projeto. Um estudo mais aprofundado sobre o RecGlass também foi feito, com o apoio de alunos bolseiros de mecânica do Instituto Superior Técnico, para melhor entender as suas potencialidades e limitações. A segunda fase compreende a revisão da literatura existente acerca das temáticas mais relevantes à resolução do problema definido após o estudo realizado na fase anterior. Aqui reforça-se os alicerces de conhecimento, alguns obtidos ao longo do mestrado, em relação a temas relacionados com sistemas logísticos descentralizados, centralizados e unidades móveis, e o estudo de modelos existentes de location , vehicle routing problems (VRP) e scheduling , que se podem unir em modelos integrados de location inventory routing problems. A pesquisa de artigos científicos foi realizada sobretudo em várias bibliotecas online e websites como o ResearchGate , ScienceDirect e Google Schoolar , utilizando conceitos chave como facility location problem, vehicle routing problem , scheduling, centralized network design , inventory routing problems , cenários mobile , entre outros. Paralelamente, foram também consultados diversos livros científicos usando as mesmas palavras-chave. Finalizada a fase do estudo teórico do problema, deu-se início à fase de desenvolvimento da possível solução do mesmo, a qual seguiu a metodologia descrita na figura 3. Figura 3 : Etapas do desenvolvimento da dissertação (fonte: autor) Nesta terceira fase da dissertação, primeira fase em termos de desenvolvimento da solução, efetuou-se a recolha dos dados, quer junto das entidades interessadas no projeto, quer junto dos responsáveis pelas restantes tarefas do projeto Mobile-Pro-U. Para cada cenário, o primeiro passo será a recolha e consolidação de toda a informação necessária, em particular logística e financeira. Informação como quantidades de resíduos a processar, localização das estações e distâncias, informação financeira, como os custos que cada estação tem associados aos seus aterros, máquinas e transporte, por tonelada de resíduos, mas também informação sobre o mercado da reciclagem de embalagens de vidro, nomeadamente lucros e custos associados. Também os custos associados ao diagrama que inclui o RecGlass serão contabilizados, e aqui utilizar-se-ão os dados de (Dias, 2015), que recolheu informação junto de fornecedores acerca dos materiais e maquinaria necessários para o diagrama, juntamente com dados mais atualizados fornecidos pelas teses a serem desenvolvidas neste momento por alunos do departamento de mecânica. Dar-se-á primazia aos dados recolhidos diretamente junto das entidades abordadas, uma vez que muitas das TMBs não se encontram num

Capítulo 3: Revisão de Literatura Após identificação do problema, procede-se à revisão da literatura, onde são explorados os conceitos relacionados com centralização e descentralização, unidades móveis, modelos de localização, VRP , scheduling e location inventory routing problems. Pretende-se adquirir o conhecimento necessário para desenvolver modelos para resolver o desafio previamente exposto. Capítulo 4 : Recolha de dados no âmbito do Mobile-Pro-U Apresentam-se os dados recolhidos ao longo das várias tarefas do Projeto Mobile-Pro-U, explica-se a contribuição e objetivo de cada uma das tarefas e apresentam-se os três cenários a analisar nesta dissertação. Conclui-se com a análise ao sistema móvel. Capítulo 5 : Desenvolvimento do Modelo de Localização e Dimensionamento para Sistema Fixo Apresentam-se os pressupostos assumidos e a formulação matemática para o problema de localização e dimensionamento a ser utilizado nos dois cenários de sistema fixo, o cenário descentralizado e o cenário otimizado. Descrevem-se todas as variáveis, parâmetros, equações e restrições. Capítulo 6 : Resultados da Rede de Ponto Fixo Apresentam-se os resultados obtidos para os dois cenários de sistema fixo, o cenário de rede descentralizada e o cenário de rede otimizada, bem como as variações mais relevantes dos mesmos. Efetua-se também uma importante análise de sensibilidade aos cenários mais promissores, para testar a sua robustez e entender quais são as variáveis chave para que os cenários tenham sucesso. Retiram- se as conclusões relativas aos dois cenários de sistema fixo. Capítulo 7 : Conclusões e Trabalho Futuro Por último, são identificadas as conclusões mais relevantes de todo o trabalho, abordam-se as limitações encontradas, tanto a nível de desenvolvimento dos cenários como a nível do contexto do problema. Discute-se o melhor curso de ação face aos resultados obtidos e sugerem-se futuros tópicos de estudo nesta área.

2. Definição do Problema Com este capítulo dá-se a conhecer ao leitor, de forma detalhada, o problema em estudo nesta dissertação e sua contextualização. Assim, na secção 2.1 apresenta-se a história da gestão de resíduos sólidos urbanos em Portugal, bem como a hierarquia atual das entidades responsáveis por essa mesma gestão. A secção 2.2 foca-se na situação específica da gestão de resíduos de embalagem, diferenciando as situações de recolha seletiva e indiferenciada dos resíduos e, para cada tipo de recolha, aborda-se o papel dos vários intervenientes, como o caso das estações de tratamento mecânico-biológico. Na secção 2.3, dá-se destaque ao caso particular do vidro de embalagem, onde se trata da questão do processo da sua retoma, apresentando-se os players no mercado e os seus interesses no processo de recuperação do vidro de embalagem. Por fim, na secção 2.4, entra-se em detalhe acerca do funcionamento do RecGlass e do diagrama de processos envolvente, e como este pode solucionar alguns dos problemas discutidos ao longo do capítulo. Conclui-se com uma breve reflexão do desafio apresentado. 2.1. Gestão de Resíduos Urbanos em Portugal Em Portugal, a definição em vigor de resíduos urbanos é "resíduo proveniente de habitações, bem como outro resíduo que, pela sua natureza ou composição, seja semelhante ao resíduo proveniente de habitações" (Comissão Europeia, 2014). Ou seja, são resíduos urbanos os resíduos de: “a) agregados familiares (resíduos domésticos), b) pequenos produtores de resíduos semelhantes (produção diária inferior a 1.100 l) c) grandes produtores de resíduos semelhantes (produção diária igual ou superior a 1.100 l)”. Os grandes produtores de resíduos têm a responsabilidade de tratar do encaminhamento dos seus resíduos para os órgãos devidos (respeitando as normas de transporte, que podem ser consultadas no site da Agência Portuguesa do Ambiente). No caso de agregados familiares e pequenos produtores, esta gestão de resíduos está sob a alçada dos municípios. É importante ter em consideração a quantidade e diversidade destes resíduos (muitos são de grande dimensão e contribuem para grande parte das toneladas em aterro, o caso dos chamados “monstros”, como o caso de eletrodomésticos) e que, nem todos são encaminhados da melhor forma. A recolha dos resíduos urbanos engloba três fases básicas: a recolha, o transporte e a deposição em destino final, sendo que esta, atualmente, já engloba quase sempre triagem e tratamento dos resíduos. 2.1.1. História da gestão dos resíduos urbanos em Portugal Até ao virar do milénio, a gestão de resíduos sólidos urbanos em Portugal baseava-se na recolha de resíduos indiferenciados e sua deposição imediata em lixeiras, sem qualquer valorização dos resíduos ou controlo sobre as lixeiras e seu impacto ambiental. Motivo pelo qual em 1996, em Portugal, existiam

2.1.2. Entidades gestoras dos resíduos urbanos em Portugal Pode dizer-se que um Sistema de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU) é uma estrutura de meios humanos, técnicos e infraestruturas, montada para gerir os Resíduos Urbanos (RU). Atualmente, existem 23 SGRU, cobrindo todo o território continental, 12 multimunicipais e 11 intermunicipais (ver tabela 1), com autonomia para lidar com os resíduos urbanos na sua área de ação, verificando-se muitas vezes intercooperação para lidar com excesso de resíduos face ao esperado, ou com determinado tipo de resíduos. Tabela 1 : Lista de SGRUs em Portugal Continental (fonte: APA) Multimunicipais Intermunicipais Valorminho Resulima Braval Resinorte Suldouro Valorlis Ersuc Resiestrela Valnor Valorsul Amarsul Algar Ambisousa Lipor Resíduos do Nordeste Ecobeirão Resitejo Ecolezíria Tratolixo Ambilital Gesamb Resialentejo Amcal Estes 23 sistemas agem de acordo com as políticas nacionais definidas pelo Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT) que, por sua vez, define as políticas a seguir em Portugal, com base nas diretivas da União Europeia. Sob a alçada do MAMAOT estão as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), cujo objetivo é executar, fiscalizar e avaliar a implementação das políticas relativas a ambiente e ordenamento do território ao nível regional, prestando apoio aos SGRUs. O serviço de recolha e gestão dos resíduos sobrevive também devido à contribuição de todos os cidadãos e, nesse sentido, foi criada a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), que visa garantir tarifários socialmente aceitáveis, defender os direitos dos consumidores dos sistemas (municipais e intermunicipais) e, por outro lado, assegurar a sustentabilidade económica destas entidades. Estes SGRUs agem de forma independente, daí a necessidade de uma entidade a nível nacional que as acompanhe a todas. O MAMAOT delega assim esta responsabilidade de gerir os resíduos a nível nacional na APA, que tem como missão “propor, desenvolver e acompanhar a gestão integrada e participada das políticas de ambiente e de desenvolvimento sustentável, de forma articulada com outras políticas sectoriais e em colaboração com entidades públicas e privadas que concorram para o mesmo fim, tendo em vista um elevado nível de proteção e de valorização do ambiente” (APA, 2019).

A figura 4 pretende demonstrar a cadeia de delegação de responsabilidade que acabou de ser descrita. Figura 4 : Principais agentes envolvidos na gestão de resíduos em Portugal (fonte: (Máximo, 2013)) É importante realçar que esta dissertação, pelo seu carácter prático, se focará especificamente no fluxo de resíduos sólidos urbanos, em particular na categoria de embalagens genéricas de vidro, e apenas em Portugal Continental, por uma questão de simplificação do estudo, uma vez que as quantidades de resíduos processados nas ilhas não são relevantes face às quantidades do continente (de 4.745 para 130, em milhares de toneladas (APA, 2017c)). 2.2. Gestão de resíduos de embalagem em Portugal Dada a enorme diversidade presente nos resíduos urbanos, a gestão encontra-se dividida por categorias, sendo uma delas os resíduos de embalagem, que podem ser recolhidos de duas formas:

  1. recolha seletiva, através de sistemas de ecopontos ou porta-a-porta, em que o consumidor final separa as embalagens pelos diferentes tipos de material (vidro, papel/cartão e plástico/metal) e os deposita em contentores específicos;
  2. recolha indiferenciada, onde o consumidor coloca todos os resíduos nos contentores indiferenciados, que serão encaminhados para uma estação de tratamento mecânico-biológico, onde os resíduos passarão por vários processos, como se verá adiante. A figura 5 pretende clarificar os possíveis fins dos resíduos de embalagem, consoante o fluxo de resíduos em que se encontram - urbano ou não urbano - e o tipo de recolha que sofrem, seletiva ou indiferenciada.