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Guias e Dicas
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Imunologia basica para iniciantes, Manuais, Projetos, Pesquisas de Medicina

Imunologia para iniciantes em medicina

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2023

Compartilhado em 03/07/2023

rogerio-filho-24
rogerio-filho-24 🇧🇷

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CB Virtual 5

Universidade Federal da Paraíba

Universidade Aberta do Brasil

UFPB VIRTUAL

COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS À DISTÂNCIA Caixa Postal 5046– Campus Universitário - 58.051-900 – João Pessoa Fone: 3216-7781 e 8832- Home-page: portal.virtual.ufpb.br/biologia

UFPB

Reitor

Rômulo Soares Polari

Pró-Reitor de Graduação

Valdir Barbosa Bezerra

UFPB Virtual

Coordenador

Lucídio dos Anjos Formiga Cabral

Centro de Ciências Exatas e da Natureza

Diretor

Antônio José Creão Duarte

Departamento de Sistemática e Ecologia

Chefe

Juraci Alves de Melo

Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas à Distância

Coordenador

Rafael Angel Torquemada Guerra

Coordenação de Tutoria

Lucilene Gomes da Silva Medeiros

Coordenação Pedagógica

Isolda Ayres Viana Ramos

Coordenação de Estágio

Paulo César Geglio

Apoio de Designer Instrucional

Luizângela da Fonseca Silva

Artes, Design e Diagramação

Romulo Jorge Barbosa da Silva

Apoio Áudio Visual

Edgard Adelino Ruiz Sibrão

Ilustrações

Christiane Rose de Castro Gusmão

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

A ciência Imunologia estuda os mecanismos de defesa dos seres vivos responsáveis pela eliminação dos agentes causadores de doenças como bactérias, vírus, fungos, parasitos e substâncias estranhas que após invasão do organismo podem causar danos teciduais. Com o grande número de descobertas na área da Imunologia, atualmente esta ciência apresenta várias subáreas que permitem o estudo mais profundo da imunidade.

  • A imunologia celular estuda as diferentes populações de células envolvidas nas respostas imunes como as células fagocitárias e os linfócitos conhecidos como as principais células da resposta imunológica;
  • A imunoparasitologia estuda os mecanismos de defesa contra os parasitos helmintos e protozoários. Devido ao avanço deste ramo da Imunologia algumas vacinas vêm sendo desenvolvidas contra a da doença leishmaniose;
  • A imunologia tumoral tenta elucidar como as respostas imunes controlam e eliminam células em transformação e cancerígenas. Atualmente existem algumas imunoterapias para o câncer baseadas no uso de anticorpos, células manipuladas em laboratório e substâncias produzidas por células da resposta imune, as citocinas;
  • Na imunofarmacologia estudam-se os efeitos de novas substâncias com o potencial de regular a resposta imunológica. Um exemplo clássico da contribuição desta subárea para a saúde pública foi a introdução dos medicamentos imunossupressores utilizados em pacientes transplantados;
  • O estudo da imunogenética vem permitindo identificar os genes responsáveis por doenças importantes que afetam o sistema imunológico como a artrite reumatóide (AR), o lúpus eritematoso sistêmico (LES) e o diabetes do tipo I;
  • Os mecanismos da auto-imunidade têm sido alvo de muita investigação pelos imunologistas. Há inúmeras doenças do sistema imune que podem causar danos ao organismo como o diabetes do tipo I, eclampsia, vasculites e anemias auto-imunes além da AR e LES, citados acima;
  • As doenças alérgicas também são de grande interesse dos imunologistas. Centenas de milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de doença alérgica. A asma, rinosinusite alérgica, urticárias e choque anafilático são alguns exemplos.
  • Na imunologia clínica, o uso de várias técnicas de laboratório como o ensaio imunoenzimático (ELISA) e a separação de células ativada por fluorescência (FACS) permitem o diagnóstico preciso das doenças permitindo o início da terapêutica. Como podemos observar o estudo da ciência Imunologia é de fundamental importância para a formação dos profissionais da área biológica uma vez que as interações entre os microorganismos e substâncias estranhas causadores de doenças com os organismos vivos (ex. seres humanos), a instalação da doença ou manutenção da homeostasia dependem da participação do sistema imunológico.

Este livro apresenta os mecanismos da imunidade desde aqueles mais simples – imunidade intata – até aqueles mais sofisticados como a resposta imune adaptativa.

Figura 2. Hapteno Observe os determinantes haptênicos ou antigênicos, estruturas que se ligam em proteínas próprias formando o complexo hapteno-carreador que apresenta elevado peso molecular. O hapteno não ativa o sistema imunológico isoladamente.

Fonte: http://pathmicro.med.sc.edu/Portuguese/chap3fig3web.gif

Os Ag estranhos podem ser classificados de acordo com a natureza em biológicos (microorganismos e transplantes não compatíveis) e não biológicos como metais (ex. níquel), talco, cosméticos, medicamentos, pigmentos entre outros. Os Ag de natureza biológica ainda podem ser classificados de acordo com a natureza química: protéicos, sacarídicos, lipídicos e nucléicos. Dependendo da natureza química do Ag, o sistema imunológico do indivíduo pode desenvolver diferentes tipos de respostas de defesa. As bactérias, vírus, fungos, parasitos helmintos e protozoários apresentam proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucléicos nas suas constituições. Os tecidos e órgãos transplantados não compatíveis também podem ser reconhecidos como estranhos pelo sistema imunológico do indivíduo receptor levando a uma reação de rejeição ou morte do órgão enxertado. Os Ags protéicos são os mais importantes para o sistema imunológico porque ativam diferentes populações de células de defesa especializadas em diferenciar os peptídeos presentes nos microorganismos causadores de doenças com aqueles do nosso organismo. Nas próximas seções deste livro estudaremos as células e como estas discriminam os peptídeos estranhos daqueles próprios também chamados Ags próprios. Os Ags sacarídicos estão presentes em diversos microorganismos patogênicos. As bactérias gram-negativas apresentam uma grande quantidade de carboidratos de superfície facilitando o reconhecimento deste Ag pelo sistema imunológico. Os lipídeos e ácidos nucléicos de microorganismos patogênicos também são reconhecidos e eliminados. O lipopolissacarídeo de membrana externa de bactéria (LPS) é um exemplo de estrutura bastante conservada em várias bactérias e que serve de referência para o reconhecimento pelo sistema imunológico. Vale a pena salientar que as proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucléicos presentes em Ag estranhos apresentam estruturas diferentes das nossas moléculas e por isso devem ser atacadas e eliminadas pelo sistema imunológico. Por outro lado, alguns indivíduos realizam respostas de defesa defeituosas contra Ag geralmente inertes para a maioria da população como o níquel presente em bijuterias, alguns pós como o talco, pigmentos presentes em alimentos, cosméticos, materiais de próteses entre outros. Nestes casos observa-se o desenvolvimento de doenças com alta prevalência das alergias e doenças auto-imunes. Tanto nos casos dos Ag de natureza biológica ou não, o sistema imunológico desenvolve diferentes estratégias de defesa para eliminação dos agentes infecciosos. Os mecanismos pelos quais o sistema imunológico do indivíduo realiza as suas funções de proteção serão discutidos mais adiante neste livro.

A primeira linha de defesa contra os Ag estranhos são as barreiras externas de defesa. A seguir discutiremos como a pele, as mucosas, pêlos, unhas, queratina e outras barreiras naturais de defesa atuam impedindo a penetração, proliferação e até mesmo realizando a eliminação dos Ag no organismo dos seres vertebrados inclusive os humanos.

2. A RESPOSTA IMUNE INATA É FORMADA POR BARREIRAS DE DEFESA

2.1 AS BARREIRAS EXTERNAS DE DEFESA

O sistema imunológico é formado por barreiras de defesa externa e interna. As respostas de defesa podem ser classificadas em respostas inatas ou adaptativas. As respostas inatas apresentam baixa especificidade pelos Ag estranhos, apresentam sempre a mesma intensidade e não têm memória o que significa que as respostas inatas não melhoram em qualidade ou intensidade a medida que o indivíduo se expõe ao mesmo Ag ao longo do tempo. Por outro lado, as respostas imunes adaptativas são capazes de discriminar diferenças estruturais mínimas entre os Ag estranhos e, portanto realizam estratégias de defesa mais sofisticadas e eficazes. Além disso, as respostas adaptativas apresentam memória imunológica que garante respostas de defesa mais rápidas e intensas permitindo a eliminação dos Ag antes mesmo do aparecimento de sinais e sintomas da doença.

Os seres vertebrados em geral apresentam barreiras externas de defesa que podem ser classificadas de acordo com a natureza: física, química e biológica (Figura 3).

2.2 BARREIRAS FÍSICAS

As barreiras físicas são representadas principalmente pela pele, superfícies mucosas, unhas e pêlos. Esses componentes de defesa são importantes barreiras que se contrapõem a entrada dos microorganismos porque servem para impor um limite entre o meio interno (células, tecidos e órgãos) e o meio externo.

A pele intacta é quase que totalmente intransponível a microorganismos com exceção da forma infectante do parasito Schistosoma mansoni (cercária) causador da doença esquistossomose popularmente conhecida como barriga d´água. Adicionalmente, os pêlos e unhas funcionam como “filtros” reduzindo o número de partículas estranhas que entram em contato direto com a pele. A descamação da pele bem como a produção de queratina representa barreiras de defesa contra Ag estranhos.

Algumas respostas fisiológicas são tipicamente respostas de defesa como o espirro que consiste em uma resposta reflexa que elimina partículas estranhas presentes nas vias aéreas superiores. Os processos diarréicos também apresentam função de defesa uma vez que o aumento dos movimentos peristálticos acelera a eliminação de bactérias patogênicas que estão colonizando o trato intestinal e causando infecção. Adicionalmente, podemos citar o fluxo urinário como um importante mecanismo de defesa já que este é responsável pela eliminação de microorganismos capazes de causar infecções urinárias.

complemento se ativa na presença de Ag estranhos devido à afinidade do componente C3b por superfícies de bactérias e fungos. A ativação da via alternativa do complemento ocorre rapidamente eliminando os Ag estranhos presentes no sangue (Figura 4).

Figura 4. Via de ativação do sistema complemento. A fase inicial da cascata de ativação é mostrada sobre a membrana do antígeno. Observe a clivagem do Fator B pelo Fator D na presença de Mg 2+^ seguida pela hidrólise de C3 para formção da enzima C3 convertase (C3bBb). A continuação da cascata de ativação resulta na formação da enzima C convertase (C3bBbC3b). Os demais componentes não são mostrados nesta figura. Fonte: http://wikidoc.org/images/thumb/b/b2/Formowanie_MAC.svg/350px-Formowanie_MAC.svg.png

O componente C3 é sintetizado e clivado, por hidrólise, em níveis basais constantemente na corrente sanguínea. O fragmento gerado a partir da clivagem denominado C3b tem afinidade por componente da parede bacteriana e fungica (ex: zimosan). A ligação de C3b induz a ativação da via alternativa (independente de imunoglobulinas) do sistema complemento. Uma segunda proteína chamada Fator B é clivada pela proteína Fator D gerando um fragmento Bb que se liga ao fragmento C3b presente na membrana do Ag estranho. O dímero (C3bBb) formado recebe o nome de enzima C3 convertase da via alternativa. A geração desta enzima é considerada fundamental para o sucesso da ativação do complemento. A C3 convertase cliva o componente C3 presente no plasma fornecendo elevados níveis do fragmento C3a e C3b sendo este último capaz de ligar-se em diferentes regiões da membrana do Ag e servindo como ponto de partida para a ativação de novas cascatas. Este processo denomina-se de alça de amplificação. O fragmento C3b gerado também se liga na C3 convertase formando um trímero C3bBbC3b denominado de enzima C5 convertase da via alternativa. Esta nova enzima tem afinidade e cliva o componente C5 presente no plasma gerando os fragmentos C5a e C5b. Este último liga-se na C5 convertase. Em seguida os demais componentes C6, C7, C8 e C9 são recrutados para membrana do Ag. A inserção de vários componentes C9 (poli-C9) leva a formação de um poro que atravessa completamente a membrana do Ag. Este poro é chamado de complexo de ataque a membrana, MAC (Figura 5). A função do MAC é promover a lise osmótica da célula bacteriana ou fúngica. Ocorre um grande influxo de água e cálcio provocando a lise e a ativação de vias apoptóticas dependentes

de cálcio. Imagens de micrografia eletrônica revelam a presença de milhares de MACs na superfície bacteriana indicando que esta barreira de defesa é altamente eficaz na eliminação de Ag estranho presente na corrente sanguínea. Sabe-se que a produção diminuída de proteínas do complemento causa uma maior suscetibilidade a infecções bacterianas e fúngicas, doença chamada de imunodeficiência.

Figura 5. Complexo de ataque a membrana, MAC. Na figura a esquerda osbervamos uma micrografia eletrônica da membrana de uma bactéria com vários orifícios (MAC) na superfície. À direita, uma figura esquemática dos componentes formadores do complexo inseridos na membrana plasmática. Fonte: http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/H/Humphrey50.jpg, http://www.helsinki.fi/~vakeva/mac.GIF

Outras vias de ativação do sistema complemento podem ser ativadas a exemplo das vias das lectinas e a via clássica independente de anticorpo. Estas apresentam mecanismos de ativação semelhantes à via alternativa do complemento.

2.4 BARREIRAS BIOLÓGICAS

As barreiras biológicas de defesa consistem na presença de bactérias e fungos não patogênicos (comensais) que colonizam toda superfície da pele e trato digestório. Esses componentes de defesa competem por espaço e nutrientes com aqueles microorganismos patogênicos impedindo assim a proliferação e desenvolvimento do processo infeccioso. Os lactobacilos presentes na mucosa vaginal também secretam ácidos que reduzem o pH vaginal protegendo a mucosa de infecções. Em mulheres pós-menopausa observa-se uma redução no número destes lactobacilos justificando assim a maior incidência de infecções na mucosa vaginal e uretral.

:: HORA DE TRABALHAR!!! ::

Atividades De que maneira as barreiras externas de defesa impedem a invasão dos microorganismos patogênicos?

pelas células do estroma da medula óssea. Existe uma grande variedade de citocinas no interior deste órgão sendo as interleucinas (IL)-3, IL-7 e o fator estimulante de colônia de granulócitos e macrófagos ( do inglês granulocyte and macrophages-colony stimulant factor - GM-CSF) consideradas as mais importantes neste processo.

Figura 7. Hematopoese. À esquerda, imagem de um osso longo e a medula localizada no interior. As principais células sanguíneas originadas a partir da célula progenitora hematopoéitca são apresetadas. Destacam-se os leucócitos: neutrófilo, basófilo, eosinófilo, além do macrófago e os linfócitos B e T. Os eritrócitos e plaquetas não apresentam função de defesa. Fonte: http://www.cacoarteiro.com/oque/medula.jpg

A estimulação via citocinas induz a diferenciação da célula tronco em progenitor mielóide ou linfóide, sendo a primeira precursora das hemáceas, plaquetas, granulócitos neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e macrófagos enquanto a segunda dá origem aos linfócitos B, linfócitos T e células matadoras naturais ( do inglês natural killer – NK). Dentre as células da linhagem mielóide estão os fagócitos que exercem um papel fundamental nas respostas imunes, já dentre as células da linhagem linfóide encontramos os linfócitos que exercem funções de defesa mais sofisticadas.

Dentre as células da linhagem mielóide encontram-se os fagócitos: neutrófilos, monócitos, macrófagos (residentes de tecidos) e células dendríticas. Estas apresentam um papel crucial como barreiras internas de defesa tanto desempenhando a função de fagocitar Ag estranhos como também atuando na estimulação de respostas imunes complexas dependentes de linfócitos. A fagocitose depende do reconhecimento do Ag estranho pelo fagócito via receptores de membrana com afinidades por estruturas moleculares presentes nas membranas de bactérias, fungos e alguns vírus. Tais estruturas são denominadas de padrões moleculares como, por exemplo, o carboidrato manose presente na membrana de várias bactérias e fungos e o lipopolissacarídeo de membrana externa de bactéria (LPS) (Figura 8).

Os fagócitos expressam receptores de manose e LPS em suas membranas plasmáticas e a partir desta interação receptor/padrão molecular ocorre invaginação na membrana do fagócito permitindo o englobamento do Ag estranho, processo conhecido por fagocitose. Este processo pode ocorrer na corrente sanguínea quando neutrófilos e monócitos principalmente reconhecem Ag estranho solúvel ou pode ocorrer nos tecidos quando macrófagos residentes de tecido reconhecem e englobam tais partículas.

Figura 8. Receptor de manose e lipopolissacarídeo. Estrutura do receptor de manose inserido na membrana plasmática com o carboidrato ligado na parte superior (esquerda) e estrutura do LPS (direita) na membrana do antígeno. No detalhe os componentes lipídico e sacarídico/Ag O. Fonte: http://users.path.ox.ac.uk/~ptaylor/images/mr.gif

http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/ html/414/img/07f1.gif

A fagocitose no sangue pode ser melhorada caso o Ag esteja ligado ao fragmento C3b do sistema complemento. Os fagócitos também expressam receptores para C3b facilitando o reconhecimento do Ag pelos fagócitos. Portanto, podemos dizer que uma vez o Ag encontra-se revestido por C3b a fagocitose ocorre com maior intensidade. O processo de facilitação da fagocitose por fragmentos do complemento ou por outros componentes da resposta imune (ver adiante) denomina-se opsonização e, a partícula que reveste o Ag chama-se opsonina. O mesmo processo de fagocitose pode ocorrer nos tecidos por macrófagos residentes após uma lesão do tecido e invasão do mesmo por bactérias. Adicionalmente, fagócitos oriundos da corrente sanguínea também podem realizar fagocitose em tecidos, no entanto, para que isto se torne possível se faz necessário que estas células migrem do interior de um vaso sanguíneo em direção ao tecido lesionado. Este processo denomina-se inflamação.

4. A RESPOSTA INFLAMATÓRIA

A resposta inflamatória é iniciada após injúria tecidual e conseqüente ativação de células endoteliais presentes nas paredes dos vasos sanguíneos. Diferentes estímulos podem causar dano celular como: a) agentes físicos – trauma mecânico e radiação, b) agentes químicos – ácidos e bases fortes, venenos e, c) agentes biológicos – bactérias, vírus, fungos e parasitos. Uma vez lesionado o tecido, as células epiteliais iniciam a clivagem enzimática de fosfolipídeos de membrana convertendo-os em ácido araquidônico (AA) que serve como precursor de moléculas pró-inflamatórias. As enzimas ciclooxigenase e lipooxigenase convertem o AA em prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, respectivamente. Estes derivados lipídicos do AA são liberados do interior das células epiteliais lesionadas e ativam receptores presentes no endotélio (Figura 9).

Figura 10. Etapas do processo inflamatório. A inflamação ocorre em etapas. Acima observamos a marginação do leucócito, o rolamento e adesão firme da célula na parede endotelial e a transmigração celular. Esses eventos são dependentes de moléculas de adesão (selectinas e integrinas) que permitem a interação leucócito- endotélio. Tanto a iniciação da resposta inflamatória como a atração dos leucócitos para o local da lesão tecidual dependem de estímulos como as moléculas pró-inflamatórias derivadas do ácido araquidônico e fatores quimiotáticos (para neutrófilos) derivados do endotélio a exemplo da IL-8. Fonte: http://www.crono.icb.usp.br/glandp3.jpg

Os leucócitos se aproximam do endotélio de acordo com uma cinética de aparecimento sendo os neutrófilos os primeiros a participarem deste evento. Os neutrófilos são considerados a primeira linha de defesa celular ativada na resposta inflamatória. Estas células expressam receptores para selectinas do endotélio e após a marginação realizam as primeiras interações moleculares ainda não suficientes para que estas células estacionem na superfície endotelial. Em conseqüência deste reconhecimento, os neutrófilos começam a realizar o movimento de rolamento sobre a parede endotelial. A etapa de rolamento permite que um número maior de selectinas e seus ligantes presentes nos leucócitos interajam entre si provocando a adesão estável da célula sobre o endotélio. Os neutrófilos aderidos ao endotélio podem realizar o movimento de diapedese e a transmigração do interior do vaso para o tecido lesionado utilizando os espaços entre as células endoteliais. Isto é possível devido ao aumento da permeabilidade vascular inicialmente induzido pelas moléculas pró-inflamatórias liberadas no início da injúria tecidual. Uma vez no tecido, o neutrófilo poderá se movimentar em direção ao agente invasor utilizando uma “estrada” formada de proteínas da matriz extracelular formada principalmente de fibrina e fibronectina. O encontro do neutrófilo com aquelas partículas a serem fagocitadas depende da liberação tanto das células endoteliais como também das células epiteliais de fatores quimiotáticos capazes de guiar os neutrófilos em direção ao local da injúria tecidual. A IL-8 é um fator quimiotático para neutrófilos que é liberado após o início do processo inflamatório. Estas

células se movimentam em direção a um gradiente de concentração de IL-8 até encontrar o agente invasor. Caso este agente seja uma bactéria, o neutrófilo realizará o reconhecimento via receptores como descrito acima. Outros leucócitos também podem participar da resposta inflamatória caso o agente invasor não seja eliminado nas primeiras oito horas. Neste caso a inflamação é classificada como inflamação aguda caracterizada pelo grande influxo de neutrófilos para o local da lesão. Porém, se o agente invasor persistir por mais de oito horas, a inflamação alcança o status de cronicidade que se caracteriza pela presença de outros leucócitos como monócitos e mais tardiamente os linfócitos.

:: SAIBA MAIS... ::

5. MECANISMOS DE MORTE DOS FAGÓCITOS

Tanto os neutrófilos durante a inflamação aguda como os monócitos na inflamação crônica são capazes de reconhecer e fagocitar o agente invasor. O englobamento do agente invasor dá início aos mecanismos de morte intracelular desenvolvidos pelos fagócitos. Estes produzem intermediários reativos do oxigênio ( do inglês, reactive oxigen intermediates – ROIs), enzimas lisossomais e óxido nítrico, NO (Figura 11).

Após a fagocitose, o leucócito mantém o microorganismo no interior de uma vesícula denominada fogossomo que por sua vez pode sofrer fusão com lisossomos presentes no citosol levando a formação de uma nova vesícula, o fagolisossomo. No primeiro caso, o microorganismo permanece viável no interior do fagossomo até que este inicie a geração dos ROIs. Na superfície da membrana do fagossomo encontra-se uma enzima chamada fagócito oxidase capaz de converter o oxigênio molecular em ânion superóxido, peróxido de hidrogênio entre outros intermediários do oxigênio.

Os ROIs são espécies reativas (radicais livres) que provocam danos irreversíveis nas estruturas de membrana, organelas e ácidos nucléicos do microorganismo presente no interior do fagossomo. A ação dos ROIs causa a morte do agente invasor e por isso os ROIs são considerados como mecanismo de morte dos fagócitos. A importância deste evento intracelular fica evidente em pacientes com deficiência da enzima fagócito oxidase devido à incapacidade de eliminar bactérias e fungos. Estes pacientes apresentam infecções recorrentes e apresentam uma baixa expectativa de vida. Um segundo importante mecanismo de morte intracelular são as enzimas lisossomais. Estas são liberadas sobre o microorganismo fagocitado após a formação do fagolisossomo. Estas enzimas proteolíticas e causam a morte do microorganismo.

As inflamações crônicas causam danos aos tecidos normais e por isso são consideradas respostas patológicas. Podemos citar como inflamações crônicas a asma alérgica, a artrite reumatóide e o lúpus eritematoso sistêmico.

bastante vascularizado dividido em duas regiões anatômicas, a polpa vermelha e a branca. A polpa branca contém as células de defesa como macrófagos, células dendríticas e linfócitos. Os Ag estranhos que chegam no sangue sofrerão o ataque dos fagócitos presentes na corrente sanguínea e parte dos Ag chegarão ao baço onde também serão reconhecidos, fagocitados e eliminados pela ação dos ROIs, enzimas lisossomais ou NO. A importância deste processo no interior do baço consiste na ativação posterior dos linfócitos que são as células da resposta imune adaptativa especializadas em desenvolver mecanismos de defesa de longa duração.

Os linfonodos também conhecidos como gânglios linfáticos estão distribuídos por todos tecidos do corpo desde a região cervical até os membros inferiores. Estes órgãos estão conectados por uma rede de vasos linfáticos e também se comunicam com vasos sanguíneos especializados denominados de Vênulas do Endotélio Alto ( do inglês High endotelial Venules – HEV). Os vasos linfáticos apresentam uma extremidade que penetra no linfonodo chamada de vaso linfático aferente e outra extremidade que sai do órgão, vaso eferente. Muitos vasos linfáticos desembocam nos tecidos periféricos o que facilita a drenagem dos Ag estranhos que tenham penetrado no tecido a partir de uma lesão da pele. A drenagem permite que os Ag sejam transportados pela linfa presente no interior dos vasos linfáticos para o interior dos linfonodos. Observa-se também a migração de fagócitos do tecido pelos vasos linfáticos após a fagocitose realizada no local da infecção. Similarmente ao baço, os linfonodos também armazenam células de defesa permitindo assim que respostas imunes sejam realizadas em qualquer tecido do corpo alvo de infecção. Os MALTs são responsáveis pela proteção das mucosas. A estrutura anatômica destes órgãos é semelhante à do baço e linfonodos. Os Ag estranhos que colonizam as mucosas são drenados para os MALTs onde serão fagocitados e eliminados.

:: HORA DE TRABALHAR!!! ::

Você acha que a resposta inflamatória é boa ou prejudicial a saúde? Explique baseado nos conhecimentos aprendidos na Unidade 1.

UNIDADE 2

RESPOSTA IMUNE ADPATIVA OU ADQUIRIDA

1. A RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA É MAIS COMPLEXA E EFICAZ

O termo adaptativo deve-se ao fato que o sistema imune precisa se adaptar a uma nova situação, a presença do Ag estranho. Esta resposta também é conhecida como específica porque é capaz de discrimiar cada espécie ou variante genética de um microorganismo. Esta especificidade é adquirida ao longo da vida à medida que o indivíduo se expõe aos agentes infecciosos e por isso a resposta adaptativa também é conhecida como resposta imune adquirida. A resposta imune adaptativa depende da participação dos linfócitos originados a partir da célula progenitora linfóide da medula óssea. Estas células são responsáveis por discriminar pequenas diferenças entre os Ag estranhos presentes na natureza e montar respostas de defesa mais eficazes do que aquelas realizadas pelo sistema imune inato. Existem três grandes sub- populações de linfócitos: linfócito B (LB), linfócito (T) e células matadoras naturais ( do inglês, natural killer cells – células NK). Exceto as células NK que participam da resposta inata, os LB e LT são células da resposta imune adaptativa. Os LB são as únicas células produtoras de anticorpos ou imunoglobulinas (Ig) enquanto os LT são divididos em duas sub-populações celulares, os LT auxiliares (LTa) e os LT citotóxicos (LTc). Os LTa são células produtoras de citocinas que regulam uma infinidade de respostas imunes enquanto os LTc realizam respostas de citotoxidade necessárias para eliminação de Ag estranhos de vida intracelular como os vírus, algumas bactérias e protozoários além de provocar a morte de células em transformação e tumorais. Outras sub-populações de LT vêm sendo estudadas, no entanto pouco se sabe sobre estas células. Algumas funções já descritas para as novas sub-populações de LT serão discutidas mais adiante neste livro.

1.1 AS PROPRIEDADES DA RESPOSTA ADAPTATIVA

As respostas imunes adaptativas apresentam propriedades. Abaixo são descritas aquelas mais importantes, como:

  1. Especificidade: as respostas adaptativas são altamente específicas porque discriminam a seqüência dos epítopos presentes em cada Ag estranho. Logo se houver diferenças entre duas bactérias do gênero salmonela, os linfócitos são capazes de discriminar estruturas moleculares das duas bactérias e montar uma resposta específica para cada uma delas;
  2. Memória: o sistema imune adaptativo é capaz de “lembrar” das estruturas de cada um dos Ag estranhos expostos no passado. Os linfócitos são as únicas células que têm memória. A vantagem das respostas imunes com memória é permitir que a resposta de defesa seja realizada mais rapidamente e com maior intensidade garantindo uma eliminação do Ag estranho antes mesmo que ele prolifere causando infecção e os sinais e sintomas característicos da doença;
  3. Auto-limitação: respostas adaptativas apresentam início, meio e fim. O Ag estranho é o fator que determina a auto-limitação da resposta uma vez que eliminado o Ag, o sistema imune deve retornar do status ativado para o seu estado de repouso. Esta propriedade garante