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Este documento discute as estratégias desenvolvidas pelo setor privado para aumentar a clientela e lidar com os desafios financeiros impostos pelo sistema único de saúde (sus) no brasil. O texto aborda a história do sus, as políticas públicas federais na área da saúde, a reforma sanitária e a participação da iniciativa privada no sistema. Além disso, o documento analisa as tendências na política pública de saúde, a relação entre o setor público e privado na prestação de serviços de saúde e novos modelos de gerenciamento no setor privado.
Tipologia: Trabalhos
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Sumário: 1. Introdução; 2. Crise econômica e reforma do setor saúde; 3. Novos mode- los de gerenciamento no setor privado: o caso do hospital de Cotia; 4. Discussão. Palavras-chave: sistema de saúde; descentralização de políticas públicas; reforma sani- tária.
Identiticação de novas fom1as de ação e participação nos setores público e privado após a implementação do SUS no Brasil. Estratégias desenvolvidas pelo setor privado para aumentar a clientela e lidar com os constrangimentos financeiros impostos pelo tinanciamento dos serviços de saúde. Estudo de caso sobre estratégias desenvolvidas por um hospital filantrópico. A reforma na saúde tem sido extremamente limitada pela crise econômica.
Implementing the Sole System for Health services: new relationships in Brazil between the public and the private sectors This paper aims to identify the new forms of action and participation in the public and private sectors after the implementation of the Single Health System in Brazil (SUS). Particular attention is given to the strategies developed by the private sector in order to increase its clkntele and to deal with the financiaI constraints imposed by the financing of health services by SUS. It is shown that if, on the one hand, these strategies have been innovatory in many ways, they collide in many aspects with the idea of a unified health system. A case study about strategies of a philanthropic hospital is taken more closely for analysis. As for the public sector, the study did not find meaningful changes in managerial practices, not even has it regulated the private sector due to financiai res- traints. Thus, it is argued, if the health reform was favoured by a political conjuncture which helped its formulation, on the other hand, its implementation has been very much limited by the economic crisis.
RAP RIO DE JANEIRO 29 (3) 17-32, JUl..!SH. 1995
No final de 1989, o Brasil empreendeu uma reforma substantiva na política de saúde através da constituição do Sistema Único de Saúde (SUS). Promulgado na Constituição Federal de 1988, integrando os subsistemas público e privado, assim como os ramos da medicina preventiva e curativa num nível institucional, o SUS foi implantado com os seguintes objetivos: garantir acesso universal para todo o tipo de serviço médico, integrar a assistência médica comunitária e indivi- duai e descentralizar os serviços médicos através de uma rede única criada pelo governo municipal. A saúde foi, portanto, concebida como um direito de todos e um dever do Estado, que por sua vez assumiu o compromisso de assegurar o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, bem como a proteção e a recuperação de todos os cidadãos. Mas o movimento de reforma que desembocou no SUS teve início muito an- tes, com várias políticas públicas federais na área da saúde que procuraram privi- legiar a atenção primária, a descentralização administrativa e, ainda, a regulação pública das ações de saúde. São representativas dessas políticas as Ações Inte- gradas de Saúde (AIS), no início da década de 80, que repassaram recursos do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) para as secretarias estaduais e munic ipais de saúde, de modo a implementar a integração das ações setoriais, além de propiciar a expansão fisica e o reaparelhamento da rede pública de serviços de saúde e novas contratações de recursos humanos. Esse programa, no entanto, não promoveu a efetiva unificação das ações sob um comando único em cada níwl de governo, nem tampouco a descentralização do gerenciamento das unidades de saúde. Em 1987, o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds) estabele- ceu uma série de convênios e contratos que transferiram para o nível estadual as responsabilidades pela gestãü dos serviços de saúde, inclusive o emprego de ter- ceiros. Em 1988, a nova Constituição Federal criou o Sistema Unificado de Saú- de (SUS), ratificado nas Constituições estaduais de 1989 e nas leis orgânicas dos municípios. A partir da implantação do Suds/SUS, formou-se um sistema nacio- nal de saúde. Até o advento do SUS, o sistema público de saúde era gerenciado tanto pelo Ministério da Saúde (que cuidava dos aspectos preventivos), como pelo Ministé- rio da Previdência e Assistência Social (MPAS), através do Inamps, que cuidava, de modo centralizado, das ações curativas, envolvendo diagnóstico, tratamento e reabilitação. Cabiam ainda às secretarias estaduais de saúde as ações de saúde pública de tipo higienista e o atendimento primário, desenvolvido conjuntamente com órgãos municipais.
A reforma do sistema de saúde foi impulsionada pelo desempenho de uma elite profissional num cenário político favorecido pela abertura política e o apro-
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2. Crise econômica e reforma do setor saúde
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guiram-se as antigas relações entre o público e o privado, o fato é que um novo padrão - orgânico e funcional, que otimize e tome eficaz e resolutiva tanto a rede pública quanto a privada - ainda não foi criado.
A partir dos anos 60, a expansão da cobertura dos serviços de saúde criou uma série de distorções ao reforçar a medicina curativa, em modelo hospital 0- cêntrico, em detrimento da medicina preventiva e primária. Em 1949, 13% do
preventiva. No final dos anos 80, essa distribuição passou a ser, respectivamente, de 7% e 22%. Mais grave, porém, foi a expansão do atendimento a partir do pólo previdenciário, na medida em que a crescente universalização da cobertura redu- ziu cada vez mais o compromisso do Estado com a questão da saúde. Através de uma excessiva centralização de recursos e de poder decisório na estrutura do Inamps, a política de saúde, até meados dos anos 80, apoiou-se numa estreita parceria entre o Estado e os segmentos privados. A política imple- mentada pelo Estado, com recursos públicos, fortaleceu o complexo médico-em- presarial privado por meio da contratação de serviços hospitalares, clínicos e la- boratoriais. Com esse estímulo, o setor logo passou a ser responsável por cerca de 70% da oferta de serviços no país. Porém, com a implantação do novo modelo assistencial proposto pelo SUS, de corte descentralizado e municipalizado, não apenas se alteram os mectmismos decisórios e a forma de gestão da política,
cêntrico e a uma perda de importância do setor privado. A reforma na saúde começou a ser implementada com uma mudança na distri- buição do gasto federal com os provedores de serviços de saúde, que acarretou uma queda acentuada na contribuição do Inamps para o setor privado. Em 1989, o setor privado absorveu apenas 29,6% dos recursos do Inamps, contra 41,7% em 1987; os serviços públicos, por sua vez, absorveram 30,4% em 1987 e 45,9% em 1989. A queda na contribuição do Inamps ao setor privado é atribuída, em primeiro
vo reforçar o setor público através da transferência dos recursos do Inamps aos es-
da desvalorização de seus serviços resultante dos baixos preços pagos pelo Inamps. De acordo com Médici (1992), a percentagem de estabelecimentos lucrativos com contrato com o Inamps diminuiu de 64,6% para 52,8% entre 1980 e 1984. Silva e Médici (1991) identificam quatro tendências que caracterizam esse período no que diz respeito à política pública de saúde: redução no número de serviços concedidos ao setor privado; aumento nos recursos gastos em unidades ou entidades de saúde pertencentes ao Inamps; aumento relativo no gasto com estados e municípios de acordo com a concepção de descentralização e munici- palização dos serviços públicos; e, finalmente, aumento no gasto com hospitais
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IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (^23)
Recentemente foi criada na Comissão de Seguridade Social da Câmara Fede- ral de Deputados uma subcomissão para tratar da medicina supletiva. Foram su- geridas a regulamentação do setor e a possibilidade de o mesmo ressarcir o setor público pelos procedimentos de alto custo por ele oferecidos e que são ampla- mente utilizados pela clientela dos planos de saúde privados, já que estes, em sua grande maioria, não contemplam tais terapêuticas. Contudo, uma lei regulamen- tando esse assunto ainda não foi aprovada.
Ao contrário do setor pnvado supletivo, os hospitais privados contratados pelo setor público têm suas receitas estreitamente dependentes dos recursos do SUS. Estima-se que 70% da receita dos hospitais privados lucrativos e 85% da receita dos privados filantrópicos e beneficentes provêm de recursos públicos. Por isso a Federação Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (Fenaes), a Fede- ração Brasileira de Hospitais (FBH),3 a Associação Brasileira de Hospitais (ABH), a Federação Nacional das Misericórdias e o Sindicato dos Hospitais
SUS para internação e atendimento ambulatorial, e ao atraso dos repasses (cons- tantes a partir de 1991). As C asas de Misericórdia e entidades beneficentes con- gregam 2.250 hospitais, respondendo por 63% do total da oferta de leitos no Bra- sil e por 52% da oferta do estado de São Paulo (Justo, 1991). No começo dos anos 80 (a partir das AIS), com as mudanças na destinação dos recursos do Inamps, priorizando o setor público em detrimento do segmento médico empresarial privado, inaugura-se um período de tensão e conflitos na parceria público-privado na oferta de serviços de saúde. O conflito aparece nas críticas do setor privado (conveniado e contratado), ligado ao sistema público, ao
do setor público, comandado pelas esferas municipais e estaduais, na oferta de serviços de saúde, após o SUS. O deslocamento desse conflito para as órbitas lo- cais (os municípios) ocorre a partir do processo de descentralização e municipali- zação das ações de saúde que acompanha a implantação desse novo modelo. Atu- almente, dada a definição do município como organizador dos modelos locais de saúde, o conflito entre as prefeituras (ofertantes de serviços básicos e de interna- ção) e o setor privado (ofertante de serviços ambulatoriais secundários e interna- ções) está permeado de tensões entre os diferentes grupos e facções da própria política municipal. De modo geral, o setor privado não se vê como parceiro do setor público e é descapitalizado seguidamente devido aos atrasos no pagamento e aos repasses
3 São filiados à Fenaes 5.500 hospitais e 40 mil outros estabelecimentos de saúde; à FBH, cerca de 3 mil hospitais.
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1~1PLEMENTAÇÀO DO SISTEMA UNICO DE SAUDE 27
política de saúde (universalização da clientela) e a baixa oferta de servi;:os hospi- talares na região. Com relação ao custeio, o gasto financeiro de 7% e 14,5% é explicado pelos empréstimos realizados para cobrir o atraso nos pagamentos do SUS num perío- do de elevada taxa de inflação. Para neutralizar os custos financeiros crescentes, o hospital conta com a expansão de contratos com a clientela do setor privado. Embora represente apenas 5% das fontes de rendimento, essa expansão mostra um potencial significativo de crescimento.
Tabela 2 Distribuição percentual das fontes de despesa (1990-94) 1990 1991 1992 1993 1994* Investimentos '.),"-^ ., 0,1 1,0 0,6 0, Propriedade 0,6 0,0 0,0 0,0 0, Veículos 1,6 0,0 0,0 0,1 0, Equipamento 1,0 0,1 1,0 0,5 0, Outros 0,0^ 0,0^ 0,0^ 0,0^ 0, Custeio 96,9 99,9 99,0 99,4 99, Pessoal 68,8 72,9^ 62,0 56,3 58, Insumos 27,1 26.0 36,0 36,1 27, Despesa financeira 1,0 1,0^ 1,0 7.0 4, Total 100.0 100,0 100,0 100,0 100, Fonte: Balanço Financeiro Anual da Associação Hospital de Cotia.
A reforma sanitária, que culminou no advento do SUS, teve como objetivos: a) mudar o relacionamento entre os setores público e privado no que diz respeito à oferta de serviços de saúde; b) providenciar cobertura universal a partir da mu- nicipalização e hierarquização dos setviços; e c) promover a integração entre a saúde pública e assistência médica individual. O sistema foi elaborado de forma a reservar ao setor público o controle e a regulação das áreas de saúde, além do provimento da maior parte dos cuidados médicos em nível ambulatorial e da assistência de alto custo. Ao setor privado coube uma parte significativa na prestação de serviços de saúde, principalmente no que diz respeito à assistência médico-hospitalar. Hoje, transcorridos cinco anos desde o surgimento do SUS, já dispomos de alguns elementos para analisar o processo. Não se pode negar as inegáveis conquistas no que diz respeito à descentrali- zação e à municipalização dos serviços de saúde. O ponto central desse processo
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foi a expansão de uma rede pública de serviços de saúde que promoveu uma efe- tiva transferência de consultas previamente mantidas no hospital a um preço bas- tante elevado. Isso ocorreu em grande parte dos municípios das regiões mais de- senvolvidas do país. Mas o ponto fraco do SUS, não obstante o êxito obtido em alguns poucos municípios, é sua incapacidade para integrar as diversas instituições de saúde, mesmo as públicas, num todo coerente, seja no nível municipal, seja no nível re- gional, considerando a hierarquia tecnológica dos serviços envolvidos. A integração da rede bási.::a de serviços de saúde com os hospitais privados e universitários, que deveria ser o eixo central do sistema de saúde, tem encontrado grandes obstáculos, quer pela postura liberal e autônoma dos hospitais privados, quer pela incapacidade do sistema público para gerenciar o sistema de saúde. Devido à falta de um corpo regional capaz de controlar o sistema, como ini- cialmente planejado no estado de São Paulo pelos Ersas, persiste um pronuncia- do desequilíbrio no sistema de saúde, uma vez que é impossível perceber e resol- ver muitos problemas de saúde num nível exclusivamente municipal. O controle de epidemias, a implementação e a avaliação de programas de saúde e o controle de qualidade dos serviços constituem alguns dos aspectos que só podem ser pla- nejados e elaborados num nhel organizacional mais amplo do que o municipal. Na falta de um planejamento regional, a municipalização dos serviços de saúde permite que haja sistemas municipais de saúde com uma ampla variação nos níveis de sofisticação. Esse fator estimula os usuários potenciais num dado local a procurarem os melhores serviços e tratamentos, estejam estes situados perto ou longe de onde eles vivem, o que resulta numa sobrecarga dos sistemas de saúde mais desenvolvidos e organizados. A nova Constituição imaginou que assuntos como a integração dos serviços públicos e entre os serviços públicos e privados, de um lado, e a atribuição de responsabilidades entre os níveis federal, estadual e municipal, de outro, fossem negociados e regulamentados espontaneamente. Mas não aconteceu nem uma
principalmente nas esferas governamentais, com cada uma atribuindo a outra res- ponsabilidades que não quer assumir. O modo de pagamento dos serviços com base em critérios de produtividade,
adequada à saúde do paciente, é outro problema que existia antes da implantação do SUS e que continua sem solução. A prática do pagamento direto, pelo gover- no federal, dos serviços de saúde concorre decisivamente para a perpetuação do problema, inclusive criando planos regionais num nível superior ao do municí- pio. Assim, os estados não se sentem responsáveis pelo sistema de saúde e aca- bam deixando de envolver-se nessa esfera. Como foi mostrado anteriormente, os esforços para aumentar a participação do gasto público na assistêncla à saúde foram satisfatórios durante a década, tan- to no que se refere ao aumento nas fontes de receita nos níveis federal, estadual e
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