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Igreja, Juventude e Sexualidade na perspectiva de Jovens da ..., Notas de aula de Religião

tendo em vista o fato de que os evangélicos não aceitariam o controle das Ciências ... Deus; considerando nuances relativos a marcadores sociais que forjam ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA (DOUTORADO)
UM/UMA JOVEM SEPARADO/A NO ‘MUNDO’: Igreja,
Juventude e Sexualidade na perspectiva de Jovens da
Assembléia de Deus em Recife - PE
Maria de Fátima Paz Alves
Professor Russell Parry Scott
Recife – 2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA (DOUTORADO)

UM/UMA JOVEM SEPARADO/A NO ‘MUNDO’: Igreja,

Juventude e Sexualidade na perspectiva de Jovens da

Assembléia de Deus em Recife - PE

Maria de Fátima Paz Alves

Professor Russell Parry Scott

Recife – 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA (DOUTORADO)

UM/UMA JOVEM SEPARADO/A NO ‘MUNDO’: Igreja,

Juventude e Sexualidade na perspectiva de Jovens da

Assembléia de Deus em Recife - PE

Maria de Fátima Paz Alves

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação do Professor Doutor Russell Parry Scott, para obtenção do grau de Doutor em Antropologia.

Recife – 2009

AGRADECIMENTOS

Aos/às interlocutores/as, com quem realizei trocas tão significativas: pela receptividade e colaboração, principalmente, com seus depoimentos que foram imprescindíveis à realização deste trabalho. Ao orientador deste trabalho Prof. Russel P. Scott, que me acompanhou e me apoiou durante a realização do mesmo; reconhecendo que é um privilégio ter um trabalho visto por olhar tão crítico e arguto. Junto com pedido de desculpas pelos atrasos e falhas. Às pessoas que deram apoio na realização da pesquisa de campo. Em particular aos colegas: Adjair Alves e Roberto Silva; também pelo incentivo e força dada em momentos tão cruciais. Às colegas de curso: Tânia, Márcia, Elaine e Cecília, com quem tive oportunidade de compartilhar tantos momentos durante o curso. À Cecília, em particular, companheira desta “longa trajetória”, cuja amizade desejo manter por longos anos. Às amigas: Vilma Macedo, Andréa Butto e Liana Lews, pela cumplicidade, parceria na alegria; ombros e ouvidos atentos nas horas de lamentações (que não foram poucas). À família: Josefa e Expedito, meus pais, pelo apoio de sempre. “Pai, acho que finalmente vou terminar...”. Aos irmãos e irmãs: João, Célia, Marcos, Paulo e Márcia o apoio dado. Às Trigêmeas em particular: “vamos conseguir meninas!”. À Daniely (cunhada), pela valiosa colaboração na última etapa do trabalho, o que nos tornou mais próximas e amigas. A Pedro, que desde tão pequeno convive com a mãe sempre às voltas com “um trabalho que nunca acaba”. Pela sua compreensão e sensibilidade de criança. Te amo muito, meu filho! Ao programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE pelo acolhimento e apoio durante todo este período. Aos professores deste programa o meu apreço e grande respeito. Orgulho-me de ter convivido e aprendido com vocês. Aos funcionários do departamento: Regina, Míriam, Ana e Ademilda, o acolhimento e apoio de sempre. A Universidade Federal Rural de Pernambuco, à qual estou vinculada, o apoio

RESUMO

Focalizamos neste trabalho o sentido de ser jovem assembleiano/a, destacando o modo como moças e rapazes adeptos da Assembléia de Deus, em Recife/PE, representam e vivenciam sua vida afetiva e sexual. O mesmo tem por base entrevistas com jovens e adultos/as afiliados/as e ex-afiliados/as desta denominação, observação de situações, contextos formais e informais em que estavam presentes ou em foco jovens com tal perfil. Fazer parte de uma denominação como a AD revela à assunção de uma distinção, marcando especificidades para o/a jovem em particular. Implica menos numa renúncia que numa escolha que se atrela à incorporação e disposição de capitais – sociais, culturais e simbólicos – relacionados, em grande medida à aquisição de conhecimentos e habilidades, vivência de vínculos e formação de redes; que adquirem contornos particulares em função de nuances relativos à níveis de escolaridade e renda, localização de centro e periferia, gênero e origem ou criação (ou não) em família evangélica. A sexualidade mostra-se central ao ethos da AD, enfatizando-se certo tipo de moral rigorista, associado principalmente ao controle das mulheres; que mais que outros preceitos, diferenciaria o/a jovem assembleiano/a dos/as demais. “Um/uma jovem separado/a no mundo” se aproxima de modo mais acurado do que revela a análise, considerando que os/as jovens, em suas diferenças e recortes internos, estão envolvidos crescentemente com valores e injunções “individualistas” que se tornam hegemônicos nos dias atuais. Não estando livres, notadamente, nos contextos populares, da associação a uma lógica “relacional/holista”. As noções de uma combinação complexa entre dimensões da cultura tradicional e das ideologias modernizantes nos pareceu adequada à compreensão das múltiplas facetas que envolvem o objeto em análise.

Palavras chave: Religião, juventude, sexualidade.

ABSTRACT

In this work we are going to focus on the meaning of being an young “assembleiano”, emphasizing the way young female and male devotees from Assembléia de Deus, localized in Recife/PE, represent and experience their emotional and sexual life. This work is based on interviews with young persons and adults affiliated and former affiliated from this denomination. It is also base on observation of interaction, formal and informal context where these young person toke part were somehow related to. To take part of a congregation such as the Assembléia de Deus reveals the fact of being distinguished, pointing out to specificities related to the young people in particular. This implies much more on a choice rather than on a renouncement. Such choice is linked to the incorporation of social, cultural and symbolic capital related to the acquisition of knowledge and abilities, experiences of attachment and net formation. These choices present particular layers as a result of different levels of school degree and income, of being localized on the centre or periphery, gender and evangelical origin (or not). Sexuality is central regarding the ethos of AD. It emphasizes a kind of rigorous moral, associated with the control of women rather than other principles. This would differentiate the young people from AD in relation to other. “A young person apart from the world” gets closer in a more subtle way than the one revealed by the analysis. This takes into account that the young people, with their differences and internal differentiations are increasingly involved with the individualistic values and injunction that become hegemonic at the present time. On the other hand, they are not free, especially regarding the working class context, from the association with a “relational/holistic” logic. The notions of a complex combination between the traditional culture and ideologies modernizing seemed appropriated to the comprehension of the several layers related to the object of analysis.

Key Words: Religion, Youth, Sexuality.

2.1 Da idéia ao planejamento e deste à Ação: Reflexões, transformações e permanências em relação ao foco de interesse, objetivos e objeto da pesquisa

2.1.1 Do projeto à pesquisa: Caminhos, desvios e atalhos na trajetória

2.2 A pesquisa e os/as Entrevistados/as: Entrevistas, observações e demais técnicas utilizadas

2.3 Caracterização dos/as interlocutores/as 89 2.4 Algumas considerações sobre a observação de campo e demais técnicas de pesquisa utilizadas 2.5 Alguns pressupostos analíticos que norteiam o trabalho

3. Capítulo 3 A ASSEMBLÉIA DE DEUS NO CONTEXTO PENTECOSTAL: UM POUCO DA HISTÓRIA, REALIDADE LOCAL ATUAL E PERSPECTIVA DOS/AS INTERLOCUTORES/AS

3.1 A Assembléia de Deus e o pentecostalismo no contexto brasileiro: Alguns elementos para reflexão

3.2 Breve perspectiva histórica sobre a Assembléia de Deus

3.2.1 - A AD no contexto local: Breve histórico e perfil atual

3.3 Estrutura administrativa e hierárquica da Assembléia de Deus: Perspectiva local e percepção dos/as interlocutores/as 3.3.1 Participação dos/as fiéis: Algumas considerações

3.4 A igreja e seus crentes: Tradição, heterogeneidade e transformações 3.4.1 A doutrina e os usos e costumes da Assembléia de Deus: Alguns elementos para discussão

4. Capítulo 4 “UM/A JOVEM SEPARADO/A?”: PENSANDO JUVENTUDE, IGREJA E “MUNDO”

4.1 A incorporação de um ethos : A construção e vivência de uma diferença

4.1.1 Jovens “criados/as no evangelho”: A família como base para a diferença

4.1.2 Os/as jovens convertidos/as: Algumas considerações

4.1.3 Afastamento e reconciliação dos/as jovens: Alguns elementos em discussão

4.2 “Ser separado” e estar no “mundo”: Algumas considerações

4.2.1 Participando, convivendo, aprendendo... “E dando frutos”

4.2.2 “Crise de fé”: Superação e afastamento 189 4.3 Interagindo no “mundo secular”: Algumas considerações

4.4 Ser jovem e ser solteiro/a? Algumas considerações sobre divisão de sexo e idade

4.5 Usos e costumes e juventude assembleiana 203 4.5.1 Usos e costumes e juventude: Retomando algumas reflexões

4.5.2 Juventude, lazer e divisão 211 4.5.3 Jovens, estratégias e transgressões: Algumas considerações e comentários

5. Capítulo 5 SEXUALIDADE E VIDA AFETIVA ENTRE JOVENS ASSEMBLEIANOS

5.1 Sexualidade e juventude: Homogeneidade, heterogeneidade e ambigüidades na relação entre jovens e ethos pentecostal assembleiano

5.1.1 Ethos assembleiano e sexualidade entre os/as jovens: Generalidade, nuances e especificidades

5.2 O “ficar” 245 5.3 O namoro 256 5.3.1 Ethos assembleiano e virgindade: Algumas considerações

INTRODUÇÃO

A religião tem colocado questões às Ciências Sociais para as quais estas têm buscado dar respostas ao longo do tempo. Considerando a perspectiva positivista que tem predominado em sua abordagem, a ciência tendeu a estabelecer um contraste com a religião, vendo-a como uma espécie de resquício primitivo e/ou uma dimensão quase superada ou à beira da extinção, a partir do processo de secularização/modernização, que tenderia a substituí-la. A modernidade, neste sentido, colocaria o ser humano como medida de si, de suas relações e do universo. Já não seria a religião o cimento da coesão cultural-social, que daria o sentido ordenador da realidade e do social, mas doravante a própria racionalidade. Tal perspectiva contribuiria para que o estudo da religião, particularmente, de algumas de suas expressões, tenha sido negligenciado ou olhado a partir de um determinado viés que privilegiaria “o irracional”, “o exótico”, vendo, se pensarmos na atualidade, como corolário, algumas de suas expressões como algo sem importância ou como uma engrenagem a mais, uma espécie de empresa, que troca mercadorias – “bens de salvação” - por dinheiro (PIERUCCI, 1997, 2000; PIERUCCI & PRANDI, 1996). Verifica-se uma relação de oposição, disputa de poder e controle entre religião e ciência desde o seu início, notadamente na formação das Ciências Sociais. Para Motta (2007), grande parte dos estudos sobre pentecostalismo ou o ponto de vista que tem predominado nos estudos sobre os grupos pentecostais e neopentecostais no Brasil expressa uma espécie de “má vontade” para com este tipo de manifestação religiosa, tendo em vista o fato de que os evangélicos não aceitariam o controle das Ciências Sociais e recusariam uma interpretação/intervenção sobre suas práticas, em contraste com outros grupos religiosos que seriam mais afeitos a tal empreitada. Ele reitera, neste sentido, o que afirma Montero (1999), para quem, predominam, principalmente em relação ao protestantismo de massa, abordagens externalistas e pouco simpatizantes, o que, sugere a autora, condiz com a falta de cumplicidade das camadas intelectuais com estas manifestações religiosas. Não cabe aqui avançar sobre tal polêmica ou mesmo aprofundar uma reflexão sobre a relação entre religião e ciência, senão, apenas provocar e dar uma idéia da natureza do debate que ontologicamente a envolve e que não deixa de dizer algo também sobre nosso objeto de análise. Este debate, num plano mais concreto, pode ser

apreendido na discussão que diz respeito ao processo de racionalização, expressa nas noções de secularização e dessecularização/reencantamento, sobre as quais discorreremos mais adiante. Afirmamos, de antemão, que procuramos nos afastar de uma perspectiva de visão dos evangélicos – principalmente pentecostais e neo-pentecostais como: intolerantes, “destruidores da cultura/aculturados”, “alienados”, “atrasados” e “manipuláveis”, comum a parte da literatura sobre estes grupos (PRANDI 2007, SILVA, 2007), tampouco tentando provar o contrário. Como se costuma fazer na Antropologia, buscamos proceder a uma leitura “a partir de dentro”, do que pensa e vivencia o “nativo”. Evidentemente, atribuímos um sentido apenas figurativo a esta expressão uma vez que abordamos pessoas situadas dentro de determinados contextos e suas relações com a instituição religiosa e com a religiosidade, destacando principalmente o sentido do ser jovem numa denominação evangélica tida como rigorista. Vemos como fundamental em tal empreitada levar em conta que eles e elas convivem numa metrópole – com suas múltiplas facetas e divisões – dentro de uma sociedade complexa, o que lhes traz múltiplas perspectivas para além do vínculo religioso, o qual, por sua vez, representa, efetivamente, uma escolha, um marcador, uma distinção. A investigação proposta demanda uma discussão que coloca em foco o contexto religioso (denominacional) no qual os/as jovens estão inseridos/as. A incursão sobre este embora seja destacada numa parte do trabalho, de certo modo perpassa todo ele, numa espécie de diálogo e por vezes confronto de vozes e discursos. Assim, enquanto tomamos os/as jovens como protagonistas, estabelecemos um diálogo constante com o contexto institucional: da denominação, igreja ou congregação local, levando em conta tanto da natureza e objetivos do trabalho, que demandam um entendimento de continuidades e rupturas, assim como, de movimentos de “aceitação”, resistências, e tensões vividas na relação que envolve os/as jovens e a igreja. Ela tem por base a configuração de uma tensão entre manutenção e defesa de princípios e valores versus flexibilização entre segmentos evangélicos - considerando a competitividade e flutuação religiosa num campo cada vez mais plural, tomando como pano de fundo alguns processos sociais que perpassam a sociedade brasileira na atualidade.

Interessa-nos, portanto, apreender o modo como rapazes e moças evangélicos/as

(BITTENCOURT FILHO, 2003; MARIANO, 1999; BAPTISTA, 2002; SILVA, 2003),

interessa-nos discutir o modo como esta se posiciona em relação a vários aspectos que configuram a vivência da juventude, da vida afetiva e da sexualidade pelos/as jovens. Levando em conta os distintos contextos e marcadores sociais considerados, entre os quais: as diferenças entre afiliação às igrejas centrais e suburbanas, o nível de escolaridade e renda, a ascendência e/ou criação evangélica, injunções e relações de gênero em meio a tais possibilidades; se, até que ponto e em que circunstâncias se observaria uma maior flexibilidade no discurso e/ou na prática e em quais tem se buscado reforçar normas e valores. Se e até que ponto a flexibilização mantém uma coerência com princípios internos ou pelo contrário, os contrariam ou negam, pesando mais o interesse pela conquista ou manutenção dos/as fiéis. Há poderes, hierarquias, relações de dominação de várias ordens; ao mesmo tempo são feitas escolhas que visam uma maneira eficaz de se estar neste mundo, em função das perspectivas e contextos de que se fala/vive. Assim sendo, buscamos explicitar elementos centrais que caracterizam a afiliação à denominação pelos jovens, destacando renúncias e ganhos presentes em tal escolha; assim como, atentando para lógicas e modos com que se concorda, segue, defende e/ou transgride normas e valores, notadamente aqueles que dizem respeito às “vivências juvenis”. Abordamos determinadas especificidades relativas à afiliação de jovens a uma igreja pentecostal clássica, em sua configuração urbana, situada em Recife-PE, com base principalmente em depoimentos – entrevistas semi-estruturadas com rapazes e moças e alguns adultos, além de algumas observações de eventos, cerimônias e situações informais envolvendo afiliados a esta denominação em localidades centrais e periféricas deste município. Em todo o trabalho, com maior ou menor referência em algumas de suas partes, estabelecemos um paralelo com o passado recente. A reflexão que inclui passado e presente, embora não seja exaustiva e tenha surgido quase que “naturalmente” em função da heterogeneidade etária dos/as entrevistados/as, ponto que será mais bem esclarecido ao abordarmos diretamente como se deu o percurso metodológico, nos pareceu interessante por deixar claro, transformações e permanências, assim como, de outra parte, o contraste entre centro e periferia, – “igreja central e de bairro”, por exemplo, revela diferenças nas interpretações e vivência relativas ao ethos religioso. O trabalho está distribuído da seguinte maneira: no primeiro capítulo discutimos fundamentos conceituais; desenvolvendo caminhos teóricos relativos à religião, que

abarcam questões que envolvem a discussão sobre as principais tendências interpretativas que envolvem a religião na atualidade; delimitando marcos que, a nosso ver, se apresentam como possibilidades interpretativas interessantes à apreensão do objeto investigado. Em seguida, ainda neste capítulo, discutimos conceitos e fazemos escolhas teóricas visando uma interpretação adequada do que nos dizem os dados sobre as temáticas juventude e sexualidade.

No segundo capítulo apresentamos a metodologia do trabalho, destacando uma reflexão conceitual atrelada à apresentação dos instrumentos utilizados, das condições de realização da pesquisa; fazendo também uma caracterização dos/as interlocutores/as (entrevistados/as).

Nos capítulos que se seguem, abordaremos os temas centrais da análise, discorrendo no capítulo 3, sobre a igreja, um pouco de sua história, funcionamento, e retomando a discussão sobre pentecostalismo concomitantemente a uma breve apresentação da visão dos/as interlocutores/as sobre a igreja e sua relação com esta.

No capítulo seguinte (4), abordamos a temática juventude, destacando uma caracterização do “ser jovem assembleiano/a”, enquanto marcador de uma distinção; que encerra em si visões de mundo e modos específicos de viver. Discutimos significados disto na perspectiva do que oferece e demanda a afiliação à Assembléia de Deus; considerando nuances relativos a marcadores sociais que forjam peculiaridades e heterogeneidades dentro do que pode ser tomado como “juventude” neste contexto.

No capítulo 5, discorremos sobre juventude e sexualidade, destacando o modo como é concebida num amplo sentido tal esfera de vida pelos/as jovens, discutindo se, até que ponto, e sob que modos e formas, as injunções presentes no discurso da igreja, ganham sentido em suas vidas. Discutimos ainda como se concebem forjam vínculos afetivos e relacionamentos amorosos entre estes/as, finalizando com uma breve discussão sobre a visão e vivência da homossexualidade neste contexto.

Em todo o trabalho, destacamos peculiaridades e nuances que fazem “a diferença”, ao tempo em que também refletimos sobre a relativização desta no contexto investigado. Por fim, chegamos as Considerações finais, onde fazemos uma breve síntese do trabalho, seguida das conclusões a que a análise nos conduziu.

(2004) ; se tomada de modo estrito, ela tende a negar a diversidade dos processos vivenciados por distintos grupos, muitos dos quais não parecem compartilhar do universo simbólico que marcaria “a modernidade tardia”.

A lógica cultural da modernidade, vigente no ocidente, que valoriza o indivíduo e a intimidade, dentro da qual a sexualidade ganha destaque, enquanto referência fundamental de certo tipo de identidade pessoal, não pode ser generalizada para todos os segmentos sociais. Assim, determinados segmentos da sociedade, como as classes trabalhadoras, podem expressar uma visão de mundo, na qual valores ligados à preeminência do todo e não do indivíduo seriam estruturadores (DUARTE, 1986; HEILBORN, 1999).

Para Monteiro (1999) considerando a coexistência nas sociedades modernas de sistemas culturais diversos que se apresentam como subculturas contrastantes faz-se necessário o reconhecimento das limitações da universalização da ideologia individualista; o que é corroborado por Scott (2007) que em seus estudos que envolvem diferentes grupos – urbanos populares, reassentados e indígenas – observa a existência de lógicas distintas atuando no sentido da moralidade expressa por estes grupos, indicando a importância de identificar segmentos de participantes de grupos sociais, num ambiente localizado, de acordo com a sua adesão religiosa; o que segundo o autor permitiria precisar alguns mecanismos pelos quais a própria religião orientaria a expressão da moralidade e da regulação da sexualidade.

A breve enunciação deste debate, que terá alguns de seus nuances desenvolvido ao longo deste capítulo, servindo de “pano de fundo” para todo o trabalho, contextualiza questionamentos e discussões relativas ao objeto e objetivos deste. Ele pressupõe que, não obstante o processo de secularização e a forma fluida como se apresentam algumas das expressões religiosas na atualidade, não se pode pensar de modo unívoco a realidade; que a religião tem importância nas escolhas e vivências das pessoas, ainda que de modos distintos e específicos. Que há outras possibilidades explicativas para além da perspectiva uniformizadora da secularização e individualismo, podendo inclusive haver também (o que é mais provável) uma convivência entre distintas concepções refletidas na forma como se pensa e vivencia a juventude, a sexualidade e os vínculos amorosos no contexto de uma denominação pentecostal clássica, cada vez mais heterogênea, como a Assembléia de Deus.

A escolha da Assembléia de Deus, em princípio, se ateve à idéia de trabalhar com

uma denominação que representa uma espécie de paradigma, trazendo em seu bojo especificidades relativas a pressupostos doutrinários e ditames sobre o comportamento do/a cristão/ã (MENDONÇA & VELASQUES FILHO, 2002; BITTENCOURT FILHO, 2003; MAFRA, 2001; BAPTISTA, 2002; SILVA, 2003; SILVA, 2001). Pensamos, em acordo com o que sugerem vários estudos (MARIZ, 1998; MAFRA, 1998, 2001; SCOTT & CANTARELLI, 2004; SCOTT, 2007; MACHADO, 1997a, 1997b), que participar de um grupo religioso como a AD, constitui-se numa experiência peculiar, condizente com formas específicas de sociabilidade e interação (interna e externa), demandas de qualificação, exigências e busca ou tentativa de controle da comunidade (religiosa) sobre o comportamento dos afiliados. A escolha da denominação também leva em consideração sua representatividade, visibilidade e tradição em relação ao universo em que os evangélicos estão inseridos, o que não tem repercutido de modo efetivo em estudos e pesquisas sobre a mesma no contexto brasileiro (FRESTON, 1996; MARIANO, 2004; BAPTISTA, 2002; SILVA, 2003).

Vamos adentrar, no tópico que se segue às discussões que visam aprofundar alguns dos aspectos mencionados acima, introduzindo novos elementos relativos às perspectivas a partir das quais focalizamos o objeto e os objetivos do trabalho.

1.1.1 Abordagens da religião nas Ciências Sociais: Discutindo perspectivas e instrumentos analíticos

A maioria dos/as autores/as que afirmam o declínio da religião (ou de seu lugar central nas sociedades) partem da abordagem weberiana sobre o desencantamento do mundo que teria como marco fundamental a reforma protestante e a progressão em seus desenvolvimentos e facções, que caminhariam nos sentido de uma “demagização”, abstração e racionalização. Estas seriam em grande medida condizentes com práticas racionalizadas que envolveriam o cotidiano, configurando-se numa ascese intra- mundana em contraste com a ascese extra-mundana que perpassaria o “espírito católico”. A mentalidade protestante, com efeito, estabeleceria afinidade eletiva com o capitalismo, da forma como veio a se configurar e se desenvolver posteriormente. Na perspectiva de Weber (2007), a sociedade moderna e industrial, caminharia para um processo de crescente racionalização da ação. O complexo modo de vida das sociedades ocidentais exigiria um Estado burocratizado e organizado, no qual os especialistas tomariam o controle da sociedade. O homem liberto do poder da religião