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Construção da Identidade Baiana: Globalização, Capitalismo e Simbologia, Esquemas de Literatura

Este documento discute a questão da construção da identidade baiana, especialmente na perspectiva da globalização e do capitalismo moderno. O texto utiliza as ideias de stuart hall para analisar a formação de uma baianidade simbólica e sua relação com a globalização. Além disso, o documento aborda a transformação de símbolos culturais em objetos de consumo e a formação de identidades híbridas.

O que você vai aprender

  • Como a globalização influencia a formação de identidades culturais?
  • Como os símbolos culturais passam a se tornar objetos de consumo?
  • Qual é a importância da simbologia na construção de uma identidade?

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Rafael86
Rafael86 🇧🇷

4.6

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IDENTIDADE, GLOBALIZAÇÃO E BAIANIDADE
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Milena Guimarães Andrade Tanure
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RESUMO
O presente artigo explana sobre o conceito de Nação, Nacionalidade e Identidade. À luz das
concepções culturalistas, objetiva-se discutir a questão da construção da identidade, em
especial a baiana. Pretende-se, principalmente, evidenciar como a construção de uma
baianidade está associada à globalização e ao capitalismo moderno.
Palavras-chave: Nação. Nacionalidade. Identidade. Globalização. Baianidade
NAÇÃO, NACIONALIDADE E IDENTIDADE
A nacionalidade não é um fator biológico que nasce com o indivíduo. Trata-se de um
sentimento de identificação nacional que é construído porque imaginado. Tudo isso nos é dito
por Benedict Anderson, que afirma, sobretudo, que as nações nascem como comunidades
imaginadas. Muito mais do que meras invenções, as nações, assim como as nacionalidades,
compreendem produtos culturais específicos. Anderson afirma, ainda, que a identidade
nacional é dotada de uma legitimidade emocional extremamente profunda.
Em “Comunidades imaginadas”, Benedict Anderson define a nação da seguinte forma:
“uma comunidade política imaginada— e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e,
ao mesmo tempo, soberana.” (2008, p.33). Ele explica que ela é imaginada por manter um
enorme vínculo entre os seus membros, ainda que eles não se conheçam, limitada por ser
dotada de barreiras que, ainda que elásticas, a separam de outras nações e soberana porque
apenas esse emblema manterá a liberdade.
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Artigo solicitado pela professora Maria José Souza Pinho como pré requisito parcial de avaliação da
disciplina Introdução ao Trabalho Científico da Universidade Salvador/Ba
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Discente do ano do curso de Direito, turma B, turno matutino, da Universidade
Salvador/UNIFACS-Ba
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Baixe Construção da Identidade Baiana: Globalização, Capitalismo e Simbologia e outras Esquemas em PDF para Literatura, somente na Docsity!

IDENTIDADE, GLOBALIZAÇÃO E BAIANIDADE^1

Milena Guimarães Andrade Tanure^2

RESUMO

O presente artigo explana sobre o conceito de Nação, Nacionalidade e Identidade. À luz das concepções culturalistas, objetiva-se discutir a questão da construção da identidade, em especial a baiana. Pretende-se, principalmente, evidenciar como a construção de uma baianidade está associada à globalização e ao capitalismo moderno.

Palavras-chave: Nação. Nacionalidade. Identidade. Globalização. Baianidade

NAÇÃO, NACIONALIDADE E IDENTIDADE

A nacionalidade não é um fator biológico que nasce com o indivíduo. Trata-se de um sentimento de identificação nacional que é construído porque imaginado. Tudo isso nos é dito por Benedict Anderson, que afirma, sobretudo, que as nações nascem como comunidades imaginadas. Muito mais do que meras invenções, as nações, assim como as nacionalidades, compreendem produtos culturais específicos. Anderson afirma, ainda, que a identidade nacional é dotada de uma legitimidade emocional extremamente profunda.

Em “Comunidades imaginadas”, Benedict Anderson define a nação da seguinte forma: “uma comunidade política imaginada— e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana.” (2008, p.33). Ele explica que ela é imaginada por manter um enorme vínculo entre os seus membros, ainda que eles não se conheçam, limitada por ser dotada de barreiras que, ainda que elásticas, a separam de outras nações e soberana porque apenas esse emblema manterá a liberdade.

(^1) Artigo solicitado pela professora Maria José Souza Pinho como pré requisito parcial de avaliação da disciplina Introdução ao Trabalho Científico da Universidade Salvador/Ba 2 Discente do 1º ano do curso de Direito, turma B, turno matutino, da Universidade Salvador/UNIFACS-Ba

Stuart Hall (2001) se voltará aos estudos de Anderson e ratificará várias afirmações acrescentando novas análises e perspectivas. Não cabe aqui se aprofundar em todas elas, mas expor o que de mais relevante se apresenta para a compreensão da formação da nacionalidade

e de identidades em geral. Hall reafirma a noção de que não se nasce com identidades formadas, elas são construídas. No entanto, apresenta-se que, apesar de se tratar de um ser autônomo, o homem precisa se sentir pertencendo a algo, a um grupo, em especial. Hall expõe, ainda, a nação como uma comunidade simbólica capaz de gerar um sentimento de igualdade e lealdade, gerando a força do vínculo identitário.

Por fim, mas não menos importante, Stuart Hall discute a cultura nacional como possuidora de símbolos e representações. Desse modo, evidencia-se as culturas nacionais como oriundas de um discurso que constrói sentidos. Tal discurso, por sua vez, acaba gerando mitos, como os referentes à origem de uma nação bem como à “pureza” de um povo.

O sentimento de pertencimento, inegavelmente, gera laços e vínculos que agrupam pessoas distintas em uma mesma roupagem. Há que se perceber, contudo, que esta construção de pertenças gera também conceitos deturpados, preconceituosos e mitos que passam a fazer parte do imaginário popular. Assim, como afirma Hall, a formação de uma cultura nacional, sobretudo por não estar livre de jogos de poder e por “costurar” diferenças em uma única identidade, é uma estrutura de poder que cria uma unificação ilusória com base em interesses de um grupo hegemônico.

GLOBALIZAÇÃO

Em “A identidade cultural na pós-modernidade”, Stuart Hall apresenta, entre outros aspectos, os processos de mudanças que as identidades têm passado devido à globalização. Segundo ele, hoje as identidades tornaram-se menos sólidas e suas fronteiras menos definidas. Desse modo, é facilmente perceptível a existência de crises de identidade.

Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de “identidades partilhadas”— como “consumidores” para os mesmos bens, “clientes” para os mesmos serviços, “públicos para as mesmas mensagens e imagens— entre pessoas que estão bastante distantes uma das outras no espaço e no tempo. À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir

CONSUMINDO A “BAIANIDADE”

Vale à pena, neste momento, analisar como a construção e o reforço da “baianidade” podem localizar-se como modos de resistência, mas também de projeção comercial. Reconhecendo-se que a lógica da globalização encontra-se eminentemente atrelada ao modo capitalista de produção, tudo na sociedade passa a fazer parte do mercado de compra e venda. Neste contexto, a “baianidade”, compreendida como a identidade dos baianos e os seus elementos de representação, torna-se um símbolo mercadológico pronto para ser projetado internacionalmente, vendido e consumido.

Assim, levando em consideração uma das consequências apontadas por Hall à globalização, observa-se na Bahia a busca do reforço da identidade local com objetivos muito mais específicos do que como uma forma de resistência. É uma identidade local, mas voltada para o internacional. Não se trata meramente de um vínculo que se pretende estabelecer entre indivíduos, mas da necessidade de se criar uma identidade “para inglês ver”, a alteridade.

Dessa forma, a alteridade, o modo como se é reconhecido pelo outro, torna-se uma projeção construída a partir das leis de mercado e interesses comerciais. O Brasil e a Bahia, em especial, desenvolvem características e símbolos que, muito mais do que elementos de ligação entre as pessoas, tornam-se objetos de desejo neste mundo capitalista em que tudo vira mercadoria de consumo.

Não se trata, portanto, de um processo de resistência que vislumbra meramente a proteção da identidade local frente à homogeneização cultural provocada pela globalização. Isto fica claro ao se constatar que não se percebe uma resistência agressiva que se opõe ao que é estrangeiro. Trata-se de uma resistência que têm em vista a permanência de mitos que formam uma “baianidade imaginada”. O professor doutor Roberto Albergaria apresenta em uma entrevista como, apesar de povoada por elementos estrangeiros, sobretudo dos EUA, mantém-se a tradicional projeção que se tem da Bahia.

O que o baiano é? Predominantemente evangélico. O que o baiano quer? É comer McDonalds, não acarajé. É botar sandalinha no pé? Não, é botar tênis Nike. Mas não interessa dizer isso, por que a imagem que vigora é a imagem da Bahia negra, tradicional, da natureza, da mística.(ALBERGARIA, s.d)

A necessidade de se reforçar a identidade local, que acaba ratificando a existência de solidificados estereótipos, transforma elementos da cultura baiana em meros elementos da cultura de mercado. Neste aspecto, é preciso destacar como muitos dos símbolos que compõem a “baianidade” surgem e/ou projetam-se turisticamente.

Neste ponto, o aspecto referente ao mito da preguiça baiana é um dos mais interessantes. É possível afirmar isso sobretudo pelo modo como ele é incorporado à ideia de “baianidade”, quando conveniente, e como não condiz com a realidade, como se percebe ao se investigar o quanto os baianos trabalham, sobretudo em festas, como a do Carnaval.

A antropóloga Elisete Zanlorenzi (1998) tratou em sua tese de doutorado sobre "O mito da preguiça baiana". Segundo aponta Zanlorenzi (1998), a imagem do baiano preguiçoso foi construída historicamente. Isto se apresenta na literatura, bem como em músicas populares, como é possível perceber em uma passagem da música Tarde em Itapuã , de Vinicius de Moraes e Toquinho:

Um velho calção de banho O dia pra vadiar Um mar que não tem tamanho E um arco-íris no ar Depois na praça Caymmi Sentir preguiça no corpo E numa esteira de vime Beber uma água de coco Como apresenta a antropóloga, nos anos 1960 o governo da Bahia valeu-se deste mito para associar a Bahia a uma terra paradisíaca, onde se é possível livrar-se do trabalho, para, desse modo, atrair turistas. Albergaria (s.d) compartilha da mesma opinião e afirma:

São Paulo representa a civilidade, a discrição; a Bahia representa a exuberância, a cordialidade. Isso vai crescendo no imaginário paulista, essa imagem contrastiva vai se reforçando nos anos 60-70, quando Salvador se torna um balneário alternativo. A partir dos anos 60, os "alternativos", os desbundados de SP, constituem a Bahia como balneário de desbunde. Todo mundo fazia vestibular para a vida adulta na Bahia, era o lugar do prazer, da contracultura, do alternativo, o que vai ser reforçado depois, quando a administração estatal investiu cada vez mais em turismo. (ALBERGARIA, s.d) Desse modo, percebe-se que o mito da preguiça baiana foi incorporado à identidade local. Hoje, é possível perceber momentos em que o elemento da preguiça associa-se à

Vem, você vai conhecer A cidade de luz e prazer Correndo atrás do trio Vai compreender que a baiano é: Um povo a mais de mil Ele tem Deus no seu coração E o Diabo no quadril We are Carnaval We are folia We are the world of Carnaval We are Bahia Assim, observa-se que uma única música apresenta dois elementos amplamente difundidos como inerentes à “baianidade”: o modo receptivo, “Ah, que bom você chegou”, e festeiro, “We are Carnaval/We are folia/We are the world of Carnaval/We are Bahia” do povo baiano.

À medida que esses elementos são destacados como meios de atração turística, percebe-se que eles são múltiplos e que atendem claramente a este propósito. Não se objetiva neste trabalho apresentar todos os símbolos e mitos que constroem a “baianidade” com o intuito de atrair turistas. No entanto, é preciso apontar a existência de mais um que é de relevante análise por se tratar de um elemento largamente explorado comercialmente. Observe esta passagem da música Toda menina baiana , de Gilberto Gil:

Toda menina baiana tem um santo, que Deus dá Toda menina baiana tem encanto, que Deus dá Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá Toda menina baiana tem defeito também que Deus dá

Percebe-se neste trecho, e em tantas outras músicas e obras literárias, como a “baianidade” é apresentada como inerente à pessoa que nasce na Bahia. Assim, até mesmo pela famosa frase: “Baiano não nasce, estréia”, observa-se como há toda uma construção por traz da identidade baiana.

A “baianidade”, neste aspecto, é vendida como algo único, próprio ao povo baiano e que não é construído ao longo do tempo, uma vez que surge com seu povo. Desse modo, a figura do baiano é estereotipada, como preguiçosa, por exemplo, sem levar em consideração, verdadeiramente, a variedade de pessoas que formam o seu povo.

Como afirma Albergaria, “A identidade baiana é sempre parcial e minoritária. Mas, no mundo da hipermídia, da indústria cultural, da cultura do entretenimento, ela é conveniente.”.

Assim, a “baianidade” não surge com o simples anseio de se delinear as marcas de uma cultura local.

Não se quer por meio desta análise apontar a inexistência de elementos que caracterizam a identidade baiana, mas expor como esses elementos de distinção cultural têm sido utilizados para fins comerciais.

O que em um primeiro momento pode parecer uma forma de se opor à globalização, representa uma forma de fortificar a identidade local, não para preservá-la, apenas, mas como modo de torná-la um elemento global de interesse comercial com fins lucrativos. Albergaria afirma: O que acontece hoje é um processo de mercantilização e de virtualização cada vez mais forte da Bahia. Se isso é bom ou ruim eu não sei, diria que é inevitável, que faz parte da lógica do pós-moderno.

Talvez seja muito cedo para tecer críticas a esse processo de capitalização da identidade local. No entanto, a validade desta análise está em levar em consideração esta situação e perceber como elementos culturais vêm sendo produzidos e mantidos com um propósito comercial, enquadrando-se, e não se opondo, portanto, ao processo de globalização capitalista.