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homero-odisseia-trad.-carlos-alberto-nunes.pdf, Notas de estudo de Tradução

Odisseia / Homero ; tradução e prefácio Carlos Alberto Nunes. - [25. ed.] - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2015. 424 p. ; 23 cm. Tradução de: Odýsseia.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Direitos de edição da obra em língua portuguesa adquiridos pela Editora Nova Fronteira Participações S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. Editora Nova Fronteira Participações S.A. Rua Nova Jerusalém, 345 — CEP 21042- Bonsucesso — Rio de Janeiro — RJ Tel.: (21) 3882-8200 — Fax: (21) 3882-8212/ CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Homero Odisseia / Homero ; tradução e prefácio Carlos Alberto Nunes. - [25. ed.] - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2015. 424 p. ; 23 cm. Tradução de: Odýsseia Inclui apêndice ISBN 9788520924051

  1. Poesia grega. I. Nunes, Carlos Alberto. II. Título. 14- CDD 881 CDU 821.14’02-

SUMÁRIO

Prefácio Nota do Revisor PRELÚDIO Canto I: Assembleia dos Deuses, Conselhos de Atena a Telêmaco e Festa dos Pretendentes PARTE I A Viagem de Telêmaco Canto II: A Assembleia em Ítaca e a Partida de Telêmaco Canto III: Em Pilo Canto IV: Na Lacônia e a Emboscada dos Pretendentes PARTE II Os Relatos na Casa de Alcínoo — Odisseu na Ilha de Calipso e na Feácia Canto V: A Caverna de Calipso e a Balsa de Ulisses Canto VI: Odisseu Chega à Feácia Canto VII: Entrada de Odisseu na Casa de Alcínoo Canto VIII: Recepção de Odisseu pelos Feácios PARTE III O Relato de Odisseu Canto IX: Os Cíconos, os Lotófagos e o Ciclope Canto X: Acerca de Éolo, os Lestrigões e Circe Canto XI: Consultando os Mortos Canto XII: As Sereias, Cila, Caribde e os Bois de Hélio PARTE IV O Retorno de Odisseu Canto XIII: A Chegada a Ítaca Canto XIV: Odisseu Chega à Casa de Eumeu Canto XV: Telêmaco Chega à Casa de Eumeu Canto XVI: Reconhecimento de Odisseu por Telêmaco PARTE V Odisseu no Palácio Canto XVII: Na Cidade Canto XVIII: A Luta de Iro e Odisseu Canto XIX: Encontro de Penélope e Odisseu e a Lavagem dos Pés Canto XX: Acerca da Morte dos Pretendentes PARTE VI A Vingança de Odisseu Canto XXI: A Apresentação do Arco Canto XXII: A Chacina dos Pretendentes Canto XXIII: Penélope Reconhece Odisseu Canto XXIV: Segunda Descida ao Hades e o Tratado de Paz

PREFÁCIO

Não será mais do que a verificação de um fato afirmar que a Odisseia conta com maior número de leitores do que a Ilíada ; direi melhor: de leitoras, tendo Bentley chegado mesmo a asseverar que a Odisseia fora escrita para mulheres, e a llíada , para homens. Samuel Butler foi além, com sua teoria engenhosa de que a Odisseia foi composta por Nausícaa, a filha graciosa de Alcínoo e de Arete, que nos é apresentada, ou que se teria apresentado no Canto VI do poema. De qualquer forma, é incontestável a maior popularidade da Odisseia , o que decorre não só da natureza do assunto, como de sua própria estruturação. O traçado da Ilíada é complicado, sendo mais dificilmente apreendida a ideia fundamental, que empresta unidade ao poema. Tendo tomado como tema um episódio secundário, secundaríssimo, que dura apenas alguns dias numa campanha de dez anos, como seja a rixa entre os dois chefes Aquivos, por causa de uma escrava, conseguiu Homero, de fato, apresentar-nos em painéis gigantescos toda a Guerra de Troia, cujos acontecimentos nos são rememorados com habilidade nos primeiros cantos, ficando-nos, no fim da leitura do poema, que termina com a morte e os funerais de Heitor, a certeza da queda próxima do burgo. O traçado da Odisseia é de mais fácil apreensão, e, digamos, artisticamente de melhor planejamento, pela disposição concêntrica, em que o próprio herói do poema relata suas aventuras durante os dez anos de peregrinação, no empenho de retornar para a pátria, depois de conquistada, saqueada e destruída Troia, e de terem sido massacrados ou vendidos como escravos seus moradores. Há mais: a narração da Odisseia prende com maior fascínio a atenção do leitor, que anseia por chegar logo ao fim, para saber “o que irá acontecer” com o herói da epopeia ou mesmo com as personagens secundárias. É puro romance, de enredo bem-arquitetado. Invadido o palácio de Odisseu 1 pelos fidalgos da redondeza, que lhe requestavam a esposa e lhe devoravam os haveres, enquanto Penélope não se decidisse a contrair segundas núpcias — o que nos é relatado desde o primeiro canto —, acompanhamos o herói com interesse crescente em todas as fases da execução de seu plano para vencer pela astúcia o inimigo numericamente superior, e, assim, voltar a entrar na posse de seus bens e a unir-se à esposa, de quem se separara havia vinte anos. As qualidades que caracterizam o herói da Odisseia diferem essencialmente das de Aquiles, a figura central da Ilíada. Aquiles é o guerreiro jovem e arrebatado, que, por não saber dominar as paixões, causa a morte do amigo, de grande número de companheiros e precipita o desenrolar dos acontecimentos de que decorre o seu fim prematuro. O herói da Odisseia , pelo contrário, aparece- nos como homem maduro, de grande e variada experiência e com admirável domínio de si mesmo, diferindo, em tudo isso, tanto de Aquiles como do próprio Odisseu, que ficáramos conhecendo na Ilíada. Mas, sob vários aspectos, os dois poemas se igualam, o que justificaria um estudo de conjunto da “poesia homérica”, ou dos princípios estéticos de “Homero”, por mais obscuras, falhas ou contraditórias que sejam as notícias que chegaram até nós, com relação ao autor presuntivo dos dois poemas imortais. Não é este o momento de voltarmos a tratar da famosa “questão homérica”. Nestas conexões, importa apenas fazer ressaltar alguns aspectos mais interessantes da visão poética do autor, ou dos autores, da Odisseia e da Ilíada , que expliquem o milagre da vitalidade desses poemas, que em três milênios nada perderam de seu frescor original.

I

Seja qual for a ideia que fizermos do autor da Ilíada e da Odisseia , ressalta como traço fundamental

de sua individualidade o entusiasmo com relação à importância da poesia e do valor da imaginação criadora. Homero sabia que os grandes heróis do passado só alcançam a imortalidade da fama por intermédio da poesia. Na Ilíada , Helena declara expressamente que todas as desgraças que lhe acompanhavam os passos, no jeito de miasma contagiante, o entrechoque de dois continentes, que iria culminar com a destruição de Troia e a morte de seus defensores, só tinham sido determinadas pelos deuses para que não faltasse para os vates excelsos. Na Odisseia , são-nos apresentados dois vates: Fêmio, em Ítaca, e o cego Demódoco, na corte de Alcínoo, tendo sido admitido pela lenda, embora sem visos de probabilidade, que o poeta se retrata na figura deste último. Para distrair os pretendentes de Penélope, no palácio do herói ausente, Fêmio canta as proezas do próprio Ulisses, escolhendo sempre “os fatos mais recentes”, ou seja, as condições mais novas, em que vinham narradas sob perspectiva diferente as aventuras do herói. Evidentemente, tratava-se de composições curtas, para serem recitadas à mesa, numa seriação de episódios que não correspondia com muito rigor à cronologia dos acontecimentos relatados. É o que vemos com bastante precisão no Canto VIII, quando Odisseu pede a Demódoco que passe a referir o episódio do Cavalo de pau, por meio do qual fora conquistada Troia, já que ele havia cantado os acontecimentos da grande guerra “como se o visses tu próprio, ou soubesses de alguém fidedigno”. (VIII, 491) A epopeia se encontrava, então, em fase de crescimento, de criação livre; só mais tarde é que os episódios insulados iriam ser agrupados em composições maiores, de que resultariam os dois únicos poemas que chegaram completos até nós: a Ilíada e a Odisseia. A própria linguagem desses poemas revela uma técnica de composição que implica tradição muito antiga, tendo demonstrado descobrimentos recentes da Arqueologia que muitos temas da Ilíada e da Odisseia remontam à denominada civilização egeia. “Caso consigas cantar isso tudo de acordo com os fatos”, disse Odisseu a Demódoco, “logo darei testemunho perante o universo dos homens que recebeste de um deus benfazejo a divina cantiga”. (VIII, 496-8) Outra particularidade comum aos dois poemas é a noção, inculcada com insistência por seus autores, de que os heróis decantados pertenciam a uma raça superior, que nem de longe poderia ser comparada à dos homens de seu tempo. Essa noção era também compartilhada por Hesíodo, para quem a humanidade de sua época se encontrava na quinta fase ou idade do mundo, que sofria um processo de entropismo irremediável, aberrante da ideia moderna de progresso. A condição primacial para a criação da epopeia é a consciência desse passado mítico, em que as personagens são vistas como envoltas num nimbo de heroísmo. Mas nem por isso perde o poeta o senso das proporções, não deixando que a imaginação se desgarre, como em certas criações literárias mais do gosto oriental. O mundo de Homero é batido pelo sol. Na Ilíada , predominam as cenas de combate; mas o poeta se vale das miniaturas das comparações — quatro vezes mais numerosas do que na Odisseia — para levar-nos a espairecer a visão em cenas variadas, de caçadas, paisagens, ou de flagrantes de uma sociedade bastante diferençada, com suas festas campesinas, pleitos jurídicos, cortejos nupciais, e até mesmo problemas de natureza, digamos, proletária, tal como no símile impressionante em que se nos mostra uma pobre fiandeira, esgotada pelo trabalho e com salário de miséria, que mal chega para o seu sustento e dos filhinhos. Na Odisseia , a Guerra de Troia já pertence ao passado, aos fatos consumados, constituindo apenas o fundo do quadro sobre que são projetados todos os episódios da narrativa. Terminada a campanha memorável, retornaram os chefes Aquivos para seus pagos, não sendo a Odisseia senão uma das muitas narrativas do “Retorno”, os denominados Nostoi , que se propunham a contar o que acontecera especificadamente aos principais combatentes, na viagem de regresso. A história do retorno de Ulisses atraiu para si maior número de elementos, da lenda, do folclore, de diferentes origens, vindo, com o tempo, a formar um poema que, pela extensão e acabamento artístico, chegou a rivalizar com a Ilíada. Mas a ideia central da epopeia não fica prejudicada pela massa de episódios secundários; pelo contrário: todas essas causas de retardamento fazem ressaltar ainda mais o propósito inalterável do herói de atingir a sua meta, ou seja, a reconquista do próprio palácio e da afeição da esposa. Vemos, assim, que o tema da Odisseia é principalmente psicológico, ou interior, com o ponto culminante na cena do reconhecimento entre Odisseu e Penélope, de que nos são conhecidas duas variantes. Desesperada, quase, pelo tempo decorrido — vinte anos já haviam passado desde que o marido seguira para a campanha de Troia —, desorientada pelas sucessivas desilusões que lhe advinham das notícias falsamente lisonjeiras que conseguia obter, não correu Penélope de pronto ao

via cheio de espectros que baixavam prematuros para o Hades. Por ser a Odisseia um romance cujo enredo se desenrola longe dos campos de batalha, nas cortes dos reis, no palácio do herói, na cabana do porqueiro de Eumeu, tem mais oportunidades o autor de apresentar-nos tipos de todas as classes sociais, assim na ação principal como nas narrativas indiretas. O porqueiro Eumeu, a quem o poeta revela carinho igual ao que dedicava a Menelau e a Pátroclo na Ilíada , falando dele quase sempre na segunda pessoa — deste-lhe, Eumeu, em resposta... — não somente se distingue do vaqueiro Filétio, apesar da profissão que os aproximava e da fidelidade ao senhor, em que se identificavam, como, ainda, de seus próprios companheiros de trabalho, no trato das porcadas, que iam sendo consumidas nos banquetes cotidianos a que no palácio se entregavam os pretendentes. Como irmãos, os dois filhos de Dólio se igualavam na deslealdade para com os amos e na maldade ingênita: o cabreiro Melântio, que agride o mendigo a pontapés em frente de seu próprio palácio, e sua irmã, a mal-agradecida Melanto, criada pela própria Penélope e que desrespeitava a casa de sua senhora, conluiando-se com os pretendentes, com quem se misturava todas as noites. Penélope, Nausícaa, Arete não são menos individualizadas, para não falarmos em Calipso — tão nobre e resignada — e em Circe, tipo de cigana, a cujo feitiço os homens não podiam resistir. Seria um nunca acabar. Na figura de Odisseu viam os gregos o retrato do herói ideal, até mesmo nos defeitos: astucioso, sofredor, resistente, rico em recursos de toda natureza, que o faziam triunfar das mais delicadas situações. Não admira, assim, que ao lado da Ilíada , a epopeia guerreira do povo helênico, subisse a Odisseia à categoria de poema nacional, primeiro de recitação obrigatória nos palácios e nas festas públicas, onde quer que a Hélade, politicamente subdividida em cidades sem conta, comemorasse as tradições comuns, e depois como texto de leitura, à guisa do livro moderno, que imprime cunho indelével nas mentes em formação. Homero criou a Grécia histórica, tendo sido então de influência tão profunda e duradoura como a Bíblia, Dante e Shakespeare em fases subsequentes da cultura ocidental. O verso 208 do Canto VI da Ilíada , na fala de Glauco, resume o ideal grego da educação individualista, do agon , na luta, em que o preceptor desperta no aluno o espírito de competição levada ao extremo, educando-o. para ser sempre o primeiro e de todos os mais distinguir-me. Na Odisseia , como na Ilíada , encontravam os gregos farta messe de sentenças e provérbios de aplicação universal, que fizeram de Homero o mestre incontestado também nesse setor. São versos, ou frações de versos, que, pelo próprio ritmo, se guardam facilmente de memória: atrai aos guerreiros o ferro (XVI, 294; XIX, 13); Sono demais prejudica (XV, 394); Não orna aos mendigos vergonha excessiva (XVII, 578); Quem tem coragem consegue levar a bom termo as empresas em que se mete (VII, 51-2)... sem que possamos deixar de citar o verso 48 do Canto III, a que Melanchton dava preferência irrestrita, o mais belo verso de Homero: Todos os homens precisam da ajuda dos deuses eternos. Por último, precisaria mencionar um traço do homem homérico, talvez o mais característico, comum aos dois poemas: a preocupação com a opinião da posteridade, sobre o que na sua curta existência fizessem ou deixassem de fazer. Atena-Mentor estimula Telêmaco a sair em busca de notícias do pai, com o exemplo do alto nome que Orestes alcançara entre os homens, para que ele também viesse a adquirir fama na memória dos pósteros. E assim em muitas outras passagens.

III

Sendo a Odisseia um romance de caráter eminentemente folclórico, uma espécie de bacia de convergência para onde afluíram elementos da mais variada origem, até mesmo contraditórios, de lendas e tradições de um povo de navegadores, que se cristalizaram em torno do nome de Odisseu, não admira que, apesar da vastidão do traçado ou por isso mesmo, se percebam pequenas falhas na concatenação das partes. A leitura do poema pode ser feita sem preocupações de análise, desfilando, então, ante nossa visão interior quadros de fascínio dificilmente comparável e de uma riqueza mítica sem rival. Circe, Calipso, os Argonautas, Cila e Caribde, Polifemo, as Sereias constituem outros tantos mitos ou episódios, que se incorporaram definitivamente ao patrimônio

cultural de todos os povos, competindo a Odisseia em popularidade com as criações literárias de aceitação universal: o Dom Quixote e As mil e uma noites. Algumas dessas irregularidades podem ser explicadas pela diferença do material de origem, no empenho de aproveitar o autor elementos do conto popular, que se traem por particularidades facilmente reconhecíveis. Outras, mais profundas, pressupõem a recompilação de textos preexistentes de epopeias menores, que foram incorporadas ao traçado mais amplo da Odisseia , nem sempre com muita felicidade. Não insistamos nesse particular. Um belo exemplo do primeiro caso nos é dado pelo episódio de Polifemo, o gigante de um só olho, que foi vencido pelo herói astucioso. O efeito do trocadilho com o nome dado pelo herói pressupõe um povo de ciclopes, dos quais Polifemo fosse o chefe. Mas tudo o mais nesse episódio é relatado como se se tratasse de um único ser descomunal, tal como se dá em muitas variantes do conto popular, e conforme mui pormenorizadamente nos informa o poeta, com o sossego próprio do estilo épico. Na gruta em que Odisseu se propunha entrar, morava um gigante “solitário”, que só cuidava de seus rebanhos “afastado de todos os outros, sem com nenhum conviver e ignorando os preceitos divinos”. Como se isso não bastasse, logo após o poeta o compara ao pico de uma montanha “isolada”, que de longe se destacava das outras (IX, 187-92). Igual esforço de adaptação do conto à epopeia, encontramo-lo na particularidade de afilar Odisseu a extremidade do tronco verde de oliveira que encontrara na caverna, e de aquecê-lo “quase no ponto de em chamas arder” (XI, 378-9), particularidade um tanto fora de jeito, em se tratando de um tronco de árvore, que com o simples preparo de uma das extremidades se transformava em arma excelente para o fim a que o herói visava. É que no conto popular o monstro não comia crus os companheiros do visitante, como o faz Polifemo com os companheiros de Ulisses, mas os assava ao espeto. Era esse espeto que o herói do conto aquecia ao rubro, para com ele furar o único olho do gigante. Na passagem para a epopeia foram conservadas certas minúcias que destoam do novo traçado.

IV

São próprias de um povo de navegadores essas lendas de monstros e seres descomunais que recebem com hostilidade os viajantes que por lá aparecem em busca de alimento ou com intuitos de pilhagem. Os gregos da idade heroica estavam abrindo para as navegações o Mediterrâneo, num movimento de expansão e de conquista, que se estendia para o poente. Observemos de passagem que é incompatível com a possibilidade dessas navegações de largo bordo a noção errônea de que os gregos só navegavam de dia, sem perderem a terra de vista. O horizonte geográfico da Odisseia , sob esse aspecto, é mais amplo do que o da Ilíada , que não vai além do Egito e da costa da Líbia, com seus etíopes semilendários. A não ser assim, careceria de sentido o verso tão repetido, com que o poeta arremata a narração de determinadas aventuras, no chamado Apólogo de Alcínoo, ou seja, nos Cantos da narrativa de Odisseu. Sem fazer pausa vogamos seis noites e dias seguidos. [X, 80; XV, 476]^2 Mas por isso mesmo que a geografia de Homero se compunha de elementos heterogêneos, do mundo que lhe era familiar e do que ele sabia apenas por ouvir dizer. São confusas, por vezes, e contraditórias as referências que se nos deparam nos dois poemas, com relação a regiões distantes. Em nossa época de comunicações fáceis, com os recursos cartográficos de que dispomos, somos levados a subestimar a importância, para o homem antigo, das informações de viajantes e peregrinos sobre as regiões que demoram para fora dos horizontes conhecidos, e que não podiam deixar de revestir-se de exagero ou de tocar no fabuloso. Se em época de mais largas navegações e de sincretismo cultural Plutarco relegava para a zona fronteiriça do mundo conhecido “os desertos e pastos de feras, os gelos da Cítia e os pélagos congelados” ( Vida de Teseu, I ), não admira que, um milênio antes dele, Homero fosse impreciso nas referências ao que ficava para além do hábitat dos Aquivos. O que espanta é confirmar a ciência de hoje muitas de suas informações, e isso não somente no que se relaciona com os povos que por muito tempo foram tidos como fabulosos: os pigmeus da África, os hipomolgos da estepe russa, como também em referência a certas conotações que poderiam ser tomadas como simples ornamento da poesia: até hoje Tirinto se caracteriza pelos muros ciclópicos, Oloóssona pela cor branca e Troia pelos ventos que varrem suas ruínas milenárias. Mas para que insistir? O arqueólogo Chandler conseguiu localizar a cidade de Tisbe e descobrir-lhe

de pedras íngremes, que nuas se erguem por ambos os lados. Dois promontórios, em frente postados um do outro, se encontram logo na entrada, salientes... [X, 87-90] Toda a descrição é muito bela, em doloroso contraste com a selvageria da população local, “os Lestrigões valorosos”, de triste memória para os sobreviventes da expedição. Goethe, também, já se ocupara com essa passagem, volvendo a atenção para outra particularidade da descrição, da cidade murada, que ele procurava explicar por analogia com o que lhe fora dado observar nas ruínas de Pesto, na Itália, de muralhas espessas, com duas portas fortificadas e comunicantes por um corredor, olhando uma delas para o interior da cidade, e a outra para o campo. É nesse corredor que se cruzam, duas vezes por dia, os pastores com seus rebanhos. O pastor que entra costuma saudar ao que sai. Trata-se de um sinal convencional, a fim de evitar confusão à passagem das reses. “Saudar” não traduz bem o “epyei” do original, que indica uma espécie de cantiga por parte de um dos pastores, para orientar o que vem em direção oposta. “Este o escuta”, não ouve apenas, mas fica atento e toma suas precauções. Não se trata de um encontro casual, mas de prática estabelecida, porque, necessariamente, todos os dias os pastores se cruzam nessa passagem duas vezes, “tão perto estão, nessa altura, os caminhos do dia e da noite”. Ao nascer e ao pôr do sol os rebanhos se revezam no campo comum. Daí a curiosa observação do poeta grego, de que fora possível, a um homem que não dormisse, ganhar dois salários: por levar os bois para o pasto e, logo a seguir, as ovelhas. Para Goethe, os dois últimos versos constituem pleonasmo estilístico, para maior realce do pensamento anterior. Após essas explicações iniciais, apresenta-nos Goethe uma paráfrase de toda a passagem, que importa transcrever: “Ao sétimo dia chegamos a Lamo, cidade fortificada dos Lestrigões, munida de portas duplas e distantes, que se comunicam por meio de uma passagem estreita. Nesse corredor o pastor que se recolhe com o rebanho dá um sinal por meio de gritos ou de assobio, que é ouvido pelo que vai sair, o qual toma suas precauções. Trata-se de prática estabelecida, para que os rebanhos não se atrapalhem nem padeçam dano no caminho estreito que liga as duas portas, pois é forçoso que se cruzem aí, duas vezes por dia, com seus rebanhos, visto se revezarem no pasto comum, ao nascer e ao pôr do sol. Assim sendo, é inevitável que o pastor que volta para a cidade com as ovelhas encontre o que se prepara para sair com os bois. Por isso mesmo, seria possível a uma pessoa que não dormisse ganhar salário duplo, no caso de voltar para o pasto com um dos rebanhos, logo depois de recolher o outro.” ( Versuch, eine Homerische dunkle Stelle zu erklären, 1787 ) É interessante observar que nessa paráfrase Goethe omitiu o último verso da transcrição. É que esse verso sugere questões que não se enquadram no esquematismo de sua explicação, baseada no fato concreto da passagem através da muralha de portas comunicantes, que ele presumia válida para o tempo de Homero. Não se trata, evidentemente, de uma tentativa de localização do mito ou de identificação arqueológica. Colônia dória, fundada por volta de 600, não podia ser Pesto o modelo da descrição homérica. Contudo, devemos aceitar que o poeta grego teve um ponto de apoio na realidade, pois as descrições da poesia não se formam do nada. A particularidade dos fenômenos dos dias longos, no extremo norte, o costume de se revezarem no pasto comum os pastores com seus rebanhos — prática desconhecida dos helenos e de que tinham notícia pelas relações dos viajantes — e a disposição da passagem através das muralhas das cidades que lhe teria sido dado observar em seu tempo, ou como ruína de época anterior: eis os elementos de procedência diferente, que concorreram para integrar essa passagem na imaginação do poeta. Em sua tentativa de interpretação do texto, insiste Goethe apenas em um desses elementos, em detrimento dos demais; o mesmo faz Rhys Carpenter, ficando, assim, sem explicação satisfatória o problema total. Necessariamente, devia ser falho o conhecimento de Homero com relação às regiões do extremo norte. Não lhe era também desconhecido o fenômeno das noites longas, que ele imaginava uma noite sem fim. Daí a referência aos Cimérios, por ele localizados perto da entrada do Hades: Nessa paragem se encontra a cidade dos homens Cimérios, que se acham sempre envolvidos por nuvens e brumas espessas; nunca foi dado alcançá-los os raios do Sol resplendente, nem ao subir, ao vingar ele a estrada do céu estrelado, nem quando baixa de novo, na volta do céu para a terra.

Noite nociva se estende sem pausa por sobre esses míseros. [XI, 14-9] Se aos Lestrigões Homero associou a noção dos dias compridos, aos Cimérios ligou a da noite sem fim. Ambas as informações são verdadeiras, mas se dissociaram na imaginação do poeta. Conquanto, acertadamente, relegasse esses fenômenos para o norte, localizou os Cimérios a noroeste, ao passo que a cidade fundada por Lamo foi deslocada para além do Mar Negro, no extremo nordeste. Aí é que deveríamos procurar Telépilos, de portas distantes, em que, duas vezes por dia, se cruzam os pastores. A exiguidade da noite sugeriu ao poeta a ideia do salário duplo, para quem pudesse passar sem dormir naquela penumbra fugaz.

V

Esse exemplo deve ensinar-nos a sermos cautelosos no afã de interpretar a geografia de Homero e de localizar os elementos lendários dos dois poemas. Nessas tentativas é inevitável a deslocação do cenário para as regiões mais disparadas, tanto mais que no próprio texto abundam as contradições. Antes de chegar ao palácio de Circe, queixa-se Odisseu de que não podia determinar os pontos em que o sol se levanta e se deita, particularidade mais do que estranhável na boca de um navegante do Mediterrâneo. É certo que o poeta se refere à “ilha” de Circe, e apresenta o episódio como fazendo parte das aventuras marítimas do herói. Mas o motivo é de antiga tradição continental. Tanto assim é, que, para melhor orientar-se, sobe Ulisses a um alto penedo, de onde divisa fumaça que saía “da terra de largos caminhos”. (X, 149) Essa origem romanesca dos temas fundamentais da Odisseia explica a razão da penúria dos descobrimentos arqueológicos, com relação ao seu cenário, em contraste com a opulência dos achados que vêm confirmar os mitos integrantes da trama lendária da Ilíada. Infrutuosas foram as escavações de Dörpfeld em Tiaki e Leucas, para achar o palácio de Odisseu, como baldadas ou contraditórias têm sido as tentativas de localização dos demais episódios desse poema. E a razão é muito simples, já apontada por Wilamowitz-Möllendorf e, mais recentemente, por Nilson: é que a Ilíada se funda em mitos conservados na tradição de cultos locais, ao passo que a Odisseia é um romance em que tem ampla participação a imaginação do poeta. Mas é um romance genial, cujo fascínio só tem aumentado com os séculos, parecendo que o tempo não conta para sua duração. Como as Pirâmides, como a música de Beethoven, como o retrato da Mona Lisa, inclui-se a Odisseia entre as criações eternas, que só permitem uma única referência cronológica: a do milagre da origem. Mas, uma vez concretizadas — tal como as grandes cordilheiras que, num momento preciso, emergiram das águas — todas essas criações do homem passam a ser símbolos da duração eterna, outros tantos troféus da vitória sobre o tempo. Carlos Alberto Nunes

Os poemas originais tinham apenas a forma oral de expressão, e não a escrita como nos chegou o todo do poema. Dos três poemas originais, o mais antigo seria o intermediário, Os relatos na casa de Alcínoo , sendo o primeiro poema, A viagem de Telêmaco , uma obra posterior e o último, A vingança de Odisseu , o mais recente. No entanto, todos esses poemas, e especialmente o último, estão repletos de interpolações, isto é, trechos anexados posteriormente e ditos como originais. Para o vasto estudo destas interpolações, ver a edição de Victor Berard da Les Belles lettres. Por motivo de clarificação do conteúdo da Odisseia e também apoiados em divisões antigas, separamos o todo do poema em seis partes, dividindo Os relatos em duas partes, Odisseu na ilha de Calipso e na Peácia e O relato de Odisseu , e o poema A vingança de Odisseu dividimos em três partes, O retorno de Odisseu , Odisseu no palácio , A vingança de Odisseu. Marcus Reis Pinheiro 6

Prelúdio

Hermes de tudo a avisar, o brilhante e certeiro vigia, que nem se unisse à mulher, nem, tampouco, o marido matasse, 40 pois a vingança do filho de Atreu lhe viria de Orestes, quando crescesse e saudades sentisse da terra nativa. Hermes assim o avisou; mas Egisto não quis convencer-se dos bons conselhos de então. Ora paga por junto os seus crimes.” A de olhos glaucos, Atena, lhe disse o seguinte, em resposta: “Crônida, pai de nós todos, senhor poderoso e supremo! Mui merecida é a desgraça que sobre o insensato caiu. Possam, assim, perecer quantos outros tal coisa fizerem: Mas por motivo do sábio Odisseu sinto o peito excruciado, desse infeliz que, há bem tempo, distante dos seus vem sofrendo 50 preso numa ilha por ondas cercada, que é o umbigo do oceano, arborizada e mui fresca, onde mora uma deusa preclara, filha de Atlante, o de espírito mau, que os arcanos conhece todos do mar, e que duas colunas muito altas defende, sozinho, as quais entre a terra e o alto céu se levantam. Sua filha vem procurando reter o infeliz, que, constante, se aflige, sempre com termos melífluos e vozes de força suasória, a enfeitiçá-lo, com o fim de que de Ítaca venha a esquecer-se. Mas Odisseu se consome, só tendo um desejo: a fumaça ver que se evola do solo da pátria, ou então morrer agora. 60 Não te comoves, Olímpico? Nunca Odisseu te foi caro junto das naus dos Argivos na extensa planície de Troia, oferecendo oblações? Por que, então, tanta cólera, Zeus?” Disse-lhe, então, em resposta, Zeus grande que as nuvens cumula: “Filha, por que tais palavras do encerro da boca soltaste? Como do divo Odisseu é possível que venha a esquecer-me, que se distingue de todos os homens e, mais do que todos, fez sacrifícios aos deuses eternos, do céu moradores? Mas de ter-lhe ódio não cessa Posido, que a terra sacode, pelo motivo de haver o Ciclope privado da vista, 70 sim, Polifemo, a um deus semelhante, de força enormíssima, entre os Ciclopes, gerado que foi pela ninfa Toosa, filha de Forco, senhor do oceano que nunca dá frutos, que numa gruta de forma escavada se uniu a Posido. Por essa causa Posido, que a terra violento sacode, quer, não matá-lo, mas tê-lo constante alongado da pátria. Ora, uma vez que aqui estamos reunidos, tratemos de sua volta e de como retorne. Contenha-se, entanto, Posido, pois impossível ser-lhe-á dar ensanchas ao ódio, sozinho, se se opuserem, concordes, os deuses eternos do Olimpo.” 80 A de olhos glaucos, Atena, lhe disse o seguinte, em resposta: “Crônida, pai de nós todos, senhor poderoso e supremo! Pois se assim é, e do agrado dos deuses bem-aventurados que a seu palácio retorne Odisseu, o de grande inventiva, Hermes, então, sem demora enviemos, o guia brilhante, à ilha de Ogígia, porque, sem mais perda de tempo, anuncie à veneranda Calipso de tranças bem-feitas, a nossa resolução de mandar o prudente Odisseu para a pátria. Enquanto a mim, irei logo para Ítaca, porque seu filho possa incitar e inspirar-lhe a coragem precisa no peito, 90 para chamar ao congresso os Acaios de longos cabelos e aos pretendentes dizer que se mudem, que todos os dias

muitas ovelhas abatem e bois que se arrastam tardonhos. Quero mandá-lo até Esparta, e até Pilo de solo arenoso, para da volta do pai alcançar fidedignas notícias, como, também, conquistar entre os homens um nome preclaro.” Disse; e calçou, sem demora, nos pés as bonitas sandálias de ouro e divinas, que por sobre as águas, sem mais, a conduzem, como, também, pela terra infinita, qual sopro do vento; pega da lança potente, munida de ponta de bronze, 100 grande, pesada e robusta, com que derrubar costumava filas de heróis, ao zangar-se a nascida do pai poderoso. Célere baixa, passando por cima dos cumes do Olimpo, e ante o portal de Odisseu se detém, na cidade de Ítaca, bem na soleira do pátio, nas mãos tendo a lança de bronze, sob a figura de Mentes, que os Táfios comanda, estrangeiro. Os pretendentes imediatamente percebe, que estavam a jogar pedra, alegrando os espíritos, junto da porta, todos sentados em couros de bois, que eles próprios mataram. Servos atentos, assim como arautos, de todos cuidavam. 110 Estes, o vinho de jeito misturam nos copos, enquanto outros esfregam nas mesas esponjas de inúmeros furos, põem-nas logo de pé e os assados em postas retalham. Viu-a primeiro que todos Telêmaco, a um deus semelhante, que pesaroso se achava no meio dos moços soberbos, vendo no espírito a imagem do pai valoroso, se acaso logo viesse, a expulsar do seu próprio palácio os intrusos e conquistar nome excelso, qual dono dos próprios haveres. Ao revolver tais conceitos no meio dos moços, percebe Palas Atena. Foi logo ao portal, no imo peito agastado, 120 porque o estrangeiro estivesse de pé. Aproxima-se dela, a mão direita lhe aperta e, tirando-lhe a lança de bronze, pondo-se logo a saudá-la, lhe diz as palavras aladas: “Salve, estrangeiro! Entre nós hás de ter agasalho condigno. Pós o apetite acalmares, dirás o de que necessitas.” Tendo assim dito, adiantou-se, seguido por Palas Atena. Quando chegaram à sala da casa de teto elevado, vai logo a lança de bronze depor na hastaria polida, que se encontrava encostada em uma alta coluna, onde lanças inumeráveis do sábio Odisseu bem-dispostas estavam. 130 Uma poltrona de fino lavor lhe oferece, onde estende pano de linho. Escabelo por baixo dos pés acomoda. Simples cadeira lavrada puxou para si, afastada dos pretendentes; não fosse o barulho turbar o estrangeiro, nem lhe soubesse a comida, ao se ver entre aqueles soberbos, como também sobre o pai inquiri-lo, que ausente se achava. Água lustral lhes ministra a criada em gomil primoroso, de ouro, deixando-a cair sobre as mãos em bacia de prata, pondo diante dos dois, a seguir, uma mesa polida. A despenseira zelosa aparece, que pão lhes reparte, 140 como, também, provisões abundantes, que dá prazerosa. Vem, a seguir, o trinchante, trazendo nas mãos a travessa com muita carne, e de todos ao lado áureos copos coloca. Sem descuidar-se, um arauto escanção lhes renova o bom vinho. Os pretendentes altivos já, nesse momento, avançavam; sentam-se em ordem, assim nas cadeiras bem como nos tronos.